GLÂNDULAS PARATIREOIDES: Paratormônio (PTH)

Este post é a transcrição da videoaula publicada em nosso canal do YouTube "GLÂNDULAS PARATIREOIDES: Paratormônio (PTH)".

TRANSCRIÇÕESSISTEMA ENDÓCRINO

Mirian Kurauti

12/16/20248 min read

E aí pessoal, tudo bem com vocês?

Eu sou Mirian Kurauti aqui do canal MK Fisiologia, e nesse vídeo a gente vai falar sobre 4 pequenas glândulas que ficam localizadas na face posterior da glândula tireoide, conhecidas como glândulas paratireoides.

Essas glândulas são bem pequenas e quando a gente colocar elas no microscópio, podemos observar muitos capilares sanguíneos, e dois tipos de células. As células principais, que como o próprio nome diz são as principais células das glândulas paratireoides que sintetizam e secretam o principal hormônio dessas glândulas, o paratormônio.

O segundo tipo celular encontrado nas glândulas paratireoides são as células oxifílicas. Não se sabe ao certo a função dessas células, mas acredita-se que elas sejam células principais modificadas, que não secretam mais paratormônio.

O paratormônio, também conhecido como PTH é um hormônio proteico, sendo assim, a sua síntese, que acontece nas células principais das glândulas paratireoides, se inicia com a transcrição do gene em RNA mensageiro, o qual deixa o núcleo e pode ser traduzido pelos ribossomos que se associam ao retículo endoplasmático rugoso. A tradução do RNA mensageiro gera o pré-pró-paratormônio que logo é clivado formando o pró-paratormônio.

Durante a passagem pelo complexo de golgi e o empacotamento em vesículas secretoras, o pró-paratormônio sofre mais uma clivagem formando finalmente o hormônio ativo, o qual pode ficar armazenado até que a sua secreção deixe de ser inibida.

-Como assim?

Na membrana das células principais das glândulas paratireoides, existe uma proteína que funciona como um receptor ou sensor de cálcio. Quando a concentração de íons cálcio aumenta, o cálcio se liga nesse receptor o que ativa uma via se sinalização intracelular que acaba inibindo a exocitose das vesículas secretoras contendo o paratormônio, ou seja, inibe a liberação desse hormônio. Mas quando a concentração de íons cálcio diminui, o cálcio deixa de se ligar a esse receptor, o qual deixa de ativar a via de sinalização intracelular inibitória, estimulando assim a exocitose das vesículas secretoras, liberando o paratormônio.

Uma vez fora da célula, o paratormônio se difunde até o capilar sanguíneo mais próximo e entra na circulação sanguínea. Como o paratormônio é uma proteína, ele pode ser classificado como um hormônio hidrossolúvel que pode circular livremente na corrente sanguínea.

Seu tempo de meia-vida é bem curto ficando em torno de 2 a 4 minutos, pois é rapidamente metabolizado. Porém, alguns fragmentos, provenientes da metabolização do paratormônio, ou seja, alguns pedaços que resultam da clivagem do paratormônio, podem apresentar meia vida um pouco mais prolongada. E assim como o paratormônio intacto, alguns desses pedaços também podem se ligar e ativar o receptor de paratormônio que fica localizado na membrana das células-alvo.

O receptor de paratormônio é um receptor associado à proteína G, quando o paratormônio ou seus fragmentos se ligam e ativam esse receptor, ocorre ativação de proteínas G específicas, estimulando a produção de segundos mensageiros específicos que irão ativar determinadas proteínas efetoras e gerar finalmente uma alteração no funcionamento das células-alvo.

-Ok, mas então quais são as células-alvo do paratormônio?

As células alvo que apresentam maior abundância de receptores do paratormônio estão localizadas nos ossos e nos rins.

Nos ossos, o aumento da secreção de paratormônio que ocorre quando a concentração circulante de íons cálcio está baixa, estimula a reabsorção óssea, isto é, tira o cálcio e o fosfato do osso e joga na circulação sanguínea.

