[#3] GLÂNDULAS ADRENAIS: CORTISOL (GLICOCORTICOIDES)

Este post é a transcrição da videoaula publicada em nosso canal do YouTube "[#3] GLÂNDULAS ADRENAIS: CORTISOL (GLICOCORTICOIDES)".

TRANSCRIÇÕESSISTEMA ENDÓCRINO

Mirian Kurauti

12/27/20248 min read

E aí pessoal, tudo bem com vocês?

Eu sou Mirian Kurauti aqui do canal MK Fisiologia e nesse vídeo a gente vai falar sobre o principal glicocorticoide sintetizado e secretado pelo córtex das glândulas adrenais, o cortisol.

Nos vídeos anteriores, a gente fez uma introdução sobre as glândulas adrenais e falou sobre o principal mineralocorticoide sintetizado e secretado pelo córtex adrenal, a aldosterona. Então, se você perdeu esses vídeos, é só clicar aqui no card pra assistir. Mas se você já assistiu, bora falar sobre o cortisol.

Como vocês devem saber, o cortisol é um potente glicocorticoide. Mas o que seria um glicocorticoide?

De novo, prestem atenção no nome. “Corticoide” porque é sintetizado e secretado pelo córtex adrenal, e “Glico” porque participa da regulação da concentração de glicose no sangue, ou seja, participa da regulação da glicemia.

Pra isso, o cortisol pode agir em vários tecidos, e em todos os tecidos o cortisol atravessa a membrana celular e se liga ao receptor de glicocorticoide, localizado no citoplasma. Uma vez ativado, esse receptor pode seguir pro núcleo onde interage com regiões específicas do DNA, os elementos responsivos aos glicocorticoides e isso pode ativar ou inibir a transcrição de genes alvos específicos.

No fígado, o cortisol estimula a transcrição de genes que codificam enzimas da gliconeogênese. Isso aumenta a produção de glicose a partir de aminoácidos, vindos da proteólise, isto é, da degradação de proteínas que acontece no tecido muscular, um processo estimulado pelo cortisol. Além disso o glicerol, vindo da lipólise, isto é, da degradação dos triacilgliceróis no tecido adiposo, que também é estimulada pelo cortisol, pode servir como substrato para a gliconeogênese que acontece no fígado.

Além de estimular a proteólise e a lipólise nesses tecidos, o cortisol inibe a síntese de proteínas e a lipogênese, isto é, a síntese de triacilgliceróis.

Uma outra ação importante, que favorece o aumento da glicemia, é a inibição da captação de glicose pelo tecido muscular e pelo tecido adiposo.

Bom, mas além de elevar a glicemia, lembre-se que o cortisol tem várias outras ações fisiológicas. Por exemplo, no coração, o cortisol estimula a transcrição de genes que codificam receptores adrenérgicos, e isso acaba aumentando o número desses receptores nas fibras cardíacas, o que aumenta a sensibilidade do coração aos efeitos da noradrenalina e adrenalina, que como vocês devem se lembrar, aumentam a frequência cardíaca e o débito cardíaco, isto é, aumenta a quantidade de sangue ejetado pelo coração, aumenta o bombeamento de sangue pelo coração.

Células do sistema imunológico também expressam receptores de glicocorticoide sendo, portanto, alvos do cortisol. O efeito geral do cortisol sobre essas células é diminuir a resposta inflamatória, apresentando, portanto, uma ação anti-inflamatória. Por isso os glicocorticoides sintético são bastante utilizados no tratamento de doenças inflamatórias crônicas, pois agem como potentes anti-inflamatórios, por meio de vários mecanismos, dentre eles a inibição da produção de citocinas pró-inflamatórias produzidas pelas células do sistema imunológico.

Nos ossos, o cortisol age nos osteoblastos estimulando essas células a secretar fatores parácrino que ativam os osteoclastos, células que fazem a reabsorção óssea, ou seja, secretam ácidos e enzimas que hidrolisam a matriz óssea, liberando cálcio e fosfato na circulação sanguínea. Por esse motivo, cortisol em excesso pode causar osteoporose, como veremos adiante.

