[#2] INTRODUÇÃO SISTEMA ENDÓCRINO: Síntese, secreção, transporte e mecanismos de ação dos hormônios

Este post é a transcrição da videoaula publicada em nosso canal do YouTube "[#2] INTRODUÇÃO SISTEMA ENDÓCRINO: Síntese, secreção, transporte e mecanismos de ação dos hormônios".

TRANSCRIÇÕESSISTEMA ENDÓCRINO

Mirian Kurauti

11/20/20247 min read

E aí pessoal, tudo bem com vocês?

Nesse vídeo, a gente vai falar sobre os mecanismos de síntese, secreção, transporte e ação dos vários tipos de hormônios.

Se você perdeu o vídeo anterior em que eu explico o que são hormônios e como podem ser classificados, clica no aqui no card (ou aqui) pra você assistir. Se você já sabe o que são hormônio, e como eles podem ser classificados, bora entender como os hormônios são sintetizados, secretados, transportados na circulação sanguínea, e como eles agem nas suas células-alvo.

Então pra começar, vamos falar sobre a síntese dos hormônios proteicos ou peptídicos.

A síntese desses hormônios se inicia com a transcrição do gene que codifica o hormônio, um processo que acontece lá no núcleo da célula que secreta o hormônio peptídico. Depois de transcrito, o RNA mensageiro deixa o núcleo da célula e pode ser traduzido por ribossomos que se associam à membrana do reticulo endoplasmático. A tradução do RNA mensageiro, geralmente dá origem a forma não madura do hormônio, o pré-pró-hormônio. Ainda no retículo endoplasmático, o pré-pró-hormônio sofre ação enzimática e é clivado formando o pró-hormônio.

O pró-hormônio é então transportado pro complexo de golgi onde ele é empacotado em vesículas secretoras ou grânulos secretórios. Dentro desses grânulos, o pró-hormônio sofre ação enzimática pra finalmente chegar a sua forma madura, o hormônio propriamente dito. Dentro desses grânulos, os hormônios peptídicos podem ficar armazenados pra serem secretados apenas quando a célula endócrina receber um sinal específico.

Diferente dos hormônios proteicos, os hormônios amínicos e os esteroides, são sintetizados a partir de um precursor: aminoácidos, no caso dos amínicos, ou colesterol, no caso dos esteroides.

O aminoácido ou colesterol precursor desses tipos de hormônios, passam por várias reações enzimáticas até serem convertidos nos hormônios específicos. Assim, pra sintetizar diferentes hormônios amínicos ou esteroides, são necessário um conjunto muito específico de enzimas para catalisar todas as reações bioquímicas necessárias.

Por exemplo, algumas células das glândulas suprarrenais ou adrenais, apresentam um conjunto de enzimas que catalisam todas as reações necessárias pra sintetizar adrenalina a partir do aminoácido tirosina. Outras células dessa mesma glândula, apresentam um conjunto diferente de enzimas que catalisam todas as reações necessárias pra sintetizar o cortisol a partir do colesterol.

Nesse momento, a gente pode destacar um detalhe importante. Lembrem-se que todos os hormônios esteroides são hormônios lipossolúveis e, portanto, não podem ser armazenados em grânulos secretórios, pois o que envolve esses grânulos são membranas lipídicas, semelhante as membranas celulares.

Então, assim que são sintetizados, os hormônios lipossolúveis se difundem através da membrana celular e deixa a célula que sintetizou ele. Por isso, a gente diz que a secreção dos hormônios lipossolúveis é regulada pela sua síntese. Pois conforme ele vai sendo sintetizado, ele já vai sendo liberado, não fica armazenado em grânulos secretórios.

Já os hormônios hidrossolúveis, como é o caso de todos os hormônios peptídicos e alguns amínicos, como a adrenalina, não se difundem através das membranas lipídicas, e podem ficar armazenados em grânulos secretórios. Então, pra esses hormônios serem secretados é preciso que ocorra uma fusão da membrana desses grânulos secretórios com a membrana celular, um processo que a gente chama de exocitose.

É importante saber que a exocitose dos grânulos secretórios contendo o hormônio hidrossolúvel, só será iniciado quando a célula endócrina receber um sinal.

Em alguns tipos de células endócrinas, esse sinal, necessário pra estimular a secreção hormonal, pode ser elétrico. Por exemplo, em algumas células do pâncreas que secretam o hormônio insulina, a secreção ocorre quando a membrana da célula é despolarizada, e esse evento pode iniciar o processo de exocitose.

Em outras células endócrinas, o sinal necessário pra estimular a secreção hormonal pode ser um outro hormônio. Por exemplo, em algumas células da glândula hipófise, a secreção do hormônio do crescimento, o famoso GH, é estimulada por um outro hormônio conhecido como hormônio estimulante do GH ou GHRH. O GHRH age via receptores de membrana e provoca a ativação de várias proteínas intracelulares que irão desencadear a exocitose dos grânulos contendo o GH.

Uma vez secretados, os hormônios podem se difundir até os capilares sanguíneos mais próximos, pra entrar na circulação.

Os hormônios hidrossolúveis se solubilizam no plasma e são transportados de forma livre, ou seja, sem se associar a nenhuma proteína plasmática transportadora.

Claro que há exceção. Por exemplo, alguns hormônios hidrossolúveis, como o GH, podem se ligar a proteínas transportadoras específicas, presente na circulação sanguínea.

