[#1] OVÁRIOS: OVOGÊNESE E FOLICULOGÊNESE

Este post é a transcrição da videoaula publicada em nosso canal do YouTube "[#1] OVÁRIOS: OVOGÊNESE E FOLICULOGÊNESE".

TRANSCRIÇÕESSISTEMA ENDÓCRINO

Mirian Kurauti

1/20/202512 min read

E aí pessoal, tudo bem com vocês?

Nesse vídeo, a gente vai fazer uma introdução ao estudo de mais um par de glândulas endócrinas, os ovários.

Bom, pra quem tá chegando agora e inda não me conhece eu sou Mirian Kurauti, professora, mestre, doutora e criadora do canal MK Fisiologia, um canal que tem como principal objetivo descomplicar a fisiologia humana. Então se você tá precisando entender de verdade a fisiologia, já se inscreve no canal e ative as notificações pra você não perder os próximos vídeos que a gente postar por aqui.

Agora bora fazer uma introdução sobre os ovários?

Os ovários, são glândulas endócrinas que fazem parte do sistema endócrino e do sistema reprodutor feminino, e se localizam na cavidade peritoneal, juntamente com outros órgãos do sistema reprodutor feminino como as tubas uterinas e o útero.

Pra entender melhor a estrutura e a função dos ovários, a gente pode pegar um ovário e cortar ele no meio pra ver o que tem dentro dessa glândula. Na porção mais interna dos ovários, que a gente chama de medula, encontramos vasos sanguíneos que irrigam esse órgão, e preenchendo os espaços entre esses vasos a gente tem um tecido conjuntivo chamado de estroma, onde a gente encontra as chamadas células estromais. Na porção mais externa dos ovários, que a gente chama de córtex, o estroma preenche os espaços entre umas estruturas arredondadas chamadas de folículos ovarianos. Dentro de cada um desses folículos, encontramos um oócito ou ovócito, o gameta feminino pode ser fecundado por um espermatozoide, o gameta masculino.

Considerando um ovário de uma mulher em idade reprodutiva, ou seja, depois da puberdade mas antes da menopausa, a gente pode observar folículos ovarianos com seus ovócitos, em vários estágios de desenvolvimento: folículo primordial, primário, secundário, terciário, e até mesmo um folículo dominante ou maduro, cujo ovócito poderá ser fecundado por um espermatozoide. Esses folículos ovarianos são os principais responsáveis pela síntese e secreção dos hormônios ovarianos, antes da ovulação que acontece mais ou menos na metade do ciclo menstrual.

Então, se a gente conseguisse pegar um ovário mais ou menos no meio do ciclo menstrual, seria possível observar o rompimento de um folículo maduro liberando o seu ovócito, ou seja, a gente poderia observar a ovulação.

E se a gente conseguisse pegar um ovário depois da ovulação, seria possível observar uma estrutura derivada do que sobrou do folículo maduro no ovário, uma estrutura que a gente chama de corpo lúteo, o principal responsável pela síntese e secreção dos hormônios ovarianos depois da ovulação.

Um detalhe interessante sobre o corpo lúteo, é que se o ovócito liberado for fecundado por um espermatozoide, iniciando a gravidez, o corpo lúteo continua nos ovários sintetizando e secretando seus hormônios. Mas, se o ovócito liberado não for fecundado, o corpo lúteo regride e vira tipo uma cicatriz que a gente chama de corpo albicans, marcando o fim de um ciclo menstrual e o início de um novo ciclo.

Então, o que a gente pode concluir até aqui é que os ovários tem basicamente três funções:

  1. oogênese, ou ovogêse, que nada mais é do que a geração de um ovo ou um óvulo, ou seja, geração de um gameta feminino;

  2. foliculogênese, que nada mais é do que o desenvolvimento dos folículos, um processo que acompanha a ovogênese;

  3. e produção dos hormônios ovarianos, principalmente o estrogênio e a progesterona, uma função que como vimos depende da foliculogênese, isto é, do desenvolvimento dos folículos até o corpo lúteo.

Nesse vídeo, a gente falar sobre as duas primeiras funções dos ovários, a ovogênese e a foliculogênese, pra depois, no próximo vídeo, a gente focar mais na produção dos hormônios ovarianos, beleza?

Uma coisa importante pra gente destacar antes de falar sobre a ovogênese e a foliculogênese, é que os dois processos acontecem simultaneamente, mas pra entender melhor, muitas vezes esses processos são explicados de forma separados, primeiro a ovogênese e depois a foliculogênese, e é isso que gente vai fazer assim aqui nesse vídeo.

