E aí pessoal, tudo bem com vocês?

Atendendo a pedidos, nesse vídeo a gente vai falar um pouco sobre alostasia ou alostase.

Bom, pra quem tá chegando agora, eu sou Mirian Kurauti, professora, mestre, doutora e criadora do canal MK Fisiologia, um canal que tem como principal objetivo descomplicar a fisiologia humana. Porque como eu sempre digo, fisiologia não precisa ser difícil. Então se você tá precisando entender de verdade a fisiologia, já se inscreve no canal e ative as notificações pra você não perder os próximos vídeos que a gente postar por aqui.

Agora sem mais delongas, bora explicar o que é alostasia ou alostase?

Umas das maneiras mais simples de tentar entender o significado de uma palavra, é olhar primeiro pra sua origem. Então, alostase vem que grego, ALLO = diferente ou variável e STASIS = estado ou condição de estabilidade, ou seja, levando ao pé da letra, alostase seria uma “condição de estabilidade variável”.

Mas lendo alguns artigos sobre alostase, que inclusive eu vou deixar aqui na descrição do vídeo, esse termo, na verdade, parece ter um significado um pouco mais complexo. Nesses artigos, alostase é definida mais como um processo e não como uma condição. Então a alostase seria um processo pelo qual o organismo consegue variar determinados parâmetros do meio interno pra promover uma melhor adaptação do organismo principalmente quando exposto a desafios, ou melhor, quando exposto a estresse físico, metabólico ou até mesmo psicológico.

Em outras palavras, na alostase o set point ou ponto de ajuste de um ou mais parâmetros do meio interno podem ser alterados de acordo com as novas demandas do organismo, mas sempre com o objetivo de manter os parâmetros do meio interno, mais importantes pra sobrevivência do organismo, constantes, ou melhor, quase constantes, em homeostase.

Então a alostase seria um processo pelo qual o organismo muda um ou mais parâmetros do meio interno pra poder manter outros parâmetros que não podem variar muito, relativamente constantes, em homeostase. Por exemplo, imagine que você tá caminhando em um parque e de repente você vê uma cobra. Nesse momento, inicia o que chamamos de “resposta luta ou fuga”, e o ponto de ajuste de vários parâmetros do meio interno são alterados, ou seja, o ponto de juste da pressão arterial aumenta, o ponto de ajuste dos níveis de glicose no sangue ou glicemia também aumenta, e enquanto você tiver sob estresse, o ponto de ajuste desses parâmetros permanece elevado, e o organismo consegue manter esses parâmetros mais estáveis quase contantes, só que agora em um novo ponto de ajuste. Portanto, nesse momento, o organismo se adapta pra “luta ou fugir” da cobra, caso seja necessário.

Em qualquer cenário, você vai precisa usar os músculos esqueléticos, que vão precisar de mais glicose. Como a glicemia tá mais elevada, mesmo se os músculos começarem a captar mais glicose, o novo ponto de ajuste da glicemia dá conta de fornecer mais glicose pra esses músculos.

Perceba então que houve uma mudança em algumas variáveis, mas o organismo continua em uma condição de estabilidade quase constante, ou seja, continua em homeostase, mas agora em um novo ponto de ajuste da glicemia e da pressão arterial, por exemplo.

Quando o estresse acabar, o ponto de ajuste da pressão arterial e da glicemia pode voltar pro valor que tava antes do estresse começa, adaptando novamente o organismo pra continuar em uma condição de estabilidade quase constante, pra continuar em homeostase, mas agora em um ponto ajuste que esteja de acordo com as necessidades do organismo sem estresse.

-Tá professora, então a ideia da alostase é manter uma condição de estabilidade quase constante, mas variando os pontos de ajustes conforme os desafios e os estresses diários que o organismo pode enfrentar. Mas então, qual é exatamente a diferença entre alostase e homeostase?

Bom, agora depende de qual conceito de homeostase você vai considerar. Os artigos que definem o termo alostase, apresentam uma definição muito superficial de homeostase, como se a homeostase fosse apenas a manutenção da estabilidade de todos os parâmetros do meio interno em um ponto de ajuste fixo, não permitindo mudanças.

