CLASSIFICAÇÕES DA DOR | TIPOS DE DOR

Este post é a transcrição da videoaula publicada em nosso canal do YouTube "CLASSIFICAÇÕES DA DOR | TIPOS DE DOR".

TRANSCRIÇÕESSISTEMA NERVOSO

Mirian Kurauti

8/28/20247 min read

E aí pessoal, tudo bem com vocês?

Eu sou Mirian Kurauti aqui do canal MK Fisiologia e nesse vídeo eu vou falar de forma bem resumida sobre as principais formas de classificar a dor, pois existem inúmeras classificações e falar sobre todas essas classificações não é o objetivo desse vídeo. Aqui a gente vai tentar entender apenas as principais classificações pra você que tá aí bem perdido nessa história toda.

Bom, se você assistiu o vídeo anterior sobre a neurofisiologia da dor, você viu que dependendo do tipo de axônio ou fibra que conduz a informação nociva pelo neurônio sensorial primário, a dor pode ser rápida, aquela conduzida por fibras A delta, ou lenta, aquela conduzida por fibras C.

Como vimos, as informações das fibras A delta e C seguem por vias espinotalâmica específicas gerando dores com características diferentes.

Em alguns livros de fisiologia, a dor rápida também pode ser chamada de dor pontual, dor em picada ou em agulhada, ou dor aguda. Já a dor lenta, também pode ser chamada de dor difusa, dor em queimação, dor latejante ou dor crônica.

Bom, mas embora a dor rápida possa ser chamada de dor aguda e a dor lenta de dor crônica, a classificação em dor aguda e dor crônica leva em consideração principalmente o tempo de duração da dor. Enquanto a dor aguda tem um tempo de duração limitado de até 3 meses, a dor crônica não tem tempo de duração limitado, podendo durar 4, 5, 6 meses ou até mesmo vários anos.

Outra diferença muito importante entre a dor aguda e crônica é que a dor aguda acontece sempre em resposta a uma lesão ou trauma específico, e se resolve assim que o dano for reparado.

Por exemplo, se eu martelar o meu dedo, ou torcer o tornozelo, isso vai gerar uma lesão ou um trauma que vai causar uma dor local, e essa dor é fisiológica, ou seja, faz parte do funcionamento normal do seu organismo, e a sua função é proteger o tecido que tá danificado até que ele seja reparado, porque se tá doendo, você evita ficar mexendo e isso ajuda na recuperação.

Já a dor crônica é patológica, ou seja, não faz parte do funcionamento normal do seu organismo. Pode ser, por exemplo, uma dor que continua mesmo depois que o dano no tecido tenha sido reparado. Sendo assim, não tem mais a função de proteger o local danificado, pois o dano já não existe.

A dor crônica pode ser dividida ainda em dor crônica primária e secundária. Enquanto a dor crônica primária geralmente tem causas desconhecidas, e pode ser considerada como uma doença, a dor crônica secundária acompanha uma doença, por exemplo um câncer sendo, portanto, inicialmente considerada apenas como um sintoma e não como uma doença.

A classificação completa da dor crônica é bem complexa e vai além do objetivo desse vídeo, mas se você quiser saber mais informações sobre isso eu deixei um link aqui na descrição, beleza?

Bom, mas continuando, além de classificar a dor quanto ao tempo de duração, a dor pode ser classificada quanto a sua origem ou causa.

Segundo essa classificação a dor pode ser nociceptiva, neuropática ou nociplástica.

A dor nociceptiva é uma dor causada por um dano real ou potencial em um tecido não-neural, devido a ativação de nociceptores.

Por exemplo, uma forte pressão sobre a sua pele que ativa os nociceptores e causa uma dor nociceptiva. Um processo inflamatório causado por alguma lesão, também pode ativar os nociceptores e causar uma dor nociceptiva.

Já a dor neuropática é uma dor causada por lesões ou doenças no tecido neural, que alteram o funcionamento do sistema somatossensorial, responsável pela sensação e percepção da dor.

Esse tipo de dor pode ser periférica, se a lesão ou doença causar danos em estruturas do sistema sensorial localizadas no sistema nervoso periférico, ou central, se a lesão ou doença causar danos em estruturas do sistema sensorial localizadas no sistema nervoso central.

Exemplos de dores neuropáticas incluem aquelas causadas por lesões devido a amputações, ou doenças que podem afetar o tecido neural como o diabetes e a esclerose múltipla. Lembrando que esses são apenas alguns exemplos, pois a dor neuropática pode ser causada por diversos tipos de lesões e doenças que afetam o tecido neural.

Na dor neuropática, o sinal elétrico, não é gerado no nociceptor, mas sim em alguma outra estrutura da via aferente, como nos nervos que conduzem a informação nociva, ou até mesmo em estruturas encefálicas que processam esse tipo de informação, sempre ocorrendo devido a alguma lesão ou doença que consiga alterar o funcionamento dessas estruturas neurais.