Então começando pela ovogênese, lembre-se que esse processo que acontece nos ovários é um processo semelhante à espermatogênese que acontece nos testículos.

Semelhante, mas não igual.

Como vimos em um vídeo anterior, nos testículos, a espermatogênese se inicia quando o menino entra na puberdade. Já nos ovários, as primeiras etapas da ovogênese acontecem antes mesmo do nascimento da menina, quando ela ainda tá lá dentro da barriga da mãe, quando ela ainda é apenas um feto.

Assim, enquanto a divisão mitótica das espermatogônias, nos meninos, começa na puberdade e pode continuar até o final da vida, nas meninas, a divisão mitótica das oovogônias ou ovogônias que vão dar origem aos ovócitos, começa e termina antes dela nascer, ou seja, começa e termina no período fetal. Portanto a multiplicação por mitose das ovogônias se limita apenas ao período fetal da menina, ou seja, existe um limite de mitoses que podem acontecer e, portanto, vai existir um limite de ovogônias pra se diferenciarem em ovócitos primários.

Essa diferenciação também acontece durante o período fetal da menina, e ainda nesse período os ovócitos primários começam a divisão meiótica, pra a partir de uma célula com 46 cromossomos, gerar uma célula com 23 cromossomos, o óvulo, que poderá ser fecundado por um espermatozoide.

Esses ovócitos primários começam a meiose que, lembre-se, é dividida em meiose I e II, mas não conseguem nem completar a meiose I. E assim permanecem estacionados na meiose I durante toda infância até a chegada da puberdade da menina.

Na puberdade, a ovogênese pode continuar, mas não vai ser todos os ovócitos primários que vão conseguir finalizar a ovogênese. Na verdade, a cada mais ou menos 28 dias, apenas um ovócito primário vai conseguir termina a miose I, gerando assim duas células filhas. Mas, como uma das células filhas fica com quase tudo da célula mãe, só ela é que vai dar origem a um ovócito secundário, a outra célula filha que fica com quase nada da célula mãe, vai dar origem ao primeiro corpo ou corpúsculo polar, que é tipo um resto de célula que pode ser eliminado.

O ovócito secundário, que agora já pode ser chamado de óvulo, inicia a meiose II, mas não completa essa meiose. Na verdade, o óvulo só vai completar a miose II se ele for fecundado por um espermatozoide. E aí, se isso acontecer, vai ser gerado mais duas células filhas. Mas, de novo, como uma dessas células fica com quase tudo da célula mãe, só ela é que vai dar origem ao óvulo maduro, a outra célula filha que fica com quase nada da célula mãe, vai dar origem ao segundo corpo ou corpúsculo polar, que assim como o primeiro corpo polar pode ser eliminado.

Bom, então todo esse processo de divisão celular das ovogônias até chegar no óvulo maduro, é o que a gente chama de ovogênese. Mas nos ovários, a ovogênese não acontece sozinha, a foliculogênese acompanha a ovogênese.

Portanto, a foliculogênese, que nada mais é do que o desenvolvimento dos folículos ovarianos, também começa antes do nascimento da menina, no período fetal, quando algumas células estromais que ficam ao redor dos ovócitos primários começam a se diferenciar e formar uma camada de células que se associam aos ovócitos primários, as células pré-granulosas. Assim, o ovócito primário mais a camada de células pré-granulosas dão origem ao primeiro folículo ovariano, o folículo primordial.

E só uma informação interessante, é que essas células pré-granulosas vão fazer meio que a função das células de Sertoli lá nos testículos, ou seja, vão nutrir os ovócitos e fornecer todos os fatores necessários pra ovogênese.

Bom, mas voltando, durante o período fetal e durante a infância da menina, muitos folículos primordiais podem continuar o seu desenvolvimento e as células pré-granulosas crescem e se tornam cuboides, com forma de cubo, podendo agora ser chamadas de células da granulosa, as quais secretam glicoproteínas ao redor do ovócito primário formando a famosa zona pelúcida, e o folículo primordial passa então a ser chamado de folículo primário.

Mas durante o período fetal e durante infância esses folículos não conseguem continuar se desenvolvendo e muitos desses folículos regridem, um processo que a gente chama de atresia. E dessa forma muitos folículos são perdidos durante o período fetal e durante a infância, e a menina chega na puberdade com apenas cerca de 300 a 400 mil folículos primordiais e primários, ou seja, ela chega na puberdade com apenas 300 a 400 mil ovócitos primários com a chance de terminar a ovogênese e enfim se tornar um óvulo maduro.

