
Digestão e absorção de proteínas
Este post é a transcrição da videoaula publicada em nosso canal do YouTube "Digestão e absorção de proteínas".
TRANSCRIÇÕESSISTEMA DIGESTÓRIO
Mirian Kurauti
8/31/20245 min read
E aí pessoal, tudo bem com vocês?
Neste vídeo a gente vai continuar a falar sobre a digestão e absorção dos macronutrientes da dieta, mais especificamente sobre a digestão e absorção das proteínas.
Se você quiser saber como os carboidratos são digeridos e absorvidos no tubo digestório, é só clicar no card aqui em cima (ou aqui). A digestão e absorção de lipídeos será abordada em um outro vídeo.
Bom, então sem perder muito tempo, bora ver como as proteínas são digeridas e absorvidas no tubo digestório.
Pra isso, vocês precisam se lembrar que as proteínas são polímeros de aminoácidos, ou seja, as proteínas são formadas por cadeias de aminoácidos que se associam por ligações peptídicas.
Então, pras proteínas serem absorvidas, essas ligações precisam ser hidrolisadas, precisa sofrer hidrólise, um processo catalisado pelas enzimas digestivas secretadas no lúmen do tubo digestório.
Todas essas enzimas digestivas, que podem, em conjunto ser chamadas de proteases, pois são enzimas que clivam proteínas. Essas proteases são todas secretadas no lúmen do tubo digestório, como zimogênios ou pró-enzimas, isto é, são secretadas como precursores inativos das enzimas, que precisam ser ativados pra ter sua atividade catalítica.
Mas aí você pode se perguntar:
-Por que eu já não secreto essas proteases na sua forma ativa?
A resposta é simples. Se essas proteases fossem sintetizadas nas células, já na sua forma ativa, elas poderiam começar a hidrolisar as proteínas da própria célula que as sintetizaram, e isso seria um problema. Por isso, essas proteases são sintetizadas e secretadas na sua forma inativa.
Então, o primeiro zimogênio que o bolo alimentar encontra, é o pepsinogênio, secretado pelas células principais localizadas nas glândulas gástricas.
Além disso, nessas mesmas glândulas encontramos células que secretam ácido clorídrico (HCL), as células parietais ou oxínticas. Essa secreção acidifica o meio e quando o pH cai abaixo de cinco, o pepsinogênio pode sofrer hidrólise espontânea, gerando pepsina, que agora sim, tem atividade catalítica e pode hidrolisar as proteínas da dieta.
A pepsina, tem atividade ótima em pH ácido, entre 1.8 a 3.5, um pH encontrado no lúmen do estômago durante os processos digestivos.
Essa protease é uma endopeptidase, pois hidrolisa apenas ligações peptídicas internas, não consegue hidrolisar ligações peptídicas das extremidades e, portanto, não consegue liberar aminoácidos livres, e seus produtos de degradação são pequenos peptídeos.
Além de hidrolisar proteínas da dieta, a pepsina hidrolisa o pepsinogênio, formando mais pepsina, um processo que podemos chamar de autoativação.
Agora uma informação importante. Apenas cerca de 10 a 15% das proteínas da dieta são digeridas no estômago. Portanto, a digestão das proteínas ocorre principalmente no intestino delgado (mais precisamente no duodeno).
Nesse segmento do intestino delgado, o quimo que vem do estômago é misturado com secreções produzidas: pela própria mucosa intestinal, pelo fígado (isto é, a bile) e pelo pâncreas exócrino (isto é, o suco pancreático). Essas secreções contêm bastante íons bicarbonato (HCO3-) que neutraliza o ácido vindo do estômago.
O pH no duodeno se torna mais alcalino e isso inativa a pepsina. Mas no suco pancreático, encontramos várias outras proteases secretadas como zimogênios:
o tripsinogênio
o quimiotripsinogênio
as procarboxipeptidases
e a pró-elastase
Uma vez no lúmen do duodeno, todos esses zimogênios precisam ser ativados. Pra isso acontecer, existe uma enzima na borda em escova, conhecida como enteroquinase ou enteropeptidase, que hidrolisa o tripsinogênio gerando a forma ativa da enzima, a tripsina, a qual pode hidrolisar os demais zimogênios formando as enzimas ativas: quimiotripsina, carboxipeptidases e elastase.
