
Distúrbios da vasopressina: DIABETES INSÍPIDO E SÍNDROME DA ANTIDIURESE INAPROPRIADA
Este post é a transcrição da videoaula publicada em nosso canal do YouTube "Distúrbios da vasopressina: DIABETES INSÍPIDO E SÍNDROME DA ANTIDIURESE INAPROPRIADA".
TRANSCRIÇÕESSISTEMA ENDÓCRINO
Mirian Kurauti
11/27/202410 min read
Diabetes mellitus acho que todo mundo já deve ter ouvido falar, mas você sabia que existe um outro tipo de diabetes, o diabetes insípido? Nesse vídeo, a gente vai falar sobre esse tipo de diabetes e sobre outros distúrbios endócrinos relacionados ao hormônio antidiurético (ADH), também conhecido como vasopressina.
E aí pessoal, tudo bem com vocês?
Eu sou Mirian Kurauti, professora, mestre, doutora e criadora do canal MK Fisiologia, um canal que tem como principal objetivo descomplicar a fisiologia humana. Então se você tá precisando entender de verdade a fisiologia, já se inscreve no canal e ative as notificações pra você não perder os próximos vídeos que a gente postar por aqui.
Agora bora falar sobre os principais distúrbios endócrinos relacionados a vasopressina?
Se você assistiu o vídeo sobre os tipos de distúrbios endócrinos ou disfunções endócrinas, você deve se lembrar que esses distúrbios acontecem quando há deficiência ou quando há excesso de função de um ou mais hormônios.
A deficiência de função, a gente pode chamar de hipofunção e o excesso de função, a gente pode chamar de hiperfunção. Então, quando a gente fala sobre os distúrbios endócrinos relacionados a vasopressina, a gente pode ter uma hipofunção desse hormônio que a gente chama de diabetes insípido, ou uma hiperfunção desse hormônio que a gente chama de síndrome da antidiurese inapropriada, também conhecida como síndrome da secreção inapropriada do hormônio antidiurético (ADH).
Nesse vídeo, a gente vai falar um pouco sobre as principais causas, sintomas e possíveis tratamentos do diabetes insípido e da síndrome da antidiurese inapropriada.
Bom, então começando pelo diabetes insípido, lembre-se que esse distúrbio nada mais é do que uma hipofunção da vasopressina, que pode ocorrer geralmente devido a hipossecreção de vasopressina, ou devido a hiporresponsividade ou resistência à vasopressina.
Quando o diabetes insípido é causado por uma hipossecreção de vasopressina devido a uma mutação no gene que codifica o hormônio, ou mesmo devido a uma falha na síntese e secreção desse hormônio, temos o chamado diabetes insípido neurogênico ou central, isso por que a falha acontece no hipotálamo e/ou na neuro-hipófise.
Quando o diabetes insípido é causado por uma hiporresposividade ou resistência à vasopressina devido a mutações no gene que codifica o receptor de vasopressina ou até mesmo mutações no gene que codifica o canal de água aquaporina 2, duas proteínas localizadas nos rins, mais precisamente nas células principais dos túbulos distais e ductos coletores dos néfrons, a gente vai ter o diabetes insípido nefrogênico, porque a falha acontece nos rins.
Além desses dois tipos de diabetes insípido, podemos destacar também o diabetes insípido gestacional que pode acontecer em algumas mulheres durante a gestação, devido a atividade exagerada de uma enzima da placenta conhecida como ocitocinase. Essa enzima é importante para degradar a ocitocina e evitar contração uterina antes da hora, evitando assim um possível aborto. Porém, quando a atividade dessa enzima é exagerada, ela acaba degradando também a vasopressina que, lembre-se, tem uma estrutura bastante semelhante à da ocitocina.
E aqui temos um exemplo de uma hipofunção hormonal causada por um aumento da degradação e não por uma diminuição da secreção do hormônio, olha só que interessante.
Mas, independente do tipo de diabetes insípido, os sintomas tendem a ser parecidos, pois se trata de uma hipofunção da vasopressina. E aí, se você conhece a principal ação fisiológica da vasopressina ou melhor, do hormônio antidiurético (ADH) que é, adivinha, inibir a diurese, inibir a excreção renal de água, você já vai saber o principal sintoma do diabetes insípido onde a gente tem deficiência da função do ADH, ou seja, como não tem o efeito antidiurético desse hormônio, o principal sintoma vai ser uma intensa diurese, uma intensa excreção renal de água.
Como a excreção renal de água não é acompanhada por uma excreção renal de solutos, principalmente sódio, na mesma proporção, no diabetes insípido acontece a eliminação de muita água e a urina sai bastante diluída, com baixa osmolaridade ou hiposmótica, transparente e sem gosto nenhum.
-Como assim, sem gosto nenhum? Alguém já provou a urina de um paciente com diabetes insípido pra saber que não tem gosto?
Sim, antigamente as pessoas provavam a urina dos pacientes com diabetes pra saber se era diabetes mellitus ou insípido, pois nos dois casos os pacientes apresentam poliúria, que é basicamente eliminação de muita urina.
