[#3] ECG: DERIVAÇÕES ELETROCARDIOGRÁFICAS

Este post é a transcrição da videoaula publicada em nosso canal do YouTube "[#3] ECG: DERIVAÇÕES ELETROCARDIOGRÁFICAS".

TRANSCRIÇÕESSISTEMA CARDIOVASCULAR

Mirian Kurauti

2/3/20259 min read

Continuando nossa série de vídeos sobre o eletrocardiograma ou ECG, nesse vídeo a gente vai falar sobre as derivações eletrocardiográficas.

E aí pessoal, tudo bem com vocês?

Pra quem tá chegando agora e ainda não me conhece, eu sou Mirian Kurauti, professora, mestre, doutora e criadora do canal MK Fisiologia, um canal que tem como principal objetivo descomplicar a fisiologia humana. Então, se você tá precisando entender de verdade a fisiologia, já se inscreve no canal e ative as notificações pra você não perder os próximos vídeos que a gente postar por aqui.

Agora, bora descomplicar as derivações eletrocardiográficas?

Nos vídeos anteriores, a gente já explicou que o eletrocardiograma ou ECG é o registro da atividade elétrica do coração obtido através de eletrodos colocados na superfície do corpo.

Essa atividade elétrica, despolarização e repolarização dos átrios e dos ventrículos, gera vetores de despolarização e repolarização ao longo do tempo e são esses vetores que explicam os traçados registrados no eletrocardiograma, isto é, as ondas e os segmentos que a gente viu no vídeo anterior.

Só que no vídeo anterior a gente só explicou os traçados registrados nas derivações I, II e III, derivações que permitem “olhar” os vetores de despolarização e repolarização em três direções diferentes. Porém, além dessas três derivações a gente também tem outras derivações pra poder “olhar” a atividade elétrica do coração a partir de outras direções também.

-Tá, professora, mas então quais são essas outras derivações?

Pra falar de todas as derivações padrões, ou seja, todas as derivações que são obtidas em qualquer eletrocardiograma padrão, a gente pode classificar essas derivações em: derivações do plano coronal ou frontal e derivações do plano transverso ou horizontal.

As derivações do plano frontal “olham” a atividade elétrica do coração de frente, apenas neste plano frontal, e a gente pode “ver” a atividade elétrica do coração no eixo longitudinal (pra cima ou pra baixo) e no eixo transversal (pra esquerda ou pra direita). E é exatamente isso que as derivações I, II e III “enxergam”, por isso elas são classificadas como derivações do plano frontal. Nessas derivações, a gente consegue “ver” a direção dos vetores de despolarização e repolarização no eixo longitudinal, ou seja, se ele aponta pra cima ou pra baixo, e no eixo transversal, se ele aponta pra esquerda ou pra direita.

Como vimos no vídeo anterior, essas derivações I, II e III registram a diferença de potencial elétrico, isto é, a voltagem entre um eletrodo de captação positivo colocado em um membro e um eletrodo de referência negativo colocado em um outro membro do corpo. Então, como essas derivações comparam a diferença entre dois eletrodos, positivo e negativo, colocados em dois membros diferentes, essas derivações do plano frontal são chamadas de derivações bipolares dos membros.

Ainda, como vimos no vídeo anterior, essas três derivações do plano frontal foram estabelecidas pelo médico holandês Willem Einthoven, mas aí depois veio uns outros malucos, um tal de Wilson e um tal de Goldberg e, a partir dos estudos desses caras, foram estabelecidas mais três derivações do plano frontal, as derivações unipolares dos membros.

-Como assim?

Diferente das derivações bipolares que medem a voltagem entre dois eletrodos colocados em dois membros diferentes, as derivações unipolares medem apenas a voltagem do eletrodo de captação positivo colocado em um determinado membro do corpo.

-Ué, professora, mas pra medir a voltagem não tem que ter um eletrodo de referência negativo?

Tem, só que nessas derivações unipolares dos membros, esse eletrodo de referência negativo, na verdade, são os outros dois eletrodos colocados nos outros dois membros, ou seja, esses outros dois eletrodos colocados nos outros dois membros representam, juntos, o eletrodo de referência negativo nas derivações unipolares dos membros.

Não entendeu? Então presta atenção.

