
Pra que serve o sininho da boca? Pra que serve a úvula?
Este post é baseado no vídeo "Qual a função da úvula?" publicado em nosso canal do YouTube. Caso prefira assistir o vídeo é só rolar até o final do post ;)
CURIOSIDADES
Mirian Kurauti
7/16/20245 min read


Se você abrir a boca, na frente de um espelho, e olhar bem lá no fundo, você vai ver uma pequena estrutura pendurada. Essa pequena estrutura é chamada de úvula, uma palavra que vem do latim e significa “pequeno cacho de uva” ou “pequena uva”.
Mas afinal, pra que serve essa “pequena uva” que fica pendurada lá no fundo do céu da boca? Afinal, pra que serve a úvula?
Pra responder essa pergunta, a gente precisa pelo menos conhecer a úvula.
A úvula é basicamente uma extensão do palato mole uma estrutura que em conjunto com o palato duro, formam o céu da boca.
Experimente pressionar a sua língua contra o céu da sua boca.
Começando pela frente, primeiro você vai sentir o palato duro. Mas, seguindo em direção a sua garganta, bem lá no fundo do céu da boca, você vai perceber uma estrutura mais macia, esse é o palato mole.
Em conjunto, o palato duro e o palato mole separam a cavidade oral da cavidade nasal.
Imagine você comendo um pastel de frango com catupiri, se essa separação não existisse, esse catupiri todo estaria não apenas na sua cavidade oral mas também na sua cavidade nasal, e você não poderia respirar até terminar de mastigar e engolir o pedaço desse pastel.
Se a gente considerar a úvula como uma simples extensão do palato mole, a sua função pode ser bastante óbvia.
Durante a deglutição de algum alimento sólido ou líquido, a úvula é empurrada para trás e para cima, ajudando a impedir a subida desse alimento em direção a cavidade nasal.
"Ah então é essa a função da úvula, certo?"
Se todos os vertebrados apresentassem essa extensão do palato mole, ou seja, se todos os vertebrados apresentassem a úvula, a gente poderia encerrar o vídeo aqui. Mas o problema é que nós, seres humanos, somos talvez os únicos vertebrados com esse pedaço extra de tecido pendurado no final do palato mole.
Embora uma pequena estrutura, semelhante a úvula, tenha sido observada em alguns babuínos, essa estrutura ainda é muito discreta quando a gente compara com a nossa úvula.
O mais interessante é que mesmo sem a úvula, esses animais não sofrem com a parte da comida indo parar na cavidade nasal. Ou seja, dá pra evitar que que o catupiri do pastel suba pra suas narinas sem a úvula.
"Mas então a úvula não serve pra nada? Se eu tirar ela, o que pode acontecer?"
Como a úvula não é uma estrutura que a gente encontra em outros animais, a gente precisa estudar ela em humanos. Mas o problema de quere estudar a úvula é saber quem aceitaria tirar a úvula pra gente entender as consequências da remoção dessa estrutura.
Só que por incrível que pareça, a gente não precisa sair por aí perguntando quem aceitaria remover a úvula. Algumas pessoas escolhem fazer isso, principalmente pessoas com apneia obstrutiva do sono, uma condição na qual a faringe (o tubo que forma a nossa garganta) acaba ficando mais estreita podendo até colapsar em alguns momentos durante o sono. Isso dificulta ou até mesmo bloqueia a passagem de ar, e é isso que a gente chama de apneia (bloqueio da respiração).
Esse estreitamento ou colapso da faringe, geralmente ocorre devido a um aumento exagerado de estruturas da própria faringe, do palato mole e da úvula. Por isso, um dos tratamentos pra quem tem apneia obstrutiva do sono, é a uvulopalatofaringoplastia, uma cirurgia que remove a úvula, uma porção do palato mole e frequentemente algum outro tecido que pode bloquear a passagem de ar pela faringe durante o sono.
Após a remoção da úvula e de uma pequena parte do palato mole, algumas pessoas até sofrem com um pouco de comida e bebida subindo em direção ao fundo da cavidade nasal de vez em quando. Outras pessoas também relatam pequeno vazamento de ar pelas narinas quando tentam encher uma bexiga, por exemplo.
No entanto esses problemas desaparecem depois de alguns meses após a cirurgia.
Porém, uma consequência que pode permanecer, é a sensação de garganta seca, principalmente durante a fala.
