[#3] OVÁRIOS: CICLO MENSTRUAL (CICLO UTERINO)

Este post é a transcrição da videoaula publicada em nosso canal do YouTube "[#3] OVÁRIOS: CICLO MENSTRUAL (CICLO UTERINO)".

TRANSCRIÇÕESSISTEMA ENDÓCRINO

Mirian Kurauti

1/24/202510 min read

E aí pessoal, tudo bem com vocês?

No vídeo anterior, a gente começou a falar sobre a regulação do ciclo menstrual, mas a gente focou na regulação hormonal do ciclo ovariano. Nesse vídeo, a gente vai focar na regulação hormonal do ciclo uterino.

Então se você ainda não assistiu o vídeo anterior, eu recomendo muito você clicar aqui no card pra assistir (ou aqui) e depois voltar aqui nesse vídeo. Mas se você já assistiu, bora falar sobre a regulação hormonal do ciclo uterino?

Bom, pra entender a regulação hormonal do ciclo uterino a gente precisa primeiro lembrar que o útero é um órgão oco formado por três camadas:

  1. uma camada mucosa mais interna, que a gente chama de endométrio;

  2. uma camada muscular, formada por músculo liso, que a gente chama de miométrio;

  3. e uma camada de tecido conjuntivo mais externa, que a gente chama de perimétrio.

A camada que passa por grandes alterações cíclicas é a camada mais interna do útero, onde o embrião pode se implantar: o endométrio. Por isso o ciclo uterino também pode ser chamado de ciclo endometrial.

Esse ciclo de alterações do endométrio, pode ser dividido em três fases: fase menstrual, fase proliferativa e fase secretora, e essas fases são determinadas pelos eventos que acontecem na fase folicular e na fase lútea do ciclo ovariano, que a gente discutiu no vídeo anterior.

Bom, então lembre-se que quase no final da fase lútea do ciclo ovariano, se o óvulo não for fecundado por um espermatozoide, o corpo lúteo regride e entra em atresia. Esse evento causa uma queda brusca nos níveis de progesterona, estrogênio e inbina, já que esses hormônios estavam sendo produzidos pelo corpo lúteo. É a queda brusca nos níveis de progesterona e estrogênio que provocam a descamação do endométrio, isto é, o endométrio perde a camada onde o embrião poderia se implantar caso tivesse acontecido a fecundação, a camada funcional ou zona funcional do endométrio.

Nesse processo de descamação, vasos sanguíneos se rompem e um pouco se sangue é eliminado junto com o tecido descamado do endométrio, marcando o início da primeira fase do ciclo uterino, a fase menstrual.

Lembre-se que é o primeiro dia da menstruação que marca o início da primeira fase do ciclo uterino, a fase menstrual, e da primeira fase do ciclo ovariano, a fase folicular, ou seja, marca o início de todo o ciclo menstrual. Essa fase menstrual dura em média 3 a 5 dias em um ciclo menstrual de 28 dias, ou seja, a fase menstrual do ciclo uterino acompanha os primeiros dias da fase folicular do ciclo ovariano.

Então lembre-se que nessa fase do ciclo ovariano, conforme os folículos vão crescendo e se desenvolvendo, a síntese e secreção, principalmente de estrogênio, começa a aumentar, e assim como o estrogênio estimula a proliferação das células da granulosa lá nos folículos ovarianos, ele pode estimular a proliferação das células do endométrio que não foram descamadas, isto é, ele pode estimular a proliferação das células estromais e epiteliais da camada basal ou zona basal do endométrio. É a proliferação dessas células da zona basal que restaura o estroma e as glândulas uterinas da zona funcional do endométrio que foram perdidos na menstruação.

Portanto, a segunda fase do ciclo uterino é marcada pela restauração do estroma, das glândulas e também dos vasos sanguíneos da zona funcional do endométrio, que pode atingir de 3 a 5 milímetros de espessura, graças as ações proliferativas do estrogênio. Por isso, essa fase do ciclo uterino é chamada de fase proliferativa.

Outra ação do estrogênio durante a fase proliferativa, é estimular a síntese de receptores de progesterona, principalmente nas células da zona funcional do endométrio, preparando essas células pra responder a progesterona, na próxima fase do ciclo uterino que acontece junto com a fase lútea do ciclo ovariano.

Então não se esqueça que a fase proliferativa termina junto com a fase folicular, ou seja, termina quando acontece a ovulação e, portanto, é a partir da ovulação que começa tanto a próxima fase do ciclo ovariano, isto é, a fase lútea, como também a próxima fase do ciclo uterino, a fase secretora.

Lembre-se, depois da ovulação, o folículo maduro que foi rompido pra liberar o óvulo, dá origem ao corpo lúteo, o qual passa a sintetizar e secretar grandes quantidades de progesterona, estrogênio e inibina. O estrogênio continua promovendo o crescimento da zona funcional do endométrio que agora pode alcançar a sua espessura máxima de 5 a 6 milímetros. Porém, as ações do estrogênio vão diminuindo ao longo dessa fase, pois a progesterona tem ação antiestrogênica, diminui a síntese e de receptores de estrogênio e aumenta a degradação desse hormônio.

