[#1] HEMODINÂMICA: FLUXO, PRESSÃO E RESISTÊNCIA

Este post é a transcrição da videoaula publicada em nosso canal do YouTube [#1] HEMODINÂMICA: FLUXO, PRESSÃO E RESISTÊNCIA".

TRANSCRIÇÕESSISTEMA CARDIOVASCULAR

Mirian Kurauti

4/28/202511 min read

E aí pessoal, tudo bem com vocês?

Depois de estudar a fisiologia do coração, chegou a hora de estudar a fisiologia dos vasos sanguíneos.

Peraí, peraí, parou, parou... antes de começar esse vídeo eu tenho uma pergunta pra você:

-Esse canal já te ajudou a entender alguma coisa da fisiologia que você não tava conseguindo entender?

Se a sua resposta for sim, confere aí pra ver se você já tá inscrito no canal, porque tem muita, mas muita gente que assiste os nossos vídeos e ainda não tá inscrito no canal.

Então, se esse for o seu caso, ajuda a gente aí, dá tanto trabalho pra fazer essas videoaulas que cê não tem nem ideia.

Dito isso, agora sim, bora estudar a fisiologia dos vasos sanguíneos?

Nos vídeos anteriores, a gente estudou a fisiologia do coração, isto é, a gente estudou como o coração gera força, gera pressão pra fazer o sangue fluir através dos vasos sanguíneos: artérias, arteríolas, capilares, vênulas e veias.

A partir desse vídeo, a gente vai começar a estudar como o sangue flui através desses vasos, ou seja, a gente vai começar a estudar a “dinâmica do fluxo de sangue”, a gente vai começar a estudar a hemodinâmica.

E pra estudar essa dinâmica do fluxo de sangue ou fluxo sanguíneo, a gente precisa antes de mais nada entender o que é fluxo.

Então, lembre-se, fluxo nada mais é do que a quantidade ou o volume de um fluido que passa dentro de um determinado intervalo de tempo, ou seja, fluxo é volume/tempo.

Por exemplo, se em uma torneira aberta passa 5 litros de água dentro de 1 minuto, quer dizer que o fluxo de água nessa torneira é de 5 litros/minuto, certo?

Agora, e se eu disser pra você que o meu coração tá ejetando 5 litros de sangue dentro de 1 minuto, você consegue me dizer qual é o fluxo de sangue nos meus vasos sanguíneos?

Bom, se o meu coração tá ejetando 5 litros de sangue por minuto, quer dizer que nos meus vasos sanguíneos tá passando 5 litros de sangue por minuto, ou seja, o fluxo sanguíneo nesses vasos é de 5 litros/minuto.

Mas, e se eu disser que desses 5 litros de sangue que passam nos meus vasos sanguíneos por minuto, cerca de 1 litro passa especificamente nos vasos sanguíneos dos meus rins por minuto, você consegue me dizer qual é o fluxo sanguíneo especificamente nos meus rins?

Fácil, né, 1 litro/minuto.

Bom, então acho que deu pra entender, né, que o fluxo sanguíneo é o volume de sangue que passa pelos vasos sanguíneos dentro de um determinado intervalo de tempo, e geralmente é medido em litros/minuto ou ml/minuto, ou seja, volume/tempo.

Mas agora eu pergunto:

-O que será que determina esse fluxo sanguíneo, ou melhor, o que será que faz o sangue fluir ou se mover através dos vasos sanguíneos?

Pra responder essa pergunta, a gente precisa lembrar da 1ª lei de Newton, que diz que “todo corpo tende a permanecer em repouso a não ser que uma força atue sobre ele”, ou seja, pra qualquer coisa começar a se mover, eu preciso de força, ou seja, pro sangue começar a se mover através dos vasos sanguíneos eu preciso de força, eu preciso de pressão.

E pra quem não lembra, pressão nada mais é do que a força que atua sobre uma determinada área.

