[#2] FILTRAÇÃO GLOMERULAR: Como a Taxa de Filtração Glomerular (TFG) é determinada?

Este post é a transcrição da videoaula publicada em nosso canal do YouTube "[#2] FILTRAÇÃO GLOMERULAR: Como a Taxa de Filtração Glomerular (TFG) é determinada?".

TRANSCRIÇÕESSISTEMA RENAL

Mirian Kurauti

9/13/202410 min read

E aí pessoal, tudo bem com vocês?

Nesse vídeo, a gente vai explicar o que é a taxa de filtração glomerular ou TFG, e além disso, a gente vai explicar o que pode determinar ou influenciar essa taxa de filtração glomerular.

Bom, pra você que tá chegando agora e ainda não me conhece, eu sou Mirian Kurauti, professora, mestre, doutora, e criadora do canal MK Fisiologia, um canal que tem como principal objetivo descomplicar a fisiologia humana. Porque como eu sempre digo, fisiologia não precisa ser difícil. Então se você tá precisando entender de verdade a fisiologia, já se inscreve no canal e ative as notificações pra você não perder os próximos vídeos que a gente postar por aqui.

Agora bora tentar entender o que é taxa de filtração glomerular (TFG)?

No vídeo anterior, a gente começou a falar sobre a filtração glomerular, e a gente viu que por dia são filtrados cerca de 180 litros de líquido nos rins, o que equivale a 125 ml por minuto de líquido sendo filtrado em todos os glomérulos. O volume total de líquido filtrado, em todos os glomérulos dos rins, por unidade de tempo, é o que a gente chama de Taxa de Filtração Glomerular ou TFG, que como a gente viu, em condições normais, fica em torno de 180 litros por dia, ou 125 ml por minuto.

Todo esse líquido filtrado, passa através de uma membrana de filtração glomerular que apresenta três barreiras de filtração, as quais selecionam as moléculas pelo tamanho e pelas cargas elétricas.

Assim, moléculas grandes e com cargas elétricas negativas sobrando, ou "despareadas", são barradas e não são filtradas, como é o caso da maioria das proteínas plasmáticas, como por exemplo a albumina.

Por isso, normalmente, quase não encontramos proteínas na urina, e quando detectamos a presença de proteínas na urina, o que chamamos de proteinúria, principalmente a albumina, o que chamamos de albuminúria, pode ser sinal de alguma alteração em uma ou mais barreiras de filtração.

Mas independente, se as barreiras tão intactas ou não, pro líquido ser filtrado e atravessar essas barreiras ele precisa ser “empurrado” por alguma força.

Mas afinal de contas, que força é essa que vai “empurrar” o líquido através das barreiras de filtração e determinar a Taxa de Filtração Glomerular ou TFG?

Essa força, na verdade, é uma força resultante de forças que podem direcionar o líquido do capilar glomerular pra cápsula de Bowman, e forças no sentido oposto, que podem direcionar o líquido da cápsula de Bowman pro capilar glomerular. Essas forças são as mesmas forças que movimentam os líquidos corporais através da parede de qualquer capilar sanguíneo, ou seja, são as chamadas Forças de Starling.

-Tá professora, eu acho que eu já ouvi falar dessas Forças de Starling, mas eu não tô lembrando muito bem disso aí não?

Então presta atenção, nós temos quatro Forças de Starling.

A primeira força é a própria pressão sanguínea, isto é, a pressão que o sangue exerce sobre a parede dos capilares sanguíneos. Essa pressão, que favorece a filtração, pois “empurra” o líquido através das barreiras de filtração pro espaço de Bowman, a gente chama de pressão hidráulica, ou pressão hidrostática do capilar glomerular.

Nos capilares glomerulares, essa pressão hidrostática varia entre 60 e 58 milímetros de mercúrio (mmHg), ou seja, ela chega na extremidade aferente com 60 milímetros de mercúrio (mmHg) e sai na extremidade eferente com 58 milímetros de mercúrio (mmHg). Portanto, é uma média de 59 milímetros de mercúrio (mmHg) que força o líquido através das barreiras de filtração, “empurrando” o líquido pra fora dos capilares glomerulares, favorecendo a filtração.

A segunda Força de Starling é a pressão que o líquido filtrado lá na cápsula de Bowman, ou espaço de Bowman, exerce do lado de fora da parede dos capilares glomerulares, ou seja, lá dentro da cápsula de Bowman ou no espaço de Bowman. Essa pressão a gente chama de pressão hidráulica ou pressão hidrostática do espaço de Bowman.

Diferente da pressão hidrostática do capilar glomerular, a pressão hidrostática do espaço de Bowman não varia ao longo do espaço de Bowman e fica em torno de quinze milímetros de mercúrio, ou seja, a gente tem uma pressão de 15 milímetros de mercúrio (mmHg) que se opõe a filtração glomerular.

A terceira Força de Starling, também se opõe a filtração glomerular. Essa força é a pressão osmótica que as proteínas exercem dentro dos capilares glomerulares.

