Digestão e absorção de lipídios

Este post é a transcrição da videoaula publicada em nosso canal do YouTube "Digestão e absorção de lipídios".

TRANSCRIÇÕESSISTEMA DIGESTÓRIO

Mirian Kurauti

9/1/20246 min read

E aí pessoal, tudo bem com vocês?

Neste vídeo a gente vai falar sobre a digestão e absorção dos lipídios da dieta.

Se você quiser saber como os carboidratos e as proteínas são digeridos e absorvidos no tubo digestório, é só nos cards aqui do vídeo (ou aqui carboidratos e proteínas).

Bom, então pra entender como os lipídios são digeridos e absorvidos no tubo digestório, vale destacar que de todos os lipídios da dieta, os triacilgliceróis são os mais abundantes.

Esse lipídio é um tri-éster formado pela combinação de uma molécula de glicerol com três ácidos graxos, geralmente de cadeia longa, isto é, contendo 16, 18 ou 20 carbonos.

Além dos triacilgliceróis, podemos encontrar, em menores quantidades, outros lipídios como os fosfolipídios, encontrados nas membranas celulares vegetal e animal, e o colesterol encontrado apenas nas membranas celulares de animais.

Ésteres de colesterol, que são formados pela combinação de uma molécula de colesterol com uma molécula de ácido graxo, pode ser encontrado nos fígados de animais.

Apresentado os principais lipídios da dieta, bora entender como esses lipídios são digeridos e absorvidos.

Quando colocamos o alimento na boa, logo na primeira secreção do tudo digestório, na saliva, o alimento encontra uma enzima que hidrolisa os triacilgliceróis, a lipase lingual, secretada pelas glândulas de von Ebner, glândulas serosas localizadas nas papilas gustativas da língua.

A lipase lingual tem pH ótimo que fica em torno de 3 a 6, isso significa que a atividade catalítica dessa lipase é máxima quando o pH do meio for mais ácido.

Como o pH da saliva, durante uma refeição, fica mais alcalino, podendo chegar a um pH 8, a lipase lingual terá sua atividade máxima apenas quando chegar no estômago.

No estômago, além da lipase lingual, podemos encontrar a lipase gástrica que é secretada pelas células principais das glândulas gástricas da mucosa do estômago.

Essa lipase também tem atividade máxima em pH ácido. Assim, tanto a lipase lingual quanto a gástrica, iniciam a hidrólise dos triacilgliceróis no estômago.

No entanto, lembrem-se que os lipídeos são moléculas apolares, hidrofóbicas, e as secreções do tudo digestório são soluções aquosas. É como se eu tivesse óleo e água em um recipiente. O óleo que é hidrofóbico, não se mistura com a água, e as lipases que são moléculas hidrofílicas, isto é, solúveis em água, só podem hidrolisar os triacilgliceróis que ficam na interface óleo-água.

Assim, pra aumentar a hidrólise desses lipídios pelas lipases, é necessário aumentar a superfície de contato entre o óleo e a água, certo?

Pra isso, é só agitar a solução de óleo e água, o que irá formar pequenas gotas de lipídeos dispersas na solução aquosa, processo que chamamos de emulsificação, pois forma uma emulsão.

Isso acontece no estômago graças as ondas peristálticas que agitam o conteúdo no interior desse órgão, formando uma emulsão.

Com a emulsificação, forma-se muitas gotas de lipídios e a área de contato entre o óleo e a água aumenta bastante, facilitando a ação das lipases, que hidrolisam o triacilglicerol em ácido graxo e diacilglicerol.

Embora a digestão dos triacilgliceróis se inicia no estômago, por ação das lipases lingual e gástrica, a maior parte da digestão de lipídios acontece no intestino delgado, principalmente no duodeno, onde são secretados a bile e o suco pancreático.

Na bile, produzida no fígado e armazenada na vesícula biliar, encontramos os sais biliares, moléculas anfipáticas derivadas do colesterol que, juntamente com outras moléculas anfipáticas, como o próprio colesterol e os fosfolipídios, atuam como agentes emulsificantes, pois impedem que as gotas de lipídeos formadas pela emulsificação, se agreguem novamente.

Isso porque, essas moléculas anfipáticas se inserem na superfície das gotas lipídicas, com sua região hidrofóbica voltada para o interior da gotícula, e a sua região hidrofílica voltada para a solução aquosa. Com isso, uma maior área de contato fica disponível pra ação das enzimas do suco pancreático.

A lipase pancreática, diferente das lipases lingual e gástrica, tem atividade máxima em meio alcalino, clivando os triacilgliceróis remanescentes em ácidos graxos e monoacilgliceróis.

