[#2] TIREOIDE: Regulação da secreção dos hormônios tireoidianos (T3 e T4)

Este post é a transcrição da videoaula publicada em nosso canal do YouTube "[#2] TIREOIDE: Regulação da secreção dos hormônios tireoidianos (T3 e T4)".

TRANSCRIÇÕESSISTEMA ENDÓCRINO

Mirian Kurauti

12/11/20247 min read

E aí pessoal, tudo bem com vocês?

Eu sou Mirian Kurauti aqui do canal MK fisiologia e nesse vídeo a gente vai continuar falando sobre os hormônios tireoidianos, T3 e T4. Mas dessa vez, nós vamos explicar como é regulado a secreção desses hormônios pela tiroide.

Bom, pra entender como ocorre a regulação da secreção desses hormônios é preciso que vocês conheçam pelo menos os principais efeitos fisiológicos ou as principais ações desses hormônios no organismo. Por isso eu sugiro você assistir o vídeo anterior clicando aqui no card (ou aqui). Mas, se você já assistiu esse vídeo, bora entender como a secreção dos hormônios tireoidianos pode ser regulada.

Como vimos na videoaula sobre a adeno-hipófise, a secreção dos hormônios da tireoide está sob regulação do eixo hipotálamo-hipófise, formado por neurônios hipotalâmicos que secretam o TRH, sigla que vem do inglês e significa “hormônio liberador do TSH”, e pelos tireotrofos da adeno-hipófise que secretam o TSH, sigla que vem do inglês e significa “hormônio estimulante da tireoide”.

Só relembrando, o TRH é secretado então na primeira rede de capilares do sistema porta hipotalâmico-hipofisário, e através desse sistema porta o TRH chega até os tireotrofos da adeno-hipófise, e então se liga em seus receptores específicos presentes na membrana dessas células. Quando isso acontece, o TRH estimula a secreção do TSH, o hormônio estimulante da tireoide, o qual segue pela circulação sanguínea até chegar na tireoide, onde se liga em seus receptores específicos presentes na membrana das células foliculares, estimulando finalmente a secreção de T3 e T4, como discutimos no vídeo anterior.

Nas células alvo, não se esqueça que a maior parte do T4 é convertido em T3 por ação de enzimas desiodases. T3, que é o hormônio mais potente, pode então ativar o receptor nuclear dos hormônios tireoidianos, regulando a transcrição de genes específicos, o que irá promover a maioria dos efeitos fisiológicos dos hormônios tireoidianos.

Quando as concentrações de T3 e T4 se elevam e ultrapassam o seu set point ou ponto de ajuste, isto é, ultrapassam o limite de concentração considerada normal pelo organismo, ocorre um feedback negativo de alça longa. Ou seja, altas concentrações de T3 e T4 inibem a secreção de TSH, de forma direta por agir em seus receptores presentes nos tireotrofos da adeno-hipófise, ou de forma indireta por agir em seus receptores presentes nos neurônios hipotalâmicos que sintetizam e secretam o TRH, isso inibe a secreção desse hormônio e, consequentemente, a secreção de TSH também.

Lembre-se que esse mecanismo de feedback negativo é importante pra manter as concentrações de T3 e T4 em níveis adequados na circulação.

Agora uma informação importante que é interessante saber, é que a secreção do TRH pelos neurônios hipotalâmicos é pulsátil e apresenta variações ao longo do dia, ou seja, apresenta variações circadianas, e isso gera, consequentemente, uma secreção pulsátil com variações circadianas do TSH e dos hormônios tireoidianos também.

O período do dia em que se observa o maior pico de secreção desse hormônio é durante a noite, e esse pico também parece ser acompanhado por um pico na concentração dos hormônios tireoidianos, principalmente o T3.

Em situações especiais, um aumento na concentração dos hormônios tireoidianos pode ser observado mesmo durante o dia, estimulado pelo frio, o principal estimulador do eixo hipotálamo-hipófise-tireoide, visto que uma das principais ações dos hormônios tireoidianos T3 e T4 é o aumento da produção de calor, principalmente pelo tecido adiposo marrom.

Quando somos expostos a ambientes com baixa temperatura, receptores de frio são ativados e enviam essa informação até o hipotálamo, o que estimula a secreção do TRH, estimulando todo o eixo hormonal. Quando a concentração dos hormônios tireoidianos aumenta, o estimulo sobre a produção de calor, principalmente no tecido adiposo marrom, também aumenta.

Ao contrário, no jejum e na presença de algumas doenças, ocorre estímulos inibitórios sobre o eixo hipotálamo-hipófise-tireoide, diminuindo a secreção dos hormônios tireoidianos, o faz todo sentido, pois nessas condições o organismo precisa poupar energia. Lembre-se que um dos principais efeitos fisiológicos dos hormônios tireoidianos é aumentar a taxa metabólica basal, isto é, aumentar o gasto energético. Por isso, em situações em que é necessário poupar energia, esses hormônios precisam ser inibidos.

Bom, ainda é importante destacar que essas regulações que a gente discutiu até aqui, ocorrem a nível de hipotálamo, mas outras regulações podem ocorrer a nível de tireoide mesmo, algo que chamamos de autorregulação, ou seja, a própria tiroide se regula de acordo com a disponibilidade de íons iodeto na circulação.