-Professora, pera aí. Pressão osmótica que as proteínas exercem dentro dos capilares glomerulares? Como assim?

Lembre-se que a maioria das proteínas praticamente não são filtradas, e permanecem dentro dos capilares glomerulares. Essas proteínas são solutos que tende a exercer uma força que tenta segurar a água dentro desses capilares, dificultando a filtração da água que acontece por osmose.

Essa força exercida pelas proteínas é uma pressão osmótica, isto é, uma pressão que se opõe a osmose, que a gente chama de pressão coloidosmótica ou pressão oncótica do capilar glomerular.

E só lembrando, a pressão oncótica é representada pelo símbolo "pi" do alfabeto grego.

Como parte da água do plasma vai sendo filtrada ao longo dos capilares glomerulares e as proteínas não, a concentração de proteínas no plasma vai aumentando ao longo dos capilares glomerulares, por isso a pressão oncótica dos capilares glomerulares também vai aumentando ao longo desses capilares, variando entre 28 milímetros de mercúrio (mmHg) na extremidade aferente, e 35 milímetros de mercúrio (mmHg) na extremidade eferente, ou seja, é uma média de 32 milímetros de mercúrio (mmHg) que tenta segurar a água dentro dos capilares glomerulares, que tenta segurar a filtração glomerular.

Então agora, além dos 15 milímetros de mercúrio (mmHg), a gente tem também 32 milímetros de mercúrio (mmHg) se opondo a filtração glomerular.

-Tá professora, tem três Forças de Starling até aqui, não era quatro?

Sim, são quatro Forças de Starling, mas a quarta, nesse caso, vai ser praticamente nula. Essa quarta força, é a pressão oncótica do espaço de Bowman, que é pressão osmótica exercida pelas proteínas presentes agora no espaço de Bowman.

Essa pressão tende a puxar a água que tá passando nos capilares glomerulares pro espaço de Bowman, favorecendo a filtração glomerular. Mas como a maioria das proteínas praticamente não são filtradas, quase não existe proteínas no espaço de Bowman, e a pressão oncótica desse espaço pode ser considerada como sendo igual a zero.

Bom, agora que a gente conhece as Forças de Starling que favorece e que se opõe a filtração glomerular, a gente pode calcular a força ou pressão resultante de filtração, que também pode ser chamada de pressão efetiva de filtração.

Pra isso, é só pegar a pressão que favorece a filtração glomerular, ou seja, a pressão hidrostática do capilar glomerular e subtrair dessa pressão, as pressões que se opõem a filtração glomerular, ou seja, a pressão hidrostática do espaço de Bowman e a pressão oncótica do capilar glomerular.

E fazendo os cálculos usando aqueles valores médios, a gente vai ter uma pressão resultante de filtração igual a 12 milímetros de mercúrio (mmHg). Essa é a força que “empurra” o líquido através das barreiras de filtração e determina a Taxa de Filtração Glomerular ou TFG, ou seja, quando essa pressão resultante aumenta, a TFG aumenta, e quando ela diminui, a TFG diminui.

-Ah então quer dizer que a TFG vai ser determinada apenas pela pressão resultante de filtração?

Calma, respira. Não é só a pressão resultante que vai determinar a TFG, pois não adianta nada só ter a força que “empurra” o líquido através das barreiras de filtração se as barreiras não forem permeáveis ao líquido. Portanto, a TFG também é determinada pelo que alguns livros chamam de condutividade hidráulica dos capilares glomerulares.

-Mas o que que é isso professora?

De forma simples, condutividade hidráulica dos capilares é a capacidade de um líquido ser conduzido através da parede desses capilares quando a gente tem uma determinada pressão resultante. Quanto mais líquido conseguir passar através da parede desses capilares em uma determinada pressão resultante, maior será a condutividade hidráulica, ou em outras palavras, maior será a permeabilidade desses capilares. E quanto maior a permeabilidade dos capilares glomerulares, maior será a capacidade de filtração, maior será a TFG.

Além disso, a área de superfície dos capilares glomerulares, também determina a TFG. Quanto maior a área de superfície, ou seja, quanto maior o número de capilares ou quanto maior o diâmetro desses capilares glomerulares, maior será a capacidade de filtração, porque vai ter mais área pra acontecer a filtração, e maior será a TFG.

Esses dois fatores que determinam a TFG são expressos através de um coeficiente de filtração (Kf), um coeficiente que pode ser calculado através da multiplicação entre a condutividade hidráulica, que a gente pode chamar de permeabilidade pra simplificar, e a área de superfície dos capilares glomerulares.

Mas como não dá pra gente medir diretamente a permeabilidade e nem a área de superfície dos capilares glomerulares, a gente pode estimar o coeficiente de filtração, se a gente souber a TFG e a pressão resultante de filtração.

