
[#4] OVÁRIOS: ESTROGÊNIO (ESTRADIOL) E PROGESTERONA
Este post é a transcrição da videoaula publicada em nosso canal do YouTube "[#4] OVÁRIOS: ESTROGÊNIO (ESTRADIOL) E PROGESTERONA".
TRANSCRIÇÕESSISTEMA ENDÓCRINO
Mirian Kurauti
1/27/202510 min read
E aí pessoal, tudo bem com vocês?
Nos vídeos anteriores, a gente falou sobre a regulação hormonal do ciclo menstrual. Em um vídeo falamos de maneira mais específica sobre o ciclo ovariano, e em um outro vídeo falamos de maneira mais específica sobre o ciclo uterino. Nesse vídeo, a gente vai falar de maneira mais específica sobre o mecanismo de síntese, secreção, transporte e ação dos hormônios ovarianos, estrogênio e progesterona.
Bom, pra você que tá chegando agora e inda não me conhece eu sou Mirian Kurauti, professora, mestre, doutora e criadora do canal MK Fisiologia, um canal que tem como principal objetivo descomplicar a fisiologia humana. Então se você tá precisando entender de verdade a fisiologia, já se inscreve no canal e ative as notificações pra você não perder os próximos vídeos que a gente postar por aqui.
Agora bora falar sobre os mecanismos de síntese, secreção, transporte e ação do estrogênio e da progesterona?
Como vimos nos vídeos anteriores, estrogênio e progesterona são hormônios esteroides e lipossolúveis, e a síntese desses hormônios acontece principalmente nos ovários, mais especificamente nas células da granulosa e nas células da teca dos folículos ovarianos ou do corpo lúteo, dependendo da fase do ciclo ovariano.
Na fase folicular, enquanto as células da teca foliculares sintetizam androgênios, principalmente a androstenediona, as células da granulosa foliculares convertem esses androgênios em estrogênios, estrona e, principalmente, estradiol, graças a ação da enzima aromatase, cuja síntese é estimulada pelo FSH.
Na fase lútea, as células da teca luteínicas continuam sintetizando androgênios, porém, as células da granulosa luteínicas, além de converter androstenediona em estrogênios, agora sintetiza progesterona, graças a ação de enzimas específicas, cuja síntese é estimulada pelo LH.
Como os estrogênios e a progesterona, são hormônios esteroides e lipossolúveis, esses hormônios não podem ficar armazenados em vesículas secretoras. Portanto, assim que são sintetizados, eles podem se difundir através das membranas e chegar até os capilares sanguíneos mais próximos.
Uma vez na circulação sanguínea, o estradiol que a gente pode chamar simplesmente de estrogênio, é transportado principalmente ligado a proteínas plasmáticas específicas como a globulina de ligação aos hormônios sexuais (SHBG) e a albumina. Como o estrogênio se liga com alta afinidade a essas proteínas plasmáticas, o tempo de meia-vida desse hormônio é relativamente longo e fica em torno de 13 horas.
Já a progesterona, embora seja transportada principalmente ligada a proteínas plasmáticas específicas como a albumina e globulina de ligação ao cortisol (CBG), ela apresenta um tempo de meia-vida bem mais curto do que o tempo de meia-vida do estrogênio, em torno de 5 minutos, isso porque a progesterona parece ter uma baixa afinidade pelas proteínas plasmáticas, podendo assim ser rapidamente removida da circulação sanguínea, metabolizada no fígado e excretada principalmente na urina.
O mecanismo de ação do estrogênio e da progesterona é muito parecido com o mecanismo de ação da testosterona e dos demais hormônios esteroides, como os hormônios do córtex das glândulas adrenais, como a aldosterona e o cortisol. Ou seja, o estrogênio e a progesterona se difundem através da bicamada lipídicas das membranas celulares e se ligam em receptores específicos, receptor de estrogênio ou receptor de progesterona, os quais ficam localizados no citoplasma das células-alvo.
