VENTILAÇÃO ALVEOLAR E O ESPAÇO MORTO ANATÔMICO E FISIOLÓGICO

Este post é a transcrição da videoaula publicada em nosso canal do YouTube "VENTILAÇÃO ALVEOLAR E O ESPAÇO MORTO ANATÔMICO E FISIOLÓGICO".

TRANSCRIÇÕESSISTEMA RESPIRATÓRIO

Mirian Kurauti

11/8/20248 min read

E aí pessoal, tudo bem com vocês?

Eu sou Mirian Kurauti, aqui do canal MK Fisiologia, e nesse vídeo a gente vai entender o que é ventilação total ou ventilação-minuto, ventilação alveolar, espaço morto anatômico e espaço morto fisiológico.

No vídeo anterior, a gente falou sobre os volumes pulmonares, e dentre esses volumes eu destaco o volume corrente, que é basicamente o volume de ar que entra e sai do sistema respiratório em cada respiração.

Só lembrando que cada respiração consiste em um ciclo de inspiração e expiração, lembre-se disso!

Em um indivíduo do sexo masculino, jovem saudável, respirando tranquilamente, esse volume fica em torno de 500 ml, ou seja, a cada inspiração e expiração tranquila, quinhentos ml de ar entram e saem do sistema respiratório que, como vimos, pode ser medido durante um teste de função pulmonar usando um espirômetro.

Durante esse teste, também é possível saber a frequência da respiração ou frequência respiratória, isto é, quantas vezes a pessoa respira por minuto. E só pra vocês terem uma ideia, numa respiração tranquila, essa frequência varia de 12 a 20 ciclos respiratórios por minuto.

Então preste atenção, se a gente considerar um volume corrente de quinhentos ml e uma frequência respiratória de doze ciclos por minuto, não dá pra saber o volume de ar que entra e sai do sistema respiratório a cada minuto?

Dá se a gente multiplicar o volume corrente pela frequência respiratória.

Então quinhentos ml multiplicado por doze ciclos por minuto, é igual a 6000 ml, ou 6 litros de ar entrando e saindo do sistema respiratório a cada minuto. Esse volume de ar que a gente acabou de calcular é o que chamamos de ventilação total ou ventilação-minuto.

Entretanto, lembre-se que nem todo ar que entra no sistema respiratório vai chegar nos locais onde de fato ocorrem as trocas gasosas, ou seja, a troca de oxigênio (O2) e gás carbônico (CO2) entre o ar e o sangue que vai tá passando nos capilares pulmonares que irrigam o sistema respiratório.

-Tá mas, onde de fato ocorrem as trocas gasosas?

Principalmente nos alvéolos que formam os sacos alveolares, mas também pode ocorrer nos ductos alveolares e nos bronquíolos respiratórios. Em conjunto, esses locais onde pode ocorrer trocas gasosas a gente pode chamar de zonas transicional e respiratória, pra diferenciar da zona condutora, locais onde não podem ocorrer trocas gasosas pois, a parede dessas estruturas não é tão fina quanto a parede das estruturas das zonas transicional e respiratória, e os gases não conseguem se difundir de modo eficiente do ar para o sangue que passa nos capilares pulmonares, e do sangue para o ar, que passa no interior das vias aéreas.

Então, quando a gente inspira o ar, uma parte desse ar que entra, vai ficar nas zonas condutoras onde não ocorrem trocas gasosas (cavidade nasal, faringe, laringe, traqueia de demais vias da zona condutora), formando o que chamamos de espaço morto anatômico.

Em um indivíduo do sexo masculino, jovem saudável, o volume de ar que fica no espaço morto, ao final de uma inspiração, gira em torno de cento e cinquenta ml de ar. Ou seja, se o indivíduo estiver respirando tranquilamente, dos 500 ml de ar que entra no sistema respiratório, 150 ml fica no espaço morto e não participa das trocas gasosas. E quando esse indivíduo expira, os primeiros 150 ml do ar expirado, vem do espaço morto e apenas os demais 350 ml vem dos alvéolos e dos demais locais de trocas gasosas. Ao final de uma expiração cento e cinquenta ml de ar ficam no espaço morto.

