
[#4] Microcirculação: EDEMA e a EQUAÇÃO DE STARLING
Este post é a transcrição da videoaula publicada em nosso canal do YouTube "[#4] Microcirculação: EDEMA e a EQUAÇÃO DE STARLING".
TRANSCRIÇÕESSISTEMA CARDIOVASCULAR
Mirian Kurauti
10/6/202510 min read
E aí pessoal, tudo bem com vocês?
No vídeo anterior, a gente viu que o aumento da pressão efetiva de filtração pode ser uma das causas de um edema. Nesse vídeo, a gente vai explicar melhor o que pode aumentar a pressão efetiva de filtração, pra gente entender um pouquinho melhor as causas de um edema. Bora?
Então, vamos lá! Sem enrolação, indo direto ao que interessa. A gente já sabe que a pressão efetiva de filtração (PEF) é determinada pelas forças de Starling que “empurram” a água e que “puxam” a água.
A gente já sabe também que na maioria dos tecidos, no início dos capilares a pressão efetiva de filtração é positiva, favorecendo a filtração, e no final é negativa, favorecendo a reabsorção.
Porém, nem toda água filtrada é reabsorvida e a água que não é reabsorvida pode voltar pra circulação sanguínea através do sistema linfático. Mas, se a pressão efetiva de filtração (PEF), por algum motivo, aumentar, mais água será filtrada, mais água não será reabsorvida, e o sistema linfático pode não dar conta de remover toda essa água, que pode ir então se acumulando no interstício, e pode causar um edema. Portanto, qualquer coisa que aumente a pressão efetiva de filtração (PEF), tende a causar um edema.
Por isso, pra entender melhor as causas de um edema, vale a pena a gente estudar como cada uma das forças de Starling pode aumentar a pressão efetiva de filtração, começando pela pressão hidrostática do capilar (Pc).
A pressão hidrostática do capilar nada mais é do que a pressão que o sangue exerce sobre a parede do capilar, ou seja, nada mais é do que a pressão sanguínea no capilar. Portanto, alterações da quantidade de sangue que chega e da quantidade de sangue que sai dos capilares pode alterar a pressão hidrostática desses vasos.
A quantidade de sangue que chega nos capilares depende da resistência da “porta de entrada” da microcirculação, ou seja, depende da resistência das arteríolas.
Quando as arteríolas tão dilatadas, a resistência pré-capilar é baixa, a “porta de entrada” tá bem aberta, e bastante sangue pode chegar nos capilares, aumentando a pressão hidrostática desses vasos. E isso, como a gente sabe, pode aumentar a pressão efetiva de filtração e causar um edema, como pode acontecer em dias muito quentes em que as arteríolas da pele sofrem vasodilatação.
Já a quantidade de sangue que sai dos capilares depende da resistência da “porta de saída” da microcirculação, ou seja, depende da resistência das vênulas.
Quando as vênulas tão contraídas, a resistência pós-capilar é alta, a “porta de saída” tá mais fechada, e pouco sangue consegue sair dos capilares. Isso consequentemente aumenta a quantidade de sangue que fica nos capilares, aumentando a pressão hidrostática desses vasos, que como a gente sabe pode aumentar a pressão efetiva de filtração e causar um edema, como pode acontecer, por exemplo, nos pulmões em condições de hipóxia, isto é, em condições de baixos níveis de oxigênio.
Nessas condições, as vênulas de regiões pouco ventiladas, recebendo pouco oxigênio, podem sofrer vasoconstrição, aumentando a pressão hidrostática dos capilares, podendo causar um edema pulmonar.
Outras coisas que podem aumentar a quantidade de sangue que chega e diminuir a quantidade de sangue que sai dos capilares, é o aumento da pressão arterial, o aumento da pressão venosa e a gravidade.
Lembre-se, aumentar a pressão arterial aumenta a pressão sanguínea antes dos capilares, nas artérias e arteríolas, e mais sangue pode chegar nos capilares, aumentando a pressão hidrostática desses vasos e, consequentemente, a pressão efetiva de filtração, podendo causar um edema, como pode acontecer, por exemplo, na hipertensão.
E aumentar a pressão venosa aumenta a pressão sanguínea depois dos capilares, nas veias e nas vênulas, dificultando a saída de sangue dos capilares, aumentando assim a pressão hidrostática desses vasos e, consequentemente, a pressão efetiva de filtração, podendo causar um edema, como pode acontecer, por exemplo, na insuficiência cardíaca, em que o coração não consegue bombear o sangue muito bem e boa parte do sangue acaba ficando meio que “represado” nas veias e vênulas, aumentando a pressão venosa.
