HIPERPROLACTINEMIA: Causas, sintomas e tratamento

Este post é a transcrição da videoaula publicada em nosso canal do YouTube "HIPERPROLACTINEMIA: Causas, sintomas e tratamento".

TRANSCRIÇÕESSISTEMA ENDÓCRINO

Mirian Kurauti

12/2/20246 min read

E aí pessoal, tudo bem com vocês?

Atendendo a pedidos, neste vídeo nós vamos falar sobre a hiperprolactinemia: o que é, quais as suas principais causas, quais os seus principais sintomas, e como pode ser tratada.

Bom, então sem perder muito tempo, vamos responder a primeira questão:

-O que é hiperprolactinemia?

"Hiper" significa muito ou acima, "prolactin" se refere ao hormônio prolactina, e a terminação "emia" se refere à sangue. Portanto, hiperprolactinemia nada mais é do que altas concentrações de prolactina no sangue.

E quando eu digo altas concentrações, eu me refiro a concentrações acima de quinze a 20 nanograma (ng) por ml. Só pra vocês terem uma noção, a concentração média de prolactina encontrado em mulheres fica em torno de 13 ng/ml e em homens fica em torno de 5 ng/ml.

Na maioria dos casos, a hiperprolactinemia ocorre devido a uma hipersecreção de prolactina pela adeno-hipófise, que pode ter causas Fisiológicas, Patológicas ou Farmacológicas.

Dentre as principais causas fisiológicas, podemos citar a gravidez e a amamentação. Isso porque, durante a gravidez, o número de células que produzem e secretam a prolactina lá na adeno-hipófise, isto é, os lactotrofos, aumenta, elevando a produção, a secreção e consequentemente a concentração da prolactina circulante.

Após o parto, a amamentação é um forte estímulo pra secreção de prolactina, elevando a concentração circulante desse hormônio, cuja principal função é estimular a produção de leite nas glândulas mamárias, como já discutimos em um vídeo anterior.

Portanto, a hiperprolactinemia pode acontecer em condições fisiológicas, onde a prolactina tem função importante no organismo.

No entanto, algumas condições patológicas também podem provocar hiperprolactinemia, como por exemplo, a presença de um prolactinoma, isto é, um tumor benigno de lactotrofos.

Outras causas patológicas envolvem outros tipos de tumores que podem comprimir a haste hipofisária, e dessa forma diminuir o fluxo sanguíneo do sistema porta hipotalâmico-hipofisário. A diminuição desse fluxo, acaba prejudicando a chegada dos hormônios hipotalâmicos nas células da adeno-hipófise.

E dentre esses hormônios hipotalâmicos nós temos o hormônio inibidor da prolactina, a dopamina, que como o próprio nome diz, é responsável por inibir a secreção da prolactina. Portanto, com menos dopamina chegando nos lactotrofos lá na adeno-hipófise, a inibição diminui e a secreção de prolactina aumenta, provocando hiperprolactinemia.

Outras condições patológicas associadas a hiperprolactinemia que podemos citar são: trauma torácico, síndrome do ovário policístico e hipotireoidismo primário.

Pra finalizar nossa discussão sobre as causas da hiperporlactinemia, nós ainda temos as causas farmacológicas, isto é, o uso de alguns medicamentos também pode aumentar a concentração circulante de prolactina.

Talvez a principal classe de medicamentos que podem provocar a hiperprolactinemia são os antipsicóticos, que tem como mecanismos de ação inibir um tipo específico de receptor de dopamina, o qual está presente nos lactotrofos. A inibição desse receptor bloqueia a ação inibidora da dopamina sobre essas células, que passam a secretar mais prolactina.

Dentre as outras classes de medicamentos que também podem aumentar a concentração circulante de prolactina, nós temos: antidepressivos, antieméticos e alguns medicamentos anti-hipertensivos.

Bom, agora que a gente já conhece as principais causas da hiperprolactinemia, agora podemos responder a seguinte pergunta:

-Quais são os principais sintomas da hiperprolactinemia?

Pra responder essa pergunta a gente tem que saber quais os principais efeitos fisiológicos da prolactina.

Na videoaula sobre a adeno-hipófise, eu destaco apenas um efeito da prolactina que é a estimulação da produção de leite nas glândulas mamárias. Portanto, um dos sintomas da hiperprolactinemia é a produção de leite nas mulheres mesmo quando não estão amamentando, o que chamamos de galactorreia.

Isso também pode acontecer em homens, quando as concentrações de prolactina se encontram elevadas, mas não é um sintoma muito comum.

Além de estimular a produção de leite nas glândulas mamárias, a prolactina pode agir no hipotálamo e inibir a secreção do hormônio liberador de gonadotrofinas, o GnRH, um hormônio que como o próprio nome diz é necessário pra estimular a secreção das gonadotrofinas FSH e LH, pelos gonadotrofos também localizados na adeno-hipófise.

Dessa forma, altas concentrações de prolactina na circulação, leva a inibição da secreção dessas gonadotrofinas, que tem como principal função regular o funcionamento das gônadas: ovários nas mulheres e testículos nos homens.

A falta dessas gonadotrofinas FSH e LH, nas mulheres pré-menopausa (em idade reprodutiva), causa uma desregulação do ciclo menstrual, causando tanto amenorreia (isto é, ausência de menstruação) ou oligomenorreia (isto é, poucas menstruações, ou seja, menstruações com intervalo muito longo entre uma e outra, intervalos com mais de quarenta e cinco dias).

