Distúrbios do Hormônio do Crescimento (GH): NANISMO, GIGANTISMO E ACROMEGALIA

Este post é a transcrição da videoaula publicada em nosso canal do YouTube "ADistúrbios do Hormônio do Crescimento (GH): NANISMO, GIGANTISMO E ACROMEGALIA".

TRANSCRIÇÕESSISTEMA ENDÓCRINO

Mirian Kurauti

12/6/20248 min read

E aí pessoal, tudo bem com vocês?

Eu sou Mirian Kurauti aqui do canal MK Fisiologia e nesse vídeo a gente vai conhecer os principais distúrbios endócrinos relacionados ao hormônio do crescimento ou GH.

Mas pra gente entender esses distúrbios, é preciso conhecer os principais efeitos fisiológicos do GH no organismo humano, ou seja, é preciso saber o que o GH faz no organismo. E se você não lembra ou quer revisar as ações desse hormônio, é só clicar aqui no card (ou aqui).

Mas resumindo, o GH estimula o crescimento de praticamente todos os tecidos do organismo, e tem ações sobre o metabolismo de carboidratos, lipídios e proteínas. Poupa carboidratos, gasta gordura e promove síntese de proteínas. Logo, qualquer desbalanço nas ações do GH, seja pra menos ou pra mais, isto é, deficiência ou excesso de GH, irão afetar o crescimento e o metabolismo do organismo.

Durante a infância e a puberdade, o efeito do GH sobre o crescimento dos ossos longos se destaca. O GH estimula o crescimento linear desses ossos por agir em células específicas nas placas epifisárias ou epífises, promovendo assim o crescimento em comprimento dos ossos longos. Portanto, durante a infância e a puberdade, a deficiência ou o excesso de GH afetam principalmente o crescimento dos ossos longos, afetando assim a estatura final do indivíduo, causando nanismo ou gigantismo.

Nanismo é um termo utilizado pra se referir a uma condição de deficiência no crescimento, resultando em um individuo com baixa estatura quando comparado com a média da população da mesma idade e do mesmo sexo.

Existem várias causas de nanismo, mas o nanismo causado pela deficiência de GH ocorre: devido a falha na secreção do GH pelos somatotrofos da adeno-hipófise, ou devido a falha na ação do GH nas suas células alvo, isto é, a adeno-hipófise secreta GH, mas o hormônio não consegue agir nas células. As causas de deficiência de GH em crianças geralmente é idiopática, ou seja, não são conhecidas.

Como o principal efeito fisiológico do GH é o crescimento não apenas dos ossos longos, mas de praticamente todos os tecidos do organismo, a deficiência desse hormônio na infância e na puberdade, gera uma deficiência geral no crescimento do organismo, isto é, ocorre uma deficiência no crescimento de praticamente todos os órgãos, e o indivíduo mesmo com uma estatura cerca de 20 % menor do que a média, tem o tamanho dos órgãos proporcional e sua estatura.

Por isso, algumas vezes o nanismo causado por deficiência de GH é chamado de nanismo proporcional, pra diferenciar do nanismo desproporcional como acontece na acondroplasia. Nesse outro tipo de nanismo ocorre mutações em genes importantes principalmente no crescimento dos ossos longos, e aí ocorre prejuízos no crescimento desses ossos. Por isso, os indivíduos com acondroplasia apresentam pernas e braços curtos, desproporcional ao tamanho do tronco e da cabeça.

O tratamento da deficiência de GH na infância e na puberdade depende do tipo de deficiência. Se a deficiência ocorre devido a falha na secreção de GH, o tratamento consiste em repor o hormônio que tá faltando. Mas, se a deficiência ocorre devido a falha na ação do GH, não adianta fazer um tratamento de reposição hormonal, pois nesse caso a adeno-hipófise secreta GH, mas por algum motivo esse hormônio não consegue agir nas células.

Um exemplo desse tipo de deficiência de GH ocorre na Síndrome de Laron. Crianças com essa síndrome, apresentam mutações no gene do receptor do GH, o qual se torna disfuncional, não funciona e, portanto, o GH não consegue agir nas células do organismo. Por isso, mesmo se você administrar GH exógeno nessas crianças, não vai adiantar nada, porque o receptor tá com problema.

