
INTRODUÇÃO SISTEMA NERVOSO: Células da glia e Neurônios
Este post é a transcrição da videoaula publicada em nosso canal do YouTube "[#2] INTRODUÇÃO À FISIOLOGIA DO SISTEMA NERVOSO: CÉLULAS DA GLIA E NEURÔNIOS".
TRANSCRIÇÕESSISTEMA NERVOSO
Mirian Kurauti
7/24/202411 min read
E aí pessoal, tudo bem com vocês?
Nesse vídeo, a gente vai finalizar a nossa introdução à fisiologia do sistema nervoso falando sobre as células do tecido nervoso, as células da glia e os neurônios.
Pra você que tá chegando agora e ainda não me conhece, eu sou Mirian Kurauti, professora, mestre, doutora e criadora do canal MK Fisiologia, um canal que tem como principal objetivo descomplicar a fisiologia humana. Então se você tá precisando entender de verdade a fisiologia, já se inscreve no canal e ative as notificações para você não perder os próximos vídeos que a gente postar por aqui.
Agora bora falar sobre as células da glia e sobre os neurônios?
No vídeo anterior, a gente apresentou as três funções básicas do sistema nervoso: detectar e receber informações do meio interno e externo, integrar e processar essas informações, e comandar repostas adequadas de acordo com as informações do meio interno e externo, a fim de manter o organismo em homeostase, a fim de manter o organismo vivo.
E ainda recapitulando o vídeo anterior, lembre-se que as células do sistema nervoso que de fato são capazes de detectar e receber informações, integrar e processar essas informações e gerar respostas adequadas são os neurônios, por isso os neurônios são considerados a unidade funcional básica do sistema nervoso.
"Tá professora, mas se os neurônios realizam as funções básicas do sistema nervoso, pra quê servem as células da glia?"
A palavra “glia” vem do grego e significa “cola”, porque lá atrás pensava-se que essas células só serviam para “colar” os neurônios, dar uma sustentação pros neurônios, preencher os espaços entre os neurônios no tecido nervoso. Porém, hoje a gente sabe que a função das células da glia vai muito mais além.
No sistema nervoso central (SNC), que é formando pelo encéfalo e pela medula espinal, a gente tem basicamente 4 tipos de células da glia, as quais também são chamadas de células gliais, ou gliócitos ou neuroglia.
Os astrócitos que tem uma forma de estrela, por isso “astro”, oferecem sustentação e nutrição pros neurônios uma vez que as suas projeções parecem se associar aos capilares sanguíneos e aos neurônios.
Os oligodendrócitos que enrolam sua membrana nos axônios dos neurônios, formam a bainha de mielina, e como vimos no vídeo sobre a propagação do potencial de ação, a bainha de mielina aumenta a velocidade de condução desse sinal elétrico nos axônios dos neurônios.
A micróglia é um conjunto de células pequenas, por isso “micro”, e são responsáveis por fagocitar restos de células mortas ou qualquer partícula estranha que apareça no tecido nervoso, ou seja, ela atua como células de defesa do sistema nervoso.
E as células ependimárias, são tipo células epiteliais que revestem as cavidades do sistema nervoso central, como os ventrículos no encéfalo e o canal central da medula espinal.
Já no sistema nervoso periférico (SNP), que é formado pelos nervos e gânglios, a gente tem basicamente 2 tipos de células da glia:
as células de Schwann, que se enrolam nos axônios dos neurônios, e formam a bainha de mielina no sistema nervoso periférico;
e as células satélites, que envolvem os corpos celulares dos neurônios que ficam nos gânglios do sistema nervoso periférico.
Mais informações sobre as células da glia a gente pode deixar pra falar em um outro vídeo. Nesse momento, o mais importante é saber que as células das glia tem diversas funções que são extremamente importantes pro funcionamento adequado dos neurônios, os quais são considerados as unidades funcionais básicas do sistema nervoso, já que realizam as três funções básicas desse sistema. Por isso, é sobre essas células que a gente vai dar mais detalhes nesse vídeo.