Na puberdade, o desenvolvimento dos folículos primordiais e primários continua, mas não de todos os folículos ao mesmo tempo. Na verdade, começa o que a gente chama de ondas foliculares, ou seja, de tempo em tempo, um gruo de folículos primordiais e primários conseguem avançar no desenvolvimento que agora pode ser dividido em duas fases: uma fase de desenvolvimento lento e uma fase de desenvolvimento rápido dos folículos.

A fase lenta de desenvolvimento dos folículos primários, começa com a proliferação das células da granulosa formando assim mais camadas envolta do ovócito primário, formando o que a gente chama de folículo secundário.

Ainda durante a fase lenta de desenvolvimento, as células da granulosa continuam se proliferando e formando mais camadas. Nessa etapa, essas células da granulosa começam a secretar alguns fatores parácrinos que agem nas células estromais vizinhas e induzem uma diferenciação dessas células em células tecais ou células da teca, que vão formar uma camada de células mais achatadas do lado de fora do folículo. Nesse estágio de desenvolvimento, o folículo secundário pode ser chamado de folículo pré-antral, porque ainda não apareceu o antro nesse folículo.

-Mas o que que é antro?

Calma, não se desespere. Enquanto as células da granulosa do folículo pré-antral continuam se proliferando e formando mais camadas envolta do ovócito primário, começa a se acumular um líquido entre essas células, formando finalmente o que a gente chama de antro, e esse folículo terciário, pode então ser chamado de folículo antral inicial.

Nesse estágio da foliculogênese, já podemos encontrar vasos sanguíneos recém formados ao redor dos folículos antrais iniciais graças aos fatores angiogênicos, isto é, fatores secretados pelas células da granulosa que estimulam a formação de vasos sanguíneos ao redor folículos.

Com maior irrigação, o antro ou líquido antral continua se acumulando e vai afastando as células da granulosa do ovócito primário que fica praticamente boiando nesse líquido, porém algumas células da granulosa ainda permanecem juntas ao ovócito primário formando o cumulos oophorus ou cúmulo oóforo o qual mantém o ovócito primário associado as camadas de células da granulosa.

Do folículo antral inicial até esse folículo antral final, o folículo sai de 0,2 milímetros pra cerca de 2 a 5 milímetros de diâmetro. E agora sim, os folículos antrais finais estão prontos pra começar a fase rápida de desenvolvimento que acontece dentro de um ciclo menstrual.

-Ué mas pera aí, toda essa fase lenta de desenvolvimento dos folículos primários, secundários até esses folículos antrais finais acontece fora do ciclo menstrual?

Sim, toda essa fase lenta de desenvolvimento folicular dura cerca de 85 dias, o que é muito mais dias do que os cerca de 28 dias que dura um ciclo menstrual. Dessa forma, os folículos antrais finais que vão se desenvolver em um determinado ciclo menstrual, começam o seu desenvolvimento cerca de 85 dias antes do início desse determinado ciclo.

-Tá professora, então quando começa o ciclo menstrual, esses folículos começam a fase rápida de desenvolvimento. Mas como que esse desenvolvimento rápido acontece?

Bom, no início de um ciclo menstrual, a secreção do hormônio folículo estimulante ou FSH pela adeno-hipófise, estimula o desenvolvimento rápido dos folículos antrais finais. Porém nem todos os folículos do grupo que conseguiram se desenvolver nessa onda folicular vão terminar o seu desenvolvimento.

Na verdade, apenas um folículo, chamado de folículo dominante é que vai se desenvolver e se tornar o folículo maduro, conhecido como folículo de Graaf, que pode chegar a mais de 30 milímetros de diâmetro, e pode produzir e secretar grandes quantidades de estrogênio.

Esse estrogênio então estimula a secreção de um outro hormônio da adeno-hipófise, o hormônio luteinizante ou LH, um hormônio que vai estimular o ovócito primário a terminar a meiose I e começar a meiose II gerando assim o ovócito secundário ou óvulo que vai ficar parado na meiose II.

Ao mesmo tempo, o LH também estimula o rompimento do folículo maduro pra liberar o óvulo, ou seja, estimula a ovulação, que acontece mais ou menos na metade do ciclo menstrual.

