
Distúrbios dos Hormônios Tireoidianos (T3 e T4): HIPERTIREOIDISMO e HIPOTIREOIDISMO
Este post é a transcrição da videoaula publicada em nosso canal do YouTube "Distúrbios dos Hormônios Tireoidianos (T3 e T4): HIPERTIREOIDISMO e HIPOTIREOIDISMO".
TRANSCRIÇÕESSISTEMA ENDÓCRINO
Mirian Kurauti
12/13/20249 min read
E aí pessoal, tudo bem com vocês?
Eu sou Mirian Kurauti aqui do canal MK fisiologia e nesse vídeo a gente vai falar sobre os distúrbios endócrinos dos hormônios tireoidianos: hipertireoidismo, quando há um excesso desses hormônios, e hipotireoidismo, quando há uma deficiência desses hormônios.
Aqui a gente vai abordar os principais sintomas e as principais causas do hiper e do hipotireoidismo. Além disso, vamos falar um pouco sobre os principais tratamentos utilizados nos indivíduos que apresentam esses distúrbios endócrinos.
Mas antes de continuar assistindo esse vídeo, lembre-se que pra você entender os principais sintomas do hiper e do hipotireoidismo, é preciso que você conheça as principais ações fisiológicos dos hormônios tireoidianos. E se você quiser fazer uma revisão sobre isso, é só clicar aqui no card (ou aqui).
Bom, então como vimos nos vídeos anteriores, os hormônios tireoidianos tem ações fisiológicas importantes sobre o metabolismo e crescimento do organismo, e também sobre o desenvolvimento do sistema nervoso. Por isso os principais sintomas do hiper e do hipotireoidismo incluem alterações no metabolismo, no crescimento e também no desenvolvimento do sistema nervoso, além de outras alterações importantes, já que as ações dos hormônios tireoidianos vão além dessas ações citadas.
Dito isso, bora falar um pouco mais sobre o hiper e hipotireoidismo, começando pelo hipertireoidismo.
O hipertireoidismo ocorre quando há excesso de hormônios tireoidianos no organismo, o que também pode ser chamado de tireotoxicose, e um dos principais sintomas desse excesso de hormônios tireoidianos é aumento da taxa metabólica basal, isto é, ocorre um grande aumento do gasto de energia em repouso, o que explica a perda de peso observada no hipertireoidismo, mesmo com o indivíduo apresentando aumento do apetite.
O aumento da taxa metabólica basal pode ser explicado em parte devido ao aumento da síntese e degradação de lipídios e proteínas que acontece, por exemplo, no tecido adiposo e no músculo esquelético. Como a degradação acaba sendo mais estimulada do que a síntese, o resultado é a perda de gordura e a massa muscular, resultando em perda de peso. A perda de massa muscular explica a fraqueza muscular observada no hipertireoidismo.
Outro sintoma relacionado ao aumento da taxa metabólica basal é o aumento da termogênese, isto é, aumento da produção de calor, principalmente pelo tecido adiposo marrom, causando intolerância ao calor, o que pode explicar a sudorese excessiva e o aumento da ingestão de água que acontece no hipertireoidismo.
O aumento da produção de calor é acompanhado por dilatação dos vasos sanguíneos, provocando rubor, isto é, a pele fica mais avermelhada.
A dilatação dos vasos também é acompanhada por um aumento no bombeamento de sangue pelo coração. Isso acontece pois o excesso de hormônios tireoidianos causa taquicardia, isto é, aumenta a frequência dos batimentos cardíacos, pois potencializa o efeito da noradrenalina e adrenalina no coração, o que também contribui pra um aumento da contratilidade cardíaca, ou seja, um aumento da capacidade de contração do músculo cardíaco, que faz o coração bombear mais sangue a cada batimento.
Esse aumento da contratilidade cardíaca também pode ser um efeito direto dos hormônios tireoidianos que aumentam a quantidade de um tipo específico de proteína contrátil nas fibras cardíacas, contribuindo pro aumento da capacidade de contração do músculo cardíaco.
No sistema nervoso, o excesso de hormônios tireoidianos causa aumento da atividade cerebral, causando insônia, agitação, nervosismo e hipercinesia, isto é, movimentos corporais excessivos que podem acontecer de maneira involuntária, quase como um tique, onde a pessoa de repente faz um movimento brusco.
Todos esses sintomas, são sintomas que costumam aparecer em quase todos os casos de hipertireoidismo. Porém, dependendo da causa desse distúrbio, outros sintomas específicos podem aparecer.
A causa mais comum de hipertireoidismo é uma doença autoimune conhecida como Doença de Graves. Nessa doença, o sistema imunológico começa a produzir um anticorpo que, se liga no receptor do TSH lá nas células foliculares da tireoide, e meio que imita o TSH, ou seja, ele ativa o receptor, ativando todos os efeitos do TSH nessas células, aumentando assim a síntese e secreção dos hormônios tireoidianos.