Enquanto a tripsina, a quimiotripsina e a elastase são endopeptidases, que hidrolisam as proteínas em pequenos peptídeos; as carboxipeptidases são exopeptidases, e removem aminoácidos das extremidades, mais especificamente da extremidade C-terminal, liberando aminoácidos livres.
Além das proteases pancreáticas, também existem outras proteases presentes na borda em escova, da mucosa intestinal. Como essas proteases, hidrolisam peptídeos, elas são chamadas de peptidases.
Essas peptidases, assim como as carboxipeptidases do suco pancreático, são exopeptidases. Um exemplo é a aminopeptidase que remove aminoácidos da extremidade N-terminal, liberando aminoácidos livres.
Diferente da absorção dos carboidratos, que não são absorvidos na forma de oligossacarídeos, a absorção de proteínas pode ocorrer na forma de oligopeptídeos, principalmente dipeptídeos e tripeptídeos, pois, na membrana dos enterócitos existem transportadores de peptídeos do tipo 1 (ou PepT1) que realiza transporte de di ou tripeptídeos acoplado ao transporte de íons hidrogênio, os quais são reciclados ativamente por um transportador de sódio-hidrogênio também localizado na membrana apical dos enterócitos.
A maioria dos di e tripeptídeos absorvidos são hidrolisados por peptidases intracelulares nos enterócitos, liberando aminoácidos livres que juntamente como os aminoácidos absorvidos principalmente por cotransporte com íons sódio (Na+) lá na membrana apical, deixam os enterócitos por transportadores específicos presentes na membrana basolateral. Alguns di e tri peptídeos também podem ser absorvidos através de transportadores específicos.
Por fim, alguns peptídeos podem ser absorvidos intactos, via transcitose, uma endocitose seguida de exocitose. Pra que não lembra o que é endocitose e exocitose, clica aqui no card pra revisar.
Em adultos, essa absorção de peptídeos intactos não é muito comum, mas em recém nascidos, até os seis meses de idade, esse tipo de absorção de proteínas acontece com mais frequência, e é muito importante pra absorção de anticorpos presentes no leite materno, contribuindo pra uma transferência passiva de imunidade.
Então, resumindo tudo que vimos neste vídeo, lembrem-se que:
As proteases são sintetizadas e secretadas como zimogênios, e precisam ser ativadas no lúmen do tubo digestório.
A pepsina é a protease que inicia a digestão de proteínas no estômago, e seus produtos de degradação são pequenos peptídeos.
No duodeno, proteases pancreáticas e peptidases da borda em escova continuam a digestão das proteínas e dos peptídeos, resultando em oligopeptídeos e aminoácidos livres, os quais podem ser absorvidos por mecanismos específicos.
Bom, se vocês ficaram com alguma dúvida podem deixar aí nos comentários que a gente tenta responder, blz? A gente se vê num próximo vídeo. Abraço!


Sobre a autora
Mirian Ayumi Kurauti é apaixonada pela fisiologia, com uma trajetória acadêmica admirável. Ela se formou em Biomedicina pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), fez mestrado e doutorado em Biologia Funcional e Molecular com ênfase em Fisiologia pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), e ainda atuou como pesquisadora de pós-doutorado na mesma instituição. Além disso, já lecionou fisiologia humana na Universidade Estadual de Maringá (UEM) e biologia celular na UEL. Atualmente, é professora de fisiologia humana na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) e a mente criativa por trás do MK Fisiologia.
Apaixonada pela docência, Mirian adora dar aulas de fisiologia, mas de um jeito mais descontraído e se diverte muito ensinando fisiologia. Ela está sempre buscando aprender algo novo não só sobre fisiologia, mas sobre qualquer coisa sobre a vida, o universo e tudo mais. Por isso, é uma consumidora compulsiva de conteúdos de divulgadores científicos. Nas horas vagas, você pode encontrá-la na piscina, treinando e participando de competições de natação. Para Mirian, a vida só tem graça, se ela tiver desafios a serem superados. Hoje, o seu maior desafio é ajudar o maior número de estudantes a entender de verdade a fisiologia humana.



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