Então lembre-se que normalmente a TFG é de aproximadamente 180 litros por dia ou 125 ml por minuto, enquanto a pressão resultante de filtração que a gente calculou, em condições normais, fica em torno de 12 milímetros de mercúrio (mmHg), mas pra facilitar as contas vamos arredondar pra 10.

Logo, 125 dividido por 10, a gente tem que o coeficiente de filtração normal fica em torno de 12,5 ml por minuto por milímetro de mercúrio (mmHg), isso considerando os dois rins.

Levando em conta esse valor do coeficiente de filtração, estima-se que pra cada 100 gramas de rim, o coeficiente de filtração fica em torno de 4,2 ml por minuto por milímetro de mercúrio (mmHg), um valor que é muito, mas muito maior que o coeficiente de filtração médio pra cada 100 gramas dos demais tecidos do organismo, que não passa de 0,01 ml por minuto por milímetro de mercúrio (mmHg).

Portanto, é graças a esse alto coeficiente de filtração dos capilares glomerulares que os rins podem filtrar 180 litros de líquidos por dia mesmo só recebendo vinte porcento de todo o sangue bombeado pelo coração, comparado aos 20 litros de líquidos filtrados por dia em todos os outros demais tecidos do organismo juntos, que recebem os oitenta porcento restante do sangue bombeado pelo coração.

Além disso, vale destacar que a pressão hidrostática do capilar glomerular também é maior quando comparado com a pressão hidrostática dos demais capilares sanguíneos do organismo. Contribuindo pra uma maior pressão resultante de filtração, contribuindo assim pra uma alta taxa de filtração glomerular.

Então agora, colocando todos os determinantes da TFG, a gente tem: TFG é igual ao coeficiente de filtração multiplicado pela pressão resultante de filtração, ou seja, pressão hidrostática do capilar glomerular, menos a pressão hidrostática do espaço de Bowman, menos a pressão oncótica do capilar glomerular.

-Beleza professora, mas pra que é importante eu saber essa equação da TFG?

Presta atenção, se você souber tudo que determina ou melhor tudo que influencia a TFG, você vai saber o que pode acontecer com a TFG se algum desses determinantes sofrer alterações. No próximo vídeo, a gente explica como alterações em cada um desses determinantes pode alterar a TFG, não perca!

Bom então resumindo tudo que a gente viu nesse vídeo lembre-se que:

  • A TFG, ou taxa de filtração glomerular, é a quantidade total de líquido filtrado nos rins por unidade de tempo. Em condições normais essa taxa fica em torno de cento e oitenta litros por dia o que equivale a cento e vinte e cinco ml por minuto.

  • A TFG é determinada pelo coeficiente de filtração, o qual é determinado tanto pela permeabilidade quanto pela área de superfície dos capilares glomerulares.

  • Além disso a TFG também é determinada pela pressão resultante de filtração, que é igual a, pressão hidrostática do capilar glomerular, menos a pressão hidrostática do espaço de Bowman, menos a pressão oncótica do capilar glomerular.

  • E pra finalizar, não se esqueça que todos os valores das Forças de Starling que a gente trouxe aqui nesse vídeo, pode ter pequenas variações nos livros de fisiologia, isso porque cada livro pode ter usado uma referência diferente pra pegar esses valores.

  • Mas independente de qual o valor que você tiver aí, o mais importante é você entender como cada Força de Starling pode determinar a TFG.

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Bom, a gente vai ficando por aqui, e qualquer dúvida, pode deixar aí nos comentários que a gente tenta responder, beleza? A gente se vê num próximo vídeo, abraço!

Sobre a autora

Mirian Ayumi Kurauti é apaixonada pela fisiologia humana, com uma trajetória acadêmica admirável. Ela se formou em Biomedicina pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), fez mestrado e doutorado em Biologia Funcional e Molecular com ênfase em Fisiologia na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), e ainda atuou como pesquisadora de pós-doutorado na mesma instituição. Além disso, já lecionou fisiologia humana na Universidade Estadual de Maringá (UEM) e biologia celular na UEL. A sua última experiência como professora de fisiologia humana foi na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Fundadora da MK Educação Digital Ltda (MK Fisiologia), atualmente, Mirian é a mente criativa por trás de todos os conteúdos publicados nas redes sociais da empresa.

Apaixonada pela docência, Mirian adora dar aulas de fisiologia humana, mas de um jeito mais descontraído e se diverte muito ensinando. Ela está sempre buscando aprender algo novo não só sobre fisiologia, mas sobre qualquer coisa sobre a vida, o universo e tudo mais. Por isso, é uma consumidora compulsiva de conteúdos de divulgadores científicos. Nas horas vagas, você pode encontrá-la na piscina, treinando e participando de competições de natação. Para Mirian, a vida só tem graça, se ela tiver desafios a serem superados. Hoje, o seu maior desafio é ajudar o maior número de estudantes a entender de verdade a fisiologia humana, principalmente através de suas videoaulas publicadas no canal do YouTube MK Fisiologia.

Foto da autora do post Mirian Ayumi Kurauti criadora do MK Fisiologia
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