
Por que a menta refresca?
Este post é baseado no vídeo "Por que a menta refresca?" publicado em nosso canal do YouTube. Caso prefira assistir o vídeo é só rolar até o final do post ;)
CURIOSIDADES
Mirian Kurauti
7/16/20245 min read


Se você já experimentou alguma bala ou chiclete de menta, você deve ter percebido que esse tipo de bala ou chiclete causa uma sensação refrescante na sua boca. E se você tomar um copo de água logo em seguida, você vai ter a sensação de que a água parece muito mais gelada do que realmente tá.
Mas, você já parou pra pensar por que balas e chicletes de menta refresca tanto a nossa boca?
As balas e os chicletes de menta contêm uma substância extraída de plantas do gênero Mentha, como a Mentha spicata, que a gente costuma chamar simplesmente de menta, e a Mentha piperita que a gente costuma chamada de hortelã.
Essa substância, extraída da menta e da hortelã que encontramos em balas e chicletes, é o Mentol, e é essa substância que causa uma sensação refrescante na sua boca, pois ele ativa os mesmos neurônios que as temperaturas mais baixas ativam.
"Como assim?"
Na nossa pele e nas nossas mucosas, existem muitos neurônios responsáveis pela detecção de baixas temperaturas. Quando colocamos uma pedra de gelo na nossa boca, esses neurônios geram impulsos nervosos que são conduzidos até o cérebro, o qual interpreta esses impulsos nervosos gerando uma sensação de frio na sua boca. Isso acontece pois nesses neurônios existem proteínas específicas, conhecidas como TRPM8, que são ativadas em baixas temperaturas. Quando essas proteínas são ativadas, impulsos nervosos são gerados e conduzidos até o cérebro.
"Mas, onde entra o mentol nessa história toda?"
O mentol é uma substância que se liga na proteína TRPM8, e ativa essa proteína. Isso inicia a geração dos impulsos nervosos nos neurônios responsáveis pela detecção de baixas temperaturas. Esses impulsos são então conduzidos até o cérebro que vai interpretar essa informação da mesma forma que ele interpretou quando os impulsos nervosos foram gerados pela pedra de gelo. E é por isso que você tem a sensação de frio na sua boca quando você coloca qualquer coisa que tenha em sua composição o mentol.
Isso inclui balas, chicletes e até mesmo a sua pasta de dente!
Uma outra informação interessante sobre o mentol é que além de simplesmente ativar os neurônios responsáveis pela detecção de baixas temperaturas, ele deixa esses neurônios mais sensíveis, isto é, os neurônios agora podem ser ativados mesmo quando a temperatura não está tão baixa.
Isso significa que se você tomar um copo de água que esteja em temperatura ambiente, essa temperatura já vai poder ativar os neurônios responsáveis pela detecção de baixas temperaturas, os quais irão mandar impulsos nervosos pro seu cérebro e você vai ter a sensação de uma temperatura mais fria do que a temperatura real da água.
E se você tomar um copo de água trincando, os neurônios responsáveis pela detecção de baixas temperaturas, vão gerar muito mais impulsos nervosos, que ao chegar lá no seu cérebro serão interpretados como uma temperatura extremamente baixa. Por isso você tem a sensação de que a água está muito, mas muito fria mesmo. Legal né?
Ah, e da mesma forma que o mentol ativa os neurônios responsáveis pela detecção de baixas temperaturas, a capsaicina, uma substância encontrada em pimentas, como a pimenta Carolina Reaper, a pimenta mais ardida do mundo, pode ativar neurônios responsáveis pela detecção de altas temperatura.
Nesses neurônios existem proteínas específicas conhecidas como TRPV1, que são ativadas em temperaturas mais elevadas. Então, quando tomamos uma sopa bem quente, sua alta temperatura ativa a proteína TRPV1, dando início a geração dos impulsos nervosos nesses neurônios. Quando esses impulsos nervosos chegam lá no cérebro, você tem a sensação de calor na sua boca.
E advinha o que a capsaicina faz? Ela se liga na proteína TRPV1 e ativa essa proteína. Isso inicia a geração dos impulsos nervosos nos neurônios responsáveis pela detecção de altas temperaturas. Esses impulsos são então conduzidos até o cérebro, que vai interpretar essa informação da mesma forma que ele interpretou quando os impulsos nervosos foram gerados pela sopa.
Agora toda vez que você tiver comendo aquela comida bem apimentada, lembre-se da capsaicina ativando as proteínas TRPV1 dos seus neurônios responsáveis pela detecção de altas temperaturas. E toda vez que você tomar aquele suco de abacaxi com hortelã, lembre-se do mentol ativando as proteínas TRPM8 dos seus neurônios responsáveis pela detecção de baixas temperaturas.
Espero que você tenha gostado desse post. Se você gostou, compartilhe com seus amigos que também gostam de curiosidades como essa.
Ah, aqui embaixo eu deixo a versão desse post em vídeo caso queira compartilhar esse conteúdo nesse formato.
A gente se vê num próximo post, abraço!
Referências
Sites:
https://www.thoughtco.com/why-mint-makes-mouth-feel-cold-607450
https://www.wired.com/2010/09/why-does-spicy-food-taste-hot/
Artigos científicos:
García-Ávila, M., & Islas, L. D. (2019). What is new about mild temperature sensing? A review of recent findings. Temperature (Austin, Tex.), 6(2), 132–141. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC6601417/
Yang, F., & Zheng, J. (2017). Understand spiciness: mechanism of TRPV1 channel activation by capsaicin. Protein & cell, 8(3), 169–177. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5326624/


Sobre a autora
Mirian Ayumi Kurauti é apaixonada pela fisiologia, com uma trajetória acadêmica admirável. Ela se formou em Biomedicina pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), fez mestrado e doutorado em Biologia Funcional e Molecular com ênfase em Fisiologia pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), e ainda atuou como pesquisadora de pós-doutorado na mesma instituição. Além disso, já lecionou fisiologia humana na Universidade Estadual de Maringá (UEM) e biologia celular na UEL. Atualmente, é professora de fisiologia humana na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) e a mente criativa por trás do MK Fisiologia.
Apaixonada pela docência, Mirian adora dar aulas de fisiologia, mas de um jeito mais descontraído e se diverte muito ensinando fisiologia. Ela está sempre buscando aprender algo novo não só sobre fisiologia, mas sobre qualquer coisa sobre a vida, o universo e tudo mais. Por isso, é uma consumidora compulsiva de conteúdos de divulgadores científicos. Nas horas vagas, você pode encontrá-la na piscina, treinando e participando de competições de natação. Para Mirian, a vida só tem graça, se ela tiver desafios a serem superados. Hoje, o seu maior desafio é ajudar o maior número de estudantes a entender de verdade a fisiologia humana.



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