Tanto o aumento da pressão arterial como o aumento da pressão venosa pode ser ainda maior nos membros inferiores, nos pés e nas pernas, por causa da gravidade. E é por isso que um edema na hipertensão e na insuficiência cardíaca, por exemplo, acontece principalmente nos membros inferiores.
Agora falando sobre a pressão hidrostática do interstício (Pi), a gente sabe que quando essa pressão diminui, a pressão efetiva de filtração aumenta, o que poderia causar um edema. Porém, a diminuição da pressão hidrostática do interstício geralmente acontece por causa de um aumento da remoção ou drenagem do líquido intersticial pelo sistema linfático, ou seja, nesse caso, o aumento da pressão efetiva de filtração acontece por causa de um aumento da drenagem do líquido intersticial e, por isso, dificilmente isso vai causar um acúmulo de água no interstício, ou seja, dificilmente isso vai causar um edema.
Por outro lado, se a pressão coloidosmótica ou oncótica do capilar (πc) diminuir devido à menor concentração de proteínas plasmáticas, como acontece, por exemplo, em casos de desnutrição proteica em que a ingestão de proteínas é deficiente, a pressão efetiva de filtração aumenta, podendo causar um edema.
Porém, esse efeito da diminuição da pressão oncótica do capilar em aumentar a pressão efetiva de filtração depende da permeabilidade da parede dos capilares a proteínas, que pode ser representada pelo que a gente chama de coeficiente de reflexão (σ).
Esse coeficiente vai de zero a 1, sendo zero pras paredes capilares totalmente permeável a proteínas, ou seja, as proteínas não refletem, elas atravessam a parede capilar; e 1 pras paredes capilares totalmente impermeável a proteínas, ou seja, as proteínas refletem, elas não atravessam a parede capilar.
Por exemplo, os capilares contínuos são praticamente impermeáveis a proteínas e o coeficiente de reflexão é muito próximo de 1. Já os capilares sinusoides são bem mais permeáveis a proteínas e o coeficiente de reflexão é próximo de zero.
Então, quando a gente adiciona o coeficiente de reflexão no cálculo da pressão efetiva de filtração, se o coeficiente é igual a 1 ou muito próximo de 1, como é o caso dos capilares contínuos, a diferença entre as pressões oncóticas se mantém, e pode determinar a pressão efetiva de filtração.
Porém, se o coeficiente de reflexão é zero ou próximo de zero como é o caso dos capilares sinusoides, a diferença entre as pressões oncóticas não vai fazer diferença na pressão efetiva de filtração, porque qualquer número multiplicado por zero é igual a zero.
Mas, considerando que a maioria dos capilares são contínuos, e apresentam um coeficiente de reflexão mais próximo de 1, uma diminuição da pressão oncótica do capilar aumenta a pressão efetiva de filtração e pode causar um edema.
Agora falando sobre a pressão oncótica do interstício (πi), a gente sabe que quando essa pressão aumenta, a pressão efetiva de filtração tende a aumentar, o que poderia causar um edema.
Porém, o aumento da pressão oncótica do interstício geralmente acontece quando a permeabilidade da parede dos capilares a proteínas aumenta, e as proteínas plasmáticas acabam escapando dos capilares, aumentando a concentração de proteínas no interstício e, consequentemente, a pressão oncótica do interstício. Só que nesse caso, o coeficiente de reflexão vai tá mais próximo de zero, e por isso, esse aumento da pressão oncótica do interstício não vai fazer assim tanta diferença na pressão efetiva de filtração.
Mas, quando a permeabilidade pra proteínas aumenta, na verdade, a permeabilidade pra todas as moléculas, que sejam do mesmo tamanho ou menores que as proteínas, também aumenta, certo? E isso pode causar um edema. Sabe porquê?
Porque a quantidade de água filtrada, ou melhor, o fluxo de água que acontece durante a filtração, não depende apenas da pressão efetiva de filtração, ela depende também do coeficiente de filtração (Kf), que nada mais é do que a permeabilidade da parede dos capilares (P) multiplicada pela área de superfície dos capilares disponível pra trocas (S).
E é essa equação, que determina o fluxo de filtração da água, que a gente chama de equação de Starling.
Então agora com essa equação, fica fácil entender que se eu aumentar a permeabilidade do capilar, o fluxo de filtração da água aumenta e isso pode causar um edema, como acontece por exemplo quando um tecido sofre uma lesão. Nesse caso, a lesão pode iniciar um processo inflamatório que aumenta a produção de algumas moléculas que podem aumentar a permeabilidade dos capilares, aumentando assim o coeficiente de filtração e, consequentemente, o fluxo de filtração da água.
