ADENO-HIPÓFISE: HORMÔNIO DO CRESCIMENTO (GH)

Este post é a transcrição da videoaula publicada em nosso canal do YouTube "ADENO-HIPÓFISE: HORMÔNIO DO CRESCIMENTO (GH) ".

TRANSCRIÇÕESSISTEMA ENDÓCRINO

Mirian Kurauti

12/4/202410 min read

E aí pessoal, tudo bem com vocês?

Eu sou Mirian Kurauti aqui do canal MK Fisiologia, e nesse vídeo a gente vai continuar falando sobre os hormônios da adeno-hipófise, mas dessa vez a gente vai falar sobre o hormônio do crescimento, o famoso GH.

Se você ainda não assistiu o vídeo anterior onde a gente fez uma introdução à adeno-hipófise e falamos sobre um de seus hormônios, a prolactina, aproveita pra assistir esse vídeo clicando aqui no card (ou aqui). Mas se você já assistiu, bora falar sobre o hormônio mais famoso da adeno-hipófise, o GH.

Relembrando então, o GH é produzido e secretado pelos somatotrofos da adeno-hipófise, um dos cinco tipos de células endócrinas que compõem essa glândula. Essas células tem esse nome pois o GH também pode ser chamado de somatotrofina. Lembrem-se que “soma” se refere a corpo, e de fato o GH parece agir em praticamente todas as células do organismo, por isso “somatotrofina”.

Como vimos no vídeo anterior, todos os hormônios produzidos e secretados pelas cinco células endócrinas da adeno-hipófise são hormônios proteicos, ou seja, são proteínas.

Portanto, a síntese do GH que ocorre nos somatotrofos segue a via da síntese de proteínas, e esse hormônio pode ficar estocado em vesículas ou grânulos secretórios, até que um sinal de liberação ocorra. No caso, esse sinal de liberação será principalmente um hormônio vindo do hipotálamo que a gente vai discutir ainda nesse vídeo, mais adiante, quando falarmos sobre a regulação da secreção do GH.

Ao ser secretado, o GH pode se difundir até um capilar sanguíneo mais próximo, e assim entrar na circulação. Uma vez na circulação, como o GH é um hormônio proteico, ele é hidrossolúvel, se solubiliza no plasma (isto é, a parte líquida do sangue), e pode ser transportado livre pela corrente sanguínea.

No entanto, cerca de 40% do GH circulante pode se ligar a uma proteína de transporte conhecida como GHBP, uma sigla que vêm do inglês e significa “proteína de ligação ao GH”. A ligação do GH a essa proteína de transporte, dificulta a sua eliminação e aumenta o tempo de meia vida desse hormônio que fica em torno de 20 min.

-Ah mas 20 min nem é muito professora?

Pois é, é que a ligação do GH a essa proteína é fraca, apenas cerca de 40% do GH circulante encontra-se ligado a essa proteína, por isso o tempo de meia vida não chega a ser tão longo assim.

Mas independente do tempo de meia vida, o GH vai chegar nas suas células alvo, onde se liga a receptores de membrana específicos conhecidos como GHR, sigla que vem do inglês e significa “receptor de GH”. Esse receptor é um receptor associado a enzimas, então quando o GH se liga, o receptor ativa enzimas intracelulares que vão promover a ativação de uma série de proteínas que podem alterar o funcionamento das células alvo, e são essas alterações à nível celular, que irão promover os efeitos fisiológicos desse hormônio.

-Tá mas, quais são os efeitos fisiológicos do GH?

Como o receptor de GH tá presente em praticamente todas as células do organismo, esse hormônio apresenta uma ação geral nas células, promovendo, adivinha? Crescimento. E esse crescimento ocorre tanto por hipertrofia, isto é, aumento do tamanho das células, como também por hiperplasia, isto é, aumento do número de células, isso porque o GH estimula a síntese de DNA, RNA e proteínas, pra permitir o crescimento da célula, e ativa proteínas envolvidas na proliferação celular, pra permitir a multiplicação das células de um tecido.

Embora o GH possa agir diretamente em quase todas as células do organismo, ele também pode agir de forma indireta, estimulando a síntese e secreção de outro hormônio, o IGF-1, sigla que vem do inglês e significa “fator de crescimento semelhante à insulina 1”. E adivinha por que tem esse nome? Porque a sua estrutura é semelhante à do hormônio insulina.

Vale destacar que embora o GH possa estimular a produção desse hormônio em vários tecidos, o tecido que mais exporta IGF-1, ou seja, que mais contribui pra liberação desse hormônio na circulação, é o fígado.

O IGF-1 também é um hormônio proteico e, portanto, a sua síntese também segue a via da síntese de proteínas. Tanto a sua síntese como a sua secreção podem ser estimuladas quando o GH se liga em seus receptores de membrana presentes nas células hepáticas.

Uma vez na circulação, o IGF-1 se liga com alta afinidade, isto é, se liga fortemente a uma proteína de transporte específica conhecida como IGFBP, sigla que vem do inglês e significa “proteína de ligação ao IGF”.

