[#4] GLÂNDULAS ADRENAIS: ANDROGÊNIOS

Este post é a transcrição da videoaula publicada em nosso canal do YouTube "[#4] GLÂNDULAS ADRENAIS: ANDROGÊNIOS".

TRANSCRIÇÕESSISTEMA ENDÓCRINO

Mirian Kurauti

12/30/20248 min read

E aí pessoal, tudo bem com vocês?

Eu sou Mirian Kurauti aqui do canal MK Fisiologia e nesse vídeo a gente vai finalizar a nossa discussão sobre as glândulas adrenais falando sobre os principais androgênios sintetizados e secretados pelo córtex dessas glândulas.

Mas antes de continuar assistindo esse vídeo, se você perdeu os vídeos anteriores sobre as glândulas adrenais, é só clicar aqui no card pra assistir. Mas se você já assistiu, bora falar sobre os androgênios das glândulas adrenais.

Bom, androgênio. Preste atenção no nome. “Andro” significa homem, “Gênio” lembra gênese que significa gerar, ou seja, androgênios são hormônios que geram as características masculinas.

Dentre os principais androgênios que as células da zona reticulada do córtex adrenal sintetizam, podemos destacar a androstenediona, a dehidroepiandrosterona (DHEA), e a sua forma sulfatada, DHEAS.

Uma informação importante é que esses androgênios parecem não ter afinidade pelo receptor de androgênios, e eles precisam ser convertidos em androgênios que tem mais afinidade pelo receptor, como a testosterona e a dihidrotestosterona (DHT).

-Mas como isso acontece?

Bom, quando a androstenediona, o DHEA e o DHEAS chegam na sua célula alvo, como são hormônios lipossolúveis, eles atravessam a membrana celular. Uma vez no interior dessas células esses hormônios são convertidos em outros androgênios.

Pegamos como exemplo o DHEAS. Primeiro ele sofre ação de uma sulfatase, que converte o DHEAS em DHEA, um androgênio que também pode ser sintetizado e secretado pelo córtex adrenal. Por sua vez, o DHEA pode então ser convertido em androstenediona por ação da enzima 3Beta-HSD.

Sim, androstenediona, que também pode ser sintetizada e secretada pelo córtex adrenal.

Androstenediona, por ação da enzima 17Beta-HSD pode ser convertida em testosterona que agora sim, pode se ligar aos receptores de androgênios. A conversão do DHEA em testosterona, também pode ocorrer por outra via enzimática onde o androgênio intermediário não é a androstenediona, mas sim o androstenediol. Mas reparem que as enzimas são as mesmas, só muda a ordem das reações.

Em algumas células alvo, a testosterona pode ainda ser convertida em um androgênio mais potente, com mais afinidade pelos receptores de androgênios, a dihidrotestosterona, mais conhecida como DHT. Porém, essa conversão só vai acontecer nas células que apresentam a enzima 5alfa-redutase.

Uma vez sintetizados, testosterona e DHT, podem se ligar aos receptores de androgênios que ficam localizados no citoplasma da célula alvo, associados a proteínas inibidoras.

Quando a testosterona ou o DHT se liga a esses receptores, eles se desligam das proteínas inibidoras e são ativados, podendo seguir pro núcleo, onde eles interagem com regiões específicas do DNA, ativando ou inibindo a transcrição de determinados genes.

-Quais genes?

Aí vai depender do tipo da célula alvo que os androgênios estão agindo.

Os androgênios da adrenal também podem ser convertidos em estradiol, caso a célula alvo apresente a enzima aromatase. O estradiol é um potente estrogênio que pode se ligar com alta afinidade aos receptores de estrogênios localizados geralmente no citoplasma. Uma vez ativados, esses receptores seguem pro núcleo, onde eles interagem com regiões específicas do DNA, ativando ou inibindo a transcrição de determinados genes.

-Quais genes?

De novo, vai depender do tipo da célula alvo que esse estrogênio tá agindo.

Agora uma informação importante. O que determina se os androgênios da adrenal (DHEAS, DHEA e androstenediona) vão ser convertidos em testosterona, DHT ou estradiol, é o conjunto de enzimas que a célula alvo apresenta.