E daí que vem o nome diabetes, que significa sifão, tipo aquele sifão da pia, por onde a água passa direto pra ir pro esgoto, sabe?
Isso porque, as pessoas com diabetes pareciam um sifão, bebiam água e a água parecia que passava direto e ia embora do organismo. Só que as vezes a urina era doce como um mel, e daí o nome diabetes mellitus, e outras vezes a urina não tinha gosto, e daí o nome diabetes insípido.
Toda essa excreção de água que acontece no diabetes insípido, pode causar desidratação, o que vai causar muita sede, que é pra pessoa beber bastante água e repor toda a água perdida. Mas as vezes pode ser muito difícil repor toda essa água perdida, pois em casos mais graves o fluxo urinário pode chegar a 25 litros de urina por dia! Imagina ter que beber 25 litros de água por dia?
Então, sem a reposição da água perdida, a concentração do líquido extracelular vai aumentando, a osmolaridade aumenta e esse líquido se torna hiperosmótico e hipertônico. E aí lembra o que acontece com as células em um meio hipertônico?
As células perdem água por osmose. E com essa a perda de água, as células murcham e essa alteração do volume celular pode causar graves consequências se não for tratado.
O tratamento, claro, depende do tipo de diabetes insípido. Se for o diabetes insípido central ou mesmo o gestacional em que há falta do hormônio, porque está sendo pouco secretado ou porque está sendo muito degradado, o tratamento é repor o hormônio que tá faltando, e pra isso geralmente utiliza-se uma molécula sintética muito parecida com a vasopressina chamada de desmopressina, que tem como principal alvo os rins, ativando os receptores de vasopressina localizados nas células principais dos túbulos distais e ductos coletores dos néfrons, aumentando a sinalização de vasopressina nessas células, aumentando assim a inserção de aquaporinas 2 na membrana apical dessas células, aumentando a reabsorção renal de água.
Agora se for o diabetes insípido nefrogênico, não adianta usar a desmopressina, porque não tá faltando vasopressina, na verdade os rins estão resistentes a esse hormônio. E aí como muitos casos são congênitos, e o indivíduo nasce com mutações no gene do receptor de vasopressina ou no gene da aquaporina 2, não tem como “consertar” essas proteínas, e o tratamento é tentar repor a água perdida pra evitar a desidratação e demais sintomas causados pela falta de ação da vasopressina ou mesmo das aquaporinas 2 nos rins.
Bom, então no diabetes insípido geralmente a gente tem uma hipofunção da vasopressina causando uma excreção renal exagerada de água. Já na síndrome da antidiurese inapropriada (SIAD), geralmente a gente tem uma hiperfunção da vasopressina causando antidiurese mesmo sem o organismo tá precisando de tanta água.
Como geralmente essa hiperfunção da vasopressina acontece por causa de uma hipersecreção desse hormônio, devido a um descontrole da síntese e secreção desse hormônio pelo hipotálamo e neuro-hipófise, ou ainda, devido a síntese e secreção exagerada desse hormônio por tumores, como por exemplo o tumor maligno de pulmão, o carcinoma pulmonar, essa síndrome era chamada de síndrome da secreção inapropriada do hormônio antidiurético (SIADH).
Porém, nem sempre uma secreção inapropriada de ADH ou vasopressina é a causa dessa síndrome, em alguns pacientes a causa pode ser por exemplo, uma mutação no gene que codifica o receptor de vasopressina nos rins, uma mutação que ao invés de inativar o receptor, deixa ele permanente ativado, estimulando as respostas da vasopressina mesmo sem a vasopressina. Por isso, hoje é melhor chamar de síndrome da antidiurese inapropriada ao invés de síndrome da secreção inapropriada de ADH.
-Tá mais quais os sintomas causados por uma hiperfunção da vasopressina?
Bom, se a hiperfunção da vasopressina causa uma antidiurese inaproprida, ou seja, uma inibição da diurese mesmo quando o organismo nem tá precisando de tanta água, o paciente vai apresentar, devido a inibição da excreção renal de água, um fluxo urinário reduzido e a urina vai ser mais concentrada, hiperosmótica em relação ao líquido extracelular, o qual vai acabar se tornando hiposmótico e hipotônico em relação ao líquido intracelular, graças ao excesso de água que não é eliminado pelos rins como deveria.
Além disso, o volume do líquido extracelular pode aumentar devido à dificuldade de se eliminar o excesso de água do organismo, e esse aumento do volume pode iniciar respostas fisiológicas pra tentar diminuir esse volume do líquido extracelular.
Uma dessas respostas fisiológicas é o aumento da filtração glomerular pra tentar excretar mais solutos e água, porém a água é reabsorvida graças ao efeito antidiurético da vasopressina, mas os solutos, principalmente o sódio, não, e esse soluto pode ser excretado pelos rins. Dessa forma, com a reabsorção de água e a excreção de sódio, ocorre uma diminuição da concentração de sódio no sangue ou hiponatremia, deixando o líquido extracelular ainda mais hiposmótico e hipotônico.