Mas aí a gente pode perguntar:

-Não existe nenhum tratamento pra minimizar os efeitos dessa falha da ação do GH no crescimento dessas crianças?

Pra responder essa pergunta, lembre-se que muitos dos efeitos estimuladores do GH sobre o crescimento dos tecidos, pode ser mediado pelo IGF-1. Assim, o tratamento que pode ser utilizado nas crianças com Síndrome de Laron, é a reposição de IGF-1. Dessa forma, mesmo sem as ações diretas do GH, essas crianças podem ter as ações indiretas do GH mediadas pelo IGF-1, minimizando assim a deficiência no crescimento causada pela falha da ação do GH nas células.

A deficiência de GH também pode ocorrer na vida adulta, seja por uma deficiência que começou no início da vida e não foi tratada, ou por uma deficiência que começou mais tarde já na vida adulta, devido a alguma lesão na adeno-hipófise, por exemplo.

Os sintomas da deficiência de GH na vida adulta são mais discretos e incluem alterações na composição corporal, como aumento de gordura e diminuição da massa muscular, pois lembre-se dos efeitos do GH em promover perdas de gordura e síntese de proteínas. Além disso, a densidade óssea pode diminuir devido a falta de GH agindo nos ossos, o que pode contribuir pro desenvolvimento de osteoporose.

O tratamento, nesse caso, é a reposição do GH que tá faltando no organismo.

Ao contrário da deficiência de GH, o excesso de GH durante a infância e a puberdade causa o gigantismo, que como o próprio nome diz, se refere a uma condição de crescimento excessivo do organismo, resultando em estatura acima da média da população da mesma idade e do mesmo sexo.

O excesso de GH ocorre principalmente devido a uma hipersecreção de GH causado por um tumor da adeno-hipófise ou adenoma.

Na infância e na adolescência, o excesso de GH é marcado pelo crescimento excessivo do organismo, e se não tratado o indivíduo pode chegar a cerca de 2 metros e meio de altura, como é o caso de um turco considerado atualmente o homem mais alto do mundo segundo o Guiness, com seus 2 metros e 51 centímetros!

Quando a causa do excesso de GH é um tumor da adeno-hipófise, o tratamento de primeira linha é eliminar o tumor cirurgicamente e/ou através de radioterapia. Porém, geralmente isso acaba causando hipopituitarismo, isto é, falta de praticamente todos os hormônios produzidos e secretado pela adeno-hipófise.

Por isso, tratamentos farmacológicos alternativos vêm sendo introduzidos. Alguns desse tratamentos têm como mecanismo de ação, inibir a secreção de GH pelos somatotrofos da adeno-hipófise como é caso dos análogos de somatostatina, ou seja, fármacos com a mesma ação da somatostatina secretada por neurônios hipotalâmicos que age como um hormônio inibidor do GH nos somatotrofos.

Outros tratamentos tem como mecanismo de ação inibir a ação do GH nas suas células alvo, como é caso dos antagonistas do receptor de GH, ou seja, fármacos que se ligam ao receptor de GH e bloqueiam a ativação desses receptores pelo GH, diminuindo assim a sua ação nas células do organismo.

Caso o tratamento não seja realizado, e o excesso de GH permanecer na vida adulta, além do gigantismo o indivíduo irá apresentar acromegalia, termo que vem das palavras gregas “Akron” que significa “extremidade”, e “Megas” que significa “grande”, ou seja, extremidade grande, isso porque o excesso de GH na vida adulta pode causar o crescimento excessivo da espessura de alguns ossos, causando espessamento das extremidades do corpo, no caso, das mãos e dos pés que se tornam bastante largos. Daí o nome acromegalia.

