
Digestão e absorção de carboidratos
Este post é a transcrição da videoaula publicada em nosso canal do YouTube "Digestão e absorção de carboidratos".
TRANSCRIÇÕESSISTEMA DIGESTÓRIO
Mirian Kurauti
8/30/20246 min read
E aí pessoal, tudo bem com vocês?
Nesse vídeo a gente vai falar sobre a digestão e absorção de um macronutriente da dieta: os carboidratos.
Então, pra começar a falar sobre os processos digestivos dos macronutrientes, lembrem-se que a digestão depende tanto das funções motoras como das funções secretoras do trato gastrointestinal.
Dentre as funções motoras podemos citar: a mastigação, responsável pela trituração dos alimentos sólidos; e dentre as funções secretoras, a secreção das enzimas digestivas é necessária pras reações químicas que quebram, ou melhor, hidrolisam, os macronutrientes em moléculas menores, as quais podem então ser absorvidas.
E pra quem não se lembra, absorção se refere ao transporte de moléculas, do lúmen do tubo digestório para o meio interno, isto é, para o líquido extracelular ou LEC.
Neste vídeo, focaremos apenas nos processos de digestão e absorção dos carboidratos, pois a digestão e absorção dos outros macronutrientes, isto é, proteínas e lipídios, serão abordos em outros vídeos.
Então bora falar sobre a digestão dos carboidratos, o macronutriente mais abundante da dieta.
Pra isso, a gente precisa lembrar que os carboidratos presentes nos alimentos, se encontram principalmente na forma de polímeros de monossacarídeos, ou polissacarídeos, e pra esses polissacarídeos serem absorvidos, eles precisam sofrer hidrólise, isto uma reação química na qual uma molécula de água é usada para desfazer uma ou mais ligações químicas.
No tubo digestório a hidrólise pode ser catalisada por diferentes enzimas digestivas.
O principal tipo de polissacarídeo encontrado nos alimentos é o amido, um polímero de glicose de origem vegetal, pode ser encontrado na forma linear, chamada de amilose, ou ramificada, chamada de amilopectina.
Em menor quantidade, também podemos encontrar outro polissacarídeo bastante ramificado, o glicogênio, um polímero de glicose, mas de origem animal.
Nesses dois polissacarídeos, as moléculas de glicose podem se ligar através de ligações glicosídicas alfa 1-4 e alfa 1-6, que dão origem aos pontos de ramificação da cadeia de glicose.
O glicogênio tem mais ligações alfa 1-6 sendo, portanto, mais ramificado do que a amilopectina, o componente ramificado do amido.
Além do amido e do glicogênio, podemos encontrar outros polissacarídeos, mas com ligações glicosídicas do tipo beta 1-4, como é o caso da celulose e alguns outros polissacarídeos de origem vegetal que, em conjunto, são chamados de “fibras”.
Como não temos enzimas capazes de hidrolisar esse tipo de ligação interna dessa cadeia de glicose, esses polissacarídeos podem passar intactos pelo intestino delgado, o principal local de digestão dos alimentos.
Mas, durante a passagem pelo intestino grosso, muitas fibras podem ser digeridas pelas bactérias da flora intestinal, também conhecida como microbiota intestinal.
Outros carboidratos bastante comuns nos alimentos da dieta, são os dissacarídeos, formados pela ligação de dois monossacarídeos. Dentre esses dissacarídeos, a sacarose é a mais comum. Esse dissacarídeo é formado pela ligação de uma molécula de glicose e uma molécula de frutose.
Sabe o açúcar que você usa pra fazer um doce? Ele é extraído da cana e é basicamente sacarose, a qual também é encontrada nas frutas.
No leite e alimentos derivados, encontramos a lactose, um dissacarídeo formado pela ligação de uma glicose com uma galactose.
Apresentado os principais carboidratos da dieta, podemos tentar entender como os carboidratos são digeridos.
A digestão desses carboidratos se inicia na boca, pela ação da enzima presente na saliva, a alfa-amilase salivar. Essa enzima é uma endoenzima, isto é, só hidrolisa ligações glicosídicas internas, não consegue hidrolisar ligações das extremidades, portanto, não consegue liberar moléculas de glicose livre e seus principais produtos de degradação são os oligossacarídeos como a maltose (formada por duas moléculas de glicose, portanto um dissacarídeo também); a maltotriose (formada por três moléculas de glicose); e as dextrinas alfa limitadas (oligossacarídeos formados por ligações alfa 1-6, ou seja, com remificações), pois lembrem-se que a amilase salivar não hidrolisa, não quebra, esse tipo de ligação.
Como a passagem do alimento pela boca é rápido, pouco carboidrato é digerido nesse primeiro segmento do tubo digestório.
Quando o alimento chega no estômago e é misturado com a secreção gástrica, formando o quimo, o pH desse bolo cai abaixo de 4, e isso inativa a amilase salivar e a digestão de carboidratos pode ser interrompida pois não são secretadas enzimas digestivas pra carboidratos no estômago.