Durante o desenvolvimento fetal o cortisol age em vários tecidos, sendo importante pro desenvolvimento normal do sistema nervoso central, retina, pele, trato gastrointestinal e pulmões. Especificamente nos pulmões o cortisol estimula a diferenciação e maturação das células alveolares tipo II, também chamadas de pneumócitos tipo II, os quais são responsáveis pela síntese de surfactante.

Enfim, como podemos perceber, o cortisol age em diversos tipos de células e por isso as suas ações fisiológicas são diversas e não se restringem apenas ao aumento da glicemia. Lembre-se disso.

Agora, tendo em mente as ações fisiológicas do cortisol, a gente já consegue prever qual seriam os principais estímulos para a secreção desse hormônio. Mas antes de saber quais os principais estímulos pra secreção do cortisol, lembre-se que a secreção desse hormônio é regulada pelo eixo hipotálamo-hipófise-adrenal, ou eixo hipotálamo-pituitária-adrenal, o famoso eixo HPA.

Neste eixo, neurônios do hipotálamo secretam o hormônio liberador de corticotrofina, ou CRH, que através do sistema porta hipotalâmico-hipofisário, chega na adeno-hipófise, estimulando os corticotrofos a secretarem a corticotrofina ou hormônio adrenocorticotrófico, o ACTH. Uma vez na circulação, o ACTH pode alcançar o seu principal alvo, as células da zona fasciculada lá do córtex adrenal. Nessas células, o ACTH estimula a síntese e a secreção do cortisol.

Quando as concentrações de cortisol se elevam acima do seu set point ou melhor do seu ponto de ajuste, feedback negativo de alça longa inibi a secreção tanto do ACTH como do CRH, mantendo assim a homeostase do cortisol na circulação sanguínea.

Uma informação importante que você deve se lembrar, é que o cortisol tem um padrão diário de secreção bastante característico em um indivíduo normal, ou seja, a secreção de cortisol segue um ritmo circadiano.

Aqui nesse gráfico nós temos a concentração média de cortisol na circulação ao longo de um dia. Reparem que todos os dias ocorre um pico de cortisol logo no início do dia, que vai diminuindo até atingir a menor concentração no começo da noite. Reparem ainda que pode ocorrer alguns picos de cortisol ao longo do dia, e esses picos de cortisol podem ser explicado por estresses diários que podem estimular a secreção de cortisol.

Mas é pergunta é:

-Que tipo de estresse pode estimular a secreção de cortisol?

Vários tipos de estresse. Estresses sistêmicos como por exemplo hipoglicemia, inflamação e hipotensão, e estresses neurogênicos, ou psicológicos, causados por fortes emoções, medo e ansiedade.

Por isso, algumas vezes vocês poderão ouvir dizer que o cortisol é o “hormônio do estresse”, mas não é porque ele causa o estresse, e sim porque ele é liberado frente a situações de estresses sistêmicos e psicológicos. Nessas situações, o aumento agudo de cortisol é importante pra ajudar o organismo a enfrentar esses estresses diários.

No entanto, um aumento crônico das concentrações de cortisol, pode ser bastante prejudicial, causando um conjunto de sintomas específicos que a gente chama de Síndrome de Cushing.

As causas dessa síndrome podem ser:

  1. Primária, quando a disfunção é na própria glândula que secreta o cortisol, ou seja, no córtex das glândulas adrenais;

  2. Secundária, quando a disfunção é na glândula que secreta o ACTH, no caso a adeno-hipófise;

  3. E terciária quando a disfunção ocorre no hipotálamo que secreta o CRH.

Porém, uma das principais causas da Síndrome de Cushing é o tratamento crônico com glicocorticoides sintéticos, como a dexametasona, por exemplo.

Dentre os sintomas dessa síndrome podemos destacar a hiperglicemia e fraqueza muscular que ocorre devido a perda de tecido muscular causado pela intensa a proteólise estimulada pelo excesso de cortisol.

Um outro sintoma muito característico da síndrome de Cushing é a deposição de gordura em algumas regiões específicas do corpo, como na face, causando a “face de lua cheia”, no abdômen e no tronco, formando a “corcova de búfalo”.

Osteoporose, também é frequentemente observada nessa síndrome, que pode deixar o indivíduo mais susceptível a infecções, visto que o sistema imunológico é intensamente reprimido pelo excesso de cortisol.

