TESTÍCULOS: TESTOSTERONA

Este post é a transcrição da videoaula publicada em nosso canal do YouTube "TESTÍCULOS: TESTOSTERONA".

TRANSCRIÇÕESSISTEMA ENDÓCRINO

Mirian Kurauti

1/10/20259 min read

E aí pessoal, tudo bem com vocês?

Eu sou Mirian Kurauti aqui do canal MK Fisiologia e nesse vídeo a gente vai falar sobre o principal hormônio produzido e secretado pelos testículos, a testosterona.

Então sem enrolação, indo direto ao conteúdo, já que o nosso foco é a testosterona, vamos ver mais perto a glândula endócrina que produz e secreta esse hormônio, o testículo.

Bom, então lembre-se que o indivíduo do sexo másculo tem dois testículos que estão localizados na bolsa escrotal ou escroto.

Agora, pegando um testículo e cortando uma fatia pra gente ver o que tem dentro desse órgão, a gente pode observar vários lóbulos, e em cada lóbulo a gente observa um emaranhado de túbulos seminíferos. É dentro desses túbulos que acontece a produção de espermatozoides ou espermatogênese.

Então, vamos pegar um túbulo seminífero, fazer um corte transversal e olhar esse túbulo mais de perto, num microscópio.

Preste atenção, observe que ao redor dos túbulos seminíferos tem umas células perdidas, que ficam no interstício, por isso essas células são chamadas de células intersticiais, mais conhecidas como células de Leydig, pois foram descritas em detalhes pelo alemão Franz Leydig, e são essas células que produzem e secretam a testosterona.

E pra finalizar a apresentação das principais células dos testículos, no túbulo seminífero a gente pode observar uma célula bem grande, conhecidas como células de Sertoli, em homenagem ao italiano que estudou essas células, Enrico Sertoli. Essas células são fundamentais pra espermatogênese, pois dão suporte e fornecem nutrientes pras células germinativas se proliferarem e se diferenciarem em espermatozoides, ou seja, as células de Sertoli são fundamentais pra espermatogênese.

Mas como o foco aqui é a testosterona, a gente vai focar nas células de Leydig, pra ver como a testosterona é sintetizada e secretada.

Bom, pra você não esquecer como a testosterona é sintetizada, lembre-se que esse hormônio é um hormônio esteroide, ou seja, um hormônio derivado do éster de colesterol, assim como os hormônio produzidos e secretados pelo córtex das glândulas suprarrenais ou adrenais.

Relembrando, dentre os hormônios do córtex das adrenais, a gente tem os androgênios, DHEA, DHEAS e androstenetiona, três hormônios precursores da testosterona. Portanto, a síntese da testosterona é bem parecida com a síntese dos androgênios do córtex das adrenais.

Assim como nas células do córtex das adrenais, nas células de Leydig, embora o colesterol possa ser sintetizado, o colesterol também pode vir da circulação sanguínea, pois essas células apresentam na sua membrana celular muitos receptores de LDL, a lipoproteína de baixa densidade rica em éster de colesterol.

Quando essa lipoproteína se liga no seu receptor, ela é internalizada, ou seja, ela sofre endocitose, formando uma vesícula endocítica ou endossomo, que se funde com um lisossomo formando o endolisossomo. Nessa vesícula, as enzimas do lisossomo hidrolisam o éster de colesterol e o colesterol livre pode ser liberado. Esse colesterol livre, pode ser reesterificado e armazenado em gotículas lipídicas ou seguir pra síntese de testosterona.

Pra iniciar a síntese desse hormônio nas células de Leydig, o colesterol livre deve ser transportado pra mitocôndria, e esse transporte é facilitado pela proteína reguladora aguda da esteroidogênese ou StAR.

Na mitocôndria, a cadeia lateral do colesterol é clivada por uma enzima citocromo P450 específica, formando pregnenolona, a qual se difunde pro retículo endoplasmático liso, onde pode sofrer reações catalisadas por outra enzima citocromo P450 específica, que converte a pregnenolona em androstenediona, semelhante ao que acontece nas células do córtex das adrenais. Porém, nas células de Leydig é expressa uma enzima capaz de converter androstenediona em testosterona, o que não acontece nas células do córtex das adrenais.

Como a testosterona é um hormônio esteroide e, portanto lipossolúvel, ela não fica estocada em vesículas como os hormônios hidrossolúveis. Assim que ela é sintetizada, ela pode se difundir pra fora da célula, através da bicamada lipídica que forma a membrana celular.

Portanto, pra regular a secreção de testosterona, é preciso regular a síntese desse hormônio, e o principal regulador da síntese de testosterona é a gonadotrofina produzida e secretada pelos gonadotrofos da adeno-hipófise, o LH.