Além disso, algumas moléculas produzidas pelo processo inflamatório podem causar vasodilatação das arteríolas, que como a gente viu aumenta a pressão hidrostática do capilar e, consequentemente, a pressão efetiva de filtração e, claro, o fluxo de filtração da água. Ou seja, tudo isso contribui pro aparecimento de um edema quando lesionamos algum tecido.
Já reparou como uma pancada muito forte pode causa um inchaço, ou melhor, pode causar um edema?
E, por fim, mas não menos importante, lembre-se que um aumento da área de superfície dos capilares disponível pra trocas também aumenta o coeficiente de filtração, o que pode aumentar o fluxo de filtração da água. Isso acontece por exemplo, no músculo esquelético, durante uma atividade física.
No músculo esquelético, lembra que a gente encontra as metarteríolas e os esfíncteres pré-capilares que, durante o aumento da atividade da musculatura esquelética, relaxam liberando a passagem de sangue pra um maior número de capilares, ou seja, aumenta a área de superfície dos capilares disponíveis pra troca no músculo esquelético, aumentando assim o fluxo de filtração da água.
-Ah, então quer dizer que durante uma atividade física a gente pode ter um edema nos músculos esqueléticos, professora?
Não, não vai ter edema nos músculos esqueléticos em atividade porque a contração desses músculos ajuda o sistema linfático a remover ou drenar todo excesso de água que não consegue ser reabsorvida, e aí não se acumula água no interstício do músculo esquelético nesse caso, ou seja, não causa um edema.
Agora, se por algum motivo o sistema linfático não conseguir drenar o excesso de água que não consegue ser reabsorvida, aí sim a gente pode ter um edema.
Então, finalizando, perceba que o edema depende na verdade de um balanço entre o fluxo de filtração da água e a drenagem do excesso de água que não consegue ser reabsorvida. Se o sistema linfático der conta de drenar o excesso de água, não vai formar um edema, mas se não der conta, aí a água pode começar a se acumular no interstício, e um edema pode se formar.
No próximo vídeo, a gente explica melhor como o sistema linfático remove ou drena não só a água, mas também as proteínas plasmáticas que escapam do capilar e vão parar no interstício, e como isso ajuda a evitar um possível edema.
Bom, então resumindo tudo o que a gente viu nesse vídeo, lembre-se que:
O edema geralmente é causado pelo aumento da pressão hidrostática do capilar, como acontece, por exemplo, na hipertensão e na insuficiência cardíaca, pela diminuição da pressão oncótica do capilar, como acontece, por exemplo, na desnutrição proteica; e pelo aumento da permeabilidade do capilar como acontece na inflamação. Nesses casos, o fluxo de filtração da água pode aumentar bastante e o sistema linfático pode não conta de remover ou drenar todo o excesso de água que não consegue ser reabsorvido.
Bom, espero que esse vídeo tenha te ajudado de alguma forma, e se ele te ajudou não esquece de curtir e compartilhar esse vídeo com aquele seu amigo que também tá precisando estudar esse conteúdo.
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A gente se vê num próximo vídeo, abraço!


Sobre a autora
Mirian Ayumi Kurauti é apaixonada pela fisiologia humana, com uma trajetória acadêmica admirável. Ela se formou em Biomedicina pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), fez mestrado e doutorado em Biologia Funcional e Molecular com ênfase em Fisiologia na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), e ainda atuou como pesquisadora de pós-doutorado na mesma instituição. Além disso, já lecionou fisiologia humana na Universidade Estadual de Maringá (UEM) e biologia celular na UEL. A sua última experiência como professora de fisiologia humana foi na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Fundadora da MK Educação Digital Ltda (MK Fisiologia), atualmente, Mirian é a mente criativa por trás de todos os conteúdos publicados nas redes sociais da empresa.
Apaixonada pela docência, Mirian adora dar aulas de fisiologia humana, mas de um jeito mais descontraído e se diverte muito ensinando. Ela está sempre buscando aprender algo novo não só sobre fisiologia, mas sobre qualquer coisa sobre a vida, o universo e tudo mais. Por isso, é uma consumidora compulsiva de conteúdos de divulgadores científicos. Nas horas vagas, você pode encontrá-la na piscina, treinando e participando de competições de natação. Para Mirian, a vida só tem graça, se ela tiver desafios a serem superados. Hoje, o seu maior desafio é ajudar o maior número de estudantes a entender de verdade a fisiologia humana, principalmente através de suas videoaulas publicadas no canal do YouTube MK Fisiologia.



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