Após a ovulação, o que restou do folículo maduro rompido, passa por um processo de transformação pra formar o corpo lúteo, um processo que a gente chama de luteinização e é induzido pelo LH, por isso hormônio luteinizante. Se o óvulo for fecundado na tuba uterina, o embrião vai se implantar no útero e iniciar a formação da placenta que produz um hormônio muito parecido com o LH, a gonadotrofina coriônica humana ou hCG. Esse hormônio consegue manter o corpo lúteo produzindo progesterona e estrogênio durante os primeiros três meses de gravidez.

Mas se o óvulo não for fecundado, o corpo lúteo regride em cerca de 12 a 14 dias após a ovulação, formando o corpo albicans. E se isso acontece, os níveis de progesterona e estrogênio diminuem drasticamente, marcando assim o fim de um ciclo e o início de um próximo ciclo menstrual.

Então quando a gente estuda a foliculogênese, principalmente a fase rápida de desenvolvimento folicular que acontece durante um ciclo menstrual, a gente percebe que é tudo regulado por hormônios do eixo hipotálamo-hipófise.

Portanto, no próximo vídeo a gente vai dar mais detalhes sobre a regulação hormonal do ciclo menstrual.

Resumindo tudo o que a gente viu nesse vídeo, lembre-se que:

  • A ovogênese é o processo que dá origem ao óvulo maduro, o gameta feminino, que pode ser fecundado por um espermatozoide, o gameta masculino, e esse processo é acompanhado pela foliculogênese.

  • A foliculogênese é o processo de desenvolvimento dos folículos, desde o folículo primordial até o folículo maduro e o corpo lúteo. São esses folículos e o corpo lúteo que sintetizam e secretam os hormônios ovarianos, principalmente o estrogênio e a progesterona.

  • O desenvolvimento folicular ou foliculogênese pode ser dividido em uma fase lenta e uma fase rápida de desenvolvimento.

  • A fase rápida de desenvolvimento corresponde ao desenvolvimento dos folículos antrais até um folículo maduro.

  • E por fim, não se esqueça que essa fase rápida de desenvolvimento folicular, a ovulação e o desenvolvimento do corpo lúteo, são dependentes dos hormônios da adeno-hipófise FSH e LH, cuja secreção varia ao longo do ciclo menstrual, que a gente vai ver no próximo vídeo, não perca!

E aí, gostou do vídeo? Se gostou não esquece de curtir e compartilhar com aquele seu amigo que também tá precisando estudar esse conteúdo. E se você já me acompanha por aqui já sabe que você pode se tornar membro do canal e ter benefícios exclusivos, mas talvez o que você ainda não sabe é que agora você pode adquirir o nosso e-book com questões comentadas sobre a fisiologia do sistema endócrino pra ajudar você a arrasar na prova e não ser arrasado. Vou deixar o link desse e-book aqui na descrição do vídeo (e aqui).

Bom, a gente vai ficando por aqui. Qualquer dúvida pode deixar aí nos comentários que a gente tenta responder, beleza? A gente se vê num próximo vídeo, abraço!

Sobre a autora

Mirian Ayumi Kurauti é apaixonada pela fisiologia humana, com uma trajetória acadêmica admirável. Ela se formou em Biomedicina pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), fez mestrado e doutorado em Biologia Funcional e Molecular com ênfase em Fisiologia na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), e ainda atuou como pesquisadora de pós-doutorado na mesma instituição. Além disso, já lecionou fisiologia humana na Universidade Estadual de Maringá (UEM) e biologia celular na UEL. A sua última experiência como professora de fisiologia humana foi na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Fundadora da MK Educação Digital Ltda (MK Fisiologia), atualmente, Mirian é a mente criativa por trás de todos os conteúdos publicados nas redes sociais da empresa.

Apaixonada pela docência, Mirian adora dar aulas de fisiologia humana, mas de um jeito mais descontraído e se diverte muito ensinando. Ela está sempre buscando aprender algo novo não só sobre fisiologia, mas sobre qualquer coisa sobre a vida, o universo e tudo mais. Por isso, é uma consumidora compulsiva de conteúdos de divulgadores científicos. Nas horas vagas, você pode encontrá-la na piscina, treinando e participando de competições de natação. Para Mirian, a vida só tem graça, se ela tiver desafios a serem superados. Hoje, o seu maior desafio é ajudar o maior número de estudantes a entender de verdade a fisiologia humana, principalmente através de suas videoaulas publicadas no canal do YouTube MK Fisiologia.

Foto da autora do post Mirian Ayumi Kurauti criadora do MK Fisiologia
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