Com o líquido extracelular hiposmótico e hipotônico em relação ao líquido intracelular, a água pode entrar nas células por osmose. Com o ganho de água, as células incham e essa alteração do volume celular pode causar graves consequências, principalmente no encéfalo, pois aqui as células, os neurônios, ficam dentro do crânio, e a pressão pode aumentar muito aqui dentro causando sintomas neurológicos como por exemplo dor de cabeça, náuseas, vômitos, confusão mental e em casos mais graves, coma e convulsões podendo até mesmo levar a morte.
O tratamento consiste em tentar amenizar a hipotonicidade e a hiponatremia através da diminuição da ingestão de água, e em casos mais graves pode até mesmo fazer uma administração de uma solução salina mais concentrada, ou seja, hiperosmótica e hipertônica, pra tentar aumentar a osmolaridade e a tonicidade do líquido extracelular.
Esse tratamento inicial é importante pra evitar danos neurológicos, porém para tratar a síndrome da antidiurese inapropriada causada por uma hiperfunção da vasopressina, pode utilizar fármacos como os vaptans que nada mais são do que antagonistas do receptor de vasopressina presente nas células principais dos túbulos distais e ductos coletores dos néfrons, ou seja, os vaptans bloqueiam a sinalização da vasopressina, diminuindo a inserção de aquaporinas 2 na membrana apical dessas células e, consequentemente, diminuindo a reabsorção de água, que agora pode ser excretada pelos rins.
Bom, nesse vídeo a gente falou um pouco sobe os principais distúrbios endócrinos relacionados a vasopressina pra complementar o estudo sobre a fisiologia desse hormônio. Então aqui a gente falou só básico sobre esses distúrbios, porque nesse momento o mais importante é você entender os mecanismos de síntese, secreção, transporte e ação da vasopressina e assim ter uma noção do que acontece se a gente tiver uma hipo ou uma hiperfunção desse hormônio no organismo.
Então resumindo tudo que a gente viu nesse vídeo lembre-se que:
No diabetes insípido ocorre uma hipofunção da vasopressina e isso causa aumento da diurese com eliminação de uma urina mais diluída (hiposmótica), deixando assim o líquido extracelular mais concentrado (hiperosmótico e hipertônico).
Já na síndrome da antidiurese inapropriada (SIAD) ocorre uma hiperfunção da vasopressina e isso causa diminuição da diurese com eliminação de uma urina mais concentrada (hiperosmótica), deixando assim o líquido extracelular mais diluído (hiposmótico e hipotônico). De início, essa incapacidade de eliminar o excesso de água do organismo, pode causar aumento do volume do líquido extracelular (hipervolemia), o que inicia uma resposta fisiológica na tentativa de corrigir essa hipervolemia, o que acaba causando um aumento da excreção de sódio e uma diminuição da concentração desse íon no sangue, ou seja, hiponatremia.
E aí, gostou do vídeo? Se gostou não esquece de curtir e compartilhar com aquele seu amigo que também tá precisando estudar esse conteúdo. E se você já me acompanha por aqui já sabe que você pode se tornar membro do canal e ter benefícios exclusivos, mas talvez o que você ainda não sabe é que agora você pode adquirir o nosso e-book com questões comentadas sobre a fisiologia do sistema endócrino pra ajudar você fixar o conteúdo. Vou deixar o link desse e-book aqui na descrição do vídeo.
Bom, a gente vai ficando por aqui. Qualquer dúvida pode deixar aí nos comentários que a gente tenta responder, beleza? A gente se vê num próximo vídeo. Abraço!


Sobre a autora
Mirian Ayumi Kurauti é apaixonada pela fisiologia humana, com uma trajetória acadêmica admirável. Ela se formou em Biomedicina pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), fez mestrado e doutorado em Biologia Funcional e Molecular com ênfase em Fisiologia na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), e ainda atuou como pesquisadora de pós-doutorado na mesma instituição. Além disso, já lecionou fisiologia humana na Universidade Estadual de Maringá (UEM) e biologia celular na UEL. A sua última experiência como professora de fisiologia humana foi na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Fundadora da MK Educação Digital Ltda (MK Fisiologia), atualmente, Mirian é a mente criativa por trás de todos os conteúdos publicados nas redes sociais da empresa.
Apaixonada pela docência, Mirian adora dar aulas de fisiologia humana, mas de um jeito mais descontraído e se diverte muito ensinando. Ela está sempre buscando aprender algo novo não só sobre fisiologia, mas sobre qualquer coisa sobre a vida, o universo e tudo mais. Por isso, é uma consumidora compulsiva de conteúdos de divulgadores científicos. Nas horas vagas, você pode encontrá-la na piscina, treinando e participando de competições de natação. Para Mirian, a vida só tem graça, se ela tiver desafios a serem superados. Hoje, o seu maior desafio é ajudar o maior número de estudantes a entender de verdade a fisiologia humana, principalmente através de suas videoaulas publicadas no canal do YouTube MK Fisiologia.



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