[#5] Microcirculação: SISTEMA LINFÁTICO

Este post é a transcrição da videoaula publicada em nosso canal do YouTube "[#5] Microcirculação: SISTEMA LINFÁTICO".

TRANSCRIÇÕESSISTEMA CARDIOVASCULAR

Mirian Kurauti

10/20/202510 min read

O sistema linfático não faz parte da microcirculação, mas ele ajuda a microcirculação a remover água não reabsorvida pelos capilares sanguíneos. Portanto, se, por algum motivo, o sistema linfático não der conta de drenar o excesso de água que não consegue ser reabsorvido, um edema pode se formar.

Mas, então, quais seriam os motivos pelos quais o sistema linfático pode não dar conta de drenar esse excesso de água?

Pra responder essa pergunta, primeiro a gente precisa entender como o sistema linfático drena ou remove, não só a água, mas também as proteínas plasmáticas que escapam dos capilares pro interstício. Bora?

E aí pessoal, tudo bem com vocês?

Eu sou Mirian Kurauti, criadora do canal MK Fisiologia, um canal que tem como principal objetivo descomplicar a fisiologia humana. Então, se você tá precisando entender de verdade a fisiologia, já se inscreve no canal e ative as notificações pra você não perder os próximos vídeos que a gente postar por aqui.

Agora, sem mais delongas, bora pro que interessa?

O sistema linfático é formado basicamente por vasos, órgãos e tecidos linfáticos.

Os vasos linfáticos são responsáveis principalmente pela drenagem ou remoção de água e proteínas plasmáticas que escaparam dos capilares sanguíneos pro interstício, que não conseguiram ser reabsorvidas. E aí, uma vez nos vasos linfáticos, essa água e essas proteínas plasmáticas removidas do interstício são levadas pras veias jugular interna e subclávia, retornando assim pra circulação sanguínea.

Além disso, no intestino delgado, os vasos linfáticos ainda são responsáveis pela absorção dos quilomícrons que, como veremos no sistema digestório, são como se fossem “pacotes de gordura da dieta”. Esses “pacotes” são grandes demais pra serem absorvidos pelos capilares sanguíneos, mas conseguem ser absorvidos pelos vasos linfáticos, os quais podem então levar esses “pacotes de gordura” pra circulação sanguínea.

Já os órgãos linfáticos, como a medula óssea, o timo, os linfonodos e o baço, e os tecidos linfáticos, como os nódulos linfáticos que a gente encontra na mucosa que reveste os tratos digestório e respiratório, por exemplo, são responsáveis pela defesa do organismo contra coisas estranhas que não fazem parte do organismo.

Portanto, podemos dizer que o sistema linfático apresenta três funções principais:

  1. Remoção ou drenagem de água, proteínas e outras moléculas do interstício;

  2. Transporte de lipídeos da dieta;

  3. Defesa do organismo contra partículas estranhas.

Como a segunda e a terceira função a gente estuda melhor quando a gente vê o sistema digestório e o sistema imune, e esse último não na fisiologia, mas sim na imunologia, nesse vídeo a gente vai focar só na primeira função que tem tudo a ver com o que a gente estudou nos últimos vídeos sobre a microcirculação. Bora?

Bom, então, como a gente viu nos vídeos anteriores, na maioria dos tecidos, em condições fisiológicas, em condições normais, nem toda água que é filtrada consegue ser reabsorvida nos capilares sanguíneos e precisa voltar pra circulação sanguínea através do sistema linfático.

Além disso, embora a maioria dos capilares sejam pouco permeáveis a proteínas plasmáticas, algumas proteínas conseguem “escapar” dos capilares. E se essas proteínas se acumulassem no interstício, a concentração de proteína no líquido intersticial poderia aumentar, o que aumentaria a pressão oncótica do interstício. E como você deve se lembrar, quando isso acontece a pressão efetiva de filtração pode aumentar, aumentando assim o fluxo de filtração da água, o que poderia causar um edema.

Mas, pra isso não acontecer, assim como a água filtrada que não consegue ser reabsorvida pelos capilares sanguíneos, as proteínas plasmáticas que “escapam” desses capilares precisam voltar pra circulação sanguínea através, adivinha, do sistema linfático.

-Tá, professora, mas como exatamente a água e as proteínas voltam pra circulação sanguínea através do sistema linfático?

Bom, na maioria dos tecidos, encontramos, próximos dos capilares sanguíneos, os menores vasos linfáticos, os capilares linfáticos. Esses capilares começam como um tubo fechado chamado de “terminal linfático”, que na verdade deveria se chamar “inicial linfático”, né, porque é exatamente nesses “terminais” que começa a circulação linfática. Mas enfim, assim como os capilares sanguíneos, os capilares linfáticos são formados apenas por uma camada de células endoteliais, o endotélio, e a membrana basal que não tá sendo mostrada aqui nessa imagem.