Quando o indivíduo insira novamente, os primeiros cento e cinquenta ml que chegam nos alvéolos são de ar “velho” que ficaram no espaço morto depois da última expiração, e apenas trezentos e cinquenta ml de ar “novo” chegam nos alvéolos. Por isso, ao invés de calcularmos a ventilação total ou ventilação-minuto, do pondo de vista funcional, é melhor a gente calcular a ventilação alveolar, que é o volume de ar que entra e sai apenas dos alvéolos e demais estruturas onde de fato ocorrem as trocas gasosas.

Mas a questão é, como a gente calcula a ventilação alveolar?

É muito simples. Primeiro você subtrai o volume de ar que fica no espaço morto anatômico do volume corrente, pra ter o volume que entra e sai, não do sistema respiratório todo, mas somente dos alvéolos e demais estruturas onde ocorre as trocas gasosas. E aí sim, agora você pode multiplicar esse volume pela frequência respiratória.

Então, se durante uma respiração tranquila o volume corrente é de 500 ml e o volume do espaço morto é de 150 ml, fazendo a subtração nós temos 350 ml de ar entrando e saindo da zona transicional e respiratória a cada ciclo da respiração.

Multiplicando esse volume pela frequência respiratória de 12 ciclos por minuto, a gente vai ter uma ventilação alveolar igual a 4200 ml por minuto, ou seja, 4,2 litros de ar por minuto vão estar entrando e saindo das zonas transicional e respiratória, onde podem ocorrer as trocas gasosas.

Então lembre-se que mais importante do que simplesmente saber a ventilação total ou ventilação minuto, é saber a ventilação alveolar, porque do ponto de vista funcional é essa ventilação que mais importa já que é essa ventilação que ocorre nos locais onde podem ocorrer as trocas gasosas.

Pra entender a importância de se conhecer a ventilação alveolar vamos imaginar o seguinte exemplo. Imaginem que você resolveu fazer uma atividade física. Nesse momento, as trocas gasosas precisam aumentar e pra isso acontecer o volume de ar que entra e sai dos locais de trocas gasosas precisa ser maior, ou seja, a ventilação alveolar precisa aumentar.

Agora vamos imaginar que pra isso você manteve o volume corrente em quinhentos ml, mas aumentou a sua frequência respiratório em duas vezes ou seja, de doze pra vinte e quatro ciclos por minuto. Nesse caso, você aumentou a ventilação total de 6000 para 12000 ml por minuto, e a ventilação alveolar de 4200 para 8400 ml por minuto.

Ótimo, você conseguiu aumentar a sua ventilação alveolar.

Mas e se ao invés de aumentar a frequência respiratória você aumentasse o volume corrente em duas vezes, ou seja, de 500 para 1000 ml. Nesse caso, você também aumentaria a ventilação total de 6000 pra 12000 ml por minuto.

Mas, olhem só o que aconteceria com a sua ventilação alveolar. Como o volume de ar do espaço morto não muda, a ventilação alveolar agora vai aumentar mais do que apenas duas vezes, vai aumentar de 4200 para 10200 ml por minuto!

Por isso, não se esqueça que aumentar a frequência respiratória aumenta a ventilação alveolar, mas aumentar o volume corrente aumenta ainda mais a ventilação alveolar e, consequentemente, as trocas gasosas, já que a ventilação alveolar representa o volume de ar que entra e sai dos locais onde pode ocorrer essas trocas.

Agora, reparem que eu sempre falo locais onde pode ocorrer as trocas gasosas. Pode, mas não necessariamente.

-Como assim?

Em indivíduos saudáveis, praticamente em todos os locais onde pode ocorrer trocas gasosas, de fato acontecem as trocas, porém em indivíduos com algumas doenças pulmonares, em muitos locais onde poderia ocorrer trocas gasosas, não ocorre pois, ou a difusão dos gases pode estar prejudicada ou o fluxo sanguíneo nesses locais pode estar interrompido, e aí, como não passa sangue, não dá pra fazer as trocas gasosas.

