
[#3] Microcirculação: FORÇAS DE STARLING
Este post é a transcrição da videoaula publicada em nosso canal do YouTube "[#3] Microcirculação: FORÇAS DE STARLING".
TRANSCRIÇÕESSISTEMA CARDIOVASCULAR
Mirian Kurauti
9/22/202510 min read
Você já sentiu seu tênis mais apertado que o normal ou o seu anel apertando demais o seu dedo em um dia muito quente? Isso acontece porque os seus pés e os seus dedos incham quando a temperatura aumenta demais.
Mas por que os seus pés e os seus dedos incham quando a temperatura aumenta?
Pra responder essa pergunta a gente precisa falar sobre as forças de Starling. Bora?
E aí pessoal, tudo bem com vocês?
E aí, pessoal, tudo bem com vocês? Eu sou Mirian Kurauti, criadora do canal MK Fisiologia, um canal que tem como principal objetivo descomplicar a fisiologia humana. Então, se você tá precisando entender de verdade a fisiologia, já se inscreve no canal e ative as notificações pra você não perder os próximos vídeos que a gente postar por aqui, beleza?
Agora, sem mais delongas, bora falar sobre as forças de Starling?
No vídeo anterior, a gente viu como os solutos e a água atravessam a parede dos capilares pra serem trocados entre o plasma e o líquido intersticial. Nesse vídeo, a gente vai dar mais detalhes sobre as trocas de água, que pode acontecer tanto pela via paracelular como pela via transcelular.
-Ué, professora, mas a água não é uma molécula hidrofílica pequena? Moléculas hidrofílicas pequenas não atravessam livremente a bicamada lipídica da membrana plasmática das células!
Correto, mas nas células endoteliais a gente pode encontrar proteínas canais chamadas de aquaporinas (AQP) que formam poros aquosos, ou melhor, poros hidrofílicos, por onde a água pode atravessar a membrana apical e basal das células endoteliais. E aí, tanto pela via transcelular como pela via paracelular a água pode se mover por osmose, um movimento de água que depende do gradiente de concentração dos solutos dissolvidos na água, e a água se move de molécula em molécula, da região que tem menos solutos e, portanto, “mais água”, pra região que tem mais solutos e, portanto, “menos” água”.
Porém, por osmose, a quantidade de água que se move do capilar pro interstício e a quantidade de água que se move do interstício pro capilar é praticamente a mesma.
Mas, a gente sabe que, na verdade, na maioria dos capilares, mais água sai do que entra nos capilares. E isso acontece, não por osmose, mas sim por filtração que, diferente da osmose, não é um movimento que acontece de molécula em molécula, mas sim um movimento que acontece em massa, ou seja, um monte de moléculas de água pode se mover na mesma direção, formando uma “corrente de água”.
E só pra você entender melhor a diferença entre o movimento de água por osmose e por filtração, na osmose, é como se as moléculas de água se movessem por livre e espontânea vontade.
“Poxa, aqui tá muito diluído, né, cheio de água, acho que eu vou ali que tá menos diluído e tem pouca água. Falou galera!”
Já na filtração, é como se as moléculas de água fossem "forçadas a se retirar".
Sim, literalmente forçadas, porque elas são meio que “empurradas” pra fora dos capilares por uma força, por uma pressão, a pressão sanguínea, isto é, a pressão que o sangue exerce sobre a parede dos capilares, que a gente chama de pressão hidrostática do capilar (Pc).
Porém, assim como existe a pressão hidrostática do capilar, também existe a pressão hidrostática do interstício (Pi), que nada mais é do que a pressão que o líquido intersticial exerce no espaço intersticial, ou seja, no interstício.
E, assim como a pressão hidrostática do capilar tenta “empurrar” a água pro interstício, a pressão hidrostática do interstício tenta “empurrar” a água pro capilar.
Mas e aí, pra onde a água vai?
Bom, como a pressão hidrostática do capilar é maior que a pressão hidrostática do interstício, a água é “empurrada” pra fora dos capilares e vai pro interstício.
Porém, contudo, entretanto, todavia, ao mesmo tempo que a gente tem essas pressões que tentam empurrar a água de um lado pro outro através da parede dos capilares, a gente tem também forças ou pressões que tentam “segurar” a água de um lado e do outro.
Essas pressões são chamadas de pressão coloidosmótica ou oncótica do capilar (πc) e do interstício (πi).
-Pressão coloido o quê?
