REGULAÇÃO HORMONAL DA ESPERMATOGÊNESE

Este post é a transcrição da videoaula publicada em nosso canal do YouTube "REGULAÇÃO HORMONAL DA ESPERMATOGÊNESE".

TRANSCRIÇÕESSISTEMA ENDÓCRINO

Mirian Kurauti

1/13/20258 min read

E aí pessoal, tudo bem com vocês?

Eu sou Mirian Kurauti aqui do canal MK Fisiologia e nesse vídeo a gente vai falar sobre a regulação hormonal da espermatogênese.

Mas antes de começar a falar sobre a espermatogênese, eu vou contar pra vocês a história do Joãozinho.

Joãozinho era um menino muito magro, magro demais, sofria bullying dos colegas. Seu apelido era João palito. Quando entrou na faculdade, decidiu que ia dar um basta nessa vida de bullying. Começou a malhar pesado na academia pra bombar. Mas depois de duas semanas malhando, Joãoinho já tava impaciente, pois não via os resultados que ele tanto queria.

Aí ele resolveu perguntar, pra um amigo bombado, se ele usava alguma coisa pra “crescer”.

Esse amigo então deu umas dicas, e o joãozinho começou usar de testosterona exógena.

Aí ele “cresceu”, ficou bombadão.

Um belo dia, Joãozinho conheceu a sua alma-gêmea, a Josefina. Se casaram e queriam muito ter filhos. Mas aí apareceu um problema, o casal tentava, tentava e nada. Josefina foi ao médico, e viu que tava tudo certo com ela. Então, o Joãozinho parou e pensou: “vish... lascou”. Foi ao médico, fez um espermograma, e descobriu que tava com uma contagem de espermatozoide muito baixa, causada pelo uso de testosterona exógena.

Mas aí eu pergunto:

-Por que a administração de testosterona exógena pode diminuir a produção de espermatozoides?

Guarda essa pergunta aí, que até o final desse vídeo a gente responde. Bora pra aula?

No vídeo anterior, a gente falou sobre o principal hormônio sintetizado e secretado pelos testículos, mais especificamente pelas células de Leydig, a testosterona, um hormônio que, dentre outras ações, estimula a produção de espermatozoide ou espermatogênese, que acontece nos próprios testículos, dentro dos túbulos seminíferos.

Nesses túbulos, encontramos muitas células germinativas em vários estágios de diferenciação, e células de Sertoli, também conhecidas como células sustentaculares, pois sustentam as células germinativas durante a espermatogênese.

É importante destacar que as células de Sertoli são mais do que simplesmente células de sustentação, elas também formam uma barreira, que evita a passagem de qualquer tipo de substância química pro interior dos túbulos seminíferos, a barreira hematotesticular, semelhante a barreira hematoencefálica formada pelas células da glia no sistema nervoso central. Essa barreira é formada por zônulas de oclusão, ou junções oclusivas, entre as células de Sertoli. Essas junções funcionam como uma cola, gruda as células e impedem que qualquer tipo de substância química passe entre elas.

E uma informação interessante é que as células germinativas indiferenciadas, ou espermatogônias, se localizam abaixo das junções oclusivas, na base das células de Sertoli.

A partir da puberdade, as espermatogônias iniciam a mitose pra gerar mais espermatogônias. Algumas dessas espermatogônias podem se diferenciar ou se transformar em espermatócitos primários, os quais iniciam o processo de divisão por meiose, pra gerar, após a primeira divisão meiótica, dois espermatócitos secundários com 23 cromossomos, cada um com 2 cromátides e, após a segunda divisão meiótica, 4 espermátides com 23 cromossomos, mas cada um com apenas uma cromátide. São essas espermátides que darão origem aos espermatozoides.

Reparem que conforme as células avançam nos estágios da espermatogênese, elas se movimentam em direção ao ápice das células de Sertoli. As junções oclusivas da barreira hematotesticular se rompem e se formam novamente ao redor das células que se movem entre as células de Sertoli. Assim, mesmo com esse movimento das células a barreira permanece intacta.

Enquanto se movem em direção ao lúmen do túbulo, as espermátides se diferenciam ou se transformam em espermatozoides. Essa etapa final da espermatogênese, em que ocorre a transformação das espermátides em espermatozoides, a gente chama de espermiogênese.