Lembre-se que tanto o LH como o FSH, são secretados pelos gonadotrofos quando o hipotálamo secreta de maneira pulsátil o hormônio liberador de gonadotrofinas, o GnRH.

Quando o GnRH ativa seus receptores específicos nos gonadotrofos, o LH e o FSH são secretados e se difundem até os capilares sanguíneos mais próximos pra entrar na circulação.

O FSH age em seus receptores localizados nas células de Sertoli, estimulando a espermatogênse. Já o LH age em seus receptores localizados nas células de Leydig, estimulando a síntese de testosterona que pode se difundir pro interior dos túbulos seminíferos onde estimula a espermatogênese, e pro interior dos capilares sanguíneos mais próximos pra entrar na circulação.

Sendo um hormônio lipossolúvel, grande parte da testosterona é transportada ligada a proteínas plasmáticas, como as globulinas de ligação aos hormônios sexuais (SHBG) e a albumina. Somando a porcentagem de testosterona ligada a essas proteínas, temos 98% da testosterona circulando na sua forma ligada e apenas dois porcento circulando na sua forma livre.

A testosterona livre, pode então atravessar a bicamada lipídica das membranas celulares e entrar nas suas células alvo por difusão simples.

No citoplasma dessas células a testosterona pode se ligar nos receptores de androgênios, que se desligam das proteínas inibitórias ao serem ativados, e seguem pro núcleo, onde interagem com regiões específicas do DNA, ativando ou inativando a transcrição de determinados genes, o que irá provocar aumento ou diminuição da síntese de determinadas proteínas, o que consequentemente, pode alterar o funcionamento das células alvo.

Agora preste atenção num detalhe importante. Em muitas células alvo da testosterona, pode estar presente a enzima 5-alfa redutase, que converte a testosterona em di-hidrotestosterona ou DHT, um androgênio mais potente que se liga ao mesmo receptor de androgênio que a testosterona, promovendo respostas específicas em determinadas células alvo.

Além disso, em outras células alvo, pode estar presente a enzima aromatase, que converte a testosterona em estradiol, que nada mais é do um tipo de estrogênio. Nessas células, o estradiol formado a partir da testosterona se liga nos receptores de estrogênio que também seguem pro núcleo, onde interagem com regiões específicas do DNA, e podem ativar ou inibir a transcrição de determinados genes, para alterar o funcionamento da célula alvo.

Sendo assim, as ações da testosterona podem ser diretas, quando a testosterona não é convertida e se liga diretamente nos receptores de androgênio, ou indiretas, quando a testosterona é convertida em DHT ou estradiol nas suas células alvo.

A testosterona em si, durante o desenvolvimento do feto masculino, é necessária pra diferenciação normal dos ductos do sistema reprodutor masculino. Na puberdade e na vida adulta, a testosterona é necessária pra iniciar e manter a espermatogênese nos testículos. Além disso, a testosterona estimula a libido, o crescimento ósseo, e o alongamento das pregas vocais e o crescimento da laringe, causando alteração do timbre da voz.

Ainda, a testosterona inibi o desenvolvimento das mamas, estimula a produção de eritrócitos ou hemácias, aumentando a capacidade de transporte de oxigênio no sangue, e estimula a síntese de proteínas nos músculos, aumentando a massa muscular.

Além dessas principais ações da testosterona, não se esqueça que esse hormônio exerce feedback negativo no eixo hipotálamo hipófise, inibindo, principalmente, a secreção de LH, regulando assim a sua própria síntese e secreção.

O DHT derivado da testosterona, no período fetal, é necessário pra diferenciação e desenvolvimento da genitália externa, pênis e bolsa escrotal, além do desenvolvimento da próstata. Na puberdade e na vida adulta, o DHT contribui pra maturação sexual, crescimento e manutenção da próstata e estimulação das glândulas sebáceas, o que pode favorecer o aparecimento das acnes ou espinhas, principalmente durante a puberdade. Além disso, o DHT contribui pro desenvolvimento e distribuição dos pelos corporais, como por exemplo a barba, mas ao mesmo tempo pode contribuir pra queda de cabelo.

Por fim, o estradiol derivado da testosterona tem como principal alvo os ossos, estimulando o fechamento das epífises dos ossos longos, além de estimular a formação óssea.

Bom, agora você já viu as principais ações diretas e indiretas da testosterona, acho que dá pra você prever o que acontece em situações que causam deficiência ou excesso de testosterona no indivíduo do sexo masculino.

