[#3] REABSORÇÃO E SECREÇÃO TUBULAR: ALÇA DE HENLE

Este post é a transcrição da videoaula publicada em nosso canal do YouTube "[#3] REABSORÇÃO E SECREÇÃO TUBULAR: ALÇA DE HENLE ".

TRANSCRIÇÕESSISTEMA RENAL

Mirian Kurauti

10/7/20247 min read

No vídeo anterior, a gente falou de maneira simplificada sobre os mecanismos de reabsorção e secreção que acontecem no túbulo proximal. Nesse vídeo a gente vai falar sobre os mecanismos de reabsorção e secreção que acontecem nos ramos descendente e ascendente da alça de Henle.

E aí pessoal, tudo bem com vocês?

Eu sou Mirian Kurauti, professora, mestre, doutora, e criadora do canal MK Fisiologia, um canal que tem como principal objetivo descomplicar a fisiologia humana. Porque como eu sempre digo, fisiologia não precisa ser difícil. Então se você tá precisando estudar de verdade a fisiologia, já se inscreve no canal e ative as notificações pra você não perder os próximos vídeos que a gente postar por aqui.

Agora bora falar sobre os mecanismos de reabsorção e secreção que acontecem nos ramos descendente e ascendente da alça de Henle?

Então pra começar, lembre-se que depois de passar pelos processos de reabsorção e secreção do túbulo proximal, o líquido chega ao ramo descendente da alça de Henle praticamente isosmótico, com osmolaridade em trono de 300 miliosmolar (mOsm).

Mas, conforme esse ramo desce do córtex renal em direção a medula renal, ele vai encontrando um interstício renal cada vez mais concentrado, cada vez mais hiperosmótico.

E como as células epiteliais do ramo descendente da alça de Henle contém muitas proteínas canais específicas pra água, as aquaporinas 1, na membrana apical e basolateral, a água pode ser transportada através da célula, ou seja, pela via transcelular, do líquido filtrado para o interstício renal, por osmose.

Porém, é importante saber que aqui a água é reabsorvida sozinha, principalmente por essa via, sem a reabsorção de solutos, pois essas células epiteliais não apresentam proteínas transportadoras específicas para reabsorção de solutos, como por exemplo os íons sódio (Na+) e cloreto (Cl-).

No entanto, alguns solutos podem ser secretados, já que o ramo descendente da alça de Henle encontra um interstício renal cada vez mais concentrado conforme desce na medula renal.

Um soluto que podemos encontrar em altas concentrações nas regiões mais profundas da medula renal é a ureia, e por isso ela pode ser secretada passivamente, sem gastar energia, pela via paracelular, apenas sendo transportada a favor do seu gradiente de concentração.

Essa secreção de ureia, somada a reabsorção de água, contribui pra deixar o líquido filtrado bastante concentrado, hiperosmótico, praticamente se igualando à osmolaridade do líquido do interstício renal que pode chegar a 1200 miliosmolar (mOsm) na região mais profunda da medula.

Portanto, a osmolaridade máxima do líquido filtrado é atingida quando esse líquido chega ao final do ramo descendente da alça de Henle. Essa osmolaridade pode variar de 600 a 1200 miliosmolar (mOsm) dependendo da hiperosmolaridade do interstício da medula renal e do comprimento da alça de Henle.

Lembre-se que a maioria dos néfrons tem a alça de Henle mais curta, os chamados de néfrons corticais, enquanto outros, em menor número, tem a alça de Henle mais longa, os chamados néfrons justamedulares.

Agora, o que exatamente determina a hiperosmolaridade do interstício da medula renal, a gente deixa pra falar em um outro vídeo.

Mas continuando aqui, quando o líquido chega ao ramo ascendente da alça de Henle, ele encontra um segmento fino, e um segmento espesso logo em seguida.

No segmento fino não tem mais aquaporinas 1 nas membranas apical e basolateral das células epiteliais, e as junções de oclusão não são permeáveis à água, embora sejam permeáveis aos íons, como por exemplo aos íons sódio (Na+) e cloreto (Cl-).

E aí, como o líquido filtrado que tá hiperosmótico, super concentrado em solutos, vai subindo em direção a um interstício renal cada vez menos concentrado, vai existir uma diferença de concentração entre os dois lados do epitélio tubular.

Como o sódio e o cloreto vai tá mais concentrado no lúmen do túbulo, o sódio e o cloreto podem deixar o lúmen em direção ao interstício renal, a favor dos seus gradientes de concentração, sendo portando reabsorvidos, e o líquido filtrado vai começando a ficar cada vez menos concentrado.

A reabsorção de sódio e cloreto que começa de forma passiva no segmento fino, é intensificada no segmento espesso ascendente da alça de Henle, pois a reabsorção desses íons passa a ser ativa, com gasto de energia.

Enquanto na membrana basolateral encontramos a bomba de Na+/K+, na membrana apical das células epiteliais do segmento espesso, encontramos uma proteína carreadora que realiza simporte, chamada NKCC, isso porque ela transporta um íon sódio (Na+), um íon potássio (K+) e dois íons cloretos (Cl-) na mesma direção, usando o gradiente eletroquímico do íon sódio criado pela bomba de Na+/K+.

O potássio pode voltar pro lúmen do túbulo por uma proteína canal específica presente na membrana apical. Já o sódio sai ativamente da célula em direção ao interstício renal, através da bomba de sódio e potássio, presente na membrana basolateral, e o cloreto pode sair passivamente em direção ao interstício renal, através de uma proteína canal específica, também presente na membrana basolateral, a favor do seu gradiente eletroquímico, sendo assim reabsorvido junto com o sódio.