Mas ao chegar no intestino delgado (no duodeno), o pH ácido é neutralizado pelo bicarbonato da secreção pancreática, e o pH se torna mais alcalino.
Ainda nessa secreção vinda do pâncreas, encontramos outra alfa-amilase, a alfa-amilase pancreática, que também é uma endoenzima, assim como a amilase salivar, e continua hidrolisando o amido e o glicogênio em maltose, maltotriose e dextrinas.
Então agora, o que temos no duodeno são esses produtos da ação das amilases, mais os dissacarídeos, como a sacarose e a lactose presentes nos alimentos da dieta.
No entanto ainda não é possível absorver esses oligossacarídeos, que devem ser hidrolisados pra liberar os monossacarídeos, isto é, pra liberar moléculas de glicose, frutose e galactose.
As enzimas que catalisam essa hidrólise estão presentes no epitélio da mucosa do intestino delgado (principalmente no duodeno), lá nas microvilosidades dos enterócitos, as células que revestem o epitélio da mucosa intestinal. Essas microvilosidades formam o que chamamos de “borda em escova”.
Essas enzimas são exoenzimas, que diferente das endoenzimas pois conseguem hidrolisar ligações glicosídicas das extremidades, liberando glicose, frutose e galactose desses oligossacarídeos.
Dentre essas exoenzimas da borda em escova nós temos:
a isomaltase, que hidrolisa a dextrina;
a maltase, que hidrolisa a maltose e a maltotriose;
a sacarase, que hidrolisa a sacarose liberando glicose mais frutose;
e a lactase, que hidrolisa a lactose liberando glicose mais galactose.
Então agora sim, a glicose, a frutose e a galactose podem ser absorvidas, um processo que ocorre no próprio intestino delgado, principalmente no duodeno, através de proteínas transportadoras específicas, presentes na membrana apical dos enterócitos, isto é, a membrana voltada pro lúmen do tubo digestório.
A glicose e a galactose são transportadas pra dentro dos enterócitos pelo cotransportador de sódio e glicose, o SGLT1. Só relembrando, esse cotransportador realiza um transporte ativo secundário, pois pra transportar a glicose e a galactose contra os seus gradientes de concentração, ele usa o gradiente de concentração do íon sódio (Na+).
A frutose é transportada passivamente, isto é, por difusão facilitada, através de um transportador específico chamado de GLUT 5, ou traduzindo do inglês ("glucose transporter type 5") transportador de glicose do tipo 5.
Embora o nome dessa proteína indique que ela é um transportador de glicose, ela só transporta frutose. Mas é que quando descobriram ela, acharam que era mais um tipo de transportador de glicose, e o nome ficou.
Na membrana basolateral (a membrana voltada para os capilares sanguíneos), a glicose, a galactose e até mesmo a frutose podem deixar os enterócitos por transportadores de glicose do tipo dois, ou GLUT 2. Mas, é possível que a frutose possa ser transportada também por algum outro tipo de transportador ainda não identificado.
Uma vez absorvidos, esses monossacarídeos, podem ser captados pelas células de todo o organismo, e metabolizados pra fornecer energia. Alguns carboidratos podem ainda ser adicionados a estruturas de proteínas e lipídeos, formando as glicoproteínas e glicolipídios, moléculas com diversas funções no organismo.
Então, resumindo tudo que vimos neste vídeo, lembrem-se que:
A digestão dos carboidratos começa na boa e termina no intestino delgado, graças a ação de várias endoenzimas e exoenzimas.
As exoenximas da borda em escova são necessárias para liberar os monossacarídeos: glicose, frutose e galactose.
Esses monossacarídeos, finalmente, podem ser absorvidos, principalmente no intestino delgado, através de transportadores específicos presentes na membrana apical e basolateral dos enterócitos.
Bom, se vocês ficaram com alguma dúvida podem deixar aí nos comentários que a gente tenta responder, blz? A gente se vê num próximo vídeo. Abraço!


Sobre a autora
Mirian Ayumi Kurauti é apaixonada pela fisiologia, com uma trajetória acadêmica admirável. Ela se formou em Biomedicina pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), fez mestrado e doutorado em Biologia Funcional e Molecular com ênfase em Fisiologia pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), e ainda atuou como pesquisadora de pós-doutorado na mesma instituição. Além disso, já lecionou fisiologia humana na Universidade Estadual de Maringá (UEM) e biologia celular na UEL. Atualmente, é professora de fisiologia humana na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) e a mente criativa por trás do MK Fisiologia.
Apaixonada pela docência, Mirian adora dar aulas de fisiologia, mas de um jeito mais descontraído e se diverte muito ensinando fisiologia. Ela está sempre buscando aprender algo novo não só sobre fisiologia, mas sobre qualquer coisa sobre a vida, o universo e tudo mais. Por isso, é uma consumidora compulsiva de conteúdos de divulgadores científicos. Nas horas vagas, você pode encontrá-la na piscina, treinando e participando de competições de natação. Para Mirian, a vida só tem graça, se ela tiver desafios a serem superados. Hoje, o seu maior desafio é ajudar o maior número de estudantes a entender de verdade a fisiologia humana.



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