A ocorrência de amenorreia ou oligomenorreia parece depender das concentrações de prolactina na circulação. Concentrações bastante elevadas causam amenorreia e concentrações não muito elevadas causam oligomenorreia.

Amenorreia e oligmenorreia resultam de uma disfunção ovariana que causa redução da síntese e secreção de estrogênios e progesterona no ovário. Por isso, alguns sintomas da hiperprolactinemia nas mulheres pré-menopausa, podem ser semelhantes aos sintomas da menopausa, como por exemplo, ondas de calor e ressecamento vaginal.

Uma outra consequência da hiperpolactinemia que pode aparecer nas mulheres é o hiperandrogenismo, isto é, altas concentrações de androgênios, hormônios masculinos, isso porque a prolactina parece estimular a produção de androgênios lá no córtex da glândula adrenal, o que poderia estar relacionado com a síndrome do ovário policístico nessas mulheres.

Já nos homens, a hiperprolactinemia causa o que chamamos de hipogonadismo hipogonadotrófico, isto é, ocorre uma disfunção dos testículos devido a diminuição da secreção das gonadotrofinas FSH e LH. Essa disfunção afeta a produção de espermatozoides podendo causar infertilidade.

Além disso, há diminuição da síntese e secreção de testosterona, gerando sintomas secundários a essa queda hormonal, como diminuição da libido, disfunção erétil e ginecomastia (isto é, crescimento das glândulas mamárias, causando aumento das mamas).

Um sintoma comum nas mulheres e nos homens é a diminuição da densidade mineral óssea, em outras palavras, os ossos podem ficar mais fracos, mais susceptíveis a fraturas. E isso pode ser causado diretamente pela hiperprolactinemia ou indiretamente devido a diminuição dos hormônios sexuais, principalmente devido a diminuição de estrogênios nas mulheres e testosterona nos homens.

Vale a pena destacar que muitos casos de hiperprolactinemia, principalmente nas mulheres, podem não provocar sintomas. Mas quando os sintomas aparecem deve-se procurar um médico pra descobrir a causa da hiperprolactinemia.

Se a hiperprolactinemia tem causas fisiológicas, não é necessário tratamento, pois se trata de um aumento normal da concentração desse hormônio na circulação. Se tiver causas patológicas, o tratamento deverá tratar a causa. Por exemplo, se a causa é um prolactinoma, um tumor de lactotrofos, deve-se realizar cirurgia para retirada do tumor. E se tiver causas farmacológicas, só se deve interromper o tratamento com medicamento que esteja causando a hiperprolactinemia, se o indivíduo apresentar os sintomas discutidos, como galactorreia, amenorreia, olgomenorreia e hipogonadismo. Nesse caso, o medicamento deve ser substituído por outro que não cause hiperprolactinemia.

Fármacos que podem ser utilizados pra ajudar a diminuir a secreção de prolactina são os agonistas do receptor de dopamina, isto é, drogas que se ligam e ativam o receptor de dopamina lá nos lactotrofos, inibindo assim a secreção de prolactina.

Bom então resumindo tudo que vimos nesse vídeo, lembrem-se que:

  • A hiperprolactinemia acontece quando os níveis circulantes de prolactina aumentam.

  • As causas desse aumento podem ser fisiológicas, patológicas ou farmacológicas.

  • Os principais sintomas da hiperprolactinemia incluem: galactorreia, amenorreia, oligomenorreia, hipogonadismo hipogonadotrófico e enfraquecimento ósseo.

  • O tratamento deve levar em consideração a causa da hiperprolactinemia, mas agonistas do receptor de dopamina, podem ser utilizados pra diminuir a secreção de prolactina.

Bom, se vocês ficaram com alguma dúvida podem deixar aí nos comentários que a gente tenta responder, blz? A gente se vê num próximo vídeo. Abraço!

Sobre a autora

Mirian Ayumi Kurauti é apaixonada pela fisiologia humana, com uma trajetória acadêmica admirável. Ela se formou em Biomedicina pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), fez mestrado e doutorado em Biologia Funcional e Molecular com ênfase em Fisiologia na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), e ainda atuou como pesquisadora de pós-doutorado na mesma instituição. Além disso, já lecionou fisiologia humana na Universidade Estadual de Maringá (UEM) e biologia celular na UEL. A sua última experiência como professora de fisiologia humana foi na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Fundadora da MK Educação Digital Ltda (MK Fisiologia), atualmente, Mirian é a mente criativa por trás de todos os conteúdos publicados nas redes sociais da empresa.

Apaixonada pela docência, Mirian adora dar aulas de fisiologia humana, mas de um jeito mais descontraído e se diverte muito ensinando. Ela está sempre buscando aprender algo novo não só sobre fisiologia, mas sobre qualquer coisa sobre a vida, o universo e tudo mais. Por isso, é uma consumidora compulsiva de conteúdos de divulgadores científicos. Nas horas vagas, você pode encontrá-la na piscina, treinando e participando de competições de natação. Para Mirian, a vida só tem graça, se ela tiver desafios a serem superados. Hoje, o seu maior desafio é ajudar o maior número de estudantes a entender de verdade a fisiologia humana, principalmente através de suas videoaulas publicadas no canal do YouTube MK Fisiologia.

Foto da autora do post Mirian Ayumi Kurauti criadora do MK Fisiologia
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