No entanto, em alguns casos a dor pode não se encaixar na definição de dor nociceptiva e nem na definição de dor neuropática, isto é, em alguns casos a dor pode ocorrer mesmo sem a ativação dos nociceptores por dano real ou potencial em tecidos não-neurais, que causariam a dor nociceptiva, e mesmo sem lesões ou doenças no tecido neural, que causariam a dor neuropática.

Esse terceiro tipo de dor cujas causas não são muito bem esclarecidas, é chamada de dor nociplástica e um exemplo desse tipo de dor que podemos citar, é a dor que acontece na fibromialgia.

Umas das explicações pra esse tipo de dor é que ela parece ocorrer devido a uma modulação da dor que pode ocorrer no sistema nervoso central, conhecida como sensibilização central. Nesse tipo de modulação, as vias da dor ficam mais sensíveis, ou seja, qualquer estímulo, pode desencadear um sinal elétrico, ou em alguns casos, as vias podem ficar tão sensibilizadas que o sinal elétrico pode ser gerado espontaneamente. E uma vez gerado esse sinal elétrico, ele vai chegar no córtex somatossensorial gerando a percepção da dor.

Bom, já quase finalizando a nossa discussão sobre as classificações da dor, lembre-se que a dor também pode ser classificada, de acordo com a sua localização, em dor somática, isto é, uma dor causada pela ativação de nociceptores localizados na pele, músculos, tendões, articulações e ossos; e dor visceral, isto é, uma dor causada pela ativação de nociceptores localizados nas vísceras ou nos órgãos internos como coração, estômago, rins e etc.

Uma característica interessante da dor visceral é que ela é difícil de ser localizada com precisão, e muitas vezes ela pode ser referida em outras áreas mais superficiais do corpo.

Por exemplo, você já deve ter ouvido falar que quando uma pessoa tá sofrendo um infarto, embora o estímulo nocivo esteja acontecendo no coração, ou seja, embora os nociceptores desse órgão é que estão sendo ativados, geralmente a pessoa relata uma dor mais superficial no peito e no braço esquerdo. É como se a dor do coração fosse referida nessas outras partes do corpo. Por isso esse tipo de dor é chamado de dor referida.

-Mas, por que isso acontece?

Uma das hipóteses que explica a ocorrência das dores referidas é que existe uma convergência da informação nociceptiva da pele com a informação nociceptiva das vísceras. Por exemplo, as fibras dos nociceptores que inervam uma víscera, como o rim, faz sinapse com o mesmo neurônio sensorial secundário que as fibras dos nociceptores que inervam uma região específica da pele. Ou seja, tanto estímulos nocivos na pele, quanto no rim, seguirão pela mesma via aferente e ao chegar no córtex somatossensorial essa informação pode chegar nos neurônios que representam aquela região específica da pele. Dessa forma, o estímulo nocivo poderá ser localizado nessa região da pele.

Aqui nessa imagem a gente tem alguns tipos de dores referidas que podem acontecer, isto é, dores em determinados órgãos internos que podem ser referidas em áreas específicas da pele. Por isso, é bom ficar esperto com aquela dor sem explicação que pode acontecer em alguma parte do seu corpo, as vezes pode ser uma dor referida.

Bom, finalizando, existem muitas outras classificações da dor, mas aqui eu quis trazer as principais classificações de forma bem resumida, pra você que tava meio perdido nessa história toda. Espero que esse vídeo tenha te ajudado de alguma forma, e se ele te ajudou, aproveita pra compartilhar com aquele seu amigo que tá precisando desse conteúdo.

E se você ficou com alguma dúvida pode deixar aí nos comentários que a gente tenta responder, beleza? A gente se vê num próximo vídeo, abraço!

Sobre a autora

Mirian Ayumi Kurauti é apaixonada pela fisiologia, com uma trajetória acadêmica admirável. Ela se formou em Biomedicina pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), fez mestrado e doutorado em Biologia Funcional e Molecular com ênfase em Fisiologia pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), e ainda atuou como pesquisadora de pós-doutorado na mesma instituição. Além disso, já lecionou fisiologia humana na Universidade Estadual de Maringá (UEM) e biologia celular na UEL. Atualmente, é professora de fisiologia humana na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) e a mente criativa por trás do MK Fisiologia.

Apaixonada pela docência, Mirian adora dar aulas de fisiologia, mas de um jeito mais descontraído e se diverte muito ensinando fisiologia. Ela está sempre buscando aprender algo novo não só sobre fisiologia, mas sobre qualquer coisa sobre a vida, o universo e tudo mais. Por isso, é uma consumidora compulsiva de conteúdos de divulgadores científicos. Nas horas vagas, você pode encontrá-la na piscina, treinando e participando de competições de natação. Para Mirian, a vida só tem graça, se ela tiver desafios a serem superados. Hoje, o seu maior desafio é ajudar o maior número de estudantes a entender de verdade a fisiologia humana.

Foto da autora do post Mirian Ayumi Kurauti criadora do MK Fisiologia
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