Quando a gente coloca o eletrodo positivo no braço direito, os eletrodos do braço esquerdo e da perna esquerda serão o eletrodo negativo. Portanto, o eixo dessa derivação parte do ponto médio entre os dois eletrodos negativos e vai em direção ao eletrodo positivo colocado no braço direito.

Essa derivação é chamada de aVR, “a” de aumentada, “V” representando unipolar e “R” da palavra inglesa “right” que significa “direito”, ou seja, braço direito.

Quando a gente coloca o eletrodo positivo no braço esquerdo, os eletrodos do braço direito e da perna esquerda serão o eletrodo negativo. Portanto, o eixo dessa derivação parte do ponto médio entre os dois eletrodos negativos e vai em direção ao eletrodo positivo colocado no braço esquerdo.

Essa derivação é chamada de aVL, “L” da palavra inglesa “left” que significa “esquerdo”, ou seja, braço esquerdo.

E quando a gente coloca o eletrodo positivo na perna esquerda, os eletrodos do braço direito e do braço esquerdo serão o eletrodo negativo. Portanto, o eixo dessa derivação parte do ponto médio entre os dois eletrodos negativos e vai em direção ao eletrodo positivo colocado na perna esquerda.

Essa derivação é chamada de aVF, “F” da palavra inglesa “foot” que significa “pé”.

Agora preste atenção. Como a inclinação dos eixos dessas derivações unipolares são diferentes dos eixos das derivações bipolares, é claro que os traçados dos registros do eletrocardiograma dessas derivações vão ser diferentes.

Vou dar só um exemplo pra você lembrar do que a gente explicou no vídeo anterior.

Vamos pegar o vetor da despolarização dos ventrículos responsável pela onda R. Como esse vetor aponta pra baixo e pra esquerda, o vetor aponta mais na direção dos eletrodos positivos de todas as derivações I, II e III, por isso a onda R é positiva em todas essas derivações bipolares.

Porém, nas derivações unipolares dos membros, o vetor aponta pros eletrodos positivos do braço esquerdo e da perna esquerda, mas não pro eletrodo positivo do braço direito, por isso na derivação aVR a onda R é negativa, enquanto nas derivações aVL e aVF a onda R é positiva.

Pegaram a ideia, né?

Então, os traçados dos registros em cada uma das derivações eletrocardiográficas dependem da direção e da inclinação dos vetores de despolarização e repolarização que surgem conforme o potencial de ação vai se propagando pelo coração, como a gente explicou no vídeo anterior.

O mais importante aqui nesse momento é saber que assim como as derivações bipolares, as derivações unipolares dos membros também são derivações do plano frontal e, portanto, fornecem uma “visão” da atividade elétrica apenas nesse plano frontal, permitindo a gente “ver” se a despolarização e a repolarização dos átrios e dos ventrículos tá indo pra cima ou pra baixo, pra esquerda ou pra direita.

Porém, o coração é tridimensional, e a gente precisa “ver” a atividade elétrica do coração não apenas no plano frontal, mas também no plano horizontal, pra gente “ver” se a despolarização e repolarização dos átrios e dos ventrículos tá indo pra frente ou pra trás no eixo sagital e pra esquerda ou pra direita no eixo transversal, nesse plano horizontal.

Então, é exatamente pra isso que serve as derivações do plano horizontal, que assim como as derivações unipolares dos membros também são derivações unipolares, só que derivações unipolares precordiais, ou seja, nessas derivações unipolares os eletrodos positivos são colocados em regiões precordiais, ou seja, regiões anteriores ao coração.

E nessas regiões, foram então padronizadas seis posições precordiais pra colocação de seis eletrodos positivos, cada um dando origem a uma derivação unipolar precordial: V1, V2, V3, V4, V5 e V6.

-Tá, professora, os eletrodos positivos tão nessas regiões precordiais aí, mas onde que vai ficar o eletrodo negativo dessas derivações?

Presta atenção que no caso dessas derivações, os três eletrodos colocados nos membros vão ser ligados em um terminal comum, o chamado de terminal central de Wilson, e esse terminal vai ser ligado no polo negativo do eletrocardiógrafo, ou seja, os três eletrodos vão ser o eletrodo de referência negativo das derivações unipolares precordiais.

E aí, se liga que agora o eletrodo negativo são os três eletrodos colocados nos membros, então a gente precisa achar o ponto médio entre esses três eletrodos. E adivinha onde vai ser esse ponto médio?

