[#2] Controle do fluxo sanguíneo: CONTROLE EXTRÍNSECO do FLUXO SANGUÍNEO TECIDUAL

Este post é a transcrição da videoaula publicada em nosso canal do YouTube "[#2] Controle do fluxo sanguíneo: CONTROLE EXTRÍNSECO do FLUXO SANGUÍNEO TECIDUAL".

TRANSCRIÇÕESSISTEMA CARDIOVASCULAR

Mirian Kurauti

12/1/20259 min read

E aí pessoal, tudo bem com vocês?

No vídeo anterior, a gente falou sobre o controle local ou intrínseco do fluxo sanguíneo tecidual. Nesse vídeo, a gente vai falar sobre o controle extrínseco do fluxo sanguíneo nos tecidos, bora?

Diferente do controle local ou intrínseco que se dá através da autorregulação da própria musculatura lisa das arteríolas, ou através dos fatores locais metabólicos e parácrinos produzidos e liberados no próprio tecido, o controle extrínseco, como o próprio nome sugere, se dá através de fatores externos ao tecido, como é o caso dos fatores neurais que vem do sistema nervoso e dos fatores endócrinos que vem do sistema, adivinha, endócrino.

Dentre os fatores neurais, o principal fator é o neurotransmissor noradrenalina, liberado pelos neurônios pós-ganglionares do sistema nervoso autônomo (SNA) simpático. Esses neurônios podem inervar a musculatura lisa da parede das arteríolas, das vênulas e das veias. Mas, como a gente explicou no vídeo anterior, é a resistência pré-capilar, ou melhor, é a resistência das arteríolas, o principal determinante do fluxo sanguíneo nos capilares teciduais, e por isso, nesse vídeo, a gente vai dar mais enfoque na inervação da musculatura lisa da parede das arteríolas.

Então, vamos lá.

Na maioria das arteríolas, as células musculares lisas apresentam principalmente receptores α1-adrenérgicos na sua membrana plasmática, que quando ativados pela noradrenalina, podem iniciar os mecanismos de contração muscular, causando assim vasoconstrição e diminuição do fluxo sanguíneo nos tecidos.

Porém, em alguns tecidos, como é o caso do músculo esquelético, pode haver o predomínio de um outro tipo de receptor adrenérgico, os receptores β-adrenérgicos que, ao invés de iniciar, inibem os mecanismos de contração muscular, causando o relaxamento da musculatura lisa vascular, causando vasodilatação e aumento do fluxo sanguíneo nesse tipo de tecido. E essa é umas das explicações do porquê o fluxo sanguíneo diminui na maioria dos tecidos durante uma ativação em massa do sistema nervoso autônomo simpático, como acontece por exemplo durante uma “resposta luta ou fuga”, enquanto o fluxo sanguíneo nos músculos esqueléticos pode, na verdade, aumentar.

Porém, embora esse predomínio de receptores β-adrenérgicos na musculatura lisa vascular dos músculos esqueléticos pode explicar o aumento do fluxo sanguíneo nesse tecido, lembre-se que quando a gente começa a “lutar” ou a “fugir”, os músculos esqueléticos aumentam a sua atividade metabólica, o que acaba aumentando os fatores locais metabólicos que tem efeitos vasodilatadores, como a gente viu no vídeo anterior, o que contribui pro aumento do fluxo sanguíneo nos músculos esqueléticos em atividade.

Ah, e uma coisa importante, é saber que essa ativação em massa do sistema nervoso autônomo simpático só acontece em condições específicas, como por exemplo durante uma “resposta luta ou fuga”. Na maior parte do tempo, os neurônios pós-ganglionares simpáticos mantém uma frequência de disparos de potenciais de ação basal e liberam uma quantidade basal ou tônica de noradrenalina sobre a musculatura lisa vascular ajudando a manter uma certa contração basal dessa musculatura, ou seja, ajudando a manter o tônus basal da musculatura lisa vascular.

E aí, aumentando a liberação de noradrenalina é possível aumentar esse tônus, contrair mais a musculatura lisa vascular e diminuir o fluxo sanguíneo nos tecidos; e diminuindo a liberação desse neurotransmissor é possível diminuir esse tônus, relaxar a musculatura lisa vascular e aumentar o fluxo sanguíneo nos tecidos.

Mas, embora na maioria dos tecidos, as arteríolas sejam inervadas apenas pelo sistema nervoso autônomo simpático, em alguns tecidos específicos, como as glândulas salivares, as arteríolas podem ser inervadas pelo sistema nervoso autônomo (SNA) parassimpático.

Nesses tecidos, os neurônios pós-ganglionares parassimpáticos parecem liberar o neurotransmissor acetilcolina que pode então estimular a produção e a liberação local de substâncias vasodilatadoras.