Mas a definição de homeostase estabelecida pelo fisiologista Walter Cannon, lá em 1929-1932, não era essa definição superficial. Na verdade, ele mesmo escreveu em um de seus artigos que a palavra homeostase não significa algo imóvel ou imutável, significa uma condição que pode variar, mas que é relativamente constante.

Lembra da origem da palavra homeostase que vem do grego, HOMEO = semelhante ou similar, não é HOMO = igual, ou seja, homeostase é uma condição de estabilidade quase constante do meio interno, permite alguma variação dos parâmetros do meio interno.

Em um artigo bem interessante publicado em uma revista científica voltada mais pra discutir o ensino de fisiologia, os autores escrevem que “homeostase significa manter as coisas estáveis, mas não manter TUDO estável”. Então muitas vezes pra manter um parâmetro do meio interno muito importante que precisa permanecer mais estável, outro parâmetro do meio interno precisa variar. E é por isso que os mecanismos de controle homeostáticos do organismo parecem se organizar em uma hierarquia.

Por exemplo, às vezes o cálcio armazenado nos ossos precisar sair dos ossos pra manter os níveis de cálcio no sangue mais estável. Ou seja, os níveis de cálcio dos ossos podem alterar pra manter os níveis de cálcio do sangue relativamente estáveis. Outras vezes, o organismo precisa eliminar mais gás carbônico (CO2), e diminuir a concentração desse gás no sangue, pra manter o pH do sangue mais estável. Ou seja, os níveis de CO2 podem alterar pra manter o pH do sangue relativamente estável.

Portanto, a homeostase é um equilíbrio desequilibrado, uma estabilidade instável, e não uma condição fixa do organismo.

Além disso, a definição mais completa de homeostase aceita alterações nos pontos de ajustes que podem acontecer frente a desafios e estresse pra que o organismo se adapte quando necessário. Dessa forma, se a gente considerar a definição mais completa de homeostase, a alostase cairia dentro dessa definição. E talvez seja por isso que a gente não encontra esse conceito nos livros de fisiologia. A gente encontra o conceito de homeostase, o qual é considerado o conceito fundamental da fisiologia.

Antes de finalizar, é importante deixar claro que a utilização ou não desse termo pode ainda tá em discussão na fisiologia. Agora, se esse termo já é utilizado em outras áreas de estudo, aí eu não tenho esse conhecimento. Eu quis trazer aqui apenas uma discussão sobre a utilização desse termo na fisiologia, beleza?

Bom, a gente vai ficando por aqui. Se você gostou desse vídeo não esquece de curtir e compartilhar com aquele seu amigo que também tá precisando estudar esse conteúdo.

E se você já me acompanha por aqui já sabe que você pode se tornar membro do canal e ter benefícios exclusivos, mas talvez o que você não sabe é que agora a gente tem um site onde você pode acessar as transcrições das videoaulas, e adquirir os slides das videoaulas e e-books com questões comentadas pra você arrasar na fisiologia! O link do nosso site tá aqui na descrição do vídeo.

Bom, a gente vai ficando por aqui. Qualquer dúvida pode deixar aí nos comentários que a gente tenta responder, beleza? A gente se vê num próximo vídeo. Abraço!

Sobre a autora

Mirian Ayumi Kurauti é apaixonada pela fisiologia, com uma trajetória acadêmica admirável. Ela se formou em Biomedicina pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), fez mestrado e doutorado em Biologia Funcional e Molecular com ênfase em Fisiologia pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), e ainda atuou como pesquisadora de pós-doutorado na mesma instituição. Além disso, já lecionou fisiologia humana na Universidade Estadual de Maringá (UEM) e biologia celular na UEL. Atualmente, é professora de fisiologia humana na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) e a mente criativa por trás do MK Fisiologia.

Apaixonada pela docência, Mirian adora dar aulas de fisiologia, mas de um jeito mais descontraído e se diverte muito ensinando fisiologia. Ela está sempre buscando aprender algo novo não só sobre fisiologia, mas sobre qualquer coisa sobre a vida, o universo e tudo mais. Por isso, é uma consumidora compulsiva de conteúdos de divulgadores científicos. Nas horas vagas, você pode encontrá-la na piscina, treinando e participando de competições de natação. Para Mirian, a vida só tem graça, se ela tiver desafios a serem superados. Hoje, o seu maior desafio é ajudar o maior número de estudantes a entender de verdade a fisiologia humana.