
COMO O CLEARANCE RENAL DA INULINA E DA CREATININA PODE SER USADO PARA MEDIR A TFG?
Este post é a transcrição da videoaula publicada em nosso canal do YouTube "COMO O CLEARANCE RENAL DA INULINA E DA CREATININA PODE SER USADO PARA MEDIR A TFG?".
TRANSCRIÇÕESSISTEMA RENAL
Mirian Kurauti
9/27/20248 min read
E aí pessoal, tudo bem com vocês?
Nesse vídeo a gente vai explicar como a depuração ou clearance renal de uma substância pode ser usada pra medir a taxa de filtração glomerular ou TFG.
Bom, pra você que tá chegando agora, eu sou Mirian Kurauti, professora, mestre, doutora, e criadora do canal MK Fisiologia, um canal que tem como principal objetivo descomplicar a fisiologia humana. Porque como eu sempre digo, fisiologia não precisa ser difícil. Então se você tá precisando entender de verdade a fisiologia, já se inscreve no canal e ative as notificações pra você não perder os próximos vídeos que a gente postar por aqui.
Mas agora, bora entender como o clearance renal de uma substância pode ser usada pra medir a TFG?
No vídeo anterior, a gente viu que pra uma substância que é livremente filtrada, mas que não é nem reabsorvida e nem secretada, o clearance renal equivale a TFG. Assim, apenas o clearance renal de substâncias com essas características é que pode ser utilizado como uma forma de medir a TFG. E uma substância que tem essas características é a inulina.
Presta atenção, INULINA, e não insulina.
Insulina é um hormônio produzido e secretado pelo pâncreas endócrino, já a inulina é um polissacarídeo, ou seja, um polímero de sacarídeos ou de carboidratos, no caso, um polímero de frutose de origem vegetal, portanto o nosso organismo, não produz a inulina.
Então, pra medir o clearance renal da inulina e assim medir a TFG, é preciso administrar a inulina na veia, ou seja, é preciso fazer uma infusão intravenosa pra atingir uma concentração plasmática estável de inulina.
E aí, como a inulina é filtrada livremente nos glomérulos, e não é nem reabsorvida e nem secretada nos túbulos dos néfrons, o seu clearance renal equivale a TFG.
Por exemplo, imagine que a inulina foi infundida via intravenosa em um indivíduo, e a sua concentração plasmática se tornou estável em 4 inulinas pra cada 125 ml de plasma. E imagine também que a cada minuto, 125 ml de plasma é filtrado nos glomérulos, ou seja, a TFG é igual a 125 ml por minuto (ml/min).
Como a inulina é filtrada livremente nos glomérulos, junto com esses 125 ml de plasma, também são filtradas as 4 inulinas contidas nesse volume.
Conforme o que foi filtrado vai passando pelos túbulos dos néfrons, praticamente todo o volume filtrado é reabsorvido, ou seja, volta pra circulação sanguínea, enquanto as moléculas de inulina filtradas permanecem nos túbulos pra serem excretadas na urina.
Portanto, é como se dentro de 1 minuto, 125 ml de plasma ficassem totalmente livres de inulina depois de passar pelos rins. Ou seja, o clearance renal da inulina é praticamente cento e vinte e cinco ml por minuto, o que equivale a TFG.
Então, pegando a equação ou a fórmula do clerance renal que a gente explicou no vídeo anterior, se você souber a concentração na urina e a concentração plasmática da inulina, e o fluxo urinário, você consegue calcular o clearance renal da inulina e a TFG.
-Tá professora, mas pra quê é importante eu saber a TFG?
Conhecer a TFG é um jeito de saber como tá a função dos rins. Qualquer diminuição dessa taxa de filtração glomerular, pode indicar uma doença renal.
Além disso, se a gente conhecer a TFG, calculada a partir do clearance renal da inulina, e comparar com o clearance renal de qualquer outra substância, é possível saber se essa outra substância sofre reabsorção ou secreção efetiva nos túbulos dos néfrons.