Pra fazer isso, o paratormônio ativa as células responsáveis pela reabsorção óssea que são chamadas de osteoclastos. Só que esses osteoclastos não tem receptores de paratormônio na sua membrana celular, assim, a ativação dos osteoclastos acontece de forma indireta.

As células que apresentam receptores de paratormônio são os osteoblastos que, quando estimulados pelo paratormônio, produzem e secretam fatores parácrinos que favorecem o amadurecimento e a ativação dos osteoclastos. Uma vez ativados, os osteoclastos iniciam o processo de reabsorção óssea que consiste na liberação de enzimas e ácidos pra digestão da matriz óssea e liberação do cálcio e do fosfato que ficam depositados nessa matriz na forma de sais ou cristais de hidroxiapatita. Uma vez liberados, os íons cálcio e fosfato podem se difundir pros capilares sanguíneos, contribuindo pro aumento desses íons na circulação.

Nos rins, o aumento da secreção do paratormônio, estimula a reabsorção de cálcio, diminuindo a excreção desse íon na urina, porém o paratormônio inibe a reabsorção de fosfato, aumentando a excreção desse íon na urina.

O aumento da reabsorção de cálcio nos néfrons ocorre principalmente devido a ação do paratormônio nas células do ramo ascendente espesso da alça de Henle e do túbulo distal.

Esse aumento da reabsorção de cálcio diminui a excreção ou eliminação desse íon na urina, o que é importante pra não deixar o cálcio que foi retirado dos ossos ser eliminado na urina, contribuindo assim para um aumento significativo da concentração de cálcio no sangue.

Já a inibição da reabsorção do fosfato ocorre principalmente devido a ação do paratormônio nas células do túbulo proximal, e essa inibição da reabsorção aumenta a eliminação do fosfato na urina.

Portanto, podemos dizer que o paratormônio tira o fosfato do osso e manda embora pela urina. E esse efeito do paratormônio parece ser importante pra evitar um aumento de fosfato junto com um aumento de cálcio na circulação, pois se isso acontece, poderia ocorrer precipitação de sais de cálcio e fosfato, e dessa forma o cálcio não ficaria disponível na circulação.

Aí não ia adiantar nada né, o paratormônio tem que elevar a concentração circulante de cálcio, pois ele é secretado quando a concentração desse íon está baixa. Pra isso, ele mobiliza os estoques de cálcio, juntamente com os estoques de fosfato dos ossos, mas como ele não quer elevar a concentração de fosfato junto, ele manda os rins eliminar esse íon.

E esse aumento da excreção do fosfato na urina é tão importante que o resultado final das ações do paratormônio, sobre as concentrações de fosfato no sangue, é a sua diminuição, como podemos observar nesse experimento em que o paratormônio é infundido diretamente na circulação sanguínea. No momento em que a infusão começa, a concentração de cálcio aumenta e a concentração de fósforo diminui e isso se mantém durante todo o período de infusão do paratormônio.

Outra ação muito importante do paratormônio nos rins é estimular a síntese da forma ativa da vitamina D, a 1,25-hidroxvitamina D ou 1,25-hidroxicolecalciferol ou calcitriol, síntese que acontece principalmente nas células do túbulo proximal.

A síntese completa do calcitriol a partir da vitamina D a gente vê com mais detalhes num próximo vídeo onde a gente vai falar só sobre a vitamina D, beleza? Aqui o mais importante é saber que quando a secreção de paratormônio aumenta, há um aumento da síntese de calcitriol que é a forma ativa da vitamina D, e uma das principais ações do calcitriol é aumentar a absorção de cálcio e fosfato no intestino delgado.

Outro efeito menos importante do calcitriol é estimular a reabsorção de cálcio e fosfato nos rins, tendendo a diminuir a excreção desses íons na urina. Porém, esse efeito parece ser fraco, e não tem uma contribuição tão significativa na regulação da concentração desses íons na circulação.

Nos ossos, o efeito do calcitriol é bem complexo. Quando a concentração de cálcio diminui, aumenta-se a secreção de paratormônio que como vimos estimula a síntese de calcitriol.