Bom, então pra falar sobre os neurônios a gente precisa primeiro conhecer a sua estrutura.
Então, lembre-se que os neurônios tem basicamente três estruturas principais: o corpo celular ou soma, os dendritos e o axônio, que juntos podem ser chamados de neuritos.
Bom então falando sobre cada uma dessas estruturas, o corpo celular, também chamado de soma, uma palavra que vem do grego e significa “corpo”, é a estrutura dos neurônios onde estão localizados o núcleo e as organelas encontradas em todas células do organismo, como por exemplo retículo endoplasmático, complexo de Golgi, e mitocôndrias. É por isso que a gente diz que a maioria dos processos vitais dos neurônios, como a síntese de proteínas, acontecem no copo celular.
Do corpo celular, surgem projeções que se ramificam parecendo galhos de uma árvore e por isso são chamadas de dendritos, pois “dendro” vem do grego e significa árvore.
Embora nos dendritos também possa ocorrer síntese de proteínas devido a presença de organelas envolvidas nesse processo, a principal função dos dendritos é receber informações, ou seja, os dendritos são como antenas que captam informações vindas de outros neurônios, por exemplo.
Porém, não se esqueça que o corpo celular também recebe informações assim como os dendritos. Portanto, a principal função dos dendritos não é restrita exclusivamente a essas estruturas dos neurônios.
As informações recebidas pelos dendritos e corpo celular, geram alterações no potencial de membrana do neurônio que a gente chama de potenciais graduados, que como vimos em vídeos anteriores, podem se espalhar pelo corpo celular e chegar até uma região intermediária chamada de cone de implantação ou cone axonal. É nessa região que as informações recebidas, isto é, os potenciais graduados, são integrados e processados.
Se a soma desses potenciais graduados levar o potencial de membrana do cone axonal até o potencial limiar ou limiar de excitabilidade, dispara-se um ou mais potenciais de ação, ou impulsos nervosos. Por isso dizemos que é no cone axonal que fica a zona de gatilho, uma região rica em canais de sódio e potássio dependentes de voltagem necessários pra geração dos potenciais de ação.
Do cone axonal, surge uma projeção geralmente mais alongada que os dendritos, o axônio. A membrana do axônio também tá cheia de canais de sódio e potássio dependentes de voltagem, e por isso o potencial de ação disparado no cone axonal pode ser propagado pelo axônio, até a porção final dessa estrutura que pode se ramificar, formando os terminais axônicos ou terminais axonais, os quais podem transmitir as informações carregadas pelos potenciais de ação, pros dendritos ou corpo celular de outros neurônios, por exemplo, através de uma estrutura de comunicação celular que a gente chama de sinapse.
Ah e uma observação importante é que o axônio de alguns neurônios pode se ramificar formando o que a gente chama de colaterais axonais e cada um desse ramos colaterais podem ser bem compridos chegando a ter mais de 1 metro de comprimento.
Não no meu caso né, que só tenho um metro de meio de altura, se tiver um neurônio com mais um metro de axônio é muito né. Mas nas pessoas mais altas, tem neurônios com axônios bem longos, e por isso é importante que os potenciais de ação sejam propagados muito rapidamente nos axônios dos neurônios, principalmente os neurônios envolvidos com o controle dos músculos esqueléticos, por exemplo.
Por isso, nesse e em muitos outros tipos de neurônios o axônio é mielinizado, isto é, apresenta bainha de mielina que como vimos é formada pelas células da glia: oligodendrócitos no sistema nervoso central, e células de Schwann no sistema nervo periférico.
Lembre-se: a bainha de mielina serve pra evitar possíveis vazamentos de íons através da membrana dos axônios, ou seja, serve pra evitar o vazamento de cargas elétricas, aumentando assim a velocidade de condução do potencial de ação pelos axônios, como vimos em um vídeo anterior.
Ah e outra observação importante sobre os axônios é que nessa estrutura não encontramos as organelas necessárias pra síntese de proteínas e por isso todas proteínas axonais devem ser transportadas do corpo celular pros axônios através de mecanismos de transporte específicos, como o transporte axonal rápido, o qual depende de proteínas do citoesqueleto que formam os chamados microtúbulos.