E lembra que na fase proliferativa o estrogênio aumentou o número de receptores de progesterona? Pois é, agora com os níveis de progesterona subindo até o seu máximo dentro do ciclo menstrual, as ações da progesterona começar a bombar na fase secretora.

-Tá mais quais as ações da progesterona no endométrio?

Presta atenção no nome dessa fase do ciclo uterino, fase secretora. Então adivinha o que a progesterona faz? Ela estimula a secreção das glândulas uterinas que cresceram ao longo da fase proliferativa. Essas glândulas secretam nutrientes, principalmente glicogênio, preparando o endométrio pra implantação do embrião, caso o óvulo seja fecundado por um espermatozoide.

Além disso, a progesterona estimula ainda mais a vascularização, os vasos se tornam tortuosos, parecendo uma espiral de um caderno. Por isso esses vasos da zona funcional do endométrio são chamados de artérias espiraladas.

A partir dessas artérias surgem arteríolas e capilares sanguíneos, os quais podem dar origem aos lagos venosos que nada mais são do que dilatações cheias de sangue venoso, importantes pra fornecer mais nutrientes e oxigênio pro embrião, caso ocorra a implantação na zona funcional do endométrio. Esse aumento da vascularização pode também favorecer o acúmulo de líquidos na zona funcional do endométrio, deixando essa zona mais edemaciada, o que ajuda a criar um ambiente rico em nutrientes, pro embrião.

Portanto, é importante perceber que todas as ações da progesterona, prepara o endométrio pra implantação do embrião, caso o óvulo seja fecundado por um espermatozoide.

Porém, se o óvulo não for fecundado, o corpo lúteo regride, entra em atresia, causando a queda brusca nos níveis de progesterona e estrogênio.

Então, bem no finalzinho da fase secretora, a queda nos níveis de progesterona e estrogênio, mas principalmente a queda nos níveis de progesterona, estimula a síntese e secreção de enzimas e substâncias inflamatórias pelo próprio endométrio.

As enzimas degradam a matriz extracelular dos tecidos e as substâncias inflamatórias, chamadas prostaglandinas, causam contração da musculatura lisa das artérias espiraladas da zona funcional do endométrio, causando vasoconstrição. Essa vasoconstrição causa isquemia, ou seja, diminui o fluxo sanguíneo na zona funcional do endométrio, provocando morte celular por falta de oxigênio, por hipóxia, provocando assim a descamação da zona funcional do endométrio, ou seja, provocando a menstruação.

A vasoconstrição das artérias espiraladas é seguida por vasodilatação, causando uma pequena hemorragia devido ao rompimento das artérias espiraladas da zona funcional do endométrio, e a mulher perde em média 30 ml de sangue durante a menstruação. É pouco, mas é o suficiente pra perder uma certa quantidade de ferro, e por isso as necessidades de ferro na dieta da mulher em idade reprodutiva acabam sendo maiores do que as necessidades de ferro na dieta dos homens, por exemplo.

Além disso, as prostaglandinas também causam a contração do miométrio, causando contrações uterinas que nesse momento é importante pra expulsar o sangue e o tecido descamado.

Na maioria das mulheres essas contrações uterinas somadas a outras ações inflamatórias das prostaglandinas são responsáveis pelas famosas cólicas menstruais. Portanto, adivinha que tipo de fármaco a gente pode usar pra tratar as cólicas menstruais? Anti-inflamatórios que tem como mecanismo de ação, inibir a síntese de prostaglandinas.

Bom, então resumindo o ciclo uterino, lembre-se que:

  • O ciclo uterino pode ser dividido em três fases: fase menstrual, fase proliferativa e fase secretora.

  • A fase menstrual começa com a descamação do endométrio, ou menstruação, devido a diminuição dos níveis de progesterona e estrogênio que acontece no final do ciclo anterior.

  • Quando a menstruação acaba, começa a fase proliferativa em que a zona funcional se regenera a partir da zona basal do endométrio, graças as ações do estrogênio sintetizado e secretado pelos folículos em desenvolvimento e depois pelo folículo maduro.

  • A fase proliferativa termina com a ovulação quando os níveis de estrogênio diminuem, marcando o início da fase secretora.

  • Na fase secretora, o corpo lúteo sintetiza e secreta grandes quantidades de progesterona e estrogênio, mais progesterona do que estrogênio, e as ações da progesterona predominam nessa fase do ciclo uterino.

  • A progesterona então prepara o endométrio pra implantação do embrião, que pode acontecer caso o óvulo seja fecundado por um espermatozoide.

  • Porém, se óvulo não for fecundado, o corpo lúteo regride, entra em atresia, derrubando os níveis de progesterona e estrogênio, encerrando a fase secretora e dando início a fase menstrual, dando início a mais um ciclo menstrual.