A concentração de calcitriol aumentam e nessa condição, essa forma ativa da vitamina D atua junto com o paratormônio estimulando a maturação e ativação dos osteoclastos que fazem a reabsorção óssea, isto é, que retiram o cálcio e o fosfato dos ossos.

No entanto, quando as concentrações de cálcio estão normais, a secreção de paratormônio não se eleva e a síntese de calcitriol não é super estimulada. A concentração de calcitriol permanece baixa, e nessa condição, essa forma ativa da vitamina D, por aumentar a absorção intestinal e a reabsorção renal tanto de cálcio como de fosfato, eleva a concentração dos dois, favorecendo assim a deposição desses íons nos ossos, favorecendo, portanto, a formação óssea, já que não tem tanto paratormônio eliminado o fosfato.

Uma prova desse efeito do calcitriol de favorecer a formação óssea pode ser observada diante de uma deficiência de vitamina D, que pode causar doenças ósseas como o raquitismo em crianças e a osteomalácia em adultos, que a gente pode discutir com mais detalhes em um outro vídeo.

Bom, pra resumir tudo que a gente viu aqui, lembre-se que:

  • O principal estímulo pra secreção do paratormônio pelas células principais das glândulas paratireoides é a diminuição da concentração dos íons cálcio na circulação.

  • Quando a secreção de paratormônio aumenta devido à redução desse íon, o paratormônio vai agir com o objetivo de elevar as concentrações desse íon. Como?

  • Estimulando a reabsorção óssea, reabsorção renal de cálcio e a síntese de calcitriol, o qual aumenta a absorção intestinal dos íons cálcio.

  • Uma vez reestabelecido a concentração normal desse íon, feedback negativo inibe a secreção de paratormônio, isto é, as células principais das glândulas paratireoides detectam, através do seu receptor de cálcio, que a concentração desses íons agora tá adequada, e a secreção de paratormônio passa a ser inibida.

Nos próximos vídeos, a gente fala sobre os distúrbios endócrinos relacionados ao paratormônio e também fala com mais detalhes sobre o calcitriol, a forma ativa da vitamina D, bem como os distúrbios endócrinos relacionado a essa vitamina que funciona como um importante hormônio atuando na regulação da calcemia (isto é, concentração de cálcio no sangue) e fosfatemia (isto é, concentração de fosfato no sangue) como vimos neste vídeo.

Espero muito que esse vídeo tenha te ajudado de alguma forma. Qualquer dúvida pode deixar aí nos comentários que a gente tenta responder, beleza? A gente se vê num próximo vídeo, abraço!

Sobre a autora

Mirian Ayumi Kurauti é apaixonada pela fisiologia humana, com uma trajetória acadêmica admirável. Ela se formou em Biomedicina pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), fez mestrado e doutorado em Biologia Funcional e Molecular com ênfase em Fisiologia na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), e ainda atuou como pesquisadora de pós-doutorado na mesma instituição. Além disso, já lecionou fisiologia humana na Universidade Estadual de Maringá (UEM) e biologia celular na UEL. A sua última experiência como professora de fisiologia humana foi na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Fundadora da MK Educação Digital Ltda (MK Fisiologia), atualmente, Mirian é a mente criativa por trás de todos os conteúdos publicados nas redes sociais da empresa.

Apaixonada pela docência, Mirian adora dar aulas de fisiologia humana, mas de um jeito mais descontraído e se diverte muito ensinando. Ela está sempre buscando aprender algo novo não só sobre fisiologia, mas sobre qualquer coisa sobre a vida, o universo e tudo mais. Por isso, é uma consumidora compulsiva de conteúdos de divulgadores científicos. Nas horas vagas, você pode encontrá-la na piscina, treinando e participando de competições de natação. Para Mirian, a vida só tem graça, se ela tiver desafios a serem superados. Hoje, o seu maior desafio é ajudar o maior número de estudantes a entender de verdade a fisiologia humana, principalmente através de suas videoaulas publicadas no canal do YouTube MK Fisiologia.

Foto da autora do post Mirian Ayumi Kurauti criadora do MK Fisiologia
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