Os espermatozoides são liberados no lúmen do túbulo seminífero, mas como ainda não estão maduros e não podem se mover sozinhos, o líquido secretado pelas células de Sertoli fazem pressão no interior do túbulo e movem os espermatozoides em direção ao epidídimo, pela rede do testículo e ductos eferentes. No epidídimo, os espermatozoides finalizam a sua maturação e podem ficar estocados na cauda do epidídimo e no ducto deferente principalmente.

Todas essas etapas da espermatogênese dura em média setenta e dois a 76 dias, porém, é preciso lembrar que em um determinado momento, existem ao longo dos túbulos seminíferos, células germinativas em vários estágios diferentes da espermatogênese. Dessa forma, a espermatogênse acaba sendo um processo contínuo e a cada dia cerca de 200 milhões de espermatozoides podem ser produzidos.

Agora preste atenção nessa informação. Todas essas etapas da espermatogênese são reguladas por hormônios. E essa regulação se inicia na puberdade. Então quando o indivíduo, do sexo masculino, chega na puberdade, alguns neurônios do hipotálamo começam a secretar de forma pulsátil o hormônio liberador de gonadotrofinas, GnRH.

Esse hormônio entra no sistema porta hipotalâmico-hipofisário e chega na adeno-hipófise, onde ativa seus receptores localizados na membrana dos gonadotrofos, as células endócrinas da adeno-hipófise que secretam gonadotrofinas, LH e FSH. Como o estímulo do GnRH sobre os gonadotrofos é pulsátil, a secreção das gonadotrofinas também é pulsátil.

Uma vez secretadas, as gonadotrofinas se difundem pros capilares sanguíneos mais próximos e entram na circulação.

Quando chegam nos testículos, o LH ativa seus receptores localizados na membrana das células de Leydig, enquanto o FSH ativa seus receptores localizados na membrana das células de Sertoli.

Como discutido no vídeo anterior, a ativação do receptor de LH nas células de Leydig, estimula a síntese e secreção de testosterona, que se difunde pros túbulos seminíferos e pros capilares sanguíneos mais próximos.

Nos túbulos seminíferos a testosterona ativa receptores de androgênios localizados no citoplasma das células de Sertoli, estimulando a função dessas células que, lembre-se, é fundamental pra que a espermatogênese aconteça. Mas, pra que a testosterona tenha essa ação nas células de Sertoli, ela precisa se manter em altas concentrações nos túbulos seminíferos, e pra isso, as próprias células de Sertoli sintetizam e secretam a proteína de ligação aos androgênios, ABP, que se liga a testosterona e mantém esse hormônio em altas concentrações no interior dos túbulos seminíferos.

A síntese e secreção dessa proteína, é estimulada quando o FSH ativa o seu receptor localizado na membrana das células de Sertoli. Além disso, o FSH, juntamente com a testosterona, estimula outras funções das células de Sertoli que são fundamentais pra espermatogênese.

Ah, e pra regula a sua própria concentração na circulação, o FSH estimula as células de Sertoli a secretar um hormônio conhecido como inibina. E adivinha o que esse hormônio faz, inibi a secreção de FSH pelos gonadotrofos da adeno-hipófise, ou seja, funciona como uma alça de retroalimentação negativa, ou feedback negativo. Dessa forma, sempre que a concentração de FSH aumentar, a secreção de inibida vai aumentar, o que vai inibir a secreção de FSH. E quando a concentração de FSH diminuir, a secreção de inibina vai diminuir, o que vai aumentar a secreção de FSH.

Dá mesma forma, a testosterona funciona como um feedback negativo, inibindo a secreção de GnRH pelos neurônios do hipotálamo, e a secreção de LH pelos gonadotrofos da adeno-hipófise, sendo a primeira inibição um efeito indireto, e a segunda inibição um efeito direto. Esse efeito direto da testosterona sobre a secreção de LH, contribui pra regulação da sua própria concentração na circulação. Ou seja, quando a concentração de testosterona aumenta, a secreção de LH é inibida pra diminui a produção de testosterona nas células de Leydig. Mas quando a concentração de testosterona diminui, a secreção de LH aumenta pra aumentar a produção de testosterona nas células de Leydig.