Por exemplo, o sangue dentro dos vasos sanguíneos exerce uma força, uma pressão sobre a parede dos vasos, uma pressão que a gente chama de pressão sanguínea, e é essa pressão que move o sangue através desses vasos, ou melhor, a diferença dessa pressão ao longo desses vasos que move o sangue.

-Como assim?

Pra entender como a diferença da pressão sanguínea ao longo dos vasos move o sangue, vamos imaginar que esse tubo aqui representa de forma bem simplificada os vasos sanguíneos da circulação sistêmica. Se eu encher esses vasos de sangue, o sangue vai pressionar a parede desses vasos e a gente vai ter uma pressão sanguínea ao longo desses vasos.

Porém, se essa pressão for exatamente a mesma ao longo desses vasos, você acha que o sangue vai se mover, vai fluir através desses vasos?

Não porque se a pressão é mesma no começo e no final desse tubo, a força que empurra o sangue em direção às veias é igual a força que empurra o sangue em direção às artérias. A diferença de pressão ou delta P é igual a zero.

Imagine duas pessoas se empurrando com a mesma força, ninguém vai sair do lugar, ninguém vai se mover.

Mas como você deve saber, ou pelo menos deveria saber, a pressão sanguínea nas artérias é sempre maior do que a pressão sanguínea nas veias, ou seja, existe uma diferença de pressão. E se existe uma diferença de pressão, existe fluxo sanguíneo, e o sangue se move das artérias onde a pressão é maior, em direção às veias onde a pressão é menor.

Então, considerando a pressão sanguínea sistêmica média, isto é, a pressão sanguínea média nas artérias, arteríolas, capilares, vênulas e veias da circulação sistêmica, reparem que essa pressão na artéria aorta, que recebe o sangue ejetado pelo coração, é próxima de 95 milímetros de mercúrio (mmHg), mas conforme o sangue vai fluindo pelas demais artérias, arteríolas, capilares, vênulas e veias, essa pressão vai diminuindo até próximo de 5 mmHg nas veias cavas, que devolvem o sangue pro coração. E é graças a essa diferença ou gradiente de pressão, que o sangue flui através desses vasos, sempre das artérias pras arteríolas, pros capilares, pras vênulas, e finalmente pras veias.

Bom, acho que deu pra entender, né, que o que gera o fluxo sanguíneo é o gradiente de pressão gerado pelo coração.

Porém, lembre-se que embora o gradiente de pressão é o que gera o fluxo sanguíneo, ele não é a única coisa que influencia, ou melhor, que determina o fluxo sanguíneo. Na verdade, conforme o sangue flui através dos vasos sanguíneos, ele encontra uma certa dificuldade pra fluir, ou seja, ele encontra uma certa resistência.

O fluxo sanguíneo então é tipo a corrente elétrica que é diretamente proporcional a um gradiente de potencial elétrico ou voltagem, e inversamente proporcional à resistência que essa corrente elétrica pode sofrer, ou seja, o fluxo sanguíneo é diretamente proporcional a um gradiente de pressão, quanto maior esse gradiente maior o fluxo, e inversamente proporcional a resistência que esse fluxo sanguíneo pode sofrer, quanto maior a resistência menor o fluxo.

-Tá, professora, eu entendi que essa resistência aí é uma coisa que se opõe ao fluxo sanguíneo, mas o que que exatamente determina essa resistência?

Pra responder essa pergunta, a gente precisa entender que essa relação entre fluxo, pressão e resistência que a gente acabou de apresentar é muito simples, e não explica exatamente o que determina a resistência ao fluxo através de estruturas tubulares.

Então, pra entender o que determina a resistência ao fluxo de sangue através dos vasos sanguíneos a gente precisa usar uma equação que pode ser aplicada ao fluxo de fluidos que acontece através de estruturas tubulares, ou seja, a equação de Poiseuille ou lei de Poiseuille.