Por exemplo, se as células tiverem todas essas enzimas, mas não tiverem 5Alfa-redutase e nem aromatase, a conversão desses hormônios para na testosterona. Mas se tiver 5Alfa-redutase, vai até o DHT, e se tiver aromatase, os androgênios poderão ser convertidos em estradiol.

Dessa forma, em alguns tecidos, as ações dos androgênios da adrenal vão ser mediadas pela testosterona, em outros pelo DHT, e em outros ainda pelo estradiol.

-Tá mas, qual a importância dos androgênios da adrenal nesses tecidos?

Pra responder essa pergunta, observem aqui as concentrações do principal androgênio da adrenal, o DHEAS, ao longo da vida de um indivíduo do sexo masculino e feminino. Em ambos os sexos, no final do período fetal existe um pico de DHEAS. Nesse momento, o DHEAS pode ser convertido em estradiol na placenta, e esse estrogênio é importante pro desenvolvimento normal do feto. Além disso, lembre-se que o estradiol é importante pra preparar o útero pro parto.

Vou dar só um exemplo. No músculo liso do útero, ou seja, no miométrio, o estrogênio aumenta o número de receptores pra ocitocina, que como você deve se lembrar, ou pelo menos deveria se lembrar, induz a contração do miométrio durante o parto.

Bom, depois desse primeiro pico, há uma diminuição da síntese e secreção dos androgênios da adrenal que volta aumentar por volta dos 8 anos de idade quando a zona reticulada do córtex adrenal começa a se desenvolver, um evento chamado de adrenarca.

Nesse momento, esses androgênios podem ser convertidos em testosterona e DHT nas genitálias e na pele provocando o início do desenvolvimento de algumas características sexuais e o aparecimento de pelos pubianos e axilares em ambos os sexos.

Com a adrenarca, a concentração de androgênios continua aumentando, porém, com a puberdade ocorre um aumento muito maior nos meninos do que nas meninas, o que pode ser explicado pelo amadurecimento do eixo hipotálamo-hipófise-gônadas. Os testículos começam a produzir grandes quantidades de androgênios nos meninos, o que não acontece nas meninas.

Portanto, nos homens, a maior parte dos androgênios vem dos testículos, e os androgênios da adrenal não tem muita importância fisiológica.

Mas nas mulheres, a adrenal é responsável por cerca de 50% de todos os androgênios circulantes, os quais podem ser convertidos em testosterona e DHT na pele atuando na manutenção dos pelos pubianos e axilares. Além disso, outra ação importante acontece no sistema nervoso central, onde os androgênios podem ser convertidos em testosterona, que pode estimular a libido.

Pra quem não sabe o que é libido, podemos dizer que libido é o desejo sexual.

Bom, além de saber as principais ações dos androgênios da adrenal, é importante saber também como acontece a regulação da síntese e secreção desses hormônios, que assim como o cortisol, está sob regulação do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal ou eixo hipotálamo-pituitária-adrenal, o famoso eixo HPA.

Relembrando esse eixo, neurônios do hipotálamo secretam o hormônio liberador de corticotrofina, o CRH, que através do sistema porta hipotalâmico-hipofisário, chega na adeno-hipófise, estimulando os corticotrofos a secretarem a corticotrofina ou hormônio adrenocorticotrófico, o ACTH.

Uma vez na circulação, o ACTH pode alcançar, as células da zona fasciculada pra estimular a síntese e secreção de cortisol, além de estimular as células da zona reticulada a sintetizar e secretar os androgênios.

Como vimos no vídeo anterior, quando as concentrações de cortisol se elevam acima do seu set point ou melhor do seu ponto de ajuste, feedback negativo de alça longa inibi a secreção tanto do ACTH como do CRH, mas isso NÃO acontece se as concentrações de androgênios se elevar, pois esses hormônios não fazem feedback negativo no eixo HPA, é só o cortisol que faz.

-Tá mas, pra que é importante saber isso?