Além disso, parece que alguns neurônios pós-ganglionares parassimpáticos podem liberar diretamente substâncias vasodilatadoras, como por exemplo o óxido nítrico (NO), causando diretamente o relaxamento da musculatura lisa vascular, contribuindo assim pro aumento do fluxo sanguíneo nesses tecidos.

Então percebam que o sistema nervoso autônomo pode tanto controlar o fluxo sanguíneo de maneira generalizada, como acontece durante uma ativação em massa do sistema nervoso autônomo simpático, como também pode controlar o fluxo sanguíneo de maneira mais específica, dependendo aí da função e das condições de cada tecido do organismo.

Agora, falando sobre os fatores endócrinos, o controle do fluxo sanguíneo por esses fatores já não dá pra ser assim específico, isso porque os hormônios produzidos pelas glândulas e tecidos endócrinos entram na circulação sanguínea e podem alcançar praticamente todos os tecidos do organismo.

E aí, dentre os principais hormônios que podem agir na musculatura lisa vascular, nós temos a adrenalina e a noradrenalina, a angiotensina II (ANGII), a vasopressina e o peptídeo natriurético atrial (PNA).

A adrenalina e a noradrenalina são produzidas e liberadas pelas glândulas adrenais também chamadas de suprarrenais (porque ficam em cima dos rins), quando ativadas pelo sistema nervoso autônomo simpático, como a gente viu numa videoaula anterior. E lembre-se, embora as glândulas adrenais secretem noradrenalina, a maior parte da sua secreção é de adrenalina.

Assim como a noradrenalina, a adrenalina pode agir tanto em receptores α1-adrenérgicos como em receptores β-adrenérgicos presentes na membrana plasmáticas das células musculares lisas vasculares, podendo causar vasoconstrição na maioria dos tecidos, e vasodilatação em alguns tecidos, como por exemplo no músculo esquelético.

Ah, e uma coisa que a gente pode destacar aqui é que embora a noradrenalina e a adrenalina possam agir em todos os tipos de receptores adrenérgicos, a noradrenalina parece ter mais afinidade pelos receptores α-adrenérgicos enquanto a adrenalina parece ter mais afinidade pelos receptores β-adrenérgicos. E aí, no repouso, a liberação tônica de noradrenalina pelos neurônios pós-ganglionares simpático mantém uma certa vasoconstrição no músculo esquelético, mantendo assim um baixo fluxo sanguíneo nesse tecido quando em repouso, mas durante um exercício físico ou durante uma “resposta luta ou fuga”, a adrenalina liberada pelas glândulas adrenais pode causar vasodilatação no músculo esquelético, aumentando o fluxo sanguíneo nesse tecido.

Já a angiotensina II (ANGII) é um hormônio produzido a partir de um peptídeo chamado angiotensinogênio que é produzido e liberado pelo fígado. Uma vez na circulação sanguínea, esse peptídeo pode ser clivado pela enzima renina, produzida e liberada pelos rins, formando a angiotensina I, a qual pode ser finalmente convertida em angiotensina II pela enzima conversora de angiotensina mais conhecida como ECA, a qual pode ser encontrada no próprio endotélio que reveste os vasos sanguíneos. Esse sistema hormonal que começa com a ação da enzima renina, a gente pode chamar de sistema renina-angiotensina.

A angiotensina II age em seus receptores específicos presentes na membrana plasmática das células musculares lisas vasculares iniciando os mecanismos de contração muscular, ou seja, causando vasoconstrição que pode diminuir o fluxo sanguíneo em praticamente todos os tecidos do organismo.

Já a vasopressina, também conhecida como hormônio antidiurético (ADH), é produzida e secretada pela glândula hipófise, mais especificamente pela neuro-hipófise. Esse hormônio age em seus receptores específicos presentes na membrana plasmática das células musculares lisas vasculares também iniciando os mecanismos de contração muscular, ou seja, também causa vasoconstrição que pode diminuir o fluxo sanguíneo em praticamente todos os tecidos do organismo.

E por fim, mas não menos importante, o peptídeo natriurético atrial (PNA) é produzido e secretado por células musculares cardíacas localizadas nos átrios do coração. Esse hormônio age em seus receptores específicos presentes na membrana plasmática das células musculares lisas vasculares inibindo os mecanismos contração muscular, ou seja, causa vasodilatação que pode aumentar o fluxo sanguíneo em praticamente todos os tecidos.

Percebam então como os fatores hormonais atuam de maneira mais generalizada no controle do fluxo sanguíneo, isso porque esse tipo de controle extrínseco do fluxo sanguíneo, visa, na verdade, ajudar mais na regulação da pressão arterial, pois como veremos nos próximos vídeos, a vasoconstrição e a vasodilatação dos “vasos de resistências”, ou seja, das arteríolas, impacta diretamente a resistência periférica total ao fluxo sanguíneo, o que, consequentemente, impacta diretamente a pressão arterial.