Essa equação ou essa lei diz que o fluxo de um fluido através de uma estrutura tubular depende do gradiente de pressão e de mais tudo isso aqui que tá na equação: de uma constante, o número pi, do raio do tudo elevado a quarta potência, de outra constante, o número 8, do comprimento do tubo e da viscosidade do fluido.

Parece muita coisa né, mas a verdade é que tudo isso aqui que tá na equação nada mais é do que 1 /R ou 1 dividido pela resistência.

Então, se 1 sobre R é igual a tudo isso aqui, podemos usar uma regrinha da matemática e dizer que R é igual 8 multiplicado pelo comprimento do tubo, multiplicado pela viscosidade do fluido e dividido por pi multiplicado pelo raio do tubo.

Agora, com essa equação derivada da lei de Poiseuille, a gente consegue entender o que determina a resistência ao fluxo sanguíneo.

Então presta bastante atenção aqui. O número 8 e o número pi são as constantes da equação, não mudam. O comprimento dos vasos a gente também pode considerar uma constante porque também não é uma coisa que vai mudar. E aí as duas variáveis que podem mudar nessa equação são a viscosidade do sangue e o raio dos vasos sanguíneos.

Então perceba primeiro que a resistência é diretamente proporcional à viscosidade do sangue, se a viscosidade aumenta, a resistência também aumenta, e se a viscosidade diminui a resistência também diminui.

Pra fixar essa relação entre viscosidade e resistência, pensa na água que é um fluido com baixa viscosidade, se eu virar um copo de água, a água escorre rapidamente, porque a resistência ao fluxo é baixa. Agora pensa num líquido com alta viscosidade como um creme de abacate, se eu virar um copo de creme de abacate, o creme escorre lentamente, porque a resistência ao fluxo alta. Pegou a ideia, né?

-Peguei professora, se o sangue ficar mais viscoso vai ficar mais difícil de fluir porque a resistência aumenta, e se o sangue ficar menos viscoso vai ficar mais fácil de flui porque a resistência diminui. Mas o que é que pode fazer o sangue ficar mais viscoso ou menos viscoso?

O sangue é um tipo especial de tecido conjuntivo, as células desse tecido que ficam suspensas na parte líquida do sangue que a gente chama de plasma. Se eu diminuir a quantidade de células e/ou aumentar a quantidade de plasma, o sangue fica mais líquido, menos viscoso. Mas se eu aumentar a quantidade de células e/ou diminuir a quantidade de plasma, o sangue fica menos líquido, mais viscoso.

Por exemplo, em caso de desidratação, a quantidade de plasma diminui e o sangue pode ficar mais viscoso, aumentando a resistência ao fluxo sanguíneo. E em caso de aumento da produção dos eritrócitos ou hemácias, o sangue também pode ficar mais viscoso, aumentando a resistência ao fluxo sanguíneo, como acontece na policitemia uma doença em que a gente tem a produção excessiva das hemácias.

Então, lembre-se que a viscosidade pode ser alterada em alguns casos específicos, mas no dia a dia, em condições normais, em condições fisiológicas, a viscosidade até pode variar dependendo do fluxo sanguíneo e dependendo do raio dos vasos, mas essa variação não é tão significativa assim. Por isso, em condições fisiológicas a gente até pode considerar a viscosidade do sangue como sendo constante.

Agora, o raio dos vasos sanguíneos, principalmente o raio das arteríolas, não é constante, varia e varia muito em condições fisiológicas.

Então perceba que a resistência é inversamente proporcional ao raio do vaso sanguíneo, se o raio aumenta, a resistência diminui, e se o raio diminui a resistência aumenta.

Pra fixar essa relação entre o raio dos vasos e resistência, é só imaginar um reservatório de água com duas saídas: a saída A é um tubo com raio igual a 1, e a saída B é um tubo com raio igual a 2. Como as duas saídas tão na mesma altura, o gradiente de pressão da água é o mesmo nas duas saídas, mas o fluxo é maior na saída B, onde o raio é maior, do que na saída A, onde o raio é menor. Isso porque quanto maior o raio, menor a resistência, e é mais fácil da água fluir; e quanto menor o raio, maior a resistência, e é mais difícil da água fluir.

