[#1] GLÂNDULAS ADRENAIS: INTRODUÇÃO

Este post é a transcrição da videoaula publicada em nosso canal do YouTube "[#1] GLÂNDULAS ADRENAIS: INTRODUÇÃO".

TRANSCRIÇÕESSISTEMA ENDÓCRINO

Mirian Kurauti

12/23/20247 min read

E aí pessoal, tudo bem com vocês?

Eu sou Mirian Kurauti aqui do canal MK Fisiologia, um canal que tem com principal objetivo descomplicar a fisiologia humana com videoaulas simples e didáticas. Então, se você tá precisando aprender fisiologia humana, aproveita pra se inscrever no canal e ativar as notificações, assim você não perde nenhuma videoaula que a gente postar por aqui.

Bom, sem mais delongas, bora começar a falar sobre as glândulas suprarrenais, que como o próprio nome sugere, ficam localizadas em cima de cada rim. Essas glândulas são mais conhecidas como glândulas adrenais, "ad" que significa perto e "renais" que se refere a rins.

Se a gente cortar uma glândula adrenal ao meio, podemos observar uma região mais interna, chamada de medula, e uma região mais externa, chamada de córtex.

Enquanto a medula sintetiza e secreta hormônios amínicos derivados do aminoácido tirosina, no caso as catecolaminas, como a adrenalina e noradrenalina, o córtex sintetiza e secreta hormônios esteroides derivados do colesterol.

Nesse vídeo, a gente começa a falar sobre os hormônios esteroides sintetizados e secretados pelo córtex das glândulas adrenais. Mas pra isso, a gente precisa relembrar a histologia dessas glândulas.

Então vamos olhar um corte da adrenal no microscópio óptico, corada com eosina e hematoxilina, dois corantes bastante utilizados na histologia. Nessa imagem, é possível observar uma cápsula formada por tecido conjuntivo, o córtex e a medula da adrenal.

No córtex da adrenal, dá pra ver três regiões diferentes. Observem que logo abaixo da cápsula, podemos ver uma região bastante densa, cheia de núcleos aqui corados pela hematoxilina. Essa região é chamada de zona glomerulosa, a qual sintetiza e secreta hormônios esteroides conhecidos como mineralocorticoides. No organismo humano, o principal mineralocorticoide é a aldosterona.

Abaixo da zona glomerulosa, podemos ver uma região mais clara, menos densa, chamada de zona fasciculada. Essa é a maior zona do córtex da adrenal, a qual sintetiza e secreta hormônios esteroides conhecidos como glicocorticoides. O principal glicocorticoide do organismo humano é o cortisol.

Por fim, entre a zona fasciculada e a medula da adrenal, é possível observar uma pequena região rosa avermelhada chamada de zona reticulada, que sintetiza e secreta os hormônios esteroides conhecidos como androgênios. Dentre esses androgênios podemos destacar a dehidroepiandrosterona ou DHEA, e a sua forma sulfatada, o DHEAS.

Lembre-se que todos os hormônios sintetizados e secretados pelas diferentes zonas do córtex da adrenal, são hormônios esteroides derivados do colesterol. Então, as primeiras etapas da síntese desses hormônios são comuns, e acontecem nas células das três zonas do córtex da adrenal.

Nessas células, embora o colesterol possa ser sintetizado a partir de Acetil CoA, a maior parte do colesterol vem da circulação sanguínea. Lembre-se que na circulação, o colesterol é transportado pelas lipoproteínas HDL, VLDL e LDL.

As células que sintetizam hormônios esteroides, apresentam em sua membrana celular, receptores de LDL. Quando o LDL se liga nesse receptor, inicia-se um processo de endocitose, formando uma vesícula endocítica. Essa vesícula então se funde com lisossomos que tem enzimas capazes de degradar o LDL e converter o éster de colesterol em colesterol livre. Esse colesterol livre, pode ser reesterificado e armazenado em gotículas lipídicas ou seguir pra síntese de hormônios esteroides.

Pra iniciar a síntese de esteroides, o colesterol livre deve ser transportado pra mitocôndria, e esse transporte é facilitado pela proteína reguladora aguda da esteroidogênese ou StAR. Na mitocôndria, a cadeia lateral do colesterol é clivada por uma enzima citocromo P450 específica, formando pregnenolona, a qual se difunde pro citosol e de lá pro retículo endoplasmático liso, onde pode sofrer diferentes reações enzimáticas nos diferentes tipos celulares das zonas do córtex da adrenal, formando assim diferentes hormônios esteroides.

-Como assim?

Nas células da zona glomerulosa, é expresso um conjunto de enzimas específicas localizadas no reticulo endoplasmático liso e nas mitocôndrias, que convertem a pregnenolona, através de várias reações enzimáticas, no principal mineralocorticoide, a aldosterona.

Já nas células da zona fasciculada, é expresso um conjunto de enzimas específicas localizadas principalmente no reticulo endoplasmático liso, que convertem a pregnenolona, através de várias reações enzimáticas, no principal glicocorticoide, o cortisol.

E nas células da zona reticulada é expresso um outro conjunto de enzimas específicas também localizadas principalmente no retículo endoplasmático liso, que convertem a pregnenolona, através de várias reações enzimáticas, em androgênios, principalmente o DHEA o aqual pode ser sulfatado por ação da enzima DHEA sulfotransferase, formando o DHEAS. Ainda nessas células, o DHEA pode sofrer ação de uma enzima específica e formar um terceiro androgênio, a androstenediona.