Como o TSH também estimula o crescimento da tireoide, os anticorpos que ativam o receptor do TSH, acaba estimulando excessivamente o crescimento dessa glândula, causando o que chamamos de bócio.
Outro sintoma específico desse tipo de hipertireoidismo, é a orbitopatia ou oftalmopatia de Graves, cuja a principal característica é a exoftalmia, isto é, os olhos parecem saltar pra fora. Isso acontece devido a estimulação excessiva dos anticorpos sobre os receptores de TSH que também estão presentes nos fibroblastos da órbita ocular. Esses fibroblastos orbitais ficam atrás dos olhos, e quando estimulados pelos anticorpos, produzem substâncias como o ácido hialurônico que é hidrofílico e retém água ao seu redor, portanto, quando em excesso acaba provocando um acúmulo de líquidos, ou edema, atrás do globo ocular, e esse edema pode ser umas das explicações da exoftalmia observada na doença de Graves.
Outras causas de hipertireoidismo menos comum incluem tumores glandulares ou adenomas, da própria tireoide ou da adeno-hipófise. Em todos esses tipos de hipertireoidismo a gente encontra altas concentrações de hormônios tireoidianos na circulação, mas o nível de TSH pode variar.
No caso da Doença de Graves e de um adenoma da tireoide, os níveis de TSH é baixo, quase zero, pois o excesso de hormônios tireoidianos faz feedback negativo sobre o eixo hipotálamo-hipófise, inibindo a secreção de TRH pelos neurônios hipotalâmicos e TSH pelos tireotrofos da adeno-hipófise.
Já no caso de um adenoma da adeno-hipófise, o tumor secreta muito TSH, e o nível desse hormônio fica elevado mesmo com mecanismo de feedback negativo tentando diminuir esse nível, e é esse excesso de TSH que causa o hipertireoidismo nesse caso.
O tratamento do hipertireoidismo, varia dependendo da causa. Mas de forma geral, pode se utilizar:
drogas antitireoidianas que diminuem a síntese e secreção dos hormônios tireoidianos;
iodo radioativo que ao ser captação pelas células foliculares da tireoide acaba destruindo essas células aos poucos;
ou uma intervenção cirúrgica pra remoção quase total da tireoide, uma alternativa ao tratamento com iodo radioativo.
Após remoção cirúrgica ou destruição da tireoide pelo tratamento com iodo radioativo, o paciente deve fazer reposição hormonal, pra evitar agora um quadro de hipotireoidismo, com deficiência dos hormônios tireoidianos.
Os sintomas do hipotireoidismo são opostos ao do hipertireoidismo, e o indivíduo pode apresentar: diminuição da taxa metabólica basal, com ganho de peso apesar da diminuição do apetite, e diminuição da produção de calor causando intolerância ao frio, o que geralmente é acompanhado de constrição dos vasos sanguíneos, provocando palidez e a sensação de uma pele mais fria.
Além disso, a falta dos hormônios tireoidianos também provoca bradicardia, isto é, ocorre diminuição da frequência dos batimentos cardíacos, além de menor contratilidade do músculo cardíaco, resultando em diminuição do bombeamento de sangue pelo coração.
Em casos mais prolongados de hipotireoidismo, pode ocorrer edema generalizado mais conhecido como mixedema. Esse tipo de edema ocorre devido ao acúmulo generalizado de ácido hialurônico, por exemplo, no espaço extracelular, causado pela prolongada falta de hormônios tireoidianos.
Como esse mucopolissacarídeo é bastante hidrofílico a água fica acumulada sob a pele causando inchaço ou edema, principalmente em baixos dos olhos formando uma bolsa, um sintoma característico de alguns tipos de hipotireoidismo.
No sistema nervoso, a falta de hormônios tireoidianos diminui a atividade cerebral causando lentidão e sonolência. Distúrbios psicológico, como a depressão, também podem ser observados em alguns casos. Mas talvez uma das consequências mais grave que pode acontecer no sistema nervoso ocorre quando a deficiência hormonal acontece durante o início da vida, como no caso do hipotireoidismo congênito. Nesse tipo de hipotireoidismo, ocorre um defeito no desenvolvimento da tireoide, e o bebe nasce sem tireoide ou com uma tireoide mal formada.
A falta dos hormônios tireoidianos geralmente só acontece após o nascimento, já que durante a vida uterina há exposição aos hormônios tireoidianos da mãe.
Se ao nascer, o hipotireoidismo congênito não for tratado, o bebê irá apresentar retardo no desenvolvimento do sistema nervoso e déficit no crescimento, principalmente dos ossos longos, dado a importância dos hormônios tireoidianos nas epífises dos ossos longos.