Sabendo disso, agora dá pra gente responder a pergunta lá do começo do vídeo:

-Por que a administração de testosterona exógena pode diminuir a produção de espermatozoides?

Preste atenção, quando a gente administra testosterona exógena, esse hormônio vai pra circulação. Altas concentrações desse hormônio na circulação inibi a secreção de GnRH, e a secreção das gonadotrofinas, principalmente o LH. Lembre-se do feedback negativo.

Com a diminuição da secreção de LH, a síntese e secreção de testosterona pelas células de Leydig é drasticamente reduzida. Isso diminui a concentração local de testosterona lá nos túbulos seminíferos, o que diminui a função das células de Sertoli, e consequentemente, diminui a espermatogênese.

A diminuição da espermatogênese, diminui o número de espermatozoides ejaculados. Valores muito baixo de espermatozoides no espermograma, pode indicar infertilidade, e em alguns casos, a infertilidade causada pelo uso de testosterona exógena, pode ser permanente.

Então, pense duas vezes antes de começar a usar esse tipo de substância. Fica a dica.

Pra finalizar, lembre-se que nos homens, a concentração circulante das gonadotrofinas e da testosterona, não oscilam de maneira cíclica como nas mulheres em idade reprodutiva.

À medida que os homens envelhecem a sensibilidade ao LH diminui e a produção de testosterona e consequentemente, de espermatozoides, também diminuem, um evento conhecido como andropausa, que acontece por volta dos 50 anos. No entanto, embora a produção de espermatozoide sobre uma queda, muitos homens podem manter a espermatogênese ao longo de toda a vida.

Bom, então resumindo a regulação hormonal da espermatogênese, lembre-se que:

  • Tudo começa na puberdade, quando o GnRH começa a ser secretado em pulsos, estimulando a secreção pulsátil das gonadotrofinas LH e FSH.

  • O LH estimula as células de Leydig a sintetizar e secretar testosterona, a qual estimula o funcionamento das células de Sertoli, estimulando assim a espermatogênese.

  • Já o FSH, age diretamente nas células de Sertoli, estimulando a síntese e secreção da proteína de ligação aos androgênios, além de vários outros fatores necessários para a proliferação e diferenciação das células germinativas, ou seja, necessários para a espermatogênese.

  • A concentração desses hormônios pode ser regulada por feedback negativo exercido pela inibida, sintetizada e secretada pelas células de Sertoli, e pela testosterona.

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Qualquer dúvida pode deixar aí nos comentários que a gente tenta responder, beleza? A gente se vê num próximo vídeo, abraço!

Sobre a autora

Mirian Ayumi Kurauti é apaixonada pela fisiologia humana, com uma trajetória acadêmica admirável. Ela se formou em Biomedicina pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), fez mestrado e doutorado em Biologia Funcional e Molecular com ênfase em Fisiologia na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), e ainda atuou como pesquisadora de pós-doutorado na mesma instituição. Além disso, já lecionou fisiologia humana na Universidade Estadual de Maringá (UEM) e biologia celular na UEL. A sua última experiência como professora de fisiologia humana foi na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Fundadora da MK Educação Digital Ltda (MK Fisiologia), atualmente, Mirian é a mente criativa por trás de todos os conteúdos publicados nas redes sociais da empresa.

Apaixonada pela docência, Mirian adora dar aulas de fisiologia humana, mas de um jeito mais descontraído e se diverte muito ensinando. Ela está sempre buscando aprender algo novo não só sobre fisiologia, mas sobre qualquer coisa sobre a vida, o universo e tudo mais. Por isso, é uma consumidora compulsiva de conteúdos de divulgadores científicos. Nas horas vagas, você pode encontrá-la na piscina, treinando e participando de competições de natação. Para Mirian, a vida só tem graça, se ela tiver desafios a serem superados. Hoje, o seu maior desafio é ajudar o maior número de estudantes a entender de verdade a fisiologia humana, principalmente através de suas videoaulas publicadas no canal do YouTube MK Fisiologia.

Foto da autora do post Mirian Ayumi Kurauti criadora do MK Fisiologia
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