Reparem que eu não dei detalhes sobre todas as enzimas e as reações que elas catalisam para sintetizar os diferentes hormônios esteroides do córtex da adrenal, isso porque esse não é o objetivo dessa aula. O principal objetivo aqui é vocês entendam que pelo fato de cada zona do córtex da adrenal expressar um determinado conjunto de enzimas específicas, as células de cada uma dessas zonas acabam sintetizando diferentes hormônios esteroides.

Uma vez sintetizado a aldosterona, o cortisol e os androgênios, lembrem-se que eles não podem ficar armazenados em vesículas secretoras como os hormônios proteicos podem ficar. E a explicação é bem simples. Diferente dos hormônios proteicos, os hormônios esteroides são lipossolúveis, portanto, atravessam facilmente a bicamada lipídica que formam as vesículas secretoras, e claro, a membrana celular. Dessa forma, uma vez que esses hormônios esteroides são sintetizados, eles já se difundem pra fora da célula, isto é, eles já são secretados, podendo se difundir para os capilares sanguíneos mais próximos.

Novamente, como esses hormônios são lipossolúveis, eles não se solubilizam muito bem no plasma, que é uma solução aquosa sendo, portanto, transportados na sua grande maioria, ligados a proteínas plasmáticas transportadoras específicas.

Por exemplo, cerca de 42 % da aldosterona circulante encontra-se ligada à albumina, a principal proteína transportadora desse hormônio, que também pode ser transportado pela globulina de ligação ao cortisol ou CBG, pois a aldosterona tem uma estrutura muito semelhante a estrutura do cortisol. Então somando temos 63 % de aldosterona ligada a proteínas transportadoras. No entanto, ainda 37 % desse hormônio se encontra livre na circulação, e o tempo de meia-vida da aldosterona não é tão longo, ficando em torno de 15 a 20 minutos.

Já o cortisol, tem um tempo de meia-vida mais longo, cerca de 60 a 70 minutos. Isso porque 97 % do cortisol circulante se encontra ligado a proteínas transportadoras: 90 % ligado à CBG e cerca de 7 % ligado à albumina, restando apenas 3 % de cortisol livre na circulação sanguínea.

Agora, considerando os androgênios do córtex da adrenal, o DHEAS é o que apresenta o tempo de meia vida mais longo, ficando em torno de 10 horas. Na circulação sanguínea, cerca de 98 % do DHEAS tá ligado à albumina, principal proteína transportadora desse androgênio.

Bom, assim como a síntese, a secreção e o transporte na circulação sanguínea são muito semelhantes, o mecanismo de ação desses hormônios esteroides do córtex da adrenal também são.

Pra agir nas células-alvo, esses hormônios, na sua forma livre, se difundem através das membranas celulares pra enfim se ligar em seus receptores intracelulares específicos. Esses receptores se localizam no citosol associados a proteínas inibidoras. Quando o hormônio se liga, o receptor se desliga das proteínas inibidoras. Ao se desligar dessas proteínas, o receptor, agora ativado pelo hormônio, pode seguir pro núcleo, onde interage com regiões específicas do DNA, ativando ou inativando a transcrição de determinados genes, o que irá provocar aumento ou diminuição da síntese de determinadas proteínas, o que consequentemente, pode alterar o funcionamento da célula-alvo.

Então, como vimos até aqui, os hormônios esteroides do córtex da adrenal tem mecanismos de ação muito semelhantes, ativando receptores intracelulares, que podem causar alterações na transcrição de determinados genes, nas suas células-alvo. Mas, embora os mecanismos de ação sejam semelhantes, cada hormônio esteroide do córtex da adrenal apresenta diferentes efeitos ou ações fisiológicas no organismo humano. Portanto, nos próximos vídeos a gente vai falar de forma específica sobre os efeitos ou ações fisiológicas dos principais hormônios esteroides sintetizados e secretados pelo córtex da adrenal: o mineralocorticoide aldosterona, o glicocorticoide cortisol e os androgênios DHEA e DHEAS.

Se você ficou com alguma dúvida até aqui, pode deixar aí nos comentários do vídeo que a gente tenta responder, beleza? A gente se vê num próximo vídeo. Abraço!

Sobre a autora

Mirian Ayumi Kurauti é apaixonada pela fisiologia humana, com uma trajetória acadêmica admirável. Ela se formou em Biomedicina pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), fez mestrado e doutorado em Biologia Funcional e Molecular com ênfase em Fisiologia na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), e ainda atuou como pesquisadora de pós-doutorado na mesma instituição. Além disso, já lecionou fisiologia humana na Universidade Estadual de Maringá (UEM) e biologia celular na UEL. A sua última experiência como professora de fisiologia humana foi na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Fundadora da MK Educação Digital Ltda (MK Fisiologia), atualmente, Mirian é a mente criativa por trás de todos os conteúdos publicados nas redes sociais da empresa.

Apaixonada pela docência, Mirian adora dar aulas de fisiologia humana, mas de um jeito mais descontraído e se diverte muito ensinando. Ela está sempre buscando aprender algo novo não só sobre fisiologia, mas sobre qualquer coisa sobre a vida, o universo e tudo mais. Por isso, é uma consumidora compulsiva de conteúdos de divulgadores científicos. Nas horas vagas, você pode encontrá-la na piscina, treinando e participando de competições de natação. Para Mirian, a vida só tem graça, se ela tiver desafios a serem superados. Hoje, o seu maior desafio é ajudar o maior número de estudantes a entender de verdade a fisiologia humana, principalmente através de suas videoaulas publicadas no canal do YouTube MK Fisiologia.

Foto da autora do post Mirian Ayumi Kurauti criadora do MK Fisiologia
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