Então aqui a gente pode apresentar um outro conceito de espaço morto, o espaço morto fisiológico, que inclui todos os locais onde não ocorrem trocas gasosas, ou seja, tanto os locais das zonas condutoras (o espaço morto anatômico), quanto os locais das zonas transicionais e respiratórias, onde deveria acontecer as trocas gasosas, mas por algum motivo não acontece.

Nas pessoas saudáveis o espaço morto fisiológico é praticamente igual ao espaço morto anatômico, ou seja, cerca de 150 ml, pois em todos os locais de trocas está acontecendo as trocas gasosas. Porém nas pessoas com algumas doenças pulmonares, o espaço morto fisiológico pode chegar a 2000 ml!

Então agora pensa comigo, pra uma pessoa saudável a ventilação alveolar efetiva durante uma respiração tranquila é igual ao volume corrente menos o espaço morto fisiológico, que aqui é praticamente igual ao espaço morto anatômico, como a gente acabou de explicar, multiplicado pela frequência respiratória, ou seja, 4200 ml por minuto.

Mas e pra uma pessoa doente com espaço morto fisiológico de 2000 ml? O que ela precisa fazer pra manter uma ventilação alveolar de 4200 ml?

Ela vai ter que aumentar o volume corrente fazendo uma respiração forçada e a frequência respiratória. Por exemplo, se o volume corrente aumentar pra dois mil cento e setenta e cinco ml e a frequência respiratória pra vinte e quatro ciclos por minuto, essa pessoa conseguiria uma ventilação alveolar de 4200 ml por minuto.

Por isso, é importante você entender o que é a ventilação alveolar e como o espaço morto anatômico e, principalmente o espaço morto fisiológico influenciam a ventilação alveolar e as trocas gasosas.

Bom resumindo tudo o que a gente viu nesse vídeo, lembre-se que:

  • Ventilação total ou ventilação-minuto é o volume de ar que entra e sai de todo o sistema reparatório a cada minuto;

  • Ventilação alveolar é o volume de ar que entra e sai dos alvéolos e demais estruturas onde pode ocorrer as trocas gasosas por minuto.

  • Espaço morto anatômico é o espaço das vias aéreas onde não pode ocorrer as trocas gasosas, e esse espaço inclui basicamente os espaços da zona condutora.

  • Espaço morto fisiológico também é o espaço das vias aéreas onde não ocorre as trocas gasosas, mas esse espaço inclui tanto o espaço morto anatômico, como também outros espaços da zona transicional e respiratória que por algum motivo não está conseguindo fazer as trocas gasosas.

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Bom, a gente vai ficando por aqui, qualquer dúvida, pode deixar aí nos comentários que a gente tenta responder, beleza? A gente se vê num próximo vídeo, abraço!

Sobre a autora

Mirian Ayumi Kurauti é apaixonada pela fisiologia humana, com uma trajetória acadêmica admirável. Ela se formou em Biomedicina pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), fez mestrado e doutorado em Biologia Funcional e Molecular com ênfase em Fisiologia na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), e ainda atuou como pesquisadora de pós-doutorado na mesma instituição. Além disso, já lecionou fisiologia humana na Universidade Estadual de Maringá (UEM) e biologia celular na UEL. A sua última experiência como professora de fisiologia humana foi na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Fundadora da MK Educação Digital Ltda (MK Fisiologia), atualmente, Mirian é a mente criativa por trás de todos os conteúdos publicados nas redes sociais da empresa.

Apaixonada pela docência, Mirian adora dar aulas de fisiologia humana, mas de um jeito mais descontraído e se diverte muito ensinando. Ela está sempre buscando aprender algo novo não só sobre fisiologia, mas sobre qualquer coisa sobre a vida, o universo e tudo mais. Por isso, é uma consumidora compulsiva de conteúdos de divulgadores científicos. Nas horas vagas, você pode encontrá-la na piscina, treinando e participando de competições de natação. Para Mirian, a vida só tem graça, se ela tiver desafios a serem superados. Hoje, o seu maior desafio é ajudar o maior número de estudantes a entender de verdade a fisiologia humana, principalmente através de suas videoaulas publicadas no canal do YouTube MK Fisiologia.

Foto da autora do post Mirian Ayumi Kurauti criadora do MK Fisiologia
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