Em alguns indivíduos pode ocorre mutações em alguns genes (como o CYP 21 A2 e o CYP 11B) que codificam enzimas chaves da síntese do cortisol, o que prejudica a síntese desse hormônio. Sem cortisol, não há feedback negativo no eixo HPA e a secreção de CRH e ACTH aumenta bastante, pois é como se o hipotálamo e a hipófise estivem mandando uma mensagem pra adrenal, “produz mais cortisol aí que tá faltando”. Só que não tem como produzir porque as enzimas não tão funcionando. Aí o que acontece, o ACTH não pode estimular a síntese de cortisol, mas pode estimular a síntese de androgênios, causando um aumento excessivo na concentração desses hormônios na circulação. E como o excesso de ACTH também acaba provocando hipertrofia e hiperplasia das células do córtex adrenal, essa condição pode ser chamada de hiperplasia adrenal congênita. Congênita porque é causada por mutações genéticas e o indivíduo nasce com essa condição.

Se o indivíduo for do sexo feminino, e for exposto a concentrações elevadas de androgênios durante o seu desenvolvimento fetal, a genitália externa pode sofrer masculinização parcial ou completa, isto é, ao nascimento pode-se observar genitália externa ambígua (meio feminina, meio masculina) ou completamente masculina.

Em uma aula muito interessante sobre diferenciação sexual que eu fiz pro curso de psicologia a gente fala mais sobre isso. Se você se interessar, é só clicar aqui no card pra assistir.

Bom, mas se o excesso de androgênios da adrenal ocorrer na vida adulta, na mulher, pode ocorrer efeito virilizante, com aumento da massa muscular e o crescimento de pelos em áreas comuns nos homens. Esse crescimento de pelos anormais nas mulheres a gente chama de hirsutismo.

No homem, o excesso de androgênio da adrenal não tem grandes consequências, visto que eles já têm níveis elevados de androgênios vindos dos testículos.

Bom, resumindo tudo que a gente viu nesse vídeo, lembre-se que:

  • Nas células alvo, os androgênios da adrenal devem ser convertidos em androgênios mais potentes, como a testosterona e o DHT.

  • Em algumas células esses androgênios podem ainda ser convertidos em um potente estrogênio, o estradiol.

  • Dentre as ações dos androgênios da adrenal podemos destacar ações importantes durante o desenvolvimento fetal e durante a adrenarca, tanto nos meninos quanto nas meninas.

  • Na vida adulta, os androgênios da adrenal são mais importantes nas mulheres do que nos homens, contribuindo para a manutenção dos pelos pubianos e axilares e também para a libido.

E aí gostou do vídeo? Se gostou comenta aí embaixo que isso ajuda bastante na divulgação do canal. E se você ainda não é inscrito, aproveita pra se inscrever e ativar as notificações, assim você não perder os próximos vídeos que a gente postar por aqui.

Qualquer dúvida, pode deixar aí nos comentários que a gente tenta responder, beleza? A gente se vê num próximo vídeo. Abraço!

Sobre a autora

Mirian Ayumi Kurauti é apaixonada pela fisiologia humana, com uma trajetória acadêmica admirável. Ela se formou em Biomedicina pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), fez mestrado e doutorado em Biologia Funcional e Molecular com ênfase em Fisiologia na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), e ainda atuou como pesquisadora de pós-doutorado na mesma instituição. Além disso, já lecionou fisiologia humana na Universidade Estadual de Maringá (UEM) e biologia celular na UEL. A sua última experiência como professora de fisiologia humana foi na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Fundadora da MK Educação Digital Ltda (MK Fisiologia), atualmente, Mirian é a mente criativa por trás de todos os conteúdos publicados nas redes sociais da empresa.

Apaixonada pela docência, Mirian adora dar aulas de fisiologia humana, mas de um jeito mais descontraído e se diverte muito ensinando. Ela está sempre buscando aprender algo novo não só sobre fisiologia, mas sobre qualquer coisa sobre a vida, o universo e tudo mais. Por isso, é uma consumidora compulsiva de conteúdos de divulgadores científicos. Nas horas vagas, você pode encontrá-la na piscina, treinando e participando de competições de natação. Para Mirian, a vida só tem graça, se ela tiver desafios a serem superados. Hoje, o seu maior desafio é ajudar o maior número de estudantes a entender de verdade a fisiologia humana, principalmente através de suas videoaulas publicadas no canal do YouTube MK Fisiologia.

Foto da autora do post Mirian Ayumi Kurauti criadora do MK Fisiologia
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