Ossos membranosos, incluindo os ossos do crânio, nariz, cristas supraorbitais, mandíbula e partes das vértebras, podem continuar crescendo devido ao excesso de GH, pois seu crescimento não para com o fim da puberdade. Consequentemente, ocorre a protrusão da mandíbula, a testa se inclina pra frente devido ao excesso de desenvolvimento das cristas supraorbitais, e o nariz aumenta em até duas vezes em relação ao tamanho normal como você pode observar nessas fotos que ilustram o desenvolvimento da acromegalia em uma mulher (ver imagens no vídeo).

Além desses efeitos, o crescimento das vértebras, pode levar à curvatura das costas, conhecida como cifose.

Por fim, muitos órgãos de tecido mole, como a língua, o fígado e os rins, podem crescer exageradamente, assim como o coração, que pode apresentar espessamento da parede ventricular, devido a hipertrofia estimulada pelo excesso de GH. Quando isso acontece, o bombeamento de sangue pelo coração pode ser prejudicado, podendo causar insuficiência cardíaca, isto é, o coração não consegue mais bombear sangue de forma eficiente.

Outra consequência do excesso de GH que podemos citar, inclui um quadro de resistência à insulina, causando hiperglicemia, e se não tratado pode evoluir pro desenvolvimento do diabetes mellitus tipo 2. Lembre-se dos efeitos contrários aos efeitos da insulina do GH.

Embora o gigantismo e a acromegalia podem estar associados, em alguns casos a acromegalia pode não estar associada ao gigantismo, pois se o tumor da adeno-hipófise aparecer depois da puberdade, já na vida adulta, o indivíduo não irá apresentar gigantismo, pois não foi exposto a quantidades excessivas de GH durante a infância ou puberdade.

Dessa forma, esses indivíduos irão apresentar apenas acromegalia, ou seja, terão estatura normal, mas apresentarão crescimento excessivo de alguns ossos e tecidos moles como discutido, além das alterações metabólicas que podem estar presentes diante de um excesso de GH.

Bom, resumindo tudo vimos nesse vídeo, lembre-se que:

Enquanto a deficiência de GH causa nanismo na infância e na puberdade, o excesso de GH causa o gigantismo; e enquanto a deficiência de GH na vida adulta causa sintomas mais discretos, o excesso desse hormônio causa a acromegalia, que se não tratada causa alterações no crescimento de alguns ossos e tecidos moles, além de alterações no metabolismo.

Bom, se você gostou do vídeo compartilha com aquele seu amigo que também tá precisando estudar esse conteúdo. E como sempre, se você ficou com alguma dúvida pode deixar aí nos comentários que a gente tenta responder, beleza? A gente se vê num próximo vídeo. Abraço!

Sobre a autora

Mirian Ayumi Kurauti é apaixonada pela fisiologia humana, com uma trajetória acadêmica admirável. Ela se formou em Biomedicina pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), fez mestrado e doutorado em Biologia Funcional e Molecular com ênfase em Fisiologia na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), e ainda atuou como pesquisadora de pós-doutorado na mesma instituição. Além disso, já lecionou fisiologia humana na Universidade Estadual de Maringá (UEM) e biologia celular na UEL. A sua última experiência como professora de fisiologia humana foi na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Fundadora da MK Educação Digital Ltda (MK Fisiologia), atualmente, Mirian é a mente criativa por trás de todos os conteúdos publicados nas redes sociais da empresa.

Apaixonada pela docência, Mirian adora dar aulas de fisiologia humana, mas de um jeito mais descontraído e se diverte muito ensinando. Ela está sempre buscando aprender algo novo não só sobre fisiologia, mas sobre qualquer coisa sobre a vida, o universo e tudo mais. Por isso, é uma consumidora compulsiva de conteúdos de divulgadores científicos. Nas horas vagas, você pode encontrá-la na piscina, treinando e participando de competições de natação. Para Mirian, a vida só tem graça, se ela tiver desafios a serem superados. Hoje, o seu maior desafio é ajudar o maior número de estudantes a entender de verdade a fisiologia humana, principalmente através de suas videoaulas publicadas no canal do YouTube MK Fisiologia.

Foto da autora do post Mirian Ayumi Kurauti criadora do MK Fisiologia
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