Cerca de 99% do IGF-1 circulante se encontra ligado a essa proteína, e o tempo de meia vida desse hormônio é bem mais longo do que o tempo de meia vida do GH, ficando em torno de 20 horas! Bastante né?

-Mas o que exatamente o IGF-1 faz nas suas células alvo?

Bom, assim como GH, o IGF-1 age em praticamente todas as células do organismo, através de receptores de membrana específicos, o IGFR, sigla que vem do inglês e significa receptor de IGF. Diferente dos receptores de GH os receptores de IGF, são receptores que tem atividade enzimática, ou seja, quando o IGF-1 se liga nesse receptor, ele mesmo pode clivar e ativar várias proteínas intracelulares, as quais podem alterar o funcionamento celular, promovendo assim os efeitos fisiológicos desse hormônio.

Como o próprio nome diz, o IGF-1 é um fator de crescimento, portanto, seu principal efeito é estimular hipertrofia e hiperplasia, assim como o GH.

O IGF-1 age em praticamente todos os tecidos estimulando o crescimento, e ele é especialmente importante no crescimento dos ossos longos que ocorre durante a infância e a puberdade. Nessas fases da vida, o GH, ao chegar nas placas epifisárias ou epífises dos ossos longos, estimula a produção local de IGF-1. Esse hormônio então age em seus receptores de membrana presentes em células específicas do osso estimulando a formação de cartilagem, e a conversão dessa cartilagem em osso, estimulando assim a formação de tecido ósseo e o crescimento linear dos ossos longos, isto é, os ossos crescem em comprimento.

-Ok, mas depois da puberdade as epífises se fundem com as diáfises, ou seja, a placa epifisária de crescimento deixa de existir e não tem mais como estimular o crescimento linear dos ossos longos. Portanto, o GH não tem mais efeito sobre o crescimento ósseo na vida adulta?

Na verdade, tem sim, porque o GH também pode estimular a formação do tecido ósseo em alguns tipos de ossos específicos, e esses ossos podem crescer então em espessura sob a ação do GH.

Bom, mas além desses efeitos sobre o crescimento, o GH também tem efeitos sobre o metabolismo, apresentando ações específicas no tecido adiposo, fígado e músculo esquelético. Nesses tecidos, que são importantes alvos de um outro hormônio muito conhecido, a insulina, o GH tem ações contrárias à da insulina.

No tecido adiposo, enquanto a insulina estimula a lipogênese, isto é, a síntese de lipídeos, o GH, ao se ligar e ativar o seu receptor nas células adiposas, ele estimula a lipólise, isto é, a hidrólise, a quebra de lipídeos, no caso o triacilglicerol, promovendo a liberação de ácido graxo e glicerol na circulação.

Enquanto o ácido graxo pode ser usado como substrato energético ou simplificando, como fonte de energia, no músculo esquelético por exemplo, no fígado, o glicerol pode ser usado na gliconeogênese, um processo bioquímico que produz glicose a partir do glicerol ou de outros precursores como alguns aminoácidos.

E adivinha quem pode estimular a gliconeogênse no fígado? Sim, o GH. De novo um efeito contrário ao da insulina, a qual estimula a glicólise, ou seja, a hidrólise, quebra da glicose.

Então se vocês pararem pra pensar, olha o que o GH tenta fazer, aumentar a concentração de glicose no sangue, isto é, aumentar a glicemia, tanto fornecendo outras fontes de energia pro músculo como os ácidos graxos, pra ele poupar a glicose, como também promovendo a produção de glicose no fígado.

E se não bastasse, no músculo e tecido adiposo, dois importantes alvos da insulina, o GH diminui a ação desse hormônio, e como a insulina estimula a captação de glicose por esses tecidos, o GH, acaba diminuindo a captação de glicose no músculo e no tecido adiposo, ou seja, mais um efeito do GH contribuindo pra aumentar a disponibilidade de glicose na circulação. Ou seja, os efeitos do GH sobre o metabolismo poupam carboidrato, gastam gordura e promovem síntese de proteínas, sendo este último efeito, um efeito metabólico também envolvido no crescimento das células.

Bom, sabendo dos principais efeitos do GH sobre crescimento e sobre o metabolismo, fica mais fácil de entender quais são os principais estímulos pra secretar esse hormônio.

Mas antes de saber quais são esses estímulos, é importante lembrar que a secreção desse hormônio da adeno-hipófise está sob controle de dois hormônios do hipotálamo: um hormônio liberador do GH, o GHRH, sigla que vem do inglês e significa “hormônio liberador do GH”, lembrem-se que o “r” é de release que significa “liberar”; e outro hormônio inibidor do GH, o GHIH, lembre-se que o “i” aqui é de inibidor. Esse hormônio inibidor também é conhecido como somatostatina.

A secreção do GHRH, assim como dos demais hormônios liberadores do hipotálamo, é pulsátil, isto é, apresenta picos de secreção intercalados com períodos de baixa secreção, gerando um padrão pulsátil na secreção de GH também. E esse padrão pulsátil segue um ciclo circadiano, um ciclo que se repete todos os dias, e que parece acompanhar o ciclo sono-vigília, com um pico de maior secreção durante o sono, principalmente durante o sono de ondas lentas que ocorre durante o sono não-REM. Esse sono de ondas lentas estimula a secreção do hormônio liberador, o GHRH, e inibi a secreção do inibidor, o GHIH, pelos neurônios do hipotálamo.