É interessante lembrar que a lipase pancreática precisa de um cofator pra agir na superfície das gotas lipídicas, e esse cofator também é secretado pelo pâncreas, e é chamado de colipase.

Uma das funções da colipase é manter a lipase próxima da superfície das gotas lipídicas, onde ela pode clivar os triacilgliceróis.

Ainda na secreção pancreática, encontramos enzimas como a fosfolipase, que hidrolisam os fosfolipídios em fosfatidilcolina e ácido graxo; e a colesterol esterase, que hidrolisa os ésteres de colesterol em ácido graxo e colesterol.

Todas as enzimas são hidrossolúveis e atuam na superfície das gotas lipídicas, que conforme vão se misturando com os sais biliares, podem dar origem a gotas lipídicas cada vez menores, até formar micelas mistas, isto é, pequenos discos lipídicos contendo sais biliares e fosfolipídios, diacil e monoacilgliceróis, ácido graxos, e colesterol.

As micelas mistas podem se difundir para as regiões mais próxima da mucosa intestinal, levando os produtos da digestão de lipídios para próximo da membrana apical dos enterócitos que formam as microvilosidades.

Os produtos da digestão de lipídios podem atravessar a membrana apical por difusão, principalmente os ácidos graxos e os monoacilgliceróis.

Embora esses lipídios possam atravessar a bicamada lipídica, já foram descritas algumas proteínas transportadoras específicas pra esses lipídeos, na membrana apical dos enterócitos.

Uma vez no interior dos enterócitos, esses lipídeos são direcionados pro retículo endoplasmático liso, onde podem formar novamente os triacilgliceróis.

Esses lipídios, juntamente com colesterol e outros lipídios absorvidos, são então associados a proteínas específicas, conhecidas como apolipoproteínas, formando uma grande estrutura, cheia de lipídeos, chamada de quilomícron, o qual, por exocitose, deixa os enterócitos pela membrana basolateral, em direção aos capilares sanguíneos.

No entanto, os quilomícrons são tão grandes que não conseguem passar pelos poros do endotélio dos capilares sanguíneos, mas passam pelos poros do endotélio dos capilares linfáticos, entrando assim na circulação linfática primeiro.

Como toda linfa é drenada para o sistema circulatório através do ducto linfático, os quilomícrons finalmente chegam à circulação sanguínea, onde podem distribuir os lipídeos absorvidos para os tecidos do organismo, principalmente tecido adiposo e fígado.

Então, resumindo tudo que vimos neste vídeo, lembrem-se que:

  • A digestão de lipídios se inicia no estômago por ação das lipases lingual e gástrica;

  • A emulsão formada pela agitação do conteúdo estomacal é importante pra ação das lipases;

  • No duodeno, os sais biliares atuam como agentes emulsificantes, auxiliando a ação das enzimas do suco pancreático, como a lipase pancreática, fosfolipase e colesterol esterase.

  • Os sais biliares são necessários pra formação das micelas mistas que contribuem pra absorção de lipídios.

  • Dentro dos enterócitos, os lipídios absorvidos se associam com apolipoproteínas pra formar os quilomícrons, responsáveis pela distribuição dos lipídios absorvidos no tubo digestório para os demais tecidos do organismo.

Bom, se vocês ficaram com alguma dúvida podem deixar aí nos comentários que a gente tenta responder, blz? A gente se vê num próximo vídeo. Abraço!

Sobre a autora

Mirian Ayumi Kurauti é apaixonada pela fisiologia, com uma trajetória acadêmica admirável. Ela se formou em Biomedicina pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), fez mestrado e doutorado em Biologia Funcional e Molecular com ênfase em Fisiologia pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), e ainda atuou como pesquisadora de pós-doutorado na mesma instituição. Além disso, já lecionou fisiologia humana na Universidade Estadual de Maringá (UEM) e biologia celular na UEL. Atualmente, é professora de fisiologia humana na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) e a mente criativa por trás do MK Fisiologia.

Apaixonada pela docência, Mirian adora dar aulas de fisiologia, mas de um jeito mais descontraído e se diverte muito ensinando fisiologia. Ela está sempre buscando aprender algo novo não só sobre fisiologia, mas sobre qualquer coisa sobre a vida, o universo e tudo mais. Por isso, é uma consumidora compulsiva de conteúdos de divulgadores científicos. Nas horas vagas, você pode encontrá-la na piscina, treinando e participando de competições de natação. Para Mirian, a vida só tem graça, se ela tiver desafios a serem superados. Hoje, o seu maior desafio é ajudar o maior número de estudantes a entender de verdade a fisiologia humana.

Foto da autora do post Mirian Ayumi Kurauti criadora do MK Fisiologia
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