Por exemplo, a ureia é uma molécula pequena e hidrofílica, sendo portando livremente filtrada. Porém, ao contrário da inulina, parte da ureia filtrada nos glomérulos pode ser reabsorvida nos túbulos dos néfrons.
Portanto, nesse exemplo, como apenas metade da ureia voltou pra circulação junto com praticamente todo volume de plasma filtrado, apenas metade do plasma filtrado por minuto ficou livre de ureia, ou seja, o clearance renal da ureia é igual a metade de 125, é igual 62,5 ml por minuto (ml/min).
Ou seja, quando o clearance renal de uma substância é menor que o clearance renal da inulina, ou melhor, quando é menor que a TFG, podemos dizer que a substância sofre reabsorção efetiva nos túbulos dos néfrons.
Mas por outro lado, quando o clearance renal de uma substância é maior que a TFG, podemos dizer que ela sofre secreção efetiva nos túbulos dos néfrons.
-Como assim?
Por exemplo, a penicilina, o primeiro antibiótico descoberto, é uma molécula pequena e hidrofílica, sendo portando livremente filtrada nos glomérulos. Porém, ela não pode ser reabsorvida, mas ela pode ser secretada nos túbulos dos néfrons.
Portanto, além dos 125 ml de plasma filtrados que voltaram totalmente livres de penicilina, mais 62,5 ml de plasma também ficam livres de penicilina por causa da secreção de mais 2 penicilinas ao longo dos túbulos dos néfrons.
Então 125 + 62,5 ml, a gente tem que 187,5 ml de plasma que ficaram totalmente livres de penicilina depois de passar pelos rins, ou seja, o clearance renal da penicilina é igual a 187,5 ml por minuto, o que é maior que a TFG, indicando assim uma secreção efetiva da penicilina nos túbulos dos néfrons.
Portanto, a partir da TFG obtida por meio do clearance renal da inulina, é possível conhecer o “manejo renal” de uma substância, ou seja, se ela é reabsorvida ou se ela é secretada, e isso pode ser muito importante pra estabelecer a dose de administração dos fármacos por exemplo. Pois, se um fármaco é reabsorvido, ele pode manter uma concentração mais elevada na circulação por mais tempo, ou seja, o seu tempo de meia vida pode ser maior, aumentando a sua biodisponibilidade. Mas se ele é secretado, a concentração na circulação pode diminuir rapidamente, ou seja, o seu tempo de meia vida pode ser menor, diminuindo a sua biodisponibilidade
Bom, então resumindo tudo que a gente viu até aqui, lembre-se que:
A TFG pode ser obtida por meio do cálculo do clearance renal de uma substância com uma concentração plasmática constante, e que é livremente filtrada, mas que não sofra nem reabsorção e nem secreção nos túbulos dos néfrons, como por exemplo a inulina.
Portanto, o clearance renal da inulina pode ser usada pra obter a TFG, que como vimos é um importante marcador da função renal, e além disso, pode ser utilizado pra saber se uma substância, como por exemplo um fármaco, sobre reabsorção ou secreção nos túbulos dos néfrons.
Agora, antes de finalizar esse vídeo, preste bastante atenção.
Embora o cálculo do clearance renal da inulina seja a maneira mais precisa de medir a TFG, ela não é muito utilizada na clínica, porque dá muito trabalho. Tem que ficar infundindo a inulina na veia pra atingir uma concentração constante, e além disso o método de dosagem da inulina não é muito simples.
Então pra substituir a inulina, a gente precisa de uma substância que não precisa ser infundida, ou seja, uma substância que o nosso próprio organismo produza e que a sua concentração plasmática se mantenha estável ao longo do tempo.
Além disso, essa substância ainda precisa ser filtrada livremente nos glomérulos, e não pode ser nem reabsorvida e nem secretada nos túbulos dos néfrons.
E a pergunta que fica é:
-Existe uma substância assim?
Infelizmente, não existe uma substância com todas essas características perfeitas, mas existe uma substância com quase todas essas características.