Quando isso acontece, os receptores se desligam de proteínas inibitórias e são ativados, podendo então ser transportados pro núcleo, onde atuam como fatores de transcrição que se ligam a regiões específicas do DNA (chamadas de elementos responsivos) regulando assim a transcrição de determinados genes, regulando assim a síntese de determinadas proteínas, o que pode gerar respostas celulares específicas em cada célula-alvo desses hormônios.
-Tá mais quais são os alvos do estrogênio e da progesterona, e o que exatamente o estrogênio e a progesterona fazem nos seus alvos?
Bom, a gente já viu que o estrogênio e a progesterona podem agir nos ovários, no endométrio uterino, nas tubas uterinas, no miométrio uterino e no colo uterino. E pra lembrar das ações desses hormônios nesses alvos é só lembrar que o estrogênio domina antes da ovulação e, portanto, vai ter ações que favorecem tanto a ovulação, quando a fecundação do óvulo por um espermatozoide; e a progesterona domina depois da ovulação e, portanto, vai ter ações que favorecem a implantação e manutenção da gravidez.
Mas além desses alvos já citados nos vídeos anteriores, lembre-se que o estrogênio e a progesterona também podem agir no canal vaginal e nas glândulas mamárias.
No canal vaginal, o estrogênio estimula a proliferação do epitélio que reveste esse canal, além de estimular a síntese de glicogênio por esse epitélio. O glicogênio sintetizado pode ser metabolizado em ácido lático, o famoso lactato, por bactérias que vivem naturalmente no canal vaginal, tornando o ambiente mais ácido, impedindo infecções por outras bactérias e fungos que podem prejudicar a saúde.
Já a progesterona, diminui a proliferação do epitélio do canal vaginal, favorecendo a descamação desse epitélio.
Nas glândulas mamárias o estrogênio estimula a proliferação das células do estroma e das células dos ductos, promovendo assim o crescimento dessas glândulas. Além disso, o estrogênio prepara as glândulas mamárias pra responder a progesterona, aumentando a síntese de receptores de progesterona.
A progesterona então estimula o desenvolvimento das células dos alvéolos, promovendo ainda mais o crescimento das glândulas mamárias. Além disso, assim como no endométrio uterino, a progesterona pode favorecer o acúmulo de líquidos nessas glândulas que podem ficar bastante edemaciadas, causando um pouco de dor em algumas mulheres, o que a gente chama de mastalgia.
Então até aqui, podemos concluir que todas as alterações cíclicas que acontecem no sistema reprodutor feminino, ao longo de um ciclo menstrual, são reguladas pelos hormônios ovarianos, estrogênio e progesterona. Porém, as ações desses hormônios, principalmente do estrogênio, podem ir além do sistema reprodutor.
Por exemplo, o estrogênio pode agir nos ossos, principalmente nas placas epifisárias dos ossos longos, estimulando o crescimento, porém ao mesmo tempo que ele estimula o crescimento, ele estimula a maturação dessas placas epifisárias, estimulando o fechamento dessas placas e o fim da fase de crescimento dos ossos longos das meninas. Além disso, o estrogênio inibe a reabsorção óssea, uma ação que protege os ossos da mulher em idade reprodutiva.
No fígado, o estrogênio estimula a captação de LDL, diminuindo os níveis circulantes dessa lipoproteína de baixa densidade, ao mesmo tempo que aumenta os níveis circulantes da lipoproteína de alta densidade, HDL. Essa é uma das explicações das mulheres em idade reprodutiva terem menos risco de desenvolver aterosclerose, quando a gente compara com os homens, por exemplo.
No sistema cardiovascular, o estrogênio estimula a vasodilatação e favorece a coagulação sanguínea por aumentar fatores coagulantes e diminuir fatores anticoagulantes.
No tecido adiposo, o estrogênio estimula a deposição de gordura subcutânea, principalmente nas mamas, no quadril e nas coxas.