No meio do triângulo de Einthoven. Então, o eixo das derivações unipolares precordiais parte do centro desse triângulo, que embora na visão do plano frontal parece que fica na superfície do corpo, na visão do plano horizontal a gente pode ver que o centro desse triângulo fica praticamente no centro do coração.

Assim, observando agora os eixos das seis derivações unipolares precordiais, percebam que agora essas derivações conseguem “enxergar” a atividade elétrica do coração no plano horizontal, pra ver se a despolarização e a repolarização dos átrios e ventrículos vai tá indo pra frente ou pra trás, pra esquerda ou pra direita, agora nesse plano horizontal.

E a ideia aqui nos registros dessas derivações é a mesma, se o traçado vai subir ou vai descer vai depender pra onde os vetores de despolarização e repolarização dos átrios e dos ventrículos vão apontar em um determinado momento.

-Tá, professora, então é sempre assim, né, em qualquer derivação os traçados dos registros vão depender dos vetores, certo?

Isso mesmo, meu jovem aprendiz de eletrocardiograma. Só que uma coisa importante pra se dizer agora é que quando se realiza um eletrocardiograma a gente consegue só os traçados dos registros das 12 derivações. E aí, é a partir desses traçados que a gente descobre os vetores de despolarização e repolarização dos átrios e dos ventrículos pra saber onde os potenciais de ação tão sendo gerados no coração e como eles tão sendo conduzidos pelo coração.

-Nossa, professora, dá pra descobrir a direção de todos os vetores de despolarização e repolarização só analisando os traçados dos registros dessas derivações?

Dá sim, inclusive a gente pode descobrir a direção de todos esses vetores tanto no plano frontal quanto no plano horizontal. Só que essa talvez seja a tarefa mais difícil que a gente encontra durante a leitura do eletrocardiograma. Mas no próximo vídeo dessa série sobre ECG a gente dá pelo menos uma luz no fim do túnel pra você entender como que a gente faz pra descobrir a direção desses vetores só analisando os traçados dos registros das derivações eletrocardiográficas. Então, não perca o próximo vídeo!

Bom, então resumindo as 12 derivações eletrocardiográficas, lembre-se que:

  • Dentre as derivações do plano frontal a gente tem as derivações bipolares dos membros, as derivações I, II e III, e as derivações unipolares dos membros, as derivações aVR, aVL e aVF.

  • Dentre as derivações do plano horizontal a gente tem as derivações unipolares precordiais, V1, V2, V3, V4, V5 e V6.

  • E por fim, lembre-se que é através da leitura de todas essas derivações eletrocardiográficas que a gente obtém todos os vetores de despolarização e repolarização atrial e ventricular pra saber onde os potenciais de ação tão sendo gerados no coração e como eles tão sendo conduzidos pelo coração.

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E como sempre, qualquer dúvida pode deixar aí nos comentários que a gente tenta responder.

A gente se vê num próximo vídeo. Abraço!

Sobre a autora

Mirian Ayumi Kurauti é apaixonada pela fisiologia humana, com uma trajetória acadêmica admirável. Ela se formou em Biomedicina pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), fez mestrado e doutorado em Biologia Funcional e Molecular com ênfase em Fisiologia na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), e ainda atuou como pesquisadora de pós-doutorado na mesma instituição. Além disso, já lecionou fisiologia humana na Universidade Estadual de Maringá (UEM) e biologia celular na UEL. A sua última experiência como professora de fisiologia humana foi na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Fundadora da MK Educação Digital Ltda (MK Fisiologia), atualmente, Mirian é a mente criativa por trás de todos os conteúdos publicados nas redes sociais da empresa.

Apaixonada pela docência, Mirian adora dar aulas de fisiologia humana, mas de um jeito mais descontraído e se diverte muito ensinando. Ela está sempre buscando aprender algo novo não só sobre fisiologia, mas sobre qualquer coisa sobre a vida, o universo e tudo mais. Por isso, é uma consumidora compulsiva de conteúdos de divulgadores científicos. Nas horas vagas, você pode encontrá-la na piscina, treinando e participando de competições de natação. Para Mirian, a vida só tem graça, se ela tiver desafios a serem superados. Hoje, o seu maior desafio é ajudar o maior número de estudantes a entender de verdade a fisiologia humana, principalmente através de suas videoaulas publicadas no canal do YouTube MK Fisiologia.

Foto da autora do post Mirian Ayumi Kurauti criadora do MK Fisiologia
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