Calma, não se desespere. Essas pressões coloidosmóticas, também conhecidas como pressões oncóticas, nada mais são do que pressões osmóticas exercidas pelas proteínas do plasma, no caso da pressão oncótica do capilar, e pelas proteínas do líquido intersticial, no caso da pressão oncótica do interstício.
Se você quiser revisar o que é pressão osmótica, é só clicar aqui no card (ou aqui).
Mas se você tá de boa e sabe o que é pressão osmótica, lembre-se que na maioria dos capilares as proteínas são pouco permeáveis, e podemos considerar que praticamente não atravessam a parede desses capilares, e por isso elas atuam como solutos impermeáveis que exercem uma força osmótica, que tenta “segurar” ou “puxar” a água na sua direção. Quanto mais proteínas, maior vai ser a pressão oncótica. E aí, como tem mais proteínas no plasma do que no líquido intersticial, a pressão oncótica do capilar é maior do que a pressão oncótica do interstício e a água pode ser “puxada” pra dentro dos capilares por essa força.
-Tá, professora, mas então a gente tem a pressão hidrostática do capilar “empurrando” e a pressão oncótica do capilar “puxando”. E aí pra onde a água vai?
Bom, agora a gente tem que ver qual diferença é maior né, se é a diferença entre as pressões hidrostáticas ou se é a diferença entre as pressões oncóticas.
No início do capilar, a pressão média hidrostática do capilar fica em torno de 35 mmHg, enquanto que a pressão média do interstício fica em torno de -2 mmHg, ou seja, -2 mmHg em relação a pressão atmosférica em que o organismo se encontra, tá.
Lembre-se que os valores dessas pressões sempre tomam como referência a pressão atmosférica em que o organismo se encontra.
Mas voltando aqui, se o valor é negativo, essa pressão, na verdade, tá criando meio que um “vácuo” que ao invés de “empurrar”, “puxa” a água pro interstício.
Então, quando a gente calcula a diferença entre as pressões hidrostáticas: 35 – (– 2), é igual a +37 mmHg, ou seja, essa é a pressão resultante que tenta “empurrar” o sangue pra fora dos capilares.
Já a pressão média oncótica do capilar fica em torno de 25 mmHg, enquanto a pressão média oncótica do interstício fica próximo de zero, não chega a ser exatamente zero mas pra simplificar a gente pode considerar como sendo igual a zero.
Então, calculando a diferença entre as pressões oncóticas: 25 – 0, adivinha, é igual a 25, ou seja, essa é a pressão resultante que tenta “puxar” a água pra dentro dos capilares.
Agora pra saber se a água vai ser “empurrada” ou “puxada” é só calcular a diferença entre as pressões resultantes que “empurra” e que “puxa”, ou seja, 37 – 25 é igual a 12 mmHg. E essa é a pressão efetiva de filtração (PEF) que quando é positiva favorece o movimento de água pra fora dos capilares, ou seja, favorece a filtração.
Porém, conforme o sangue vai fluindo pelos capilares, a pressão sanguínea vai se dissipando, e a pressão média hidrostática do capilar vai diminuindo chegando a ficar em torno de 15 mmHg no final do capilar, enquanto a pressão média oncótica do capilar praticamente se mantém em torno de 25 mmHg.
E aí, calculando a pressão efetiva de filtração agora no final do capilar, a gente vai chegar num valor negativo, e quando esse valor é negativo significa que a força que “empurra” é menor que a força que “puxa”, favorecendo agora o movimento de água pra dentro dos capilares, ou seja, favorecendo agora a reabsorção.
Um parêntese que a gente precisa colocar aqui é que esses valores de pressões, que em conjunto a gente chama de forças de Starling, as quais determinam a pressão efetiva de filtração, são valores médios, e podem variar de tecido pra tecido.
Por exemplo, no início dos capilares dos glomérulos renais, a pressão hidrostática do capilar fica em torno de 60 mmHg e no final desses capilares fica em torno de 58 mmHg, ou seja, ao longo desses capilares a pressão efetiva de filtração é positiva, favorecendo apenas a filtração. O que explica a função dos glomérulos renais: filtrar o sangue, filtrar o plasma.
Mas, embora existam exceções, como no caso dos capilares dos glomérulos renais, na maioria dos tecidos a pressão efetiva de filtração é positiva no início e negativa no final dos capilares.
-Bom, então quer dizer que no final das contas, na maioria dos tecidos, toda água que é filtrada no início dos capilares é reabsorvida no final dos capilares?
Então, na verdade, na maioria dos tecidos, a quantidade de água filtrada acaba sendo um pouquinho maior que a quantidade de água reabsorvida, ou seja, a força média que “empurra” a água pra fora dos capilares acaba sendo um pouquinho maior do que a força média que “puxa” a água pra dentro dos capilares e uma pequena parte da água filtrada não consegue ser reabsorvida.