Na pele, o estrogênio estimula a proliferação dos queratinócitos, principais células da epiderme, e aumenta a síntese e deposição de colágeno e glicosaminoglicanos na matriz extracelular da derme. Essas ações do estrogênio deixa a pele da mulher com uma textura mais lisa e macia.
No sistema nervoso central, o estrogênio parece ter ação protetora, inibindo a morte dos neurônios, o que pode ser uma das explicações das mulheres em idade reprodutiva apresentarem menos riscos de desenvolver doenças neurodegenerativas como a Doença de Alzheimer. Além disso, o estrogênio parece melhorar funções cognitivas, como o aprendizado e a memória.
Outra ação do estrogênio no sistema nervoso central, é modular a liberação de neurotransmissores relacionado ao humor e a sensibilidade à dor, como por exemplo serotonina, noradrenalina e dopamina, melhorando o humor e diminuindo a sensibilidade à dor nas mulheres. Ou seja, o estrogênio deixa a gente invencível, mulher maravilha total.
-Nossa professora, o estrogênio faz muita coisa. Mas e a progesterona, não tem nenhuma ação no sistema nervoso central?
Tem sim. A progesterona parece alterar o “termostato” do corpo, isto é, altera o set point ou ponto de ajuste lá no centro de controle da temperatura que fica localizado no hipotálamo, e isso altera a regulação da temperatura corporal, que tende a subir cerca de 0,5 ou meio grau célsius, depois da ovulação quando as ações da progesterona dominam.
Ah outra coisa que a progesterona faz no sistema nervoso central é diminuir a excitabilidade dos neurônios, ou seja, deixa a mulher mais calma, mais tranquila, menos ansiosa, tem um efeito ansiolítico.
E agora, que você viu tudo que o estrogênio e a progesterona fazem no sistema nervoso central, você já deve imaginar o que pode acontecer no final do ciclo menstrual, quando o corpo lúteo regride e os níveis desses hormônios sofrem uma queda brusca.
Pois é, com pouco estrogênio a mulher tende a ter alterações no humor, e com pouca progesterona, a mulher tende a ficar mais ansiosa e mais agitada, explicando assim a famosa tensão pré-menstrual ou TPM, ou síndrome pré-menstrual.
Tá vendo só como é legal entender as ações do estrogênio e da progesterona e relacionar isso com as alterações cíclicas que acontecem ao longo do ciclo menstrual? Tudo passa a fazer mais sentido quando a gente entende essas ações do estrogênio e da progesterona.
Enfim, outra coisa que dá pra você prever só de saber as ações desses hormônios, são as consequências da menopausa, que acontece por volta dos 51 anos de idade na maioria das mulheres, mas pode acontecer mais cedo ou mais tarde em algumas mulheres.
A menopausa é a interrupção dos ciclos menstruais, que acontece devido a perda de praticamente todos os folículos ovarianos, o que derruba os níveis de estrogênio, progesterona e inibina. E aí, sem esses hormônios pra fazer feedback negativo no eixo hipotálamo-hipófise, a secreção de GnRH pelos neurônios do hipotálamo, e FSH e LH pelos gonadotrofos da adeno-hipófise aumenta bastante, na tentativa de estimula os folículos a sintetizar e secretar estrogênio e progesterona. Mas como não tem folículo os níveis de estrogênio e progesterona não aumentam.
E é a falta desses hormônios, principalmente do estrogênio, que explica a maioria das consequências da menopausa, como a atrofia dos órgãos genitais femininos, atrofia das glândulas mamárias, maior risco a osteoporose, maior risco a doenças cardiovasculares, maior risco a transtornos de humor como depressão, e maior a doenças neurodegenerativas como a Doença de Alzheimer.
As ondas de calor relatadas por muitas mulheres na menopausa, também perecem ocorrer devido à falta de estrogênio, por mecanismos ainda não muito bem esclarecidos.