Essa síndrome, conhecida como cretinismo, é difícil de se encontrar hoje em dia, pois ao nascer, no hospital, já é coletado uma amostra de sangue, no famoso "teste do pezinho", pra justamente dosar os hormônios tireoidianos, no caso a tiroxina ou T4, e o TSH.
Nesse tipo de hipotireoidismo, e em qualquer outro tipo cujo o problema ocorre na própria tireoide, isto é, a tireoide, por algum motivo, não consegue secretar quantidades suficientes de hormônios, o que chamamos de hipotireoidismo primário, além da baixa concentração de hormônios tireoidianos, ocorre aumento do nível de TSH na circulação, pois o eixo hipotálamo-hipófise está normal, então se não tem hormônios tireoidianos pra fazer feedback negativo, os neurônios do hipotálamo secretam bastante TRH, estimulando os tireotrofos da adeno-hipófise a secretarem bastante TSH na circulação.
Por isso, em muitos tipos de hipotireoidismo primário o bócio pode ser observado, como no caso do hipotireoidismo causado pela deficiência de iodo também chamado de bócio endêmico, como discutido no vídeo anterior.
Outra causa de hipotireoidismo primário é uma doença autoimune conhecida como Doença de Hashimoto ou Tireoidite de Hashimoto, que ao contrário da Doença de Graves, o sistema imunológico produz anticorpos que marcam as células foliculares da tireoide pra serem destruídas. Isso causa uma inflamação na tireoide que pode aumentar de tamanho causando o bócio observado nessa doença.
Quando a causa do hipotireoidismo é a ausência, remoção ou destruição quase total da tireoide, o bócio não pode ser observado.
Além do hipotireoidismo primário, nós temos o hipotireoidismo secundário ou terciário que são muito raros, e acontece quando a causa da deficiência dos hormônios tireoidianos é uma falha na secreção da TSH pelos tireotrofos da adeno-hipófise (o hipotireoidismo secundário), ou uma falha na secreção do TRH pelos neurônios hipotalâmicos (o hipotireoidismo terciário).
O bócio não é observado nesses casos, pois lembre-se que os níveis de TSH são muito baixos tanto no hipotireoidismo secundário quanto no terciário.
O tratamento de todos os tipos de hipotireoidismo é mais simples do que o tratamento do hipertireoidismo, pois é só repor os hormônios tireoidianos que estão faltando. Pra isso, utiliza-se um tratamento com levotiroxina, um hormônio sintético idêntico a tiroxina ou T4 produzido pela tireoide.
Bom, finalizando esse vídeo, é importante deixar claro que há muitos sintomas e causas do hipo e hipertireoidismo que não foram citados. Aqui a gente só quis trazer os principais sintomas que se relacionam com as principais ações fisiológicas dos hormônios tireoidianos, discutidos nos vídeos anteriores, e também as causas mais comuns desses distúrbios.
Se você quiser saber mais detalhes, eu deixei na descrição a referência de alguns livros de endocrinologia mais específicos que trazem mais informações sobre esses distúrbios.
O mais importante aqui é vocês saberem relacionar os principais sintomas desses distúrbios com as principais ações dos hormônios tireoidianos e entender como o aumento ou a diminuição da concentração dos hormônios tireoidianos podem alterar todo o eixo hipotálamo-hipófise que controla a secreção desses hormônios.
Bom, e se você ficou com alguma dúvida pode deixar aí nos comentários que a gente tenta responder, beleza? A gente se vê num próximo vídeo. Abraço!


Sobre a autora
Mirian Ayumi Kurauti é apaixonada pela fisiologia humana, com uma trajetória acadêmica admirável. Ela se formou em Biomedicina pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), fez mestrado e doutorado em Biologia Funcional e Molecular com ênfase em Fisiologia na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), e ainda atuou como pesquisadora de pós-doutorado na mesma instituição. Além disso, já lecionou fisiologia humana na Universidade Estadual de Maringá (UEM) e biologia celular na UEL. A sua última experiência como professora de fisiologia humana foi na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Fundadora da MK Educação Digital Ltda (MK Fisiologia), atualmente, Mirian é a mente criativa por trás de todos os conteúdos publicados nas redes sociais da empresa.
Apaixonada pela docência, Mirian adora dar aulas de fisiologia humana, mas de um jeito mais descontraído e se diverte muito ensinando. Ela está sempre buscando aprender algo novo não só sobre fisiologia, mas sobre qualquer coisa sobre a vida, o universo e tudo mais. Por isso, é uma consumidora compulsiva de conteúdos de divulgadores científicos. Nas horas vagas, você pode encontrá-la na piscina, treinando e participando de competições de natação. Para Mirian, a vida só tem graça, se ela tiver desafios a serem superados. Hoje, o seu maior desafio é ajudar o maior número de estudantes a entender de verdade a fisiologia humana, principalmente através de suas videoaulas publicadas no canal do YouTube MK Fisiologia.



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