Por exemplo, se eu diminuir o consumo de iodo, a concentração desse mineral vai diminuir na minha circulação, e essa diminuição faz as células foliculares da tireoide se adaptarem, e elas aumentam o processo de captação de íons iodeto pra tentar compensar a baixa disponibilidade desse íon.

Se a deficiência for extrema e por período prolongado, mesmo com aumento do processo de captação de íons iodeto, não vai ter iodo suficiente pra sintetizar T3 e T4, logo a secreção desses hormônios na circulação pode ser reduzida drasticamente.

E olhem só que interessante. Se as concentrações de T3 e T4 estiverem baixas, não haverá feedback negativo, e as secreções de TRH e TSH, acabam aumentando bastante.

O TSH, além de estimular a secreção de T3 e T4, que nesse caso não ocorre porque não tem iodo, estimula o crescimento da tireoide, podendo causar o que chamamos de bócio.

Esse tipo de bócio provocado pela falta de iodo, é chamado de bócio endêmico e era muito comum em populações que vivam distantes do mar, em regiões montanhosas. Mas graças a adição do iodo no sal de cozinha esse tipo de bócio foi praticamente erradicado.

Além do bócio, as pessoas que viviam longe do mar apresentavam também outros sintomas característicos da deficiência dos hormônios tireoidianos ou hipotireoidismo. Mas isso a gente deixa pra falar no próximo vídeo. Não perca!

Por outro lado, se eu ingerir quantidades excessivas de iodo, as células foliculares se adaptam e diminuem a captação de íons iodeto, reduzem a síntese de T3 e T4 por inibir a atividade da enzima chave nesse processo, além de diminuir a secreção de T3 e T4 armazenados nos folículos tireoidianos. Esse efeito em resposta a alta disponibilidade de íons iodeto na circulação é chamado de efeito Wolff-Chaikoff.

Após alguns dias ingestão excessiva de iodo, pode ocorrer um escape do efeito Wolff-Chaikoff, pois lembre-se que, como as altas concentrações desse mineral inibem a captação de iodeto, uma hora a quantidade desse mineral dentro das células foliculares acaba diminuindo, e a captação de iodeto volta a ser estimulada, o que é importante pra não ocorrer falta de hormônios tiroidianos diante de um excesso prolongado de iodo. Interessante não?

Bom, então resumindo tudo que vimos nesse vídeo, lembre-se que:

  • A secreção dos hormônios tireoidianos T3 e T4 está sob regulação do eixo hipotálamo-hipófise, formado pelo THR secretado pelo hipotálamo e TSH secretado pela adeno-hipófise.

  • Quando as concentrações de T3 e T4 se elevam, feedback negativo de alça longa pode inibir a secreção do TRH pelo hipotálamo e do TSH pela adeno-hipófise, controlando assim a secreção de T3 e T4 pela tiroide.

  • Enquanto o frio estimula, o jejum e a presença de algumas doenças, podem inibir o eixo hipotálamo-hipófise-tireoide.

  • Além da regulação a nível de hipotálamo, existe a regulação a nível de tireoide, ou autorregulação, que promove alterações no funcionamento da tireoide frente à deficiência ou excesso da ingestão de iodo.

Bom, se você gostou do vídeo compartilha com aquele seu amigo que também tá precisando estudar esse conteúdo. E como sempre, se você ficou com alguma dúvida pode deixar aí nos comentários que a gente tenta responder, beleza? A gente se vê num próximo vídeo. Abraço!

Sobre a autora

Mirian Ayumi Kurauti é apaixonada pela fisiologia humana, com uma trajetória acadêmica admirável. Ela se formou em Biomedicina pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), fez mestrado e doutorado em Biologia Funcional e Molecular com ênfase em Fisiologia na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), e ainda atuou como pesquisadora de pós-doutorado na mesma instituição. Além disso, já lecionou fisiologia humana na Universidade Estadual de Maringá (UEM) e biologia celular na UEL. A sua última experiência como professora de fisiologia humana foi na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Fundadora da MK Educação Digital Ltda (MK Fisiologia), atualmente, Mirian é a mente criativa por trás de todos os conteúdos publicados nas redes sociais da empresa.

Apaixonada pela docência, Mirian adora dar aulas de fisiologia humana, mas de um jeito mais descontraído e se diverte muito ensinando. Ela está sempre buscando aprender algo novo não só sobre fisiologia, mas sobre qualquer coisa sobre a vida, o universo e tudo mais. Por isso, é uma consumidora compulsiva de conteúdos de divulgadores científicos. Nas horas vagas, você pode encontrá-la na piscina, treinando e participando de competições de natação. Para Mirian, a vida só tem graça, se ela tiver desafios a serem superados. Hoje, o seu maior desafio é ajudar o maior número de estudantes a entender de verdade a fisiologia humana, principalmente através de suas videoaulas publicadas no canal do YouTube MK Fisiologia.

Foto da autora do post Mirian Ayumi Kurauti criadora do MK Fisiologia
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