Por causa de tudo isso que pode acontecer devido à falta de estrogênio, algumas mulheres que mal entraram na menopausa já querem fazer a reposição hormonal, porém, o médico precisa avaliar o risco e o benefício em cada caso, já que a reposição hormonal com estrogênios sintéticos tá associada ao maior risco a câncer de endométrio e câncer de mama devido aos efeitos proliferativos do estrogênio nesses tecidos. Além disso, essa reposição também pode aumentar os riscos de trombose devidos aos efeitos do estrogênio de favorecer a coagulação sanguínea.
Bom então resumindo tudo o que a gente viu nesse vídeo, lembre-se que:
O estrogênio e a progesterona são hormônios esteroides e lipossolúveis, sintetizados e secretados pelos folículos ovarianos e pelo copo lúteo ao longo dos ciclos menstruais.
Sendo lipossolúveis esses hormônios não ficam armazenados, e assim que são sintetizados são secretados.
A maior parte do estrogênio e progesterona circulantes se encontra ligada a proteínas plasmáticas específicas.
Tanto o estrogênio quando a progesterona, agem via receptores intracelulares que quando ativados atuam como fatores de transcrição, iniciando a transcrição de determinados genes, iniciando a síntese de determinadas proteínas, gerando assim respostas celulares específicas nas células-alvo.
Enquanto o estrogênio tem ações que favorecem a ovulação e a fecundação do óvulo por um espermatozoide, a progesterona tem ações que favorecem a implantação do embrião no endométrio uterino e a manutenção da gravidez.
E por fim, não se esqueça que esses hormônios, principalmente o estrogênio, também podem ter ações fora do sistema reprodutor feminino, explicando as alterações cíclicas que acontecem no organismo feminino e os sintomas da menopausa.
E aí, gostou do vídeo? Se gostou não esquece de curtir e compartilhar com aquele seu amigo que também tá precisando estudar esse conteúdo. E se você já me acompanha por aqui já sabe que você pode se tornar membro do canal e ter benefícios exclusivos, mas talvez o que você ainda não sabe é que agora você pode adquirir o nosso e-book com questões comentadas sobre a fisiologia do sistema endócrino pra ajudar você a arrasar na prova. O link desse e-book tá aqui na descrição do vídeo.
Bom, a gente vai ficando por aqui. Qualquer dúvida pode deixar aí nos comentários que a gente tenta responder, beleza? A gente se vê num próximo vídeo, abraço!


Sobre a autora
Mirian Ayumi Kurauti é apaixonada pela fisiologia humana, com uma trajetória acadêmica admirável. Ela se formou em Biomedicina pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), fez mestrado e doutorado em Biologia Funcional e Molecular com ênfase em Fisiologia na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), e ainda atuou como pesquisadora de pós-doutorado na mesma instituição. Além disso, já lecionou fisiologia humana na Universidade Estadual de Maringá (UEM) e biologia celular na UEL. A sua última experiência como professora de fisiologia humana foi na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Fundadora da MK Educação Digital Ltda (MK Fisiologia), atualmente, Mirian é a mente criativa por trás de todos os conteúdos publicados nas redes sociais da empresa.
Apaixonada pela docência, Mirian adora dar aulas de fisiologia humana, mas de um jeito mais descontraído e se diverte muito ensinando. Ela está sempre buscando aprender algo novo não só sobre fisiologia, mas sobre qualquer coisa sobre a vida, o universo e tudo mais. Por isso, é uma consumidora compulsiva de conteúdos de divulgadores científicos. Nas horas vagas, você pode encontrá-la na piscina, treinando e participando de competições de natação. Para Mirian, a vida só tem graça, se ela tiver desafios a serem superados. Hoje, o seu maior desafio é ajudar o maior número de estudantes a entender de verdade a fisiologia humana, principalmente através de suas videoaulas publicadas no canal do YouTube MK Fisiologia.



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