Porém, os capilares linfáticos são muito mais permeáveis do que qualquer capilar sanguíneo, isso porque além de apresentarem uma membrana basal incompleta, descontinua, cheia de buracos por onde podem passar grandes moléculas hidrofílicas, como por exemplo as proteínas; a borda de uma célula endotelial se sobrepõe à borda da outra célula endotelial vizinha, de uma forma que a borda sobreposta fica meio que livre pra se mover pra dentro do capilar, funcionando como uma valvulinha, uma micro válvula.

E aí, quando a pressão hidrostática do interstício (Pi) supera a pressão hidrostática do capilar linfático (Plinf), o líquido intersticial “empurra” as micro válvulas, abre um espaço relativamente grande entre as células endoteliais, provocando assim um movimento em massa de água pra dentro dos capilares linfáticos.

Então, perceba que assim como a filtração de água do capilar sanguíneo pro interstício é determinada pelas forças de Starling, principalmente a pressão hidrostática do capilar (Pc), a remoção da água do interstício pros capilares linfáticos também é determinada pelas forças de Starling, principalmente a pressão hidrostática do interstício (Pi).

Além disso, lembre-se que as células endoteliais ficam meio que presas ao tecido através de fibrilas ou filamentos de ancoragem estrategicamente localizadas próximo às bordas das células endoteliais que sobrepõem as outras. Então, quando a pressão hidrostática do interstício aumenta, isso significa que o interstício ganhou volume, isso expande o tecido e os filamentos de ancoragem são tensionados, esticados, ajudando a abrir as micro válvulas, permitindo assim a passagem de água, proteínas e outras moléculas.

Enquanto a água, como a gente viu, é transportada por um movimento em massa impulsionado pela diferença de pressão, as proteínas são transportadas por difusão do interstício, onde tem mais proteínas, pra dentro do capilar linfático, onde tem menos proteínas.

O resultado é a formação de um líquido, que a gente chama de linfa, que tem praticamente a mesma composição do líquido intersticial, porque tanto a água, como as proteínas e outras moléculas, se movem livremente através das micro válvulas que se abrem entre as células endoteliais.

Dos capilares, a linfa segue pra vasos linfáticos um pouco maiores, chamados de coletores linfáticos. Isso acontece geralmente quando os capilares linfáticos são comprimidos principalmente por fatores externos, como por exemplo a contração dos músculos esqueléticos, o movimento de alguns órgãos como por exemplo o movimento do intestino. Tudo isso pode comprimir os capilares linfáticos e aumentar a pressão hidrostática desses capilares que pode então ultrapassar a pressão hidrostática do interstício.

Quando isso acontece, as micro válvulas são fechadas, e a linfa é forçada então a seguir em direção aos coletores linfáticos, os quais são muito parecidos com as pequenas veias do sistema cardiovascular, pois além do endotélio e da membrana basal, já podemos apresentar músculo liso na sua parede, e válvulas no seu interior, que assim como as válvulas das veias, se abrem apenas em uma direção, evitando o refluxo da linfa.

Quando a linfa chega nos coletores linfáticos, esses vasos se expandem por causa do aumento do volume, e isso pode provocar agora uma resposta miogênica, isto é, a musculatura lisa vascular é estirada e isso gera uma contração reflexa dessa musculatura, comprimindo assim a parte do vaso que tinha se expandido, aumentando a pressão nesse local. E aí, como as válvulas só se abrem em uma direção, a linfa não consegue voltar, ou seja, ela segue adiante nos coletores linfáticos.

Claro que além da resposta miogênica, o fluxo da linfa nos coletores linfáticos também depende da compressão por fatores externos, como a contração dos músculos esqueléticos, o movimento do intestino e outros órgãos, e até mesmo da pulsação das artérias que podem passar ali bem pertinho dos coletores linfáticos. Todos esses fatores podem comprimir esses vasos e contribuir pro fluxo da linfa através do sistema linfático.

Dos coletores linfáticos, a linfa flui através dos linfonodos. Esses pequenos órgãos linfáticos ou linfoides são cheios de células de defesa, cheios de células do sistema imune que meio que “filtram” a linfa retirando partículas estranhas e podem até iniciar repostas imunes pra combater qualquer tipo de infecção que pode tá acontecendo no organismo.

Dos linfonodos, a linfa segue por vasos linfáticos cada vez maiores que então desembocam nas veias do sistema cardiovascular.

Só pra você lembrar um pouco da anatomia, em determinadas regiões do corpo, antes de desembocar nas veias, os vasos linfáticos podem se unir pra formar os troncos linfáticos. Alguns troncos linfáticos podem desembocar na veia jugular interna, subclávia ou braquiocefálica; ou podem se unir pra formar ductos linfáticos, principalmente no lado esquerdo do corpo, formando o ducto torácico que desemboca na junção entre as veias jugular interna e subclávia esquerda.

Resumindo, é assim que a linfa flui dos capilares linfáticos até voltar pra circulação sanguínea.

Portanto, podemos concluir que o fluxo linfático é determinado basicamente, primeiro, pela pressão hidrostática do interstício (Pi), quanto maior essa pressão, mais líquido intersticial vai ser drenado e mais linfa vai ser formada nos capilares linfáticos; e, segundo, pela compressão dos vasos linfáticos, quanto maior a atividade da musculatura lisa desses vasos, quando maior for a atividade dos músculos esqueléticos, quanto maior for o movimento do intestino e outros órgãos, maior será o fluxo linfático.