E essa substância é a creatinina. A creatinina é o produto final do metabolismo da creatina, e ela é liberada em uma taxa relativamente constante na circulação sanguínea pelos músculos esqueléticos, e é removida dessa circulação em uma taxa relativamente constante pelos rins. Por isso a sua concentração plasmática é relativamente constante ao longo do tempo.
Como a creatinina é uma molécula pequena e hidrofílica, ela passa livremente pelas barreiras de filtração que a gente falou em um vídeo anterior, ou seja, ela é livremente filtrada nos glomérulos. Além disso, ela não é reabsorvida, porém uma pequena quantidade de creatinina é secretada, e por isso o seu clearance renal pode ser um pouco maior que a TFG, cerca de 10 a 20% maior. Um erro relativamente pequeno que pode ser aceito pra medir a TFG na maioria dos indivíduos.
Além disso, você pode encontrar em alguns livros que os métodos de dosagem da creatinina acabam subestimando o clearance renal da creatinina em 10 a 20% também, o que acaba compensando a pequena secreção da creatinina que acontece nos túbulos dos néfrons.
Bom, mas então como faz pra medir o clearance renal da creatinina?
Pra medir o clearance renal da creatinina, basta saber a concentração da creatinina na urina e no sangue através de exames de urina e de sangue, e saber o fluxo urinário, ou seja, saber a quantidade de urina produzida dentro de 1 minuto, o que dá pra ser obtido coletando toda a urina produzida dentro de 24 horas, pra depois fazer um média de urina produzida por minuto.
Mas só de pensar em ter que ficar 24 horas coletando todo o xixi, já dá pra imaginar que não é uma coisa tão simples assim né?
Então pra ser mais simples ainda, é possível estimar a TFG fazendo apenas um exame de sangue pra dosar a concentração de creatinina no plasma, usando o seguinte raciocínio: se o clearance renal da creatinina é igual a TFG, a TFG é inversamente proporcional a concentração plasmática da creatinina, ou seja, se a concentração plasmática dessa substância aumentar, a TFG diminui. Nesse caso, a gente consegue uma TFG estimada ou eTFG, que pode ser muito útil pra detectar alterações no funcionamento dos rins.
Porém, como a TFG pode variar conforme o sexo, a idade, o peso, a altura e até mesmo a raça das pessoas, é comum utilizar algumas equações ou fórmulas que levam em consideração algumas dessas variáveis pra calcular de forma mais precisa o clearance renal da creatinina e a TFG, em pessoas diferentes.
Mas sobre essas fórmulas a gente pode falar e um outro vídeo.
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Bom, a gente vai ficando por aqui, qualquer dúvida, pode deixar aí nos comentários que a gente tenta responder, beleza? A gente se vê num próximo vídeo, abraço!


Sobre a autora
Mirian Ayumi Kurauti é apaixonada pela fisiologia humana, com uma trajetória acadêmica admirável. Ela se formou em Biomedicina pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), fez mestrado e doutorado em Biologia Funcional e Molecular com ênfase em Fisiologia na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), e ainda atuou como pesquisadora de pós-doutorado na mesma instituição. Além disso, já lecionou fisiologia humana na Universidade Estadual de Maringá (UEM) e biologia celular na UEL. A sua última experiência como professora de fisiologia humana foi na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Fundadora da MK Educação Digital Ltda (MK Fisiologia), atualmente, Mirian é a mente criativa por trás de todos os conteúdos publicados nas redes sociais da empresa.
Apaixonada pela docência, Mirian adora dar aulas de fisiologia humana, mas de um jeito mais descontraído e se diverte muito ensinando. Ela está sempre buscando aprender algo novo não só sobre fisiologia, mas sobre qualquer coisa sobre a vida, o universo e tudo mais. Por isso, é uma consumidora compulsiva de conteúdos de divulgadores científicos. Nas horas vagas, você pode encontrá-la na piscina, treinando e participando de competições de natação. Para Mirian, a vida só tem graça, se ela tiver desafios a serem superados. Hoje, o seu maior desafio é ajudar o maior número de estudantes a entender de verdade a fisiologia humana, principalmente através de suas videoaulas publicadas no canal do YouTube MK Fisiologia.



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