A deficiência de testosterona, ou hipogonadismo, pode ser primária, quando os testículos não sintetizam níveis adequados desse hormônio, ou secundária, quando a adeno-hipófise não secreta níveis adequados de LH.

Se o hipogonadismo ocorrer durante o desenvolvimento fetal, a diferenciação do sistema reprodutor masculino não ocorre de forma adequada, e o indivíduo pode nascer com genitália feminina.

Se o hipogonadismo ocorrer na infância, quando o indivíduo chegar na puberdade, o desenvolvimento sexual secundário não ocorre, e as estruturas do sistema reprodutor pode permanecer infantis. Geralmente esses indivíduos são altos, pois sem a ação do estrogênio derivado da testosterona, as epífises dos ossos longos demoram pra se fechar, e o indivíduo cresce mais do que o normal.

Quando o hipogonadismo ocorre na vida adulta, redução da libido, disfunção erétil e regressão de algumas características secundárias masculinas podem ser observadas.

O excesso de testosterona, ou hipergonadismo, também pode acontecer, e pode ser primário, quando os testículos sintetizam níveis exagerados desse hormônio, ou secundário, quando a adeno-hipófise secreta níveis exagerados de LH. Além disso, o hipergonadismo também pode ser causado pelo uso abusivo de androgênios sintéticos, com objetivo de aumentar a massa muscular, por exemplo.

Quando o excesso de testosterona ocorre na infância, pode-se observar desenvolvimento sexual precoce, e o menino poderá apresentar genitálias de um homem adulto, além de outras características como o aparecimento da barba, hipertrofia muscular, entre outras características secundárias masculinas.

Mas, se o excesso de testosterona acontecer na vida adulta, as ações diretas e indiretas da testosterona, que a gente discutiu, podem ser intensificadas. Por exemplo, queda de cabelo, a famosa calvície, pode ocorrer diante de um excesso de testosterona, um efeito que parece ser mediado pelo DHT.

Bom, então resumindo tudo que vimos nesse vídeo, lembre-se que:

  • A testosterona é sintetizada e secretada pelas células de Leydig nos testículos.

  • A síntese da testosterona é estimulada pelo LH, uma gonadotrofina secretada pelos gonadotrofos da adeno-hipófise quando estimulados pela secreção pulsátil do hormônio hipotalâmico GnRH.

  • A testosterona é um hormônio esteroide e lipossolúvel, por isso é transportada na circulação principalmente ligada a proteínas plasmáticas.

  • Pra agir nas células alvo, a testosterona se liga nos receptores de androgênios localizados no citoplasma, ou pode ser convertida em DHT ou estradiol, apresentando nesse caso, ações indiretas.

  • No geral, as ações diretas e indiretas da testosterona, promovem a diferenciação e o desenvolvimento do sistema reprodutor masculino, bem como promovem o desenvolvimento das características secundárias do sexo masculino.

  • Além disso, lembre-se que a testosterona participa da regulação hormonal da função reprodutora no homem, estimulando a espermatogênese no próprio testículo. Mais detalhes sobre a regulação hormonal da espermatogênese a gente fala no próximo vídeo, não perca!

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Sobre a autora

Mirian Ayumi Kurauti é apaixonada pela fisiologia humana, com uma trajetória acadêmica admirável. Ela se formou em Biomedicina pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), fez mestrado e doutorado em Biologia Funcional e Molecular com ênfase em Fisiologia na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), e ainda atuou como pesquisadora de pós-doutorado na mesma instituição. Além disso, já lecionou fisiologia humana na Universidade Estadual de Maringá (UEM) e biologia celular na UEL. A sua última experiência como professora de fisiologia humana foi na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Fundadora da MK Educação Digital Ltda (MK Fisiologia), atualmente, Mirian é a mente criativa por trás de todos os conteúdos publicados nas redes sociais da empresa.

Apaixonada pela docência, Mirian adora dar aulas de fisiologia humana, mas de um jeito mais descontraído e se diverte muito ensinando. Ela está sempre buscando aprender algo novo não só sobre fisiologia, mas sobre qualquer coisa sobre a vida, o universo e tudo mais. Por isso, é uma consumidora compulsiva de conteúdos de divulgadores científicos. Nas horas vagas, você pode encontrá-la na piscina, treinando e participando de competições de natação. Para Mirian, a vida só tem graça, se ela tiver desafios a serem superados. Hoje, o seu maior desafio é ajudar o maior número de estudantes a entender de verdade a fisiologia humana, principalmente através de suas videoaulas publicadas no canal do YouTube MK Fisiologia.

Foto da autora do post Mirian Ayumi Kurauti criadora do MK Fisiologia
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