Nesse momento, não é o objetivo dar detalhes sobre esse mecanismo de transporte axonal, mas a gente pode falar mais sobre esse mecanismo em um outro vídeo.
Então resumindo as estruturas dos neurônios, não se esqueça: dendritos e corpo celular recebem informações, cone axonal integra e processa as informações, as quais podem gerar novas informações na forma de potenciais de ação. O axônio então propaga ou conduz essas informações, e os terminais axonais podem transmitir essas informações pra outros neurônios ou mesmo pra outros tipos de células, através das sinapses.
"De boa professora, já entendi as estruturas dos neurônios e as suas funções. É só isso que eu preciso saber sobre os neurônios?"
Na verdade, tem mais uma coisa importante.
Lembre-se que os neurônios não todos iguais. Existem diferenças estruturais e funcionais entre os neurônios e por isso eles podem ser classificados principalmente quanto a sua estrutura e quanto a sua função.
Quanto a sua estrutura, a principal classificação dos neurônios leva em consideração o número de projeções que saem do corpo celular, isto é, dendritos e axônio.
Quando o neurônio apresenta várias projeções saindo do corpo celular, vários dendritos e um axônio, ele é classificado como neurônio multipolar.
Mas quando o neurônio apresenta apenas duas projeções saindo do corpo celular, geralmente um dendrito e um axônio, ele é classificado como neurônio bipolar.
E quando o neurônio apresenta apenas uma projeção saindo do corpo celular, geralmente um axônio, ele é classificado como neurônio unipolar.
Só que esse neurônio não parece ser muito comum e por isso alguns livros nem apresentam esse tipo de neurônio, mas apresentam um neurônio unipolar que pode ser chamado de neurônio pseudounipolar, pois a sua única projeção se dividi em duas, formando geralmente uma projeção que funcionalmente poderia ser o dendrito, pois recebe informação e manda em direção ao corpo celular e uma projeção que funcionalmente poderia ser o axônio, pois conduz a informação do corpo celular pras terminações axonais que podem transmitir a informação pra outros neurônios.
Embora essa seja a principal classificação estrutural dos neurônios, existem outras classificações estruturais. Por exemplo, os neurônios podem ser classificados quanto ao comprimento do seu axônio.
Os neurônios que apresentam longos axônios podem ser chamados de neurônios de Golgi tipo I ou neurônios de projeção, pois seus axônios são longos e projetam informações pra alvos mais distantes do corpo celular.
Já os neurônios que apresentam axônios curtos podem ser chamados de neurônios de Golgi tipo II ou neurônios de circuitos locais ou ainda, interneurônios, que apenas conduzem informações pra outros neurônios que estejam localizados bem perto do seu corpo celular.
Agora quanto a sua função, os neurônios podem ser classificados em neurônios sensoriais, motores e neurônios de associação.
Os neurônios sensoriais ou aferentes, são neurônios que tem a função de em receber informações do ambiente interno e externo do organismo e então conduzir essas informações, pro sistema nervoso central. Esses neurônios sensoriais geralmente são pseudounipolares que apresentam axônios bem longos sendo, portanto, também classificados como neurônios de projeção.
Os neurônios motores ou eferentes, são neurônios que tem a função de levar as informações do sistema nervoso central pro órgãos efetores, como por exemplo os músculos e as glândulas, os quais vão ser responsáveis por efetuar as respostas adequadas. Esses neurônios geralmente são multipolares que apresentam axônios bem longos, e também são classificados como neurônios de projeção.
E por fim, os neurônios de associação, são neurônios pequenos, com axônios curtos, geralmente localizados inteiramente no sistema nervoso central, e tem a função de integrar e processar as informações recebidas pelos neurônios sensoriais e programar respostas adequadas que serão levadas até os efetores através dos neurônios motores. Esses neurônios geralmente são multipolares assim como os neurônios motores, mas eles geralmente apresentam um axônio curto, e por isso eles podem ser classificados também como interneurônios.