Além disso, por um mecanismo muito parecido com o mecanismo de transporte que acontece no túbulo proximal, o sódio (Na+) e o íon bicarbonato (HCO3-) podem ser reabsorvidos juntos também.

E se você parar pra pensar, nesse mecanismo de reabsorção de sódio e bicarbonato, pra cada carga positiva na forma de sódio que eu reabsorvo, uma carga negativa, na forma de bicarbonato, é reabsorvida também.

Mas no mecanismo de reabsorção de sódio e cloreto, embora duas cagas positivas e duas negativas entrem na célula epitelial pela membrana apical, uma carga positiva, na forma de potássio, volta pro lúmen do túbulo e não é reabsorvido, ou seja, isso acaba levando a reabsorção de mais cargas negativas do que positivas.

E como eu vou tirando mais caga negativa do lúmen, vai sobrando mais carga positiva, criando um gradiente, uma diferença elétrica entre o lúmen e o interstício renal.

Como as junções de oclusão são impermeáveis à água, mas não aos íons, os cátions, íons positivos, como o próprio sódio, o potássio, o cálcio e o magnésio, são repelidos pelo excesso de cargas positivas presentes no lúmen do túbulo, e podem ser assim reabsorvidos pela via paracelular.

Então, conforme o líquido filtrado vai subindo pelo ramo ascendente espesso da alça de Henle, sódio, cloreto e outros íons vão sendo reabsorvidos e isso vai deixando o líquido filtrado cada vez menos concentrado, ou seja, hiposmótico, e o líquido deixa o ramo ascendente espesso da alça de Henle, mais diluído que o líquido intersticial do córtex renal onde se encontra essa parte do túbulo dos néfrons.

Essa reabsorção intensa de solutos, principalmente dos íons sódio e cloreto no ramo ascendente espesso da alça de Henle, é fundamental pra gerar a hiperosmolaridade da medula renal, através de um mecanismo muito conhecido, chamado de mecanismo de contracorrente. Mas sobre esse mecanismo a gente pode falar em um outro vídeo.

Bom então resumindo tudo o que a gente viu nesse vídeo lembre-se que:

  • Nas células epiteliais do ramo descendente da alça de Henle, encontramos aquaporinas 1 nas membranas apical e basolateral, permitindo reabsorção de água através da via transcelular. E como nesse ramo não ocorre reabsorção de solutos, o líquido filtrado se torna hipermosmótico ao passar pelo esse ramo descendente da alça de Henle.

  • Nas células epiteliais do ramo ascendente fino da alça de Henle, não encontramos aquaporinas e as junções de oclusão são impermeáveis à água, mas não aos íons, os quais podem ser reabsorvidos passivamente, sem gastar energia, a favor do seu gradiente de concentração.

  • Nas células epiteliais do ramo ascendente espesso da alça de Henle, encontramos proteínas transportadoras na membrana apical, como a NKCC, que permite a reabsorção ativa de sódio e cloreto, ou seja, com gasto de energia.

  • E como essa proteína reabsorve um íon sódio e dois íons cloretos, ela cria um gradiente elétrico que favorece a reabsorção de cátions, íons positivos, como o próprio sódio, o potássio, o cálcio e o magnésio pela via paracelular.

  • Por conta dessa intensa reabsorção de solutos, mas não de água, o líquido filtrado fica mais diluído ao passar pelo ramo ascendente da alça de Henle, e chega ao túbulo distal hiposmótico.

No próximo vídeo, a gente fala sobre os mecanismos de reabsorção e secreção que podem ocorrer no túbulo distal, túbulo conector e ductos coletores, não perca!

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Bom, a gente vai ficando por aqui, qualquer dúvida, pode deixar aí nos comentários que a gente tenta responder, beleza? A gente se vê num próximo vídeo, abraço!

Sobre a autora

Mirian Ayumi Kurauti é apaixonada pela fisiologia humana, com uma trajetória acadêmica admirável. Ela se formou em Biomedicina pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), fez mestrado e doutorado em Biologia Funcional e Molecular com ênfase em Fisiologia na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), e ainda atuou como pesquisadora de pós-doutorado na mesma instituição. Além disso, já lecionou fisiologia humana na Universidade Estadual de Maringá (UEM) e biologia celular na UEL. A sua última experiência como professora de fisiologia humana foi na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Fundadora da MK Educação Digital Ltda (MK Fisiologia), atualmente, Mirian é a mente criativa por trás de todos os conteúdos publicados nas redes sociais da empresa.

Apaixonada pela docência, Mirian adora dar aulas de fisiologia humana, mas de um jeito mais descontraído e se diverte muito ensinando. Ela está sempre buscando aprender algo novo não só sobre fisiologia, mas sobre qualquer coisa sobre a vida, o universo e tudo mais. Por isso, é uma consumidora compulsiva de conteúdos de divulgadores científicos. Nas horas vagas, você pode encontrá-la na piscina, treinando e participando de competições de natação. Para Mirian, a vida só tem graça, se ela tiver desafios a serem superados. Hoje, o seu maior desafio é ajudar o maior número de estudantes a entender de verdade a fisiologia humana, principalmente através de suas videoaulas publicadas no canal do YouTube MK Fisiologia.

Foto da autora do post Mirian Ayumi Kurauti criadora do MK Fisiologia
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