Analisando as úvulas retiradas nessa cirurgia no microscópio, os cientistas observaram que essa estrutura é basicamente um pacotinho cheio de glândulas que produzem uma saliva mais fluida, menos espessa, que banha a faringe e a laringe (um outro tubo onde ficam localizadas as pregas vocais).
Através de uma endoscopia nasal, onde uma pequena câmera é introduzida pelas narinas, observa-se que durante a fala, a úvula balança pra trás e pra frente enquanto secreta saliva, que banha a faringe, a laringe e as pregas vocais.
Portanto, sem a úvula, a fala pode se tonar desconfortável, devido à falta de lubrificação das estruturas envolvidas na produção dos sons da fala.
Essas evidências apoiam a hipótese de que a principal função da úvula seja de fato lubrificar, principalmente as pregas vocais, auxiliando na fala. E se a gente parar pra pensar, uma úvula bem desenvolvida só foi encontrada em nós, seres humanos, que usamos a linguagem falada como principal forma de comunicação.
Mas, claro que existe outras possíveis funções propostas pra úvula. Por exemplo, análises microscópicas dessa estrutura revelou a presença de células do sistema imunológico, o que sugere alguma função de defesa contra possíveis agentes causadores de doenças.
Bom, mas resumindo a história, as evidências indicam até o momento que a principal função da úvula é basicamente lubrificar a faringe, a laringe e as pregas vocais secretando saliva, principalmente enquanto a gente fala ou canta, evitando desconforto e até mesmo lesões que podem acontecer devido ao ressecamento dessas estruturas.
Espero que você tenha gostado desse post. Se você gostou, compartilhe com seus amigos que também gostam de curiosidades como essa.
Ah, aqui embaixo eu deixo a versão desse post em vídeo caso queira compartilhar esse conteúdo nesse formato.
A gente se vê num próximo post, abraço!
Referências
Site:
Etimologia (https://www.etymonline.com/word/uvula)
Artigos científicos:
- Olofsson K, Mattsson C, Hammarström ML, Hellström S. Structure of the human uvula. Acta Otolaryngol. 1999;119(6):712-7. doi: 10.1080/00016489950180685 (https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/10587007/).
- Back GW, Nadig S, Uppal S, Coatesworth AP. Why do we have a uvula?: literature review and a new theory. Clin Otolaryngol Allied Sci. 2004 Dec;29(6):689-93. doi: 10.1111/j.1365-2273.2004.00886.x (https://onlinelibrary.wiley.com/doi/abs/10.1111/j.1365-2273.2004.00886.x)
- Darda, MD. Bringing Evolution into Anatomy and Physiology: The Uvula and the Story It Tells. HAPS Educator. Vol 20, No. 4, pp. 71-75. Published December 15, 2016. doi: 10.21692/haps.2016.035 (https://www.researchgate.net/publication/312391275_Bringing_Evolution_into_Anatomy_and_Physiology_The_Uvula_and_the_Story_It_Tells).


Sobre a autora
Mirian Ayumi Kurauti é apaixonada pela fisiologia, com uma trajetória acadêmica admirável. Ela se formou em Biomedicina pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), fez mestrado e doutorado em Biologia Funcional e Molecular com ênfase em Fisiologia pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), e ainda atuou como pesquisadora de pós-doutorado na mesma instituição. Além disso, já lecionou fisiologia humana na Universidade Estadual de Maringá (UEM) e biologia celular na UEL. Atualmente, é professora de fisiologia humana na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) e a mente criativa por trás do MK Fisiologia.
Apaixonada pela docência, Mirian adora dar aulas de fisiologia, mas de um jeito mais descontraído e se diverte muito ensinando fisiologia. Ela está sempre buscando aprender algo novo não só sobre fisiologia, mas sobre qualquer coisa sobre a vida, o universo e tudo mais. Por isso, é uma consumidora compulsiva de conteúdos de divulgadores científicos. Nas horas vagas, você pode encontrá-la na piscina, treinando e participando de competições de natação. Para Mirian, a vida só tem graça, se ela tiver desafios a serem superados. Hoje, o seu maior desafio é ajudar o maior número de estudantes a entender de verdade a fisiologia humana.



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