No sistema cardiovascular, o reservatório de água seria as artérias e as saídas seriam as arteríolas que podem regular o fluxo de sangue pros tecidos que elas irrigam, regulando o seu raio.

Se todas as arteríolas apresentarem exatamente o mesmo raio, o fluxo sanguíneo seria o mesmo em todos esses vasos. Porém, o raio das arteríolas é variável e depende de fatores locais, neurais e hormonais.

Por exemplo, quando somos expostos ao frio, esses fatores podem contrair o músculo liso da parede das arteríolas que irrigam a pele, diminuindo o raio e aumentando a resistência. Com o aumento da resistência o fluxo sanguíneo na pele diminui, diminuindo assim a perda de calor.

Agora, como exatamente esses fatores locais, neurais e hormonais diminuem ou aumentam o raio das arteríolas, a gente deixa pra explicar em um outro vídeo. Nesse momento, o mais importante é entender que em condições fisiológicas o raio dos vasos sanguíneos é a variável mais importante na determinação da resistência e, consequentemente, na determinação do fluxo sanguíneo nos tecidos do organismo.

Bom então, resumindo tudo o que a gente viu nesse vídeo, lembre-se que:

  • O fluxo sanguíneo é diretamente proporcional à diferença de pressão ou gradiente de pressão que existe ao longo desses vasos sanguíneos, se o gradiente de pressão aumenta, o fluxo aumenta; mas é inversamente proporcional à resistência, se a resistência aumenta, o fluxo diminui.

  • Os principais determinantes da resistência é o comprimento dos vasos, a viscosidade do sangue e o raio dos vasos.

  • Em condições normais, em condições fisiológicas, o comprimento dos vasos e a viscosidade do sangue podem ser considerados constantes, e por isso podemos dizer que o principal determinante da resistência é o raio dos vasos sanguíneos que pode variar pra regular assim o fluxo sanguíneos nos tecidos do organismo.

Bom, espero que esse vídeo tenha te ajudado de alguma forma, e se ele te ajudou não esquece de curtir e compartilhar esse vídeo com aquele seu amigo que também tá precisando estudar esse conteúdo.

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E como sempre qualquer dúvida pode deixar aí nos comentários que a gente tenta responder, beleza?

A gente se vê num próximo vídeo, abraço!

Sobre a autora

Mirian Ayumi Kurauti é apaixonada pela fisiologia humana, com uma trajetória acadêmica admirável. Ela se formou em Biomedicina pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), fez mestrado e doutorado em Biologia Funcional e Molecular com ênfase em Fisiologia na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), e ainda atuou como pesquisadora de pós-doutorado na mesma instituição. Além disso, já lecionou fisiologia humana na Universidade Estadual de Maringá (UEM) e biologia celular na UEL. A sua última experiência como professora de fisiologia humana foi na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Fundadora da MK Educação Digital Ltda (MK Fisiologia), atualmente, Mirian é a mente criativa por trás de todos os conteúdos publicados nas redes sociais da empresa.

Apaixonada pela docência, Mirian adora dar aulas de fisiologia humana, mas de um jeito mais descontraído e se diverte muito ensinando. Ela está sempre buscando aprender algo novo não só sobre fisiologia, mas sobre qualquer coisa sobre a vida, o universo e tudo mais. Por isso, é uma consumidora compulsiva de conteúdos de divulgadores científicos. Nas horas vagas, você pode encontrá-la na piscina, treinando e participando de competições de natação. Para Mirian, a vida só tem graça, se ela tiver desafios a serem superados. Hoje, o seu maior desafio é ajudar o maior número de estudantes a entender de verdade a fisiologia humana, principalmente através de suas videoaulas publicadas no canal do YouTube MK Fisiologia.

Foto da autora do post Mirian Ayumi Kurauti criadora do MK Fisiologia
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