Agora uma curiosidade. Uma coisa muito interessante pode acontecer, caso um indivíduo em tratamento crônico com glicocorticoides sintéticos, interrompa repentinamente o tratamento. Pra entender esse efeito, lembre-se que o ACTH, além de estimula a síntese e a secreção de cortisol, é necessário pro crescimento e manutenção das células da zona fasciculada lá no córtex adrenal.

O que acontece no indivíduo que faz uso crônico de glicocorticoides sintéticos, é um intenso feedback negativo no eixo HPA, com redução drástica da secreção de ACTH. Cronicamente, devido à falta de ACTH, a zona fasciculada se atrofia, logo não há síntese e secreção de cortisol endógena.

Se o indivíduo parar de tomar o glicocorticoide sintético de repente, os níveis de glicocorticoide cai pra quase zero, pois a zona fasciculada tá atrofiada, e aí ele pode passar de uma condição de hipercorticolismo pra uma condição de hipocorticolismo.

O sintoma mais marcante do hipocorticolismo é a hipoglicemia. Assim, é importante ir reduzindo a dose de glicocorticoide sintético aos poucos antes de parar o tratamento, pois aí o feedback negativo vai diminuindo, permitindo a retomada da secreção de ACTH pela adeno-hipófise, o que vai reestabelecendo a zona fasciculada e a síntese e secreção de cortisol endógena.

Outra causa do hipocorticolismo pode ser a Doença de Addison. Como vimos no vídeo anterior, nessa doença ocorre destruição das zonas glomerulosa e fasciculada, portanto, o indivíduo tem sintomas não apenas de hipocorticolismo, mas também de hipoaldosteronismo.

Bom, resumindo tudo que a gente viu nesse vídeo, lembre-se que:

  • Dentre as principais ações fisiológicas do cortisol podemos destacar: aumento da glicemia, proteólise no tecido muscular, lipólise no tecido adiposo, aumento das ações da noradrenalina e adrenalina no coração, inibição do sistema imunológico, aumento da reabsorção óssea, além do fato do cortisol ser necessário para o desenvolvimento normal de vários tecidos.

  • A regulação da síntese e secreção do cortisol está sob controle do eixo HPA, o qual pode ser influenciado pelo ritmo circadiano e por diversos tipos de estresses sistêmicos e psicológicos.

  • O excesso de cortisol ou de glicocorticoides sintéticos causa sintomas do hipercorticolismo e esse conjunto de sintomas a gente chama de Síndrome de Cushing.

  • O principal sintoma da falta de cortisol ou hipocorticolismo, é a hipoglicemia.

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Qualquer dúvida, pode deixar aí nos comentários que a gente tenta responder, beleza? A gente se vê num próximo vídeo. Abraço!

Sobre a autora

Mirian Ayumi Kurauti é apaixonada pela fisiologia humana, com uma trajetória acadêmica admirável. Ela se formou em Biomedicina pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), fez mestrado e doutorado em Biologia Funcional e Molecular com ênfase em Fisiologia na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), e ainda atuou como pesquisadora de pós-doutorado na mesma instituição. Além disso, já lecionou fisiologia humana na Universidade Estadual de Maringá (UEM) e biologia celular na UEL. A sua última experiência como professora de fisiologia humana foi na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Fundadora da MK Educação Digital Ltda (MK Fisiologia), atualmente, Mirian é a mente criativa por trás de todos os conteúdos publicados nas redes sociais da empresa.

Apaixonada pela docência, Mirian adora dar aulas de fisiologia humana, mas de um jeito mais descontraído e se diverte muito ensinando. Ela está sempre buscando aprender algo novo não só sobre fisiologia, mas sobre qualquer coisa sobre a vida, o universo e tudo mais. Por isso, é uma consumidora compulsiva de conteúdos de divulgadores científicos. Nas horas vagas, você pode encontrá-la na piscina, treinando e participando de competições de natação. Para Mirian, a vida só tem graça, se ela tiver desafios a serem superados. Hoje, o seu maior desafio é ajudar o maior número de estudantes a entender de verdade a fisiologia humana, principalmente através de suas videoaulas publicadas no canal do YouTube MK Fisiologia.

Foto da autora do post Mirian Ayumi Kurauti criadora do MK Fisiologia
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