-Ué professora, mas então essa água que não consegue ser reabsorvida, fica no interstício?
Em condições fisiológicas, em condições normais, não porque essa pequena parte de água que não é reabsorvida consegue voltar pra circulação sanguínea através do sistema linfático, como a gente vai explicar num outro vídeo.
Porém, em um dia muito quente por exemplo, as arteríolas da pele são dilatadas, sofrem vasodilatação, aumentando assim o fluxo sanguíneo nos capilares da pele e, consequentemente, a pressão hidrostática nesses capilares.
Então agora como a força média que “empurra” a água pra fora dos capilares vai ser maior ainda que a força média que “puxa” a água pra dentro dos capilares, um pouco mais de água não vai ser reabsorvida, e o sistema linfático pode não dar conta de remover esse um pouco a mais de água não reabsorvida, que pode então começar a se acumular no interstício, causando um aumento de volume, um inchaço, nos dedos, no seu pé... e você pode sentir o seu tênis e o seu anel mais apertado em dias muito quente.
E esse acúmulo de água no interstício dos tecidos é o que a gente chama edema.
Como a gente acabou de explicar, o aumento da pressão hidrostática do capilar pode ser uma das causas do edema, assim como a diminuição da pressão oncótica do capilar também pode ser uma das causas do edema. Ou seja, qualquer coisa que aumente a pressão efetiva de filtração, pode teoricamente causar um edema.
No próximo vídeo, a gente pode explicar melhor o que pode aumentar a pressão efetiva de filtração, pra entender um pouco melhor as possíveis causas de um edema. Não perca!
Bom então resumindo tudo o que a gente viu nesse vídeo, lembre-se que:
Filtração é o movimento em massa das moléculas de água do capilar em direção ao interstício, e a reabsorção é o movimento em massa das moléculas de água do interstício em direção ao capilar. E esses movimentos dependem da pressão efetiva de filtração.
Na maioria dos tecidos, no início dos capilares, a pressão efetiva de filtração tende a ser positiva, favorecendo a filtração, enquanto no final dos capilares, a pressão efetiva de filtração tende a ser negativa, favorecendo a reabsorção.
Em condições fisiológicas, mais água é filtrada do que reabsorvida, e a água que não é reabsorvida pode voltar pra circulação sanguínea através do sistema linfático.
Mas se a pressão efetiva de filtração aumentar, ou seja, ficar mais positiva, o sistema linfático pode não dar conta de remover toda a água que não conseguiu ser reabsorvida, o que pode causar um acúmulo de água no interstício que a gente chama de edema.
Bom espero que esse vídeo tenha te ajudado de alguma forma, e se ele te ajudou não esquece de curtir e compartilhar esse vídeo com aquele seu amigo que também tá precisando estudar esse conteúdo.
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E como sempre qualquer dúvida pode deixar aí nos comentários que a gente tenta responder, beleza?
A gente se vê num próximo vídeo, abraço!


Sobre a autora
Mirian Ayumi Kurauti é apaixonada pela fisiologia humana, com uma trajetória acadêmica admirável. Ela se formou em Biomedicina pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), fez mestrado e doutorado em Biologia Funcional e Molecular com ênfase em Fisiologia na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), e ainda atuou como pesquisadora de pós-doutorado na mesma instituição. Além disso, já lecionou fisiologia humana na Universidade Estadual de Maringá (UEM) e biologia celular na UEL. A sua última experiência como professora de fisiologia humana foi na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Fundadora da MK Educação Digital Ltda (MK Fisiologia), atualmente, Mirian é a mente criativa por trás de todos os conteúdos publicados nas redes sociais da empresa.
Apaixonada pela docência, Mirian adora dar aulas de fisiologia humana, mas de um jeito mais descontraído e se diverte muito ensinando. Ela está sempre buscando aprender algo novo não só sobre fisiologia, mas sobre qualquer coisa sobre a vida, o universo e tudo mais. Por isso, é uma consumidora compulsiva de conteúdos de divulgadores científicos. Nas horas vagas, você pode encontrá-la na piscina, treinando e participando de competições de natação. Para Mirian, a vida só tem graça, se ela tiver desafios a serem superados. Hoje, o seu maior desafio é ajudar o maior número de estudantes a entender de verdade a fisiologia humana, principalmente através de suas videoaulas publicadas no canal do YouTube MK Fisiologia.



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