-Ué, professora, mas se quanto maior for a pressão hidrostática do interstício, maior for o fluxo linfático, então não tem problema aumentar essa pressão porque o sistema linfático vai dar conta de lidar com o aumento do fluxo de filtração, né?

Na verdade, só até um certo ponto.

Dá uma olhada nesse gráfico aqui. Quanto maior a pressão hidrostática do interstício, maior o fluxo linfático. Porém, esse aumento não é linear, a linha não é uma reta, na verdade, é quase um “s”. E quando a pressão hidrostática do interstício ultrapassa um certo valor, o fluxo linfático não aumenta mais, mesmo com o aumento da pressão hidrostática do interstício. E é exatamente nesse momento que o sistema linfático não consegue mais dar conta de lidar com o aumento do fluxo de filtração e um edema pode acontecer.

Mas como a gente sabe não é só a pressão hidrostática do interstício que determina o fluxo linfático, a compressão dos vasos linfáticos também, por isso essa compressão, seja por fatores intrínsecos (como a contração da musculatura lisa dos próprios vasos linfáticos) ou extrínsecos (como a contração dos músculos esqueléticos) podem ajudar a prevenir ou aliviar um edema, principalmente nos membros inferiores onde a pressão hidrostática do interstício é maior por causa da gravidade.

Por isso, se você já tá há muito tempo sentando estudando, bora levantar, andar um pouco, pra contrair os músculos esqueléticos da perna e ajudar o sistema linfático a mandar a linfa pra circulação sanguínea?

E pra finalizar vale a pena citar que existem algumas condições patológicas que podem bloquear a circulação linfática, como acontece por exemplo na filariose linfática, mais conhecida como elefantíase.

Essa doença acontece quando uma pessoa é infectada com larvas de um tipo de verme que se estabelecem justamente nos vasos linfáticos. E quando se reproduzem podem “entupir” e interromper o fluxo linfático, e assim causa graves edemas principalmente nos membros inferiores que ficam extremamente inchados.

Bom, então resumindo tudo o que a gente viu nesse vídeo, lembre-se que:

  • O sistema linfático é formado basicamente por vasos, órgãos e tecidos linfáticos e tem a função de remover ou drenar água, proteínas e outras moléculas do interstício; transportar os lipídeos da dieta; e defender o organismo contra partículas estranhas.

  • A remoção ou drenagem da água depende da diferença de pressão hidrostática entre o interstício e o capilar linfático. A remoção das proteínas depende da diferença de concentração de proteínas entre o interstício e o capilar linfático.

  • A partir do capilar linfático a linfa flui pros coletores linfáticos, linfonodos, troncos linfáticos e daí pros ductos linfáticos ou diretamente pras veias, principalmente, pras veias jugular interna e subclávia, retornando assim pra circulação sanguínea.

  • O fluxo linfático depende principalmente da pressão hidrostática do interstício, quanto maior for essa pressão, maior o fluxo, mas claro que isso só até um certo ponto; e da compressão dos vasos linfáticos por fatores intrínsecos e, principalmente, por fatores extrínsecos, como por exemplo a contração dos músculos esqueléticos.

Bom, espero que esse vídeo tenha te ajudado de alguma forma, e se ele te ajudou não esquece de curtir e compartilhar esse vídeo com aquele seu amigo que também tá precisando estudar esse conteúdo.

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E como sempre qualquer dúvida pode deixar aí nos comentários que a gente tenta responder, beleza?

A gente se vê num próximo vídeo, abraço!

Sobre a autora

Mirian Ayumi Kurauti é apaixonada pela fisiologia humana, com uma trajetória acadêmica admirável. Ela se formou em Biomedicina pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), fez mestrado e doutorado em Biologia Funcional e Molecular com ênfase em Fisiologia na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), e ainda atuou como pesquisadora de pós-doutorado na mesma instituição. Além disso, já lecionou fisiologia humana na Universidade Estadual de Maringá (UEM) e biologia celular na UEL. A sua última experiência como professora de fisiologia humana foi na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Fundadora da MK Educação Digital Ltda (MK Fisiologia), atualmente, Mirian é a mente criativa por trás de todos os conteúdos publicados nas redes sociais da empresa.

Apaixonada pela docência, Mirian adora dar aulas de fisiologia humana, mas de um jeito mais descontraído e se diverte muito ensinando. Ela está sempre buscando aprender algo novo não só sobre fisiologia, mas sobre qualquer coisa sobre a vida, o universo e tudo mais. Por isso, é uma consumidora compulsiva de conteúdos de divulgadores científicos. Nas horas vagas, você pode encontrá-la na piscina, treinando e participando de competições de natação. Para Mirian, a vida só tem graça, se ela tiver desafios a serem superados. Hoje, o seu maior desafio é ajudar o maior número de estudantes a entender de verdade a fisiologia humana, principalmente através de suas videoaulas publicadas no canal do YouTube MK Fisiologia.

Foto da autora do post Mirian Ayumi Kurauti criadora do MK Fisiologia
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