Bom então até aqui a gente falou sobre as alterações cíclicas que acontecem nos ovários e no endométrio uterino, porém é preciso lembrar que durante os ciclos menstruais outras alterações cíclicas também podem acontecer em outras estruturas do sistema reprodutor feminino, como por exemplo nas tubas uterinas, no miométrio uterino e no cérvix ou colo uterino.

Pois então lembre-se que assim como as alterações cíclicas no endométrio uterino são causadas pelas alterações dos níveis de estrogênio e progesterona ao longo do ciclo menstrual, as alterações cíclicas que acontecem nas tubas uterinas, no miométrio uterino e no colo uterino, também são causadas pelas alterações cíclicas nos níveis de estrogênio e progesterona.

Em resumo, como o estrogênio é o hormônio ovariano que domina antes da ovulação, esse hormônio vai ter ações que:

  • favorecem a fecundação do óvulo por um espermatozoide, ou seja, o estrogênio estimula a secreção de um muco rico em nutrientes nas tubas uterinas, local onde acontece a fecundação;

  • estimula o movimento dos cílios das células epiteliais e a contração da musculatura lisa da tuba uterina, contribuindo assim pra movimentar o óvulo em direção ao útero, local onde acontece a implantação do embrião;

  • estimula também a contração do miométrio uterino pra ajudar os espermatozoides a se movimentar em direção à tuba uterina;

  • e estimula a secreção de um muco bem fluido no colo uterino, além de promover a abertura do colo uterino, tudo pra facilitar a entrada dos espermatozoides.

Já a progesterona é o hormônio ovariano que domina depois da ovulação. Esse hormônio vai ter ações que:

  • não precisam mais favorecer a fecundação, mas precisam favorecer a implantação e a manutenção da gravidez, ou seja, a progesterona diminui o movimento dos cílios das células epiteliais e a contração da musculatura lisa da tuba uterina;

  • estimula o relaxamento do miométrio uterino favorecendo a implantação e manutenção da gravidez;

  • e estimula a secreção de um muco mais espesso no colo uterino, além de promover o fechamento do colo uterino, tudo pra dificultar a entrada de qualquer agente invasor que pode prejudicar o desenvolvimento do embrião.

Então finalizando esse vídeo, agora que a gente viu as principais ações do estrogênio e da progesterona nos ovários, endométrio uterino, tubas uterinas, miométrio uterino e colo uterino, lembre-se que esses hormônios, principalmente o estrogênio, também tem ações em outros órgãos que não fazem parte do sistema reprodutor feminino. Por isso, no próximo vídeo a gente vai dar mais detalhes sobre os mecanismos de ação não só do estrogênio, mas também da progesterona, não perca!

E aí, gostou do vídeo? Se gostou não esquece de curtir e compartilhar com aquele seu amigo que também tá precisando estudar esse conteúdo. E se você já me acompanha por aqui já sabe que você pode se tornar membro do canal e ter benefícios exclusivos, mas talvez o que você ainda não sabe é que agora você pode adquirir o nosso e-book com questões comentadas sobre a fisiologia do sistema endócrino pra ajudar você a arrasar na prova. O link desse e-book tá aqui na descrição do vídeo.

Bom, a gente vai ficando por aqui. Qualquer dúvida pode deixar aí nos comentários que a gente tenta responder, beleza? A gente se vê num próximo vídeo, abraço!

Sobre a autora

Mirian Ayumi Kurauti é apaixonada pela fisiologia humana, com uma trajetória acadêmica admirável. Ela se formou em Biomedicina pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), fez mestrado e doutorado em Biologia Funcional e Molecular com ênfase em Fisiologia na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), e ainda atuou como pesquisadora de pós-doutorado na mesma instituição. Além disso, já lecionou fisiologia humana na Universidade Estadual de Maringá (UEM) e biologia celular na UEL. A sua última experiência como professora de fisiologia humana foi na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Fundadora da MK Educação Digital Ltda (MK Fisiologia), atualmente, Mirian é a mente criativa por trás de todos os conteúdos publicados nas redes sociais da empresa.

Apaixonada pela docência, Mirian adora dar aulas de fisiologia humana, mas de um jeito mais descontraído e se diverte muito ensinando. Ela está sempre buscando aprender algo novo não só sobre fisiologia, mas sobre qualquer coisa sobre a vida, o universo e tudo mais. Por isso, é uma consumidora compulsiva de conteúdos de divulgadores científicos. Nas horas vagas, você pode encontrá-la na piscina, treinando e participando de competições de natação. Para Mirian, a vida só tem graça, se ela tiver desafios a serem superados. Hoje, o seu maior desafio é ajudar o maior número de estudantes a entender de verdade a fisiologia humana, principalmente através de suas videoaulas publicadas no canal do YouTube MK Fisiologia.

Foto da autora do post Mirian Ayumi Kurauti criadora do MK Fisiologia
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