O GHRH é um hormônio proteico que age via receptores de membrana nos somatotrofos da adeno-hipófise. Ao ativar seu receptor, esse hormônio ativa proteínas específicas, estimulando a secreção do GH, o qual entra na circulação pra alcançar seus alvos, promovendo crescimento, por exemplo. Por isso, criança que não dorme, não cresce!

Outros estímulos pra secreção do GH, incluem situações de estresse, como o exercício físico, e situações em que a glicemia diminui, como ocorre durante o jejum, pois lembrem-se do efeito de aumentar a glicemia que esse hormônio apresenta.

Além disso, ainda no jejum, ocorre a liberação de um outro hormônio produzido e secretado por células específicas do estômago, a grelina, e esse hormônio também pode atuar em receptores presentes nos somatotrofos da adeno-hipófise e estimular a secreção de GH diretamente.

Quando as concentrações do GH aumentam na circulação, lembrem-se que o próprio GH pode regular a sua própria secreção através de feedback negativo de alça curta, ou seja, quando a concentração de GH ultrapassa os valores considerados normais, isto é o set point ou ponto de ajuste, essa alta concentração pode inibir a secreção de GHRH pelos neurônios hipotalâmicos, inibindo a sua secreção.

Lembrem-se que o feedback negativo é tipo um aviso do próprio GH, que vai lá no hipotálamo e fala: “oh já tem muito GH aqui, pode parar de secretar aí, beleza?

Além disso, lembre-se que o GH também estimula a secreção do IGF-1, principalmente lá no fígado. E esse hormônio também pode através de feedback negativo de alça longa inibir diretamente a secreção de GH nos somatotrofos, ou indiretamente, inibindo a secreção do GHRH e estimulando a secreção do GHIH, ou seja, inibi a liberação e estimula a inibição.

Já quase chegando ao fim desse vídeo, embora alguns tipos de estresse aumente a secreção do GH, como o exercício físico e o jejum, o estresse psicológico causado, por exemplo, pelo medo e ansiedade excessiva, podem inibir a secreção de GH, tanto por diminui a secreção do hormônio liberador, como por aumentar a secreção do hormônio inibidor pelo hipotálamo. Por isso, indivíduos que passaram por traumas na infância, geralmente apresentam prejuízos no crescimento.

No próximo vídeo a gente fala sobre o que acontece quando temos deficiência ou excesso de GH. Não percam!

Bom, finalizando esse vídeo lembrem-se que:

  • O GH é um hormônio proteico secretado pelos somatotrofos da adeno-hipófise e pode ter ações diretas e indiretas sobre o crescimento e metabolismo.

  • As ações indiretas são mediadas pelo IGF-1, um hormônio que juntamente com o GH estimula o crescimento de praticamente todas as células e tecidos do corpo.

  • De forma bem resumida, os efeitos metabólicos do GH consistem em poupar carboidratos, gastar gordura, e sintetizar proteínas.

  • A regulação da secreção do GH é complexa, envolve mecanismos de feedback negativo, e a secreção de dois hormônios hipotalâmicos, um liberador e outro inibidor, que pode ser controlada por diversos estímulos, como sono, exercício físico, jejum, e estresse psicológico.

Bom, se você ficou com alguma dúvida podem deixar aí nos comentários que a gente tenta responder, beleza? A gente se vê num próximo vídeo. Abraço!

Sobre a autora

Mirian Ayumi Kurauti é apaixonada pela fisiologia humana, com uma trajetória acadêmica admirável. Ela se formou em Biomedicina pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), fez mestrado e doutorado em Biologia Funcional e Molecular com ênfase em Fisiologia na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), e ainda atuou como pesquisadora de pós-doutorado na mesma instituição. Além disso, já lecionou fisiologia humana na Universidade Estadual de Maringá (UEM) e biologia celular na UEL. A sua última experiência como professora de fisiologia humana foi na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Fundadora da MK Educação Digital Ltda (MK Fisiologia), atualmente, Mirian é a mente criativa por trás de todos os conteúdos publicados nas redes sociais da empresa.

Apaixonada pela docência, Mirian adora dar aulas de fisiologia humana, mas de um jeito mais descontraído e se diverte muito ensinando. Ela está sempre buscando aprender algo novo não só sobre fisiologia, mas sobre qualquer coisa sobre a vida, o universo e tudo mais. Por isso, é uma consumidora compulsiva de conteúdos de divulgadores científicos. Nas horas vagas, você pode encontrá-la na piscina, treinando e participando de competições de natação. Para Mirian, a vida só tem graça, se ela tiver desafios a serem superados. Hoje, o seu maior desafio é ajudar o maior número de estudantes a entender de verdade a fisiologia humana, principalmente através de suas videoaulas publicadas no canal do YouTube MK Fisiologia.

Foto da autora do post Mirian Ayumi Kurauti criadora do MK Fisiologia
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