Então não se esqueça que embora cada neurônio, de forma isolada, consegue realizar as funções básicas do sistema nervoso, é na verdade uma rede de neurônios com funções específicas que realizam as funções básicas do sistema nervoso: detectar e receber informações, integrar e processar essas informações, e comandar repostas adequadas.
Essa rede pode ser tão simples quanto uma rede formada por apenas três neurônios, um sensorial, um associativo e um motor, ou pode ser extremamente complexa formada por vários neurônios sensoriais, milhares de neurônios associativos e vários neurônios motores.
Lembre-se que o sistema nervoso tem por volta de 86 bilhões de neurônios, que podem formar redes neurais com uma enorme capacidade de processamento de informação, e é isso que permite as funções do sistema nervoso ir além de simplesmente detectar e receber informações, integrar e processar essas informações e gerar repostas adequadas pra sobrevivência do organismo.
E todas as redes neurais, desde as mais simples até as mais complexas são formadas graças a uma estrutura de comunicação que a gente chama de sinapse. E é sobre isso que a gente vai começar a falar no próximo vídeo dessa playlist que eu vou deixar aqui no card (ou aqui).
Bom, então resumindo tudo que a gente viu nesse vídeo lembre-se que:
O tecido nervoso é formado basicamente por dois tipos de células: células da glia e neurônios.
Dentre esses dois tipos de células, os neurônios é que são considerados a unidade funcional básica do sistema nervoso, pois podem realizar as três funções básicas desse sistema.
Os neurônios apresentam: corpo celular onde acontece a maioria da síntese proteica desse tipo de célula; dendritos que recebem informações juntamente com o próprio corpo celular; cone axonal que integra, processa e gera informações na forma de potenciais de ação na zona de gatilho; axônio que conduz essas informações; e terminal axonal que transmite essas informações pra outro neurônio ou mesmo pra outros tipos de células, por exemplo, através de estruturas de comunicação que a gente chama de sinapses.
Por fim, lembre-se que nem todos os neurônios são iguais e por isso eles podem ser classificados quanto a sua estrutura e a sua função.
E aí, gostou do vídeo? Se gostou não esquece de curtir e compartilhar com aquele seu amigo que também tá precisando estudar esse conteúdo.
E se você já me acompanha por aqui, já sabe que você pode se tornar membro do canal e ter benefícios exclusivos, mas talvez o que você não sabe é que agora a gente tem um site onde você pode adquirir os nossos slides pra você fazer as suas anotações enquanto assiste as videoaulas. Vai lá dar uma olhada nos slides que já tão disponíveis e também nos e-books com questões comentadas pra você arrasar na fisiologia. Vou deixar o link do nosso site aqui na descrição do vídeo.
Bom, a gente vai ficando por aqui. Qualquer dúvida pode deixar aí nos comentários que a gente tenta responder, beleza? A gente se vê num próximo vídeo. Abraço!


Sobre a autora
Mirian Ayumi Kurauti é apaixonada pela fisiologia, com uma trajetória acadêmica admirável. Ela se formou em Biomedicina pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), fez mestrado e doutorado em Biologia Funcional e Molecular com ênfase em Fisiologia pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), e ainda atuou como pesquisadora de pós-doutorado na mesma instituição. Além disso, já lecionou fisiologia humana na Universidade Estadual de Maringá (UEM) e biologia celular na UEL. Atualmente, é professora de fisiologia humana na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) e a mente criativa por trás do MK Fisiologia.
Apaixonada pela docência, Mirian adora dar aulas de fisiologia, mas de um jeito mais descontraído e se diverte muito ensinando fisiologia. Ela está sempre buscando aprender algo novo não só sobre fisiologia, mas sobre qualquer coisa sobre a vida, o universo e tudo mais. Por isso, é uma consumidora compulsiva de conteúdos de divulgadores científicos. Nas horas vagas, você pode encontrá-la na piscina, treinando e participando de competições de natação. Para Mirian, a vida só tem graça, se ela tiver desafios a serem superados. Hoje, o seu maior desafio é ajudar o maior número de estudantes a entender de verdade a fisiologia humana.



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