Pra saber mais sobre o controle da pressão arterial, o qual envolve não apenas a regulação dos vasos sanguíneos, mas também a regulação do coração, não perca os próximos vídeos!

Nesse momento, o mais importante é você entender que o fluxo sanguíneo pode ser controlado tanto por fatores intrínsecos, como a resposta miogênica; fatores locais, como os metabólitos; fatores neurais, como os neurotransmissores; e fatores endócrinos, como os hormônios.

Então, é o balanço entre todos esses fatores que vai determinar o estado de contração (ou tônus) da musculatura lisa vascular, principalmente das arteríolas, e é isso que vai determinar o fluxo sanguíneo em determinadas condições nos diferentes tecidos do organismo.

Em alguns órgãos, como o encéfalo e o coração, os fatores locais predominam sempre pra manter um fluxo sanguíneo apropriado em qualquer condição, afinal de contas se der ruim e faltar oxigênio e nutrientes nesses órgãos, você vai de arrasta pra cima e aí já era, né.

Já em outros órgãos, como os músculos esqueléticos, os fatores neurais podem predominar no repouso, enquanto os fatores locais podem predominar quando a atividade metabólica desse tecido aumenta.

Ou seja, o controle do fluxo sanguíneo depende da importância dos tecidos pra sobrevivência do organismo, e claro, das condições momentâneas do organismo, isto é, se tá em repouso, se tá em atividade, se tá com a pressão arterial baixa, se tá com a pressão arterial alta, etc.

Ah, e não se esqueça que todos os mecanismos que a gente explicou sobre o controle do fluxo sanguíneo são mecanismos de curto prazo, pra atender demandas momentâneas.

Porém, se uma demanda é necessária com frequência, podemos ter mecanismos de longo prazo pra aumentar ou diminuir o fluxo sanguíneo nos tecidos. E esses mecanismos envolvem a formação ou a eliminação de vasos sanguíneos nos tecidos, um assunto que a gente pode deixar pra um futuro vídeo aqui do canal.

Bom então, resumindo tudo o que a gente viu nesse vídeo, lembre-se que:

  • O controle extrínseco do fluxo sanguíneo nos tecidos se dá através de fatores neurais e fatores endócrinos.

  • Dentre os fatores neurais nós temos fatores vasoconstritores que diminuem o fluxo sanguíneo tecidual, como a noradrenalina liberada pelos neurônios simpáticos; e fatores vasodilatadores que aumentam o fluxo sanguíneo tecidual, como o óxido nítrico liberado pelos neurônios parassimpáticos.

  • Já dentre os fatores endócrinos nós também temos fatores vasoconstritores como a adrenalina, a angiotensina II e a vasopressina; e fatores vasodilatadores como o peptídeo natriurético atrial (PNA).

Bom, espero que esse vídeo tenha te ajudado de alguma forma, e se ele te ajudou não esquece de curtir e compartilhar esse vídeo com aquele seu amigo que também tá precisando estudar esse conteúdo.

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E como sempre qualquer dúvida pode deixar aí nos comentários que a gente tenta responder, beleza?

A gente se vê num próximo vídeo, abraço!

Sobre a autora

Mirian Ayumi Kurauti é apaixonada pela fisiologia humana, com uma trajetória acadêmica admirável. Ela se formou em Biomedicina pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), fez mestrado e doutorado em Biologia Funcional e Molecular com ênfase em Fisiologia na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), e ainda atuou como pesquisadora de pós-doutorado na mesma instituição. Além disso, já lecionou fisiologia humana na Universidade Estadual de Maringá (UEM) e biologia celular na UEL. A sua última experiência como professora de fisiologia humana foi na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Fundadora da MK Educação Digital Ltda (MK Fisiologia), atualmente, Mirian é a mente criativa por trás de todos os conteúdos publicados nas redes sociais da empresa.

Apaixonada pela docência, Mirian adora dar aulas de fisiologia humana, mas de um jeito mais descontraído e se diverte muito ensinando. Ela está sempre buscando aprender algo novo não só sobre fisiologia, mas sobre qualquer coisa sobre a vida, o universo e tudo mais. Por isso, é uma consumidora compulsiva de conteúdos de divulgadores científicos. Nas horas vagas, você pode encontrá-la na piscina, treinando e participando de competições de natação. Para Mirian, a vida só tem graça, se ela tiver desafios a serem superados. Hoje, o seu maior desafio é ajudar o maior número de estudantes a entender de verdade a fisiologia humana, principalmente através de suas videoaulas publicadas no canal do YouTube MK Fisiologia.

Foto da autora do post Mirian Ayumi Kurauti criadora do MK Fisiologia
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