Já os hormônios lipossolúveis, são bastante solúveis nas membranas celulares que é um meio lipídico, mas não muito solúveis no plasma que é um meio aquoso. Assim, a maioria dos hormônios lipossolúveis, se ligam a proteínas plasmáticas transportadoras específicas.

Através da circulação sanguínea, os hormônios podem alcançar células-alvo bem distantes das células que secretaram ele.

Pra que uma célula seja considerada um alvo dos hormônios, a célula precisa apresentar um receptor específico pros determinados hormônios. Se a célula não apresentar o receptor de um hormônio, esse hormônio não poderá agir nessa célula.

Nesse momento, é preciso que vocês saibam que existe uma diferença entre os receptores dos hormônios hidrossolúveis e os receptores dos hormônios lipossolúveis.

Os hormônios hidrossolúveis não atravessam a membrana das células, portanto os seus receptores devem se localizar na membrana celular. Esses receptores de membrana podem ser de vários tipos, mas no geral todos transmitem de alguma forma o sinal do hormônio para o interior da célula, induzindo alterações no funcionamento dessa célula.

O receptor de membrana mais comum é o receptor acoplado a proteínas G.

Você provavelmente já deve ter ouvido falar sobre esse tipo de receptor quando estudou biologia celular, ele é um dos receptores mais comum quando se trata de comunicação e sinalização celular. Mas, se você não lembra dos receptores acoplados a proteínas G, vale a pena revisar esse tipo de receptor clicando no card aqui em cima (ou aqui).

Já os receptores para os hormônios lipossolúveis podem estar presente no interior das células, seja no citoplasma ou núcleo, pois como o hormônio é lipossolúvel ele pode atravessar as membranas lipídicas.

Quando o hormônio lipossolúvel se liga ao seu receptor intracelular, se o receptor já não estiver no núcleo, ele é transportado para o núcleo, onde ele pode atuar como um fator de transcrição. Pode, por exemplo, se ligar em regiões específicas do DNA e alterar a transcrição de determinados genes, para mais ou para menos. Os genes que terão sua transcrição alterada, vão depender do receptor que o hormônio ativa. Uma vez alterado a transcrição gênica, a tradução do RNA mensageiro, isto é, a síntese de novas proteínas também será alterada podendo modificar o funcionamento da célula.

Percebam que esse mecanismo de ação é lento, pois pros hormônios alterar o funcionamento da célula, é preciso alterar processos um pouco demorados como a transcrição e a tradução.

Embora este seja o mecanismo de ação clássico dos hormônios lipossolúveis, alguns desses hormônios podem agir via receptores de membrana assim como os hormônios hidrossolúveis, induzindo respostas um mais rápidas nas suas células-alvo.

Bom, resumindo tudo que vimos nesse vídeo, lembrem-se que:

  • Os hormônios peptídicos são sintetizados como a maioria das proteínas. Já a síntese dos hormônios amínicos e esteroides dependem de reações enzimáticas específicas.

  • A secreção dos hormônios hidrossolúveis é estimulada por sinais específicos que iniciam a exocitose dos grânulos secretórios. Já a secreção dos hormônios lipossolúveis, dependem da síntese hormonal.

  • Hormônios hidrossolúveis tentem a circular livre enquanto os hormônios lipossolúveis tentem a circular ligados a proteínas plasmáticas transportadoras.

  • Por fim, enquanto os hormônios hidrossolúveis só agem em receptores de membrana, os hormônios lipossolúveis podem agir em receptores intracelulares, que atuam como fatores de transcrição, e receptores de membrana.

Bom, se vocês ficaram com alguma dúvida podem deixar aí nos comentários que a gente tenta responder, blz? A gente se vê num próximo vídeo. Abraço!

Sobre a autora

Mirian Ayumi Kurauti é apaixonada pela fisiologia humana, com uma trajetória acadêmica admirável. Ela se formou em Biomedicina pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), fez mestrado e doutorado em Biologia Funcional e Molecular com ênfase em Fisiologia na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), e ainda atuou como pesquisadora de pós-doutorado na mesma instituição. Além disso, já lecionou fisiologia humana na Universidade Estadual de Maringá (UEM) e biologia celular na UEL. A sua última experiência como professora de fisiologia humana foi na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Fundadora da MK Educação Digital Ltda (MK Fisiologia), atualmente, Mirian é a mente criativa por trás de todos os conteúdos publicados nas redes sociais da empresa.

Apaixonada pela docência, Mirian adora dar aulas de fisiologia humana, mas de um jeito mais descontraído e se diverte muito ensinando. Ela está sempre buscando aprender algo novo não só sobre fisiologia, mas sobre qualquer coisa sobre a vida, o universo e tudo mais. Por isso, é uma consumidora compulsiva de conteúdos de divulgadores científicos. Nas horas vagas, você pode encontrá-la na piscina, treinando e participando de competições de natação. Para Mirian, a vida só tem graça, se ela tiver desafios a serem superados. Hoje, o seu maior desafio é ajudar o maior número de estudantes a entender de verdade a fisiologia humana, principalmente através de suas videoaulas publicadas no canal do YouTube MK Fisiologia.

Foto da autora